terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Jó 31 Lidando com as áreas de tentação





Introdução:

Grande parte do livro de Jó descreve os discursos dos seus amigos tentando convencê-lo de que seu sofrimento era resultado de seu pecado. Ele se defende tentando falando dos mistérios de Deus e sua inocência. Fazendo uma retrospectiva de sua vida à luz da Lei de Deus. Neste texto, ele descreve, as áreas conflitantes nas quais, o homem, desde aquela época sempre foi derrubado.

1. Área sexual: "Se o meu coração segue os meus olhos" 1-4,7
Esta é uma das áreas mais complexas para o homem, é a luxúria, a Bíblia fala de “concupiscência dos olhos”, que foi uma das causas da queda de Eva, lá no Éden. Somos uma geração provocada pelas imagens, bombardeada pela pornografia. Qualquer site que você abra, mesmo um jornal sério, você verá ali uma proposta para que você acesse. Basta um click.



É interessante a linguagem de Jó: “Se o meu coração segue meus olhos”. Este é o problema.

Muitas pessoas comem em demasia, porque “seus olhos são maiores que seu estômago”. Esta questão da estética sempre fascinou o homem, mas pode ser uma armadilha também para a mulher, com sua idolatrização do corpo.


Fala-se, hoje em dia, de uma pornografia reversa, que se aplica à mulher. Este termo criado por Rick Thomas, que está estudando o fenômeno de mulheres obcecadas não por olhar, consumir e desejar imagens, mas por provocar olhares, serem olhadas, consumidas e desejadas. São mulheres, casadas ou não, que encontram prazer em estimular olhares lascivos e chamar a atenção sobre si. Desejam capturar o olhar dos homens e se vestirão, com o fim de serem desejadas e cobiçadas. Mulheres assim, afirma Thomas “não estão ativamente consumindo pornografia, mas fazem isto de forma reversa. Podem até condenar pessoas que consomem pornografia, mas sua dependência é mais sutil. Vestem-se provocativamente para atrair e seduzir, ainda que não necessariamente queiram ser possuídas. Seu desejo é estimular reações nos outros”. Atitudes como estas tem raízes na insegurança quanto à imagem e valor pessoal, por isto estão sempre desejando ou competindo pela admiração masculina.
Deus exorta seu povo a viver de forma pura (Pv 5.15-21; 1 Co 7.2; Hb 14.4).

2. Abuso de poder e injustiça – “Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo, então, que faria eu quando Deus se levantasse? E, inquirindo ele a causa, que lhe responderia eu? (Jó 31.13,14). “Se eu levantei a mão contra o órfão, por me ver apoiado pelos juízes da porta, então, caia a omoplata do meu ombro, se seja arrancado o meu braço da articulação” (Jó 31.21,29). Ele fala de sistemas judiciários corruptos, de juízes, que também naqueles dias, apoiavam causas desonestas e davam veredictos por dinheiro ou por relacionamento.
Vivemos dias assim.
Não é muito difícil dar um jeitinho para trapacear, para tirar o direito do trabalhador e daqueles que são menos assistidos. Jó avalia esta área da tentação humana, que é um grande problema em nosso país acostumado com falcatruas e desonestidades. É preciso romper com o cancro da corrupção (1 Pe 3.7; Ef 6.9).
3. Desamor e egoísmo – Outra área mencionada por Jó: “Se retive o que os pobres desejavam ou fiz desfalecer os olhos da viúva; ou, se sozinho comi o meu bocado, e o órfão dele não participou... se a alguém vi perecer por falta de roupa, e ao necessitado, por não ter coberta; se os seus lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com a lã dos meus cordeiros” (Jó 31.16,17,19-20).  A consideração de Jó não é mais sexo, lascívia, luxúria, nem abuso de poder e corrupção, mas a simples e trágica indiferença e apatia com a dor do outro. É o descaso com que tratamos pessoas pobres e simples, atitude esta que fere tanto a Deus. Certamente pensamos que não odiamos as pessoas, mas a expressão mais cruel e maligna do ódio não é a afronta, mas a indiferença.
Estas coisas trazem o castigo de Deus.

