sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Jó 42.1-6 Os pecados de Jó









Introdução:





Philipe Yancey afirma que a questão essencial de Jó não é o sofrimento, mas a questão da fé. Como lidar com o sofrimento e manter a fé firme em Deus quando este parece silencioso, contraditório e ambíguo? Como continuar crendo no meio do caos? Como confiar em um Deus Todo-Poderoso que parece distante e insensível à minha dor?

Jó é descrito por Deus como um homem “íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1.8). Esta avaliação vinha do próprio Deus, não era de um admirador que conhece a pessoa à distancia, mas de alguém que sonda as mentes e os corações. Lembro-me de uma pessoa referindo-se ao seu pai, um líder cristão idoso cuja vida inteira fora fiel ao Evangelho, como alguém justo e irrepreensível, que ela sabia que ele era pecador porque a Bíblia dizia que todos os homens são pecadores.

Apesar desta consideração inicial de Deus sobre sua vida, ele não era um homem sem pecado. No final, na hora de revisão e reavaliação de sua própria vida, Jó admite uma série de equívocos cometidos. Ele afirma que muita coisa que ele dissera não tinha fundamentação, que ele falou do que não entendia e que se arrependia de suas conclusões (Jó 42.1-6). Em que errou Jó? quais foram os seus pecados?

Primeiro, o desconhecimento de Deus

No final do livro, ele admite que se arrependia das suas considerações acerca da vida e de Deus, porque ele conhecia o Senhor só de ouvir falar. Ele não conhecia a Deus por relacionamento e interação, ele tinha informações sobre Deus. Estas informações foram suficientes para fazer dele um homem íntegro e reto, que se desviava do mal, mas ainda eram informações de segunda mão.

Cometemos muitos pecados por não conhecer realmente que Deus é.

Boa parte de nossos pecados procedem da nossa ignorância de quem Deus é:

 -A ansiedade é um exemplo típico. Por que temos um estilo de vida tão estressado e nos preocupamos com tantas coisas? Porque, no fundo, não cremos na provisão de Deus e no seu cuidado por nós.
  - Por que tememos? Porque não estamos certos de que as coisas estão sob controle de Deus. Por que agimos de forma idolátrica e auto centrada? Porque achamos que se não fizermos, Deus não fará. E assim por diante...

Em Mateus, Jesus narra a parábola dos talentos.
O homem que recebeu um talento tomou uma decisão anacrônica: Ele o enterrou. Cavou um buraco e o pôs debaixo da terra. Por que agiu de forma tão preguiçosa e negligente? Por que não os colocou para render dividendos? Por que não investiu o que recebera? Quando ouvimos suas explicações, percebemos que seus argumentos eram todos teológicos.

“Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeastes,
E ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento;
Aqui tens o que é teu” (Mt 25.24-25)

Sua descrição de Deus é completamente distorcida. Deus é visto como um homem severo, injusto, que ceifa onde não semeia, e isto gerou nele um receio tão grande que o levou à preguiça, à indolência e ao descaso. Nem sua inteligência funcionou: Poderia ter colocado seu dinheiro aos banqueiros e isto lhe renderia alguns lucros. A distorção teológica o transformou em um idiota.

Quando lemos as lamentações de Jeremias, percebemos que o profeta faz o sentido inverso. A situação do povo de Deus é caótica, pós-guerra, com as marcas da crueldade e da violência, terra desolada, sensação de abandono de Deus. Quando ele olha para os lados, vê apenas escombros, não há muita coisa para inspirá-lo, e a única que pode sustentá-lo nesta hora é o caráter de Deus, por isto diz:
Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não tem fim, renovam-se cada manhã. Grande é a sua fidelidade" (Lm .3.22-23).

Um dos pecados de Jó foi o seu desconhecimento de Deus.

=> Jó acusa Deus de ser contraditório, pois sendo um juiz reto, havia deixado a terra entregue nas mãos dos perversos (Jó 9.24)

=> Jó vê Deus como seu inimigo e por isto age com suspeita (Jó 9.12-20)

=> Por fazer leitura equivocada, tem dificuldades para orar. Como recorrer a Deus que é visto como um opositor? (Jó 16.7-21)

=> Jó acusa Deus e se queixa dele (Jó 21.4)

Seu sofrimento é filosófico, ou se preferirmos, teológico (Jó 23.17). Ele vê Deus como alguém arrogante e tirano, que o priva do seu direito de defesa (Jó 27.1)

O Segundo pecado: Falar do que não sabe

Ele admite isto na sua confissão: “Na verdade falei do que não sabia”.

