segunda-feira, 23 de abril de 2012

Mc 10.17-22 Acertos e Equívocos

 Introdução:

Nenhuma questão é tão importante, tão urgente, essencial e imprescindível que a pergunta que este rapaz faz: “Que farei para herdar a vida eterna?” Este homem aproxima-se de Jesus com algumas questões absolutamente corretas: 1. Ele vem com a atitude correta: "Ajoelhando-se" (Mc 10.17) – Para um judeu ajoelhar-se diante de alguém não era fácil, mas aquele homem percebe em Jesus a dimensão de sua sobrenaturalidade e divindade. Ele era alguém especial, por isto este homem ajoelha-se. Muitas vezes nos aproximamos de Jesus, não com joelhos em terra, mas com arrogância, nariz empinado, como se Deus fosse grandemente abençoado em nos acolher. 2. Tem um correto senso da urgência de sua alma – “correu... ao seu encontro” (Mc.10.17). tinha percepção de que sua situação era inadiável e aquela era a hora de uma tomada de posição. Ele vem correndo, trata-se de colocar em ordem a sua vida e ele não quer mais perder tempo. Certa vez estava pregando em Goiânia, e no meio de meu sermão, ouve um derramamento especial da graça de Deus e uma mulher interrompeu minha palavra e disse: “Pastor, quero entregar minha vida a Jesus neste momento”. Enquanto vacilei um pouco, indefinido sobre o que fazer, outra pessoa se levantou e em seguida afirmou: “Eu também quero!”. Talvez o Espírito Santo, que estava agindo no coração daquelas pessoas tenha feito o mesmo que fez com Pedro em At. 10. No meu caso acho que Deus considerou o seguinte: “Se Samuel continuar pregando pode atrapalhar a obra que estou plantando nestes corações...” Você sente urgência em relação à sua alma, percebe que precisa tomar uma decisão imediata? Não hesite. Hoje, se ouvir a voz do Senhor, não endureça o seu coração. 3. Faz a pergunta correta, a questão essencial: Que farei? Nenhuma pergunta é tão importante. Valores eternos. Qual é sua pergunta? Existem muitas pessoas levantando muitas questões periféricas, que consomem quase todo o seu tempo, faz a mente chafurdar em ansiedade e preocupação e que consomem quase todo o tempo. Vivem ansiosas quanto à reputação pessoal, sucesso, fama, dinheiro, casamento, mas nenhuma destas perguntas tem a ver com eternidade. Você sabe onde vai passar a eternidade? Se você morresse hoje, para onde iria sua alma? Você já sabe o que dirá quando estiver diante do trono branco de Deus? Você acha que seus fundamentos espirituais são suficientes para lhe dar certeza de vida eterna? Do ponto de vista psicológico, entendo porque tantas religiões do mundo professam a tola doutrina da reencarnação. Elas querem crer que, de alguma forma, mesmo fazendo tanta besteira e cometendo tantas tolices, ainda terão uma segunda chance. Mas a Bíblia diz claramente que: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo”((Hb 9.27). 4. Procura a pessoa certa – Jesus! Tenho visto muitas pessoas buscando respostas espirituais, gente sedenta do Sagrado, mas indo atrás de médiuns, benzedores, misticismo e esoterismo, representações do sagrado e se sentindo cada vez mais desesperadas porque estão cavando cisternas rotas que não retém a água, que não sacia a sede do coração. Jesus afirma: “Quem tem sede, venha e mim e beba, porque do seu interior, fluirão rios de água viva”. Este homem, porém, comete alguns equívocos. A. Possui pressupostos teológicos equivocados – “Bom mestre”(Mc 10.17). Jesus não o censura por lhe chamar de bom, antes o seu julgamento superficial sobre a bondade humana, principalmente sobre a sua justiça própria, afinal, ele não era um homem tão bom? Jesus quer ensinar-lhe que só existe um bom que é Deus. A bondade da humanidade é relativa. Ao fazer isto, Jesus está procurando esvaziar sua arrogância espiritual de pessoa moralmente correta, que o fazia compreender a si mesmo, e entender o quanto ele precisava de Deus e quanto seu coração estava longe. B. Constrói sua vida em fundamentos equivocados – Quando Jesus se dirige a ele sobre a guarda dos mandamentos, ele não lhe pergunta se ele guardava os mandamentos, mas afirma que o fazia. Sua afirmação não deixa dúvidas: “Tudo isto tenho observado, desde a minha juventude” (Mc 10.19). Pessoas religiosas e exemplares moralmente são as que menos sentem necessidade da graça de Deus. Por isto se afastam do evangelho. A justiça própria é o inimigo numero 1 do Evangelho. tenta tirar dele o senso de justiça pessoal. Justiça pessoal faz a pessoa se considerar justa. O problema é que gente cheia de si mesma, não pode ser preenchida por Deus, pois não cabe mais nada: Ele era socialmente bom e correto. A Bíblia está sempre questionando nossa capacidade espiritual. “Onde está a jactância? Foi de todo abolida” (Rm 3.27). Li recentemente um texto do Paul Tripp que exemplifica isto. Ele afirma que todos os dias ao começar o seu tempo de oração ele diz a Deus: “Senhor, tu sabes como eu preciso de ti, e nada posso sem ti”. Pensando na sua oração, lamentei pelo meu coração, porque na minha auto suficiência, nem sempre estou realmente convencido de que eu sou pobre e necessitado. Continuo sempre vangloriando-me de minha autonomia e independência. Este homem rico está fundamentando sua vida nos méritos e no currículo moral que ele construiu. Sua honradez e comportamento. Milhares de pessoas que professam hoje ser discípulas de Cristo, no fundo realmente não sentem que precisam de um salvador. Salvador é para quem está perdido. A maioria se acha boa demais... Jesus percebe que esta é a realidade do coração daquele homem, por isdto questiona sua afirmação sobre sua bondade para desestruturar seus fundamentos. “Não há nenhum bom, exceto Deus”. Paulo afirma que os judeus tinham zelo por Deus, porém não com entendimento, porque tentaram construir sua justiça própria ao invés de aceitar a justiça que vem de Deus através de Jesus. Estes judeus não eram displicentes nem negligentes com sua fé, mas possuíam zelo sem entendimento (Rm 10.1-3). Aquele rapaz mede a sua vida pela lei, Jesus o mede pelos seus afetos. O que está no seu coração? A observância religiosa não havia tocado seu íntimo. Não tinha gerado desapego pelas coisas mundanas que ele amava. A Nova Aliança tem a ver com o coração. C. Coloca seus afetos em coisas erradas. Jesus denuncia a centralidade do seu coração, por isto diz: “Vai, vende tudo que tens, e dá-o aos pobres, depois vem e segue-me”(Mc 10.21). É interessante notar que Jesus nunca pediu que outros de seus seguidores fizessem o mesmo. Algumas pessoas ricas serviram a Jesus com seus bens e ele nada lhes disse. No entanto, pede a este homem que venda seus bens para segui-lo. Por que? Não é o dinheiro que ele possui que é o seu problema, mas o dinheiro que o possui. A questão aqui é como o seu coração se relaciona com as coisas que possui. Jesus sabia que por detrás de toda aquela camada religiosa e disciplina espiritual, havia um coração dominado não por Deus, mas pelas coisas que possuía. Ele tinha uma relação idolátrica com seus bens. É questão de intensidade e foco. Coisas que nos dominam tornam-se substitutos de Deus (Ez 14.3,4,5,7). Ídolos nos fazem crer que não podemos viver sem eles. O coração dele estava nas coisas. Para nenhuma pessoa Jesus pediu que vendesse os bens para se tornar seu discípulo, mas este precisava confrontar o que o prendia. A questão é: “Onde estão seus afetos?” Pergunte a você mesmo: “O que você ama, teme, serve, deseja mais do que a Deus”. Isto é um ídolo no seu coração. O centro do coração daquele homem estava apontando para coisas erradas. Ele se retira triste: O dinheiro era mais importante que Deus. Acho impressionante a declaração do texto que diz: “E Jesus, fitando-o, o amou”(Mc 1021). Jesus não fez esta exigência para pisoteá-lo, mas para resgatá-lo. Era uma tentativa de livrá-lo da subordinação que ele mantinha com seus bens. Sua lente estava desajustada e seu foco errado. Coloque seu coração no foco certo... Para seguir a Cristo não pode haver atenção dividida. O coração tem que estar por inteiro. No entanto, ao sermos assim confrontados, podemos sair triste da presença de Deus e não rendermos o nosso coração a ele. Achamos que somos donos de muitas propriedades sem perceber que nossos bens é que são nossos donos. Achamos que possuímos as coisas quando elas é que nos possuem. Conclusão: Este jovem faz a pergunta certa, com a atitude certa, com a urgência certa, à pessoa certa, mas responde a interpelação de Cristo de forma errada. Não entrega o centro de seus afetos a Deus. Não consegue se desvencilhar de seu ídolo. Que tal render aquela parte de sua vida que o faz crer que não é possível viver sem. Que tal trazer esta dimensão de sua vida rendida a Deus? Talvez você até ore: "Senhor, eu não quero, mas gostaria de querer abrir mão disto que é um obstáculo à minha vida de fé. Mude a minha vontade e sonhos”. Quais são as posses que tem dominado a sua vida. Por que é mais fácil ser religioso que entregar meu coração por inteiro a Deus? No Séc XVIII, o Rio Mississipi era um dos principais canais para transportar grãos e gado nos EUA. Certo homem rico, vendeu sua propriedade e recebeu seu pagamento em dólar, e o levava consigo numa destas viagens, quando o barco em que estava, começou a naufragar. Desesperado ao ver que iria perder toda sua riqueza, rapidamente começou a colocar ouro no bolso da sua calça e do paletó, para salvar o máximo de seus bens. Três dias depois, o encontraram morto, no fundo do rio, com seus bolsos repletos de ouro. Samuel Vieira