Precisamos lutar contra o egoísmo, a preocupação narcisista e exagerada conosco. Não temos dificuldade em comprar roupas, viagens caríssimas, bolsas, ir a restaurantes luxuosos, mas temos dificuldade em repartir e cuidar, e Deus trata esta indiferença de forma muito séria. A exortação da palavra é “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6.10).  

4. Confiança no dinheiro, Ganância e Avareza – Este é outra área de tentação mencionada por Jó. “Se no ouro pus a minha esperança ou disse ao ouro fino: em ti confio; se eu me alegrei por serem grandes os meus bens e por ter a minha mão alcançado muito” (Jó 31.24-25). É fácil se perder pelo ganho, se afastar de Deus por causa do dinheiro. A Bíblia diz que “o espírito de ganância tira a vida de quem o possui” (Pv 1.18).
Somos uma geração consumista, capitalista, gostamos de ganhos, riquezas e acúmulos. Nossa alma é gananciosa, insaciável, desejamos mais e mais e não percebemos que estamos sendo devorados por este espírito que nos seduz e atrai. A Bíblia diz “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e, alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Tm 6.8-10).

5. O fascínio pelo místico e esotérico – É surpreendente a observação de Jó: “Se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, que caminhava esplendente, e o meu coração se deixou enganar em oculto, e beijos lhes atire com a mão, também isto seria delito à punição de juízes; pois, assim negaria eu ao Deus lá de cima” (Jó 31.26-28).
Os dias pós-modernos são caracterizados, não pelo paganismo e ateísmo, mas pelo esoterismo e espiritualismo. As séries que fazem sucesso na TV, os filmes concorridos, são místicos e zen, povoados de bruxas, feitiçarias, enigmas dos deuses, astrologia. Podemos equivocadamente nos encantar com estas coisas místicas e sermos atraídos por ela.

Alguns anos atrás aconselhei uma pessoa com background evangélico que estava fazendo pós-doutorado em medicina na Harvard, e se envolveu com um vidente, passando a viver num mundo de ameaças e estranhos acontecimentos.  Tenho visto pessoas que freqüentam igrejas evangélicas, e na hora da crise, consideram a possibilidade de consultar curandeiros. Um jovem crente narrou sua vergonha, indo para o nordeste do Brasil, ao resolver “brincar” com uma adivinha, e o constrangimento e embaraço que passou...
Não brinque com estas coisas. Jó afirma que se fizesse isto “negaria o Deus lá de cima”. Estas atitudes esotéricas são contrárias à Palavra de Deus.

6. Prazer na vingança e no ódio – “Se me alegrei da desgraça do que me tem ódio e se exultei quando o mal o atingiu. Também não deixei pecar a minha boca, pedindo com imprecações a sua morte” (Jó 31.29,30). Uma área de tentação que experimentamos é prazer na desgraça daquele que nos tem ódio. Não parece razoável exultar quando aquele que nos persegue se dá mal? Não fizemos nada contra ele, foi ele quem se arrebentou sozinho. No entanto, Deus não tem prazer neste macabro prazer que eventualmente experimentamos. Jó menciona ainda “imprecações”, que são orações que fazemos para que Deus faça mal àqueles que nos ferem. Você nunca fez isto? Nunca teve vontade fazer isto?

7. Tentação de ocultar os pecados – “Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio; porque eu temia a grande multidão, e o desprezo das famílias me apavorava” (Jó 31.33,34). Lamentavelmente tenho chegado à conclusão que o ato de pecar em si tem se tornado menos trágico que a tentativa de encobrir pecados para manter as aparências. O que tememos? Reputação?

Jó descreve duas razões pelas quais normalmente somos tentados a agir assim: Primeiro, o temor do julgamento. Ele diz que as pessoas temem a perda da reputação. Que reputação? Nossa reputação está em Deus. Pouco importa se a multidão nos aplaude, quando Deus nos exorta e nos convida ao arrependimento. Quando nos importamos demais com as pessoas, e usamos mentira para acobertar o erro cometido, em geral o fazemos por medo de não sermos aplaudidos por homens.
O segundo aspecto é o medo de ser desprezado pelos outros, quando descobrirem que você falhou. Esta é uma grande possibilidade. Reputação se constrói como a construção da catedral, mas rui facilmente com um pequeno cupim destruindo a madeira. Entretanto, mais uma vez, Jó sente-se seguro por compreender que se recusou a encobrir suas transgressões como fez Adão, por causa da reputação dos homens e do desprezo advindo de sua atitude pecaminosa.

Conclusão:

Estas são áreas de tentações comuns nos dias Jó, e ainda hoje. Como elas nos desafiam.

Quem consegue passar incólume por este teste? Você passaria? Nunca tropeçou em nenhum destes pontos?

O Salmo 15 faz uma pergunta essencial: “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte” (Sl 15.1). Esta é uma pergunta chave: Quem tem performance adequada para morar no santo monte de Deus? Apocalipse faz pergunta similar: “Chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Ap 6.17). Quem é que pode estar em pé, no dia do Senhor, com um currículo invejável, com uma vida totalmente aprovada, sem mancha, sem mácula?

O grande dilema é que, embora passemos em alguns testes, falhamos em outros.

Talvez a gente não adultere, nem mate (mas odeie no coração), ou com facilidade tratemos com deferência os ricos, mas desprezamos os pobres e fazemos acepção de pessoas. O problema é que  “Qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10).
O dilema é o seguinte:
Fazemos uma omelete com 11 ovos bons, mas colocamos um ovo estragado na receita. Apenas um! E danificamos tudo. Nosso currículo nos reprova, somos julgados pela lei perfeita de Deus e um só tropeço nos torna transgressor da lei. “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo mundo seja culpável diante de Deus” (Rm 3.19). A Lei não pode dar vida, a lei mostra o nosso pecado, mas não nos capacita a ter vitória sobre eles. Ao pensar nestas áreas de tentação experimentadas por Jó você pode ter duas atitudes: Uma, a de afirmar que passou em todos estes testes (ou que falhou em alguns, ou todos eles); outra, é a de reconhecer como você é falho e impotente diante destas coisas.

A Solução Divina:

A palavra de Deus ensina é que “ninguém será justificado diante de Deus pelas obras da lei”. A lei não te isenta, a lei te condena. Jamais alguém a cumpriu a lei, a não ser Jesus, e Ele nos livrou da maldição da lei, fazendo-se ele mesmo maldição em nosso lugar. Ninguém conseguiu cumpri-la sem tropeço. Ninguém! (Rm 3.9-12). O padrão de Deus é muito alto, ninguém jamais vai conseguir realizar esta façanha, nenhum currículo é suficiente.

Em Rm 3.25 Deus faz uma proposta. “A que Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça”. O que Deus fez? Ele enviou Jesus para cumprir a lei em meu lugar. Minha justiça agora é a justiça de Cristo, pois a minha justiça é falha e incompleta. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23), e ele vai nos justificar, gratuitamente (Rm 3.24). É bom observarmos o que o texto diz:

a)- Fomos justificados – Deus me declara justo. É ato passivo. Deus é quem realiza isto em minha vida. Reconheço que não sou justo o bastante, mas ele me absolve mediante a substituição. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, assume meu lugar de fracassado e vai para aquela cruz. Ele ficou em meu lugar. Seu sangue me justifica. Ele pagou um alto preço. Ele me comprou... Observe que o texto afirma que Deus me justifica, e nunca que eu me justifico a mim mesmo. Este é o ponto de partida do Evangelho, reconheço minha inadequação e passo a confiar plenamente no Evangelho. A justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho.

b) – Ele fez isto gratuitamente – Não pagamos nada, não demos nada em troca, e nem temos algo para dar. Deus entra em nosso lugar, assume a nossa culpa e nos redime com o precioso sangue. Somos salvos pela graça, que por definição rejeita qualquer critério meritório. Se for mérito é justiça, e não graça!


Rev. Samuel Vieira - Men’s breakfast – Medfor, MA- June/ 96

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