Por ignorância ou desconhecimento, talvez pela aflição, Jó verbaliza seus pensamentos equivocados. Isto aconteceu com Asafe. Ele tem a impressão de que Deus caducara nas suas promessas e se esquecera de ser benigno, e fala sobre isto. Depois de expressar suas crises, reconhece que a distorção dos fatos e de Deus tinha a ver não com a realidade, mas com sua perturbação emocional. “Então disse eu. Isto é a minha aflição; mudou-se a destra do Altíssimo” (Sl 77.10).

No Salmo 73, mais uma vez Asafe enfrenta suas crises existenciais. Agora num nível ainda mais profundo. Ao ver os paradoxos da vida humana, ele chega a algumas conclusões desastrosas sobre Deus e sobre a vida. “Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11). Em seguida, mas uma vez reconhece seu erro: “Se eu pensara em falar tais palavras, já ai teria traído a geração de teus filhos” (Sl 73.15). O problema é que ele não apenas pensou e falou, mas ainda as escreveu, e suas crises chegam a nós até os dias atuais. As dúvidas de Jó foram ditas e muita gente foi atingida. É assim mesmo que fazemos.

Existem pastores e líderes que passam por crises e ao invés de abrigar seus questionamentos no coração, resolvem publicá-las e levá-las para o púlpito, em nome da sua autenticidade e honestidade. Na verdade, todos passamos por dias maus, por aflições, por questionamentos. O que devemos fazer nestas horas? Habacuque responde: "Irei, e colocar-me-ei na minha terra de vigia para ver o que o Senhor me dirá"... (Hc 2.1). Hora de acolher a dor na alma, ir para a presença de Deus. Nem sempre é possível entender tudo o que nos acontece, mas o temor reverente de adorador perplexo pode ser um caminho salutar.

Depois de tudo que aconteceu, Jó também considera seu néscio julgamento, seus confusos pensamentos que foram verbalizados, e percebe quão inconseqüente foi sua atitude. “Na verdade falei do que não sabia” (Jó 42.3).

O terceiro pecado: Tentar se explicar para os homens

Muitas de suas afirmações foram resultado de um desejo de ter uma boa imagem e reputação diante das pessoas e amigos. O problema é que a busca pela reputação quase sempre se torna idolátrica.
Quando o profeta Samuel questionou Saul pela sua desobediência e rebeldia, sua resposta deveria ser de quebrantamento, arrependimento e tristeza diante do seu mal, mas ele deixa claro que sua preocupação não era com Deus, mas com a perda de privilégios que seu pecado lhe traria. Ele perderia sua posição e sua reputação diante dos seus líderes:

“Pequei; honra-me, porém, agora, diante dos anciãos
do meu povo e diante de Israel ” 
(1 Sm 15.30).

Ele não percebeu que o pecado não traz honra, mas vergonha. Entretanto, sua vaidade e desejo de reconhecimento e aclamação públicas se tornaram tão grandes que ele não se mostrava preocupado com sua vida espiritual, apenas sente incômodo porque sua atitude lhe traria perdas. Sua preocupação era com os homens.

A Bíblia diz que muitos não seguiram a Jesus, porque “amaram mais a glória dos homens que de Deus”. A busca por reconhecimento, popularidade, pode nos levar ao inferno. “Vaidade é o pecado predileto do diabo”. Jó tenta se explicar e se justificar. Todos gostamos de ter respeito dos outros, mas a questão não é o que os homens dizem de nós, mas o que Deus diz sobre nós. O importante não são os aplausos dos homens, mas dos céus. Jó já recebera o maior veredicto, que vinha do próprio Deus – ele não precisava se importar tanto com a opinião dos outros, mas boa parte de seus argumentos tem a ver com a necessidade de ser visto como uma pessoa boa. O capítulo 31 do livro de Jó, de forma especial, nos revela isto.

O quarto pecado, e certamente o pior de todos: Justiça própria

Pregadores e comentaristas bíblicos afirmam que, de fato, seu maior pecado foi o de se achar justo demais.
A justiça de minha causa triunfará” (Jó 6.29).
Minha consciência não me reprova por qualquer dia de minha vida” (Jó 27.6).

Ele alega que Deus não conhecia sua integridade (Jó 31.6).

Ele desafia Deus para um tribunal, onde ele demonstraria sua inocência e o equivoco do Todo-Poderoso (Jó 31.35)

Qual é o perigo da justiça própria?

Pessoas cheias de justiça própria acham que Deus lhes deve!

Lembra-se do Filho mais velho, da parábola do filho pródigo (Lc 15)?

Ele era moralista e legalista, cônscio de suas tarefas, e por isto fica indignado com o pai: “Há tanto tempo tenho te servido, sem nunca comer um cabrito?”. Ele lança mão de suas credenciais. O Pai lhe deve respeito.

É desta forma que Jó reage. ele chega mesmo a desafiar Deus para um tribunal. “Tomara eu tivesse quem me ouvisse! Eis aqui a minha defesa assinada. Que o Todo-Poderoso me responda!” (Jó 31.35). Deus passa muito “apuro” na mão de pessoas cheias de justiça própria. Ele está sempre lhes devendo, e ai dele se não atender as expectativas de tais pessoas.