Sl 91 A Fonte da Segurança

Introdução: 

O Sl 91 é usado muitas vezes pelo povo brasileiro como um fetiche de proteção. Já vi a bíblia aberta neste texto tanto em salas de mansões como em casas simples do interior do país, tanto em choupanas como em palácios, para atrair bons fluidos e espantar maus olhados... Certamente este não é o uso correto da Bíblia.

A Bíblia não é um amuleto que nos livra de maus espíritos e mentalidade supersticiosa. O valor da Bíblia não está na sua roupagem, mas no seu conteúdo e mensagem. Ouvi alguém dizendo assim: "O homem, por mais culto que seja, se não ler a Bíblia, não é sábio Quem guarda o que ela recomenda torna-se santo O que crê no Deus vivo que ela anuncia, é salvo".

Este texto nos fala de perigos que rondam a nossa vida. Vivemos com ameaças por todos os lados, felizmente não ficamos concentrados nos riscos, senão não viveríamos. Pessoas obcecadas por bactérias, ou espírito malignos, ou olho gordo, ou medo de acidente e doenças, certamente não consegue viver em paz.

Riobaldo, personagem do clássico “Grande Sertões, Veredas” de Guimarães Rosa afirma: "Viver é perigoso".

Este texto nos fala da quantidade de perigos que nos rondam:

1. Perigos de natureza física -
a. Enfermidades: Peste perniciosa - Febre amarela, bactérias. Nesta semana oramos por duas pessoas que enfermas e hospitalizadas cujas enfermidades nunca me haviam sido mencionadas anteriormente.

b. Forças do Destino - Na verdade não gosto muito da palavra "destino", porque ela sugere casualidade e paganismo, e aponta para algo cego e impessoal, e a Bíblia não me autoriza a falar da vida desta forma, mas o salmista fala de "pragas" e da "seta que se propaga nas trevas". Vs 5 realidades que parecem fortuitas e acidentais.

3. Fatores Psicológicos – O salmista também faz menção a "terrores noturnos". Isto aponta para distúrbios da alma, diretamente relacionados a fatores de ordem emocional, causados por enfermidades psiquiátricas e ações malignas e que nos atingem frontalmente, e nem sequer sabemos muito bem sua a etiologia é puramente neurológica ou se existe um componente maligno entre elas, e é difícil discernir estas coisas.

4. Componentes Sociais – O texto parece fazer menção de elementos humanos que interagem e nos atingem. O vs, 7 parece fazer menção a guerras. Quantas falências e tragédias atingem sociais inteiras, através de conflitos tribais, guerras entre países, luta pelo poder. Surge um louco com disposição para dominar e gerações inteiras são atingidas, sem que qualquer reação possa ser elaborada.

5. Elementos espirituais – Todo Salmo 91 parece trazer esta idéia de forças espirituais interagindo. O diabo, com todas suas hostes, atinge frontalmente o ser humano, famílias são atingidas e sofrem. É o laço do passarinheiro (Sl 91.10,13), são as ciladas do diabo, que envolvem pessoas desprotegidas espiritualmente. No entanto, apesar de todas estas questões que fazem a nossa vida parecer tão perigosa e assustadora, o Salmista não começa este salmo falando destes riscos, mas da segurança que temos em Deus.

Entretanto, o texto condiciona a segurança humana a alguns elementos:

 A. Viver à sombra do Onipotente – Sl 91.1,9 – Esta é a primeira condicional que encontramos. “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: Meu refugio e meu baluarte”. (Sl 91.1,2). Não são todos que podem descansar, mas apenas aqueles que habitam no esconderijo de Deus e descansam à sombra do Onipotente. Esta foi a proteção dada por Deus ao povo no deserto. Coluna de fogo à noite, para iluminar e aquecer, e nuvem durante o dia, para protegê-los do sol escaldante. Você está vivendo debaixo desta sombra? Onde você procura abrigar-se nos dias maus? Para onde você corre?

B. Usar a verdade de Deus como escudo – Sl 91.4 – Este versículo faz uma declaração lindíssima da proteção de Deus: “Cobrir-te-á com suas penas, e sob suas asas, estarás seguro, a sua verdade é pavês e escudo”. Escudo era uma arma essencial nas batalhas, para proteger o guerreiro contra as flechas que eram lançadas e na luta corpo a corpo para defender-se da espada. Pavês é uma forma de escudo, com características um pouco diferentes, já que era grande e oblongo, geralmente de formato ovalado, utilizado por combatentes . O texto nos afirma que a verdade de Deus é nosso escudo. Jesus deixou claro ao afirmar: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres, e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”(Jo 8.31,32).

C. Intimidade com Deus - Vários termos deste salmo falam que somos protegidos por estarmos em intimidade com Deus. O vs 14,15 nos fala disto: “Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei, pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei” (Sl 91.14, 15). 

O nosso grande problema tem sido o fato de que queremos as bênçãos de Deus, mas não queremos o Deus da benção. Queremos riqueza espiritual, sem vida com Deus. Queremos livramento, mas não estamos debaixo de sua sombra.

O Salmista fala que aqueles que experimentam o livramento de Deus são os que possuem intimidade. “Meu Deus”(vs 2). Trata-se de algo intimo e pessoal. Sua confiança está posta em Deus, e sua segurança está em Deus.

Conclusão:

A Bíblia está sempre mostrando as ameaças que temos a enfrentar, e diariamente temos que lidar com elas. Entretanto, nada é mais poderoso para nos livrar que o sangue do Cordeiro de Cristo.

Aprendemos isto em Ex 12, quando os portais das casas onde as pessoas estavam, foram marcadas pelo sangue do cordeiro, que prefigurava o Cordeiro de Deus que morreria na cruz em nosso lugar..

Quando os discípulos são enviados de dois em dois, para a missão de evangelizar, ao retornarem Jesus lhes garantiu que o poder do maligno não lhes causaria dano, e que nada, absolutamente nada, poderia lhes atingir. (Lc 10.19)

A Bíblia afirma que o Senhor é fiel, ele nos livrará e guardará do maligno (2 Ts 3.3)
A Bíblia afirma que “Aquele que é nascido de Deus, Deus o guarda, e o maligno não lhe toca”

Portanto, nada a temer, pois “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte. Deus meu, em quem confio”. (Sl 91.1,2).

Esta é a fonte da segurança que temos: A presença do próprio Deus.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mc 10.13-16 Jesus e as crianças

Introdução:

O texto "Crianças aprendem o que vêem" é extremamente sábio.

"Crianças aprendem o que vivenciam. 
Se uma criança vive com crítica, aprenderá a condenar. 
Se uma criança vive com hostilidade, aprenderá a lutar. 
Se uma criança vive com vergonha, aprenderá a culpa. 
Se uma criança vive com tolerância, aprenderá a ser paciente. 
Se uma criança vive sendo ridicularizada, aprenderá a ser tímida. 
Se uma criança vive sendo encorajada, aprenderá a ser confiante. Se uma criança vive com honestidade, aprenderá justiça. 
Se uma criança vive com segurança, aprenderá a ter fé. 
Se uma criança vive com aprovação, aprenderá a gostar de si mesma. 
Se uma criança vive com aceitação, aprenderá amizade. 
E aprenderá a achar amor no mundo. 

Este texto de Marcos nos fala do relacionamento de Jesus com as crianças.
Muitos poucos sermões sobre o ministério de Jesus e seu relacionamento com as crianças tem sido pregados. Como estamos expondo o livro de Marcos, não podemos fugir nem deixar de aprender ricas lições sobre o cuidado que devemos ter com as crianças.

Em Lc 15, Jesus conta a história da dracma perdida.
Por que aquela mulher perdeu sua preciosa moeda dentro de casa?
Esta parábola é uma referência à nossa vida. O texto demonstra como nós, de forma desatenta, podemos perder coisas de grande valor, dentro de nossa casa, como aconteceu àquela mulher perdeu. Talvez por descuido, por considerar insignificante... isto pode acontecer com coisas preciosas de nossa vida como nosso filhos. Como é possível perdê-los dentro de casa? Na hora de passar a tocha da fé, na nossa incapacidade de transmitir o evangelho da graça.

Os dias são maus: cansaço, hora intensa de trabalho, deixamos de orar com os filhos e terceirizamos sua salvação.
Filhos tem se perdido dentro das casas. O texto parece demonstrar que Jesus deseja tocar as crianças, mas os discípulos as hostilizam. Não consideram a importância de que os filhos se aproximem de Cristo.
Esta muitas vezes pode ser a atitude da igreja, e assim perdemos nossos filhos dentro da igreja, como a dracma que se perdeu dentro de casa.

A Bíblia afirma: “Ensina a criança o caminho em que deve andar, e ainda quando for velho, não se desviará dele”. O texto não diz: “ensina o jovem”, mas “ensina a criança”.

Podemos, entretanto, tratar com descaso as crianças. Tanto no âmbito doméstico quanto eclesiástico, corremos o mesmo risco de descaso e menosprezo.

Alguns departamentos infantis são horríveis, verdadeiros depósitos de móveis velhos. Conteúdo mal preparado, falta de investimento. Não criamos ambiente para acolher nossos filhos, muitas vezes usamos os piores ambientes e estruturas para os colocarmos ali. Muitas vezes a programação da igreja não contempla este espaço para os filhos.

Alguém afirmou que “Uma criança pode se desviar mais cedo do que você imagina, cair mais rápido que você pensa, e sofrer mais que você considera”.

Os discípulos “repreendiam as crianças”. (Mc 10.13).
“Repreender” não lhe soa um conceito agressivo? Não é um termo forte?

Muitas vezes tenho a impressão de que não estamos preocupados em termos uma igreja para nossos filhos, mas queremos uma igreja para nós. Que satisfaça a nossa cultura, nosso gosto, nosso estilo, nossa formação, a forma como gostamos dos cultos, mas não consideramos se nossos filhos estão participando da comunidade. E se começássemos a pensar numa igreja que tivesse a linguagem para nossos filhos e não para nós que estamos passando?

Honestamente, entre uma igreja que atenda as suas necessidades e uma igreja que atenda a necessidade de seus filhos e netos, o que você preferiria. Tome cuidado para não dar uma resposta “politicamente correta”.

Será que você realmente está preocupado com seus filhos e netos?
Quantos filhos estão ficando, quantos estão saindo? Na igreja que freqüentei durante a minha mocidade, posso afirmar sem medo, que não mais que 25% dos filhos permaneceram na fé. Alguns não só se distanciariam, mas são cínicos e incrédulos quanto às verdades espirituais que pregamos.

Certo presbítero de uma igreja no litoral Sul de São Paulo afirmou que se tivessem apenas mantido os filhos, e não tivessem evangelizado ninguém mais, ela seria, 3 vezes maior do que é hoje. Pense nos recursos financeiros da igreja: Eles contemplam os filhos?
Que esforço intencional temos feito para acolhê-los bem? Nossa liturgia e estilos de cultos estão considerando suas necessidades? Vamos continuar usando flanelógrafos enquanto nossos filhos são expostos a todos os recursos virtuais e teorias modernas de pedagogia?

Este texto nos mostra algumas atitudes (movimentos) de Jesus diante do descaso dos discípulos:

1. Ele demonstra indignação com a falta de sensibilidade para com as crianças – “Jesus, porém, vendo isto, indignou-se”. (Mc 10.14).

Indignação é um termo muito duro.
A Bíblia diz que Jesus se “indignou” com os mercadores no templo que estavam vendendo sacrifícios e transformando a casa de Deus em casa de negociatas... qualquer semelhança com nossos dias é mera coincidência;
Mostra ainda outra situação na qual ficou indignado, em Mc 3, ao ver a dureza do coração das pessoas no incidente com o homem da mão ressequida.
O Evangelista está usando esta mesma palavra para demonstrar como Jesus reagiu ao ver o comportamento de seus discípulos, ao tratar de forma estranha as crianças que dele se aproximavam. 

2. Jesus ensina os discípulos – “E disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Mc 10.14).

Jesus ensina se aproxima das crianças para demonstrar qual deve ser a atitude de seus seguidores. Crianças não eram menos importantes. Crianças participam do culto doméstico. Crianças espalham a boa semente mais que imaginamos, podem crescer conhecendo a Cristo, tem disposição para trabalhar por Cristo, crianças aprendem conceitos de vida cristã quando são ainda muito novas.

Precisamos ainda nos preocupar com as crianças, porque podem sofrer irreversivelmente, para o resto da vida. Porque crianças tem fome, 4000 crianças são assassinadas por ano no Brasil. Crianças podem nunca saber o que é infância e podem ter futuro, ou não, dependendo muito de nós e de nosso compromisso com elas.

 3. Jesus exorta a não “embaraçarmos” as crianças. (Mc 10.14), já parou para considerar o significado desta palavra? A ideia de que me à mente é de um rolo de linha de anzol. Você pode praticar pesca esportiva usando dois tipos de material: carretilha ou molinete. Este último não tem uma performance tão boa, mas é bem mais fácil de operar, enquanto o primeiro, exige um determinado treinamento.

Ao jogarmos a linha, precisamos manter pressão com o dedo, para que ela não corra demais e se enrole. Um erro de arremesso de uma carretilha embola tanto a linha, que dificilmente você a desembaraça, e mesmo que consiga fazê-lo, a linha vai ficar toda “viciada”. Como podemos embaraçar as crianças?
O mau testemunho em casa ou na igreja podendo trazer grande dificuldade para o coração das crianças. Aos poucos o evangelho vai se afastando de seus corações, tornando-as descrentes e cínicas.  – crianças vão formando sua concepção de divindade e de sagrado, a partir daquilo que vêem. Na Europa, temos hoje a geração pós cristã, os filhos estão rejeitando as igrejas.

Por causa do descrédito institucional, história de autoritarismo e desmandos. Filhos vomitam a educação contraditória da fé, quando a vivência não é coerente dentro de casa.

 4. Jesus as toma nos braços – (Mc 10.16). Esta figura é muito linda. Atitude de acolhimento, proteção, colo, segurança, ternura. Enquanto os discípulos as espantam e repreendem, Jesus as acolhe e as coloca nos seus braços. De alguma forma precisamos toma-la em nossos braços.

5. Jesus impõe as mãos sobre as crianças – (Mc 10.16).
Aqui vemos a idéia de proteção espiritual, de unção.
Nossos filhos precisam ser espiritualmente protegidos.
Orar por eles e com eles. Entrar nos seus quartos de madrugada e orar por eles. Diariamente nossos filhos são expostos a cenas de violência na televisão, a abusos e bullying, será que estamos atentos sobre os ataques espirituais que nossos filhos sofrem? 6. Jesus as abençoa – (Mc 10.16). Precisamos sempre que abençoar é o contraditório de amaldiçoar. Abençoar vem do latim benedicere, que significa “afirmar o outro”. Reconhecer o valor do outro e afirmar tal valor. Facilmente depreciamos a simplicidade e alegria do coração das crianças.
Já viram como pré-adolescentes e adolescentes já tem sofrido tantos distúrbios psiquiátricos ainda tão jovens? No fundo temos aí crianças vivendo além de suas possibilidades. O que está acontecendo com esta geração?

Conclusão:
No inicio do meu ministério, preparamos a igreja para uma conferencia evangelística. Toda a igreja esteve envolvida, fizemos convites, oramos pelo evento e convidamos um pregador de fora para nos trazer a mensagem. No final do culto, 9 pessoas, entre elas uma criança, aceitaram o convite para entregarem sua vida a Jesus. Depois de conversar com “os adultos”, conversei com aquela menina de apenas 9 anos, e lhe perguntei: “Por que você se levantou e veio até à frente?”. E ela, emocionada me respondeu: “Por que Jesus me tocou?”.

Envergonhado devo admitir, que a melhor e mais abrangente resposta que recebi naquela noite, foi a de uma criança, sendo tocada por Jesus.
Não devemos nunca subestimar o que uma criança tocada por Jesus é capaz de experimentar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Mc 9.14-29 ELES NÃO PUDERAM…

Introducao: Dr. Francis Schaeffer, no último livro que escreveu "The evangelical diseaster" faz uma análise pessimista da Igreja. Para ele, a não ser que haja uma nova mentalidade que impulsione a um compromisso radical com o Evangelho, o cristianismo tornar-se-á obsoleto e sem sentido. O Texto que ora lemos, é um texto também pessimista. Vemos uma igreja perplexa e desorientada já no primeiro século. Com poder, mas paradoxalmente, vivendo uma realidade de fracasso. O que levou igreja a esta incapacidade. Receberam poder, mas onde está este poder ? Onde está a autoridade do povo de Deus? O que levou esta igreja ao fracasso? Quais são as realidades deste texto que apontam para o fracasso da igreja? 1. Uma Igreja que vive discutindo idéias, mas que não consegue demonstrar poder (v.14,16) Estes versículos nos mostram a Igreja discutindo com os escribas. E uma comunidade que vive acusando e defendendo-se, tratando de forma secundária questões essenciais. Uma Igreja que vive em torno de concílios que não conciliam nada, com comissões que não objetivam nada, sem uma perspectiva certa do que deseja e onde quer chegar. Despendendo tempo e energia em questões que são absolutamente tolas ou desnecessárias. Uma Igreja sem poder vive em torno da retórica. Jamais supera o discurso. E o que vemos nestes discípulos. Discutindo sem dar respostas. Vive-se o dilema dos "pontagrossistas" e os "pontafinistas" nas viagens de Gulliver, que viviam em guerra em torno da discussão quanto a maneira de se quebrar os ovos. 2. Uma Igreja impotente deixa triste o coração de Deus -(vs. 19)"Até quando vos sofrerei?" Esta pergunta de Jesus é dura e inquietante. Jesus está afirmando que esta dificuldade de exercer o poder e confiar no poder e na autoridade do seu nome, o entristece. 3. A Igreja se torna impotente por causa da sua incredulidade – (v. 9:19) Na carta aos hebreus somos advertidos em relação à incredulidade: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo”. (Hb.3:12). O que nos surpreende neste texto é que a exortação é feita para a igreja. “Oh geração incrédula”. A Igreja pode se tornar incrédula, sem perceber. O que levou estas igrejas da Nova Inglaterra nos Estados Unidos a se tornarem em túmulos senão o fato de que a palavra de Deus foi cada vez mais sendo esquecida? 4. Uma igreja impotente gera dúvidas com relação ao poder de Deus – “Se podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos” (Vs 22). Neste caso, torna-se claro que o homem começa a questionar a possibilidade de Deus intervir. Ele entrou numa crise de fé, porque sua fé foi frustrada. "Se podes, ajuda-nos". vs. 22 A incapacidade da igreja gera dúvidas sobre Deus. A crise na Igreja não é externa, é interna. O maior problema da igreja não é o ataque de Satanás, mas sua incapacidade de crer. O maior problema da igreja é a falta de fé no poder de Deus. Uma igreja sem autoridade gera dúvidas no coração do povo se deve crer ou não : "Eu creio Senhor, ajuda-me na minha falta de fé". (9:23). Este é um homem que crê, sem saber se deve ou não crer. Este homem vive a dialética de crer sem crer. De querer crer, mas enfrentar algumas dificuldades práticas para que tal fé se autentique. 5. A Igreja impotente, não consegue quebrar as castas espirituais –(vs. 18) Vivemos num mundo no qual as forças das trevas operam de forma profunda. Neste texto, Jesus fala de uma casta específica: "esta casta"-(vs.18). As castas tem manifestações diferentes na história e na geografia. Uma realidade opressora para um povo, pode não ser a forma de ação noutra região. Por exemplo: A força Vudú e forte no Haiti (Um dos países mais pobres do mundo). Nos Estados Unidos, a ação maligna se dá noutra direção: Consumismo e secularismo., satanismo, New-Age, todas sao demoníacas. Por isto, a igreja deve estar atenta para quebrar tais ações históricas: Como Jesus lida quando sua igreja encontra-se impotente? i. Jesus demonstra que para exercer autoridade espiritual precisamos de comunhão com o Pai. Onde estava Jesus antes deste confronto? No monte! Buscando sabedoria e poder do alto. Onde estavam o discípulos? Discutindo e usando todo seu poder de argumentação e apologética no debate teológico. Aqui surge uma regra simples: Antes de enfrentar o diabo, precisamos encarar e estar com Deus.O seu poder está disponível. Tudo é possível ao que crê!” (v.23). Rev. José João relatou a experiência que ele teve com um babalorixá, dentro de um restaurante em Manaus. Quando ele entendeu que havia uma força espiritual sobre a vida daquele homem e repreendeu, o homem ironizou. As palavras de Jesus vieram á sua mente: “Esta casta não pode sair senão por meio de oração e Jejum”. Convocou sua igreja para orar com ele, e obtiveram vitória sobre o maligno. ii. Jesus não deixou Satanás dar show – Isto está muito claro em Mc 9.25: “Vendo que a multidão concorria” (Mc 9.25). Existem pessoas que amam o bizarro, o mágico, o excêntrico e a tragédia. Jesus confronta o diabo e não ficou fazendo entrevista com ele. Não temos que fazer teologia ouvindo espíritos de demônios e a seres do engano. iii. Jesus usa esta trágica experiência de fracasso, para ensinar seus discípulos – a. O mal não se vence com discussões b. O mal não se vence com shows e pirotecnia do diabo c. O mal se vence com confrontação d. O mal se vence, acima de tudo, com profundo relacionamento com Deus. Qualquer cristão, por mais fraco que se considere, pode enfrentar ações demoníacas em nome de Jesus, porque o Espírito de Deus habita em sua vida. Aplicações e conclusão: A. Não tenha medo do maligno – Tema a Deus! Existem vários textos bíblicos que nos ajudam a ficar firme diante de oposição maligna:  “Aquele que habita, no esconderijo do Altíssimo... Diz ao Senhor, meu refugio!” (Sl 91.1,2);  “Aquele que é nascido de Deus, Deus o guarda, e o maligno não lhe toca!” (1 Jo 5.18)  “Eis ai, vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano” (Lc 10.19);  “Todavia, o Senhor é fiel, ele vos confirmará e vos guardará do maligno” (2 Ts 3.3). B. Não fuja do diabo, mas confronte –  Confronte com oração e jejum (vs. 29) - A igreja precisa desenvolver uma vida devocional profunda. Somos uma igreja que ora pouco, gasta pouco tempo com Deus. Onde jejum é uma terminologia proibida. Os místicos não cristãos gastam mais tempo em reflexão do que cristãos em vida de oração.  Confronte com a autoridade que há no nome de Jesus. O poder é dEle, não nosso! o Resisti-lhe firmes na fé. o Resisti ao diabo e ele fugirá de vós. (1 Pe 5.9). C. Nunca esqueca que o sangue do Cordeiro salpicou suas vestes – Você tem a cobertura do Cordeiro sobre sua vida.  “Contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel” (Nm 23.23)  “Aquele que é nascido de Deus, Deus o guarda, e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5.8).

Mc 9.33-37 O Líder Servo

Introdução: 

Historicamente a disputa pela primazia e pelo governo e poder da igreja sempre existiu. Nos dias apostólicos, na Idade Media e em nossos dias. A questão do poder nunca se resolveu porque o homem, essencialmente é o mesmo. Depois da verdade, a questão do poder é o assunto mais desafiador para o líder.

Poder é a capacidade de assegurar resultados desejados e de evitar aqueles não desejados.
Poder é a habilidade de investir a vontade de alguém com a realidade. Assegura o que quero e previne o que não quero.

Quais são as fontes de poder?
(1) - Terrenos, propriedades, bens;
 (2) - Conhecimento – saber é poder;
 (3) - Capacidade técnica;
 (4) - Poder de persuasão;
 (5) - Dinheiro – nos dá acesso às pessoas de poder;
(6) – Informação;
 (7)- Posição – Maior fonte de poder no nosso mundo estruturado.

 Nos evangelhos, vemos como a luta de poder entre os discípulos estava presente.

Em Mc 9.33-34, o texto que lemos, vemos a discussão insólita e patética entre os discípulos: “Quem é o maior?”
Em Mc 10.35-45, vemos a que nível de orgulho e de ausência de ridículo, o desejo pelo poder pode atingir o coração do homem. Tiago e João pedem para que, nos céus, um esteja ao lado de Jesus, outro do outro lado.
Na Idade Média, a Igreja chegou a acreditar que poderia vender perdão de pecados (indulgência), por isto os cargos eram negociados, barganhados e negociados (sinomia). Nos nossos dias não é diferente, onde se concentra o poder, concentra-se também a disputa, a vaidade, a competição e a soberba.

Para evitar este desejo de controle, o conselho local da Igreja Presbiteriana de Anápolis, decidiu que faríamos um rodízio de presbíteros e diáconos, e agora, todos passam por um ano de sabático, logo após o vencimento de seu mandato.

No texto, Jesus traz uma criança para o centro da discussão, apontando como o líder deve lutar pela simplicidade, humildade e pureza presentes na alma de uma criança.
Como Jesus lidou com o Poder?
 Ninguém teve maior poder que Jesus, mas ninguém frustrou mais os poderes que ele. Ninguém desarmava o poder mais que Jesus.

1. Ele virou a escala de poder de cabeça para baixo. Neste texto, ele tomou uma criança, e ensinou que “quem quer ser o primeiro, seja o último”.

No Reino de Deus, destrona-se o sentimento de superioridade e a necessidade de controle.

Quer ser líder? Sirva.
Simplicidade é o oposto de grandeza.

Veja como Jesus virou a escala de cabeça para baixo.
1. O mundo diz: O maior de todos está enquanto o sustentam. (quantos votos, quanto dinheiro, posição que trará) Jesus diz: Acolha o pequenino como se fosse um rei

2. O mundo diz: a grandeza está em poder incluir e excluir. (capacidade de controlar). Jesus diz: recompense qualquer um que agir em meu nome.

3. O mundo diz que a grandeza está em como posso me desenvolver a mim mesmo da melhor maneira. Jesus diz que a grandeza está em sacrificar-se a si mesmo pelos seus pequeninos.

 Diante disto, algumas perguntas devem ser feitas:
A. Estou entendendo o que significa servir no Reino de Deus?
B. Estou disposto a pagar o preço e a orar sempre a Deus, vigiando meu coração da vaidade e da soberba?
C. Quão grande é o meu comprometimento para com os outros?
D. Líderança, da forma como Jesus a estabeleceu, é realmente um convite atraente para o meu coração?

2. Ele mostrou a autoridade de servo - Jesus mesmo se fez servo (Fp 2).
Ele ensina que o primeiro deve ser escravo (Lc 22.26).
Surpreende os discípulos ao se colocar aos seus pés empoeirados e lavá-los. Pedro reage violentamente a isto, talvez porque tenha entendido as implicações que isto teria para sua própria vida (Jo 13).
No final deste ato, pergunta aos mesmos: “Compreendeis o que vos fiz?” (Jo 13.14). Em outras palavras: Vocês estão sabendo a natureza do meu chamado? Líderança envolve ser servo. O primeiro deve ser escravo. Não é o que se assenta à mesa à mesa, mas o que serve? Este é o principio mestre de Jesus.

Dois mal entendidos:
a)- ser líder servo não quer dizer que você abra mão de sua pessoa, personalidade, ou de sua responsabilidade de liderar e tomar decisões difíceis;

b)- Líderança não quer dizer perda da capacidade crítica e de julgamento histórico. A comunidade de Jesus é uma comunidade de servos, na qual: Os maiores servem os menores, Os últimos, servem os primeiros, Os mais poderosos, servem os menos poderosos. Jesus demonstrou: A prioridade do último lugar e a autoridade do servo. Conclusão: Entendendo estes princípios,

Josué Campanhã, num encontro da Sepal, fez as seguintes aplicações:

1. Líderes servos se humilham e esperam que Deus os exalte. Mc 10.45 "a verdadeira grandeza e a verdadeira líderança, não se alcançam submetendo-se alguns homens ao serviço de um, mas generosamente dando-se a si mesmo ao serviço deles" (J. Oswald Sanders). O importante não é como os homens avaliam, mas como Deus nos avalia.

 2. Líderes servos seguem a Jesus e não a posições. Não estão preocupados com sua auto imagem, reputação ou reconhecimento, mas em glorificar a Jesus através de sua vida e ministério.

3. Líderes servos renunciam seus direitos para encontrar grandeza servindo os outros. Jesus lavou os pés de seus discípulos.

4. Líderes servos se arriscam a servir os outros porque confiam que Deus controla suas vidas.

5. Líderes servos imitam a Cristo, tomando a toalha da servidão de Jesus para satisfazer as necessidades dos outros.

6. Líderes servos delegam responsabilidades e autoridade para outros a fim de atender necessidades maiores.

Quando os líderes procuram fazer sozinhos esgotam a si mesmo e a seus seguidores.

7. Líderes servos multiplicam sua líderança delegando responsabilidade. Como?
A. Motivando-os –
B. Preparando-os – Motivação sem treinamento é como entusiasmo sem direção.
C. Instruindo-os – Muitos liderados não tem direção, estão sós na sua tarefa. Isto traz aborrecimentos e frustrações. Paulo preparou a Timóteo.
D. Mentorizando-os – Um mentor é alguém que guia e dirige outros através de novos terrenos que já conhece e por este motivo encontra-se preparado para dirigir.
E. Avaliando-os - Jesus observava os outros enquanto estes o seguiam.
F. orando por eles – Pedir para que o poder de Deus seja derramado sobre suas vidas.

8. Líderes servos conseguem trabalhar em time. Já que não estão preocupados com posições e cargos. Equipes demandam diferentes habilidades e dons.

O propósito da equipe é fazer que os pontos fortes sejam eficientes e os fracos irrelevantes. 

Conclusão: 
 Paulo afirma: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20.24).
Nada é mais importante que receber o aplauso dos céus.
Certo garoto, de 12 anos de idade, por causa da sua performance no violino, foi convidado a tocar numa apresentação de gala. O teatro estava lotado, e ele se saiu muito bem. Todos o aplaudiam, quando de repente, aquele garoto deixou o palco para chorar. O apresentador foi atrás dele e perguntou o que tinha acontecido, e ele lhe falou: “você viu aquele homem assentado no banco da frente? Ele não me aplaudiu”. E o apresentador lhe falou: “E daí? Todos os demais estão te aplaudindo”.
Então ele disse: “Você sabe quem é aquele homem? Ele é meu professor de violino”.

 Todos podem estar nos aplaudindo, mas se não tivermos o aplauso dos céus, corremos um serio risco no coração.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Jos. 14.6-15 Por que sonhos são adiados?

Introdução: 

 Mário Quintana: “Uma vida basta apenas ser vivida. Também precisa ser sonhada”.

Um dos textos do Antigo Testamento que se cumpre cabalmente no Novo Testamento encontra-se em Joel 2, quando o profeta afirma, 700 anos a.C, numa referência ao derramamento do Espírito Santo: “Nossos jovens terão visões e nossos velhos sonharão”.
Este texto é evocado por Pedro no seu famoso sermão no Dia do Pentecostes (At 2.17).

Deus sempre coloca sonhos no coração dos homens. Surpreende-nos ainda mais quando vemos que ele coloca sonhos no coração dos velhos. ter jovens cheios de sonhos, não nos parece difícil, mas velhos sonhando parece ser controvertido.

Muitas vezes, porém, perdemos a capacidade de sonhar. Perdemos o brilho nos olhos.

O que leva as pessoas a perderem seus sonhos?

A. Muitos sonhos estão mais para fantasias do que para o idealismo. Por esta razão não nos preparamos para atingi-los, não lutamos por eles ou os perseguimos. Não transformamos nossos sonhos em projetos.

B. A Demora – Eventualmente, porque os sonhos não se cumprem, desanimamos. Assim como fizeram as virgens, que despreparadas, dormiram com suas lâmpadas sem azeite, e quando os seus noivos chegaram elas não puderam concretizar seus sonhos. O noivo demorou. Houve um atraso não no calendário de Deus, mas na urgência de nossas agendas. “Quem tem pressa come cru!”.

C. Muitos sonhos são frutos de desejos pessoais, mas não encontram respaldo no pensamento de Deus – Não pedimos sua orientação, não os submetemos a Deus. Muitas vezes atropelamos processos na tentativa de fazer com que nossos desejos se realizem e o resultado é sempre cansaço e frustração. 

Neste texto vemos Calebe, um dos espias que foram fiéis ao projeto de Deus, lutando por uma antiga promessa e sonho dado por Deus. Naquela época tinha 40 anos, agora 85. No entanto ele reivindica a promessa dizendo: “Tinha eu quarenta anos quando Moises, servo do Senhor, me enviou a Cades-Barnéia para espiar a terra... 45 anos há desde que o Senhor falou esta palavra a Moises... Estou forte ainda hoje como nos dias em que Moises me enviou...” (Js 14.7,10,11).

Calebe havia recebido uma promessa e isto ocupava a sua mente desde então. Ele estava agora com 85 anos e todos sabemos que um homem desta idade não tem o mesmo vigor de alguém com 40, no entanto, seu sonho o havia sustentado desta forma tão direta. Por que é importante sonhar? 1. Muitos sonhos vem do próprio Deus – Calebe espera 45 anos, mas o Senhor havia dito esta palavra, e ele encontrava-se confiante quanto ao que Deus lhe havia dito. Seus sonhos não morreram.

José espera cerca de 20 anos, para que suas divagações oníricas se cumprissem na honra que ele esperava. Não procurou atalhos. Os sonhos vinham de Deus. Davi recebeu uma promessa de que seria rei de Israel, nunca quis atropelar processos. Ele sabia que podia continuar sonhando, porque tais sonhos vinham de Deus.

Sonhos sustentam nossa existência – Josué afirma que estava tão forte como no dia em que Moisés o havia enviado (Js 14.11). Sua força física era bem menor, mas sua disposição de alma continuava a mesma. Limitações físicas foram compensadas pelo entusiasmo.

Sonhos trazem bênçãos para as gerações – Sempre me pergunto porque Calebe está interessado em um pedaço de terra quando ele já está perto da morte? A única razão que encontro é que ele estava preocupado com seus filhos e netos. Ele estava pensando naqueles que viriam depois dele. Eventualmente Deus não coloca um sonho para que sejamos beneficiados, mas para que outros sejam beneficiados. Por que Deus adia os sonhos? O sonho de Calebe demorou 45 anos para se realizar. Muitas vezes ficamos desanimados com o silêncio e a demora de Deus.

Ao invés de agirmos assim, deveríamos perguntar, por que Deus demora tanto?

1. Desejo não realizado nos leva à presença de Deus – Quando estamos imbuídos de uma convicção de Deus, e ela não se cumpre, isto nos leva a buscar a força e a graça de Deus para continuar lutando, orando, crescendo.

Ana, mãe de Samuel, desejava um filho, e isto lhe parecia impossível porque ela era estéril. No entanto, sua atitude foi a de orar, clamar e suplicar a Deus. Quando Deus lhe responde ela afirma: “Por este menino orava eu”.
Às vezes nossos sonhos estão relacionados a um determinado emprego. Isto nos leva a orar, a batalhar, a lutar. Outras vezes a um casamento, e somos levados com lagrimas à presença de Deus para buscar sua benção e direção. Desejo não realizado nos leva à Deus.

2. Sonhos adiados, nos ajudam a entender que Deus é Soberano –. “Se ele resolveu alguma coisa, quem o poderá dissuadir? O que ele deseja, isso fará". (Jó 23.13).

Na nossa longa espera, vamos entendendo o plano de Deus, aprendendo a submeter nossa vida a ele, a orar, a depender, a nos humilharmos.

3. Por causa de seus planos inescrutáveis – No caso de Ana, Deus tinha um propósito grandioso para a vida daquele menino, e por isto colocou uma mãe para orar por ele, antes dele nascer. O apóstolo Paulo, contemplando a grandeza dos planos de Deus afirmou: “Ó profundidade das riquezas, e da sabedoria e do conhecimento de Deus, quem primeiro deu a ele e depois recebeu. Porque dele por ele e para ele são todas as coisas. Glorias sejam dadas a ele eternamente, amém!” (Rm 11.33-36).

A palavra chave neste caso é “perseverança!”. Afinal, “Não somos dos que retrocedem para a perdição!”. Por isto somos exortados: “Não nos fatiguemos, desmaiando em nossas almas”(Hb 12.3).

Calebe, apesar de ter sonhos tão claros, não vai receber a terra sem lutas. Apesar do gigantismo do povo daquela região que ele iria dominar, o rei Arba não lhe espanta (Js 14.15).

Conclusão:

Ao considerar todas estas coisas, sou levado a pensar no grande Sonho de Deus para a sua humanidade.
O profeta Isaias afirma que Jesus, aquele que morreria na cruz pagando o preço de nossa culpa e nos justificando diante do Pai, veria o fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficaria satisfeito, porque por meio do seu sacrifício, justificaria a muitos (Is 53.11).

Jesus tem um sonho para nossas vidas: De nos apresentar diante de Deus, inculpáveis, santos e irrepreensíveis. Este é o desejo de Deus, de ver um povo redimido para seu louvor, o glorificando ao redor da cruz.

Oração:
“Senhor, eu não entendo porque o milagre ainda não se deu em minha vida, mas eu sei que estou nas mãos de um Deus que provê todas as coisas. Me ajude a perseverar, não deixe que meu coração esmoreça, mas acima de tudo, me dê a compreensão de que o grande sonho do Senhor para minha vida não deve estar em coisas temporais, mas nas eternas. Me ajude a entender que a grande benção da vida está no Senhor, e não nas coisas que o Senhor pode me dar”.

Gn 11 Babel

Introdução: 

Um dos textos mais conhecidos da Bíblia encontra-se em Gn 11.1-9, no relato da torre de Babel. Curiosamente não me recordo de ter ouvido algum sermão falando deste assunto. 

Afinal, que lições podemos aprender desta narrativa biblica? 

Neste texto vemos um povo buscando grandeza: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até os céus e tornemos célebres o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4). 

O que vemos, porém, é que este esforço se tornou um retumbante fracasso. 
“Ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a aterra e dali o Senhor os dispersou por toda superfície dela” (Gn 11.9). A busca da grandeza e glória, de chegar aos céus, revelou-se trágica. O homem perdeu o senso de direção, porque quis “chegar até os céus”. 

Até hoje o que vemos são seres humanos “playing God”, (brincando de Deus), querendo assumir o lugar e bancar a divindade. No filme Jurassic Park temos uma cena em que um cientista afirma: “Nós não podemos querer brincar de Deus, se a natureza extinguiu os dinossauros, é porque era necessário que assim acontecesse”. 

Nos tempos de Galileu, quando o homem descobriu que não era a terra o centro do universo (Geocentrismo), e sim o sol (Heliocentrismo), 
O homem achou que agora ele poderia assumir o lugar da divindade, mas assim tem sido desde o inicio da criação. Homens tentam ser Deus. Homens pensam que são Deus, e alguns tem certeza de que são Deus. 

 Babel representa todo esforço da humanidade para excluir Deus. É o que Henry Nowen chamou de “Teomania”. Esta tentativa luciférica e adâmica do homem em querer assumir o lugar de Deus, ser Deus. 

Certa pessoa chegou cúmulo de afirmar: “Não gosto deste negócio de Deus ser Deus”. Eu repliquei que só existe um que pode ter a prerrogativa da divindade, e este ser é o próprio Deus. 

Historicamente podemos afirmar que existem alguns núcleos centrais que dominam o pensamento humano, pelo menos 4 blocos da ciência podem aqui ser citados. 

A. Na ciência Social: Marxismo – Pior que a visão econômica, com o inevitável totalitarismo, temos na sua raiz o Materialismo dialético”, afirmando que a história é movida não por ação divina mas por lutas de classes. 

B. Na Filosofia: Existencialismo – Sartre, Nietzsche e Camus afirmam que a existência precede essência. Você tem que viver o “aqui e agora”, porque o que importa é viver. Esteja feliz com sua vida, e isto basta! Não existe ideia de eternidade. 

C.  Na Biologia e genética: Evolucionismo – Mais que o problema relacionado à discussão se o homem veio ou não do macaco, fruto de um evolucionismo cego, temos aqui o conceito filosófico da “Geração espontânea “. A vida é uma mera sucessão de acasos, coincidências naturais. Não há Deus! Seu expoente máximo foi Charles Darwin. 

D. Na Psicologia e Psiquiatria. Toda a base da psicologia é humanista. A psicoterapia secular exclui Deus. A Psicanálise é uma das suas linhas mais conhecidas. Freud tentou dinamitar Deus em livros como “Totem e Tabu”, “O mal estar da civilização” e “Moisés e o Monoteísmo”. Religião nada mais é que “Uma neurose obsessivo-compulsiva. 

Em todos estes movimentos filosóficos, temos o mesmo pensamento de Babel: 
Ter o domínio, 
        assumir o poder, 
              controlar, 
                 ser igual a Deus e se possível, ser Deus. 
Como Lúcifer decidiu fazer. 

A grande tentação para Adão foi a de que não mais haveria barreiras para seu conhecimento, e “como Deus”, seria conhecedor do bem e do mal. 

A sugestão da serpente é que Deus estava escondendo o jogo, sendo mal intencionado. 

Babel. 
A tentação aliada ao seu orgulho levou-o fatalmente à queda. 

No Budismo, uma das religiões que atualmente tem uma enorme penetração no mundo de intelectuais e artista, a figura de Deus é um completo ausente. Estranhamente é uma religião sem Deus. Para o budismo, a divindade está dentro de você. Busque-o através da meditação, você vai encontrá-lo não fora de você, já que a divindade é você mesmo! Sua plena potencialidade vem através do Nirvana, o encontro com o nada, e a ausência de conflitos e dor: Sua divindade interna. 

Babel sugere um universo fechado. um mundo sem transcendência.
O homem está entregue a si mesmo (sem janelas, confuso e disperso). 

Conseqüências: 

1. Confusão interior. 
Angústia, desordem, caos, desespero. 
No existencialismo os temas centrais sao "Náusea, angústia primal. 

2. Quebra da comunicação: A quebra de comunicação  e diálogo. Não nos entendemos... Falamos, mas o que o outro entende? Surgem as guerras, conflitos tribais, políticos, dificuldade do marido e esposa falarem a mesma linguagem, divisão, divórcio, confusão. Distanciamento Pais/Filhos. 

Babel e Pentecostes 
A Bíblia nos mostra uma unidade de pensamento. 
Todas as suas partes estão interligadas. Existe um texto, no Novo Testamento, que nos mostra um aspecto completamente diferente de Babel, sua narrativa correlata pode ser encontrada em Atos 2, no evento do Pentecostes. 
“Estavam, pois, atônitos e se admiravam dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus, todos esses que ai estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna”(At 2.8). 

Ocorre aqui o inverso de Babel. 
Pessoas com linguagens distintas passam a falar na mesma língua materna. 
O caos desfeito e a confusão são desfeitos, o mal entendido desaparece e a comunhão se estabelece. A ordem começa com Deus, no derramamento do seu Espírito Santo, (Pentecostes), e não no esforço humano da supremacia. 

Babel gera confusão, caos e competição. 
No Pentecostes, Deus reveste os homens de poder, é uma operação que desce “do alto”. 

A raça humana não consegue se entender sem Deus. Falamos idiomas distintos. Temos a mesma língua mas não sabemos nos comunicar. Se você acha que se comunica bem, pergunte à sua esposa. 

Os lares encontram enormes dificuldades para se entenderem. 

Só é possível falar a mesma linguagem que o Espírito Santo gera esta identificação. Nossa comunicação se torna mais confusa quando buscamos a auto exaltação e a auto-glorificação. 

Paulo exorta a duas irmãs de Filipos parem pensarem concordemente no Senhor, para se entenderem (Fp 4.2); exorta também a comunidade de Corinto, para que fosse unida, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (1 Co 1.10). Isto só é possível quando o Espírito Santo media o diálogo. Quando buscamos auto-glorificacão, o investimento será em indústrias e armas bélicas. Nos armamos. 

A tentativa de deificação do homem, de alcançar os céus, precipita o homem na confusão e no desamor. 
Babel mostra o homem perdendo o ponto de referência comum com o semelhante. 

No Pentecoste vemos a raça humana reencontrando a capacidade do dialogo. 

Conclusão:
Se seu casamento, sua igreja, sua família não está falando a mesma linguagem, só Deus poderá nos ajudar a entender o outro. 
Em Babel vemos divergência, em Pentecoste, convergência; 
Em Babel confronto, no Pentecoste, encontro. 

Somos sempre exortados na Palavra de Deus a termos um coração quebrantado. Deus já ensinava através dos profetas que Deus não se agradava de sacrifícios, mas de um coração quebrantado, isto é demonstrado claramente no Sl 51.16-17. 

A religiosidade mecânica em torno de ritos não é o que Deus deseja de seu povo, e sim um coração sensível. O caminho passa pela rendição. “ Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça”. Babel é o oposto do Evangelho. Babel é auto-afirmação, controle, domínio, supremacia, arrogância e orgulho. Evangelho é rendição, quebrantamento, retorno a Deus, dependência. 

No Evangelho transferimos nossos direitos a Deus e destronamos o EU. Certamente não existe mensagem secular que fale da gente morrer para o EU, mas Jesus foi enfático ao afirmar: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muitos frutos” (Jo 12.24). 

O modelo de Jesus é sua entrega a nosso favor. 
Olhando para Jesus vemos sua humildade, sua dependência do Pai, e seu desejo de servir. 
Tudo isto é oposto a Babel.

Mc 10.2-12 É Lícito? A Questão do divórcio

Introdução: 

A questão do divórcio sempre suscitou sérias discussões, tanto hoje como nos dias de Jesus. Não é, pois, sem razão, que Jesus é indagado pelos fariseus sobre este assunto, e os discípulos, posteriormente, quiseram saber mais detalhes sobre aquilo que Jesus havia dito. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que em 2007, o número de divórcios diretos chegou a 231.329, ou seja, para cada quatro casamentos foi registrada uma dissolução. Atingindo sua maior taxa desde 1984, com crescimento superior a 200%. 
Em 13 de julho de 2010, foi promulgada a emenda constitucional nº 66, revogando disposições passadas e possibilitando o divórcio dos casais nos cartórios, dispensando todas as formalidades processuais de um feito em tramitação judicial. Surpreende-nos também a observação de que não há diferença significativa entre divorciados católicos, espíritas, ateus e evangélicos. As taxas são proporcionalmente as mesmas. O divórcio, portanto, é uma realidade que tem atingido diretamente a igreja de Cristo. 

Isto se dá por duas razões: 

A. A superficialidade dos relacionamentos – Vivemos numa sociedade que descarta tudo que é durável, é aquilo que Zigmunt Balmant chamou de “amor líquido”, que se revela nos namoros onde o termo “ficar”, que dá idéia de permanência, passou a designar um relacionamento de uma noite, onde a pessoa não terá nenhum compromisso com a outra no outro dia. Na esfera do relacionamento sofremos o mesmo problema da obsolescência industrial, que fabrica máquinas e objetos para uma durabilidade mínima, e logo se joga no lixo. Muitos afirmam: “Se não der certo, a gente se separa!” Se você entrar pensando desta forma no seu casamento, certamente ele vai acabar. 

B. O desconhecimento das Escrituras – Muitos não sabem qual é o pensamento de Deus sobre este assunto. Alguns até argumentam dizendo: “É isto que eu penso!”, mas para os discípulos de Cristo não interessa o que ele pensa, mas o que a Palavra de Deus diz, em outras palavras, o que pensa o Senhor? A pergunta dos fariseus reflete bem a preocupação sobre o assunto: “É lícito ao marido repudiar sua mulher?” (Mc 10.2). 

Na narrativa do evangelista Mateus, os fariseus perguntam: ““É lícito ao marido repudiar sua mulher, por qualquer motivo?”(Mt 19.3). Jesus retorna a pergunta aos discípulos: “O que vos ordenou Moisés?” Na pergunta subjetiva que é narrada em Mateus, os discípulos perguntam: “Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?” (Mt 19.7). 

Tanto em Mateus como em Marcos, Jesus não fala em termos de mandamentos, mas de permissão. Moisés não havia mandado, mas permitido (Mt 19.8; Mc 10.4). 

Outro aspecto importante da pergunta se refere à uma questão sutil: “É licito ao marido repudiar sua mulher?” A grande questão não era sobre o divórcio, mas sobre o repúdio. 

O Antigo Testamento tinha regras bem claras acerca do divórcio, cf. Dt 24:1-4: Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, E este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, Então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás pecar a terra que o SENHOR teu Deus te dá por herança

A Carta de Divórcio era um documento legal, que dissolvia os laços matrimoniais, mas também existia o que era chamado de Repúdio. 
Em Mc 10.2, eles perguntam sobre o repúdio, mas Jesus vai falar tanto do divórcio quanto do repúdio. 

O termo divórcio, vem do hebraico Kerythth, e no grego Apostasion, enquanto o termo repúdio vem do hebraico Shalach, e do grego Apoluo, que significa Soltar( Mt. 18.27: At. 26.32), libertar ( Mt. 27.15-26), despedir (Lc. 14.4; At.15.30; Mt. 14.15-23), deixar (Mt. 1.19 ) e repudiar (Mt. 5.32; Lc. 16.18). 

Repúdio (Apoluo) não tem o mesmo significado de divórcio. Era uma atitude tomada por homens que, não queriam dar carta divórcio e apenas repudiavam suas mulheres, mantendo-as presas institucionalmente a eles. A mulher repudiada não podia se casar com ninguém, e quem se casasse com a repudiada cometia adultério (Mt 19.9). 
Já o divórcio (Apostasion), era aceito e normatizado desde os dias de Moisés, tornando o compromisso nulo, passando o estado da pessoa a ser como antes do casamento ( Dt. 24.1-4). Se o divórcio era causado pelo adultério, então o ato de repudiar era legal. Esta é a cláusula de exceção estabelecida por Jesus (Mt 19.9). 

Nos dias de Jesus existiam duas famosas escolas de interpretação em Jerusalém: Hillel e Shammay. 
A primeira permitia que o divórcio fosse liberado por qualquer motivo e a Shammay aceitava-o só em caso de fornicação, (Pornéia), que se refere a todo tipo de relações sexuais ilícitas: abuso sexual, adultério, prostituição, perversão, agressão sexual, etc. 
Notemos que os discípulos perguntam se era lícito repudiar “por qualquer motivo”? (Mt 19.3), eles não tinham dúvida sobre o divórcio, tido como legal pelos interpretes da lei. Com o tempo, as pessoas passaram a interpretar a afirmação de Dt 24.2 “nela encontrar coisa indecente” por justificar toda forma de divorcio. Eles distorceram a lei e permitiam o divórcio por motivos frívolos tais como: comida mal temperada; porque a mulher saia de casa, conversava alto demais, soltava o cabelo ou possuía uma mancha ou marca no corpo que o marido considerava feia. 

A resposta de Jesus surpreende, porque ele aponta não para a questão legal, mas para a questão do coração. 
Divórcio tem a ver com endurecimento das coronárias. Jesus não sustenta seu ponto de vista na exceção dada por Moisés, mas no propósito original de Deus. “Por causa da dureza do vosso coração, ele vos deixou escrito este mandamento” (Mc 10.6). “...entretanto, (conjunção adversativa), não foi assim desde o princípio” (Mt 19.9). “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mc 10.9). 

Jesus evoca o design da criação. Este era o propósito original de Deus ao criar a instituição do casamento. 

Jesus dá três razões para não justificar o divórcio: 

1. O Design Divino – O projeto original de Deus para o casamento é que a união seja duradoura. “O que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mc 10.9). Apesar de termos relacionamentos tão superficiais em nossa geração, não era isto que Deus tinha em mente. O projeto de Deus era voltado para uniões estáveis. Este deve ser o ponto de partida para toda discussão sobre o divórcio. A questão não é meramente se ele era legal ou não, mas que projeto estava na mente de Deus ao instituir o casamento. Jesus demonstra claramente isto ao desprezar a cláusula de exceção tida como certa, na permissão que Moisés deu na lei, de acordo com Dt. 24. 2. 

A Unidade Essencial do Casamento – O casamento possui uma unidade mística e indelével, que torna indissolúvel a relação. “e, com sua mulher, serão os dois uma só carne, de modo que já não são mais dois, mas uma só carne”(Mc 10.8). Temos perdido esta dimensão do mistério do casamento. O termo mistério, extraído de Ef 5.32, deu ensejo para muita discussão entre os interpretes católicos e protestantes. Por causa desta expressão paulina, traduzida por Jerônimo na Vulgata Latina como sacramentum, a Igreja católica considera o casamento um dos 7 sacramentos da igreja. A Reforma tem posição contrária, e adota apenas 2 sacramentos: O Batismo e a Santa Ceia. Não posso, contudo, deixar de compreender, porém, que o casamento manifesta a graça de Deus para minha vida. Desfrutar o outro ensina-me muito sobre Deus. Uma só carne, mistério, onde o afeto e a paixão se manifestam. O casamento fala-nos da realidade invisível de Cristo, desta linguagem subjetiva, onde podemos nos maravilhar. Onde nos aproximamos e participamos da presença de Deus. O divorcio quebra esta unidade. Quando Jesus fala de uma só carne, refere-se a este mistério. Divorciar é como pegar duas folhas coladas uma à outra e separá-las. É uma tentativa de separar o inseparável. “O que Deus ajuntou, não o separe o homem!”. 

3. O Fator coração – Jesus demonstra ainda que divórcio é acima de tudo, um problema do coração. Divórcio quebra a dimensão do mistério de Deus. Jesus afirma que “Por causa da dureza do vosso coração, ele vos deixou escrito este mandamento”(Mc 10.5). Onde houver divórcio, podemos diagnosticar ali a dureza do homem, da mulher, ou de ambos. Por ser um problema de nosso interior divórcio é um amargo purgante que tomamos para resolver a crise de nossa diverticulite emocional, popularmente conhecido como “nó na tripa”. É o coração duro do homem que aponta para o divórcio: O temperamento azedo, a grosseria, a indisposição de perdoar, o adultério e a infidelidade, a promiscuidade. 

Divórcio não é questão de licitude ou de lei, divórcio tem a ver com a alma. O contrário do coração endurecido é o arrependimento, o quebrantamento, a confissão, o perdão, o dialogo, a rendição, a abertura de mão de direitos pessoais para a reconciliação. Com a dureza de coração, tais atitudes se tornam impossíveis. Divorciamos porque não queremos lidar com o nosso endurecimento. Talvez estas palavras soem duras para algumas pessoas, mas esta é a instrução da palavra de Deus. 

Talvez você que já se divorciou sinta-se incomodado com estas palavras, mas já parou para pensar como seu casamento acabou? Quanta inflexibilidade, falta de cortesia e de respeito teve que existir para o sonho de vocês se tornar um pesadelo? 

A carta de divórcio é legal. Do ponto de vista jurídico, e do ponto de vista da lei, mas não resolve o problema mais profundo que tem a ver com o coração. 

Conclusão: 

A. Divórcio não é a opção para casais que estão passando por crises, antes o arrependimento, o quebrantamento, o perdão e a reconciliação. “Precisamos nos converter um ao outro”. Nosso coração precisa ser tocado pelo poder de Deus. Deus pode transformar você, sua esposa (o), e sua casa, se o Evangelho aprofundar em sua vida.

B. Crises no casamento são oportunidades de aprendizado, construção e maturidade.

C. Crises provocam amadurecimento psicológico: Ou amadurecemos ou apodrecemos. Diante dos embates temos que lidar com o endurecimento de nosso coração. Não há casamento sem crises. a diferença é que em um deles as pessoas aprendem a perdoar, no outro, se tornam mais obtusos e fechados. É bom lembrar que não há crise que não possa ser tratada de forma direta por Deus. 

D. Divórcio não é o pecado, mas revela o problema mais sério do nosso coração pecaminoso. Divórcio aponta para algo mais sério. Aponta para o trágico fato de que o evangelho, que é o poder de Deus,  não está fazendo efeito em nossa vida. 
Muitos argumentam: "Ah! mas o que fazer se o outro adulterou? Adultério não seria uma razão justa para o divórcio?" Não! Se o ofensor demonstra arrependimento e desejar mudança, um coração movido por Deus tem capacidade de perdoar. Mas se não houver perdão, o divórcio vai prevalecer. A dureza prevalece! 

E. Divórcio não é o propósito de Deus, nem seu desejo original para o casamento. Afinal, “o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mc 10.9). 
Se você perguntar: “Divórcio é a vontade de Deus?” a resposta sempre será não. Deus não tem prazer no divórcio. Quando Jesus conclui sua resposta, os discípulos disseram: “Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar”(Mt 19.10). Os discípulos acharam a regra de Jesus pesada. E Jesus não amenizou: “nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado”(Mt 10.11). Em outras palavras: Você pode fazer o que quiser, mas Deus não muda seus princípios por causa de seu capricho ou porque você considera difícil o padrão que ele estabeleceu. 

Neste texto somos confrontados com a necessidade de Deus em nossa vida. Divórcio não é pecado imperdoável, mas uma quebra de princípios resultante da dureza de nosso coração. Divórcio sempre existirá, enquanto a mensagem do evangelho não se aprofundar em nossa alma. Deus deixa claro que o divórcio não é o pecado, mas o sintoma de um grave problema nas nossas coronárias. Existe um enrijecimento e endurecimento que só o Espírito Santo poderá resolver. Se você já passou pelo divórcio, não tenho nenhuma dificuldade em dizer que isto aconteceu por causa da dureza de seu coração ou do seu cônjuge, ou de ambos. Fique atento com o seu coração. Se você está pensando em se divorciar, considere a possibilidade da gaca de Deus em sua vida. O vinho novo é melhor. Deus pode restaurar seus sonhos e trazer um milagre em sua vida. Na essência é disto que o Evangelho trata: tirar coração de pedra e colocar coração de carne. Em última instância, a questão não é o divórcio é ou não licito (legal), mas se Deus tem prazer nisto.