Pessoas cheias de justiça própria, sempre se julgam superiores às outras – Mais uma vez consideremos a parábola do filho mais velho.

Ele é moralista, evoca seu currículo de bom filho e o compara com o fracasso do irmão. “Vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado” (Lc 15.30).

O fariseu correto, cheio de si, ora dizendo: “Graças te dou, porque não sou como este publicano. Dou dízimo de tudo quanto possuo, jejuo duas vezes por semana”... e conhecemos bem como Deus viu este patético discurso.

Pessoas cheias de justiça própria são hábeis e ágeis em condenar e julgar. Acham-se superiores às demais, ainda que seus corações sejam frios e distantes do Pai, como era o coração do filho mais velho, que não conseguia amar seu irmão pecador, nem entender o coração amoroso do Pai.

Pessoas justas, facilmente perdem a salvação gratuita de Cristo – A pessoa que se considera justa, não precisa de graça, mas apenas de justiça. Ele julga ter méritos, credenciais, e quem crê nos seus méritos para ser justificada diante de Deus. Ela dispensa a graça!

Sinclair Ferguson afirma que “a justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho”.
Nada nos distancia mais da mensagem da cruz que o senso de somos justos. Por isto o Espírito encontra grandes barreiras para aplicar o Evangelho no coração de tais pessoas, porque elas não estão convencidas do seu estado miserável, elas acham que são ricas, e que não precisam de coisa alguma, sem saber que são miseráveis, pobres, cegas e nuas (Ap 3.17-18).

Quando o apóstolo Paulo percebeu sua situação de fracasso aos olhos de Deus, isto mudou tão radicalmente sua visão das coisas espirituais que depois de descrever seu invejável currículo de realizações espirituais, afirmou que considerava tudo aquilo como esterco, e que queria ser encontrado em Deus, não tendo justiça própria, senão a que procede de Cristo, e que lhe havia sido imputada pela obra do Espírito Santo (Fp 3.2-10).

Pessoas justas demais terão muita dificuldade em entender o sacrifício vicário (substituto) de Cristo. Não entendem quão pecadores e necessitados são da cruz, e vão sempre tropeçar na graça. A menos que entendam a profundidade de seu fracasso, dificilmente entenderão a maravilhosa obra da salvação, operada por Cristo Jesus. Por isto nunca terão gratidão, nem se impressionarão com a cruz. Estão demasiadamente impressionadas consigo próprias.


Conclusão:

Falamos dos pecados de Jó, mas e quanto aos nossos pecados?

Todos temos pecados de estimação e gostamos de alimentá-los e nutri-los, sem perceber quão arriscado é viver debaixo do seu domínio. O problema do pecado é que achamos que o controlamos, mas é ele quem nos controla. “Todo que vive em pecado é escravo do pecado”, e pecado na bíblia não é um comportamento, é uma força. Quando Paulo fala da escravidão do homem sem Deus em Romanos 7 ele não fala de pecado no plural, mas no singular. Não são “pecados”, mas “o pecado”. Não são os comportamentos e atitudes praticadas, mas o que está governando nossa história por detrás de tudo isto.

Jó tinha seus pecados, mas os nossos pecados estão sempre nos atraindo.

Só existe um remédio para esta peçonha, este veneno fatal que nos leva a morte, pois este é o seu salário. “O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito é a vida eterna em Cristo Jesus” (Rm 3.23). Todas as vezes que acharmos que nossos pecados são insignificantes, lembremos que Jesus teve que morrer por eles. Ele teve que pagar um alto preço pela nossa tragédia. Se reconhecemos que temos um grandes salvador, devemos sempre lembrar que isto se deu por sermos grandes pecadores.

Se você deseja estudar mais sobre Jó, você pode acessar outros textos sobre o mesmo tema de minha autoria, eis alguns links:
Você pode adquirir meus livros:

1. “TUDO SOB CONTROLE”, uma série de sermões expositivos em Apocalipse - R$ 35,00
2. DEUS NO BANCO DOS REUS - Exposição de Malaquias. R$ 25,00
3. TEOLOGIA DO AFETO - Como Espiritualidade e afetividade andam juntos na cosmovisao cristã. R$ 20,00
4. TRILHAS DA ALMA - Uma série de sermoes dos homens na Bíblia, e como puderam aprender neste processo de sua caminhada.R$ 25,00

Basta enviar o pedido para revsamuca@gmail.com, e estaremos combinando o envio e a forma de pagamento. 
Paz.

Se quiser ler mais textos de minha autoria, meu blog é revsamuca.blogspot.com.br  Seja bem vindo.

9 comentários: