sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Jó 2.8-10 Sem saída!

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O Livro de Jó é um desafio a todo intérprete da Bíblia:
i.                Como entender o silêncio de Deus no meio da dor?
ii.              Como decodificar o mistério dos soberanos planos de Deus?
iii.             Como lidar com a questão de um Deus bom que permite o mal?
iv.             Deus é injusto?
v.              “Jó vive uma crise de relacionamento mais do que uma crise de questionamento intelectual “(Yancey), afinal, seria ainda possível confiar em Deus?

 A mulher de Jó diz o óbvio, ela emite uma resposta existencial de “bom senso”, ela expressa “lucidez intelectual”, não parece? “Por que conservas ainda a tua integridade. Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.8-10). Não é difícil fazer esta afirmação nas horas de dor e desespero.

A sugestão da mulher de Jó segue duas direções:

è Renuncie a Deus – “Amaldiçoa a Deus”. Não apenas uma renúncia neutra, mas carregada de ódio e amargura. Ela sugere que Deus seja desprezado por Jó, e oficialmente deportado de sua existência. Ela não sugere que ele deixe de crer em Deus, mas que ele hostilize a Deus. Não raramente tenho visto que as pessoas geralmente não apenas descreem de Deus, mas odeiam a Deus. A indiferença é a expressão mais sutil do ódio, mas a mulher de Jó sugere uma resposta verbalizada de oposição e resistência ao Senhor. Não apenas descrer, mas amaldiçoar. 

èDesista de viver - “Amaldiçoa a Deus e morre”. Subliminarmente ela sugere uma espécie de suicídio a Jó. Que valor tem a vida, se a realidade diante dele é tão cruel e dura? Para que viver? Albert Camus, no livro “O Mito de Sísifo”, nas sua primeiras páginas sugere que “a hipótese filosófica mais razoável para o ser humano é a do suicídio”. Sem esperança, doente, pobre e enlutado, num mundo caótico, o que esperar? Morrer parece uma saída plausível. Esta é a sugestão que ela faz ao seu marido.

Rubem Alves escreveu um livro com instigante tema: “Pensamentos que tenho quando não estou pensando nada”. Neste sermão gostaria de parafrasear sua ideia numa outra direção: “O que fazer quando não há o que fazer?” e “que direção tomar quando não há saída”. Em inglês há uma expressão: “No way out!”, que significa exatamente. Sem saída! 

Algumas lições surgem em minha mente ao ler este texto:

1.    Precisamos entender que “sem saída” é uma falso pressuposto. Na vida sempre há saída!

No trilogia “Senhor dos Anéis” de J. R. R. Tolkien, os personagens estão sempre em apuro, vivendo no limite da falta de opções. A morte é iminente e não existe escapatória. A expressão recorrente do livro é “Não há esperança!” Apesar do mal ser tão concreto na ficção de Tolkien, tão permeado por elfos, hobbits, místicos e magos, e não existir a ideia de Deus, mesmo assim, há sempre soluções e alternativas. Há sempre saída!

Tenho encontrado muitos crendo que não há saída!

Um amigo meu, enfrentou um doloroso divórcio. Ele se sentiu ultrajado, envergonhado e apunhalado em todas as direções. Poderia simplesmente esquecer aquela mulher, mas ele não conseguia. Certo dia, no meio de muitas lágrimas, eu falei que ainda iriamos rir de toda aquela situação. Com um sorriso dolorido ele me olhou e disse para não brincar com sua dor. Pois bem, hoje ele encontra-se absolutamente restaurado, a dor passou, e ele está curtindo um novo amor. Há sempre saída!
Dr. Edmundo Haggai afirma que você pode perder tudo, mas se você não perder sua reputação, tudo poderá ser restaurado. Lendo o evangelho, e vendo pessoas que fracassaram tanto na vida, chego à conclusão de que você pode perder até mesmo a reputação, e serem restaurados. Afinal de contas, “O que confessa e deixa alcança misericórdia!” e “o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Sempre há saída! Principalmente se considerarmos a vida na perspectiva da misericórdia e da graça divina.

2.    Ter esperança não tem a ver com situações favoráveis ou não, mas com perspectiva.

A mulher de Jó desiste da vida. Seus olhos estão colocados na tragédia – e não eram poucas. 
O livro de Jó traz grandes problemas ao intérprete da Bíblia. Suas questões são teologicamente graves. Deus é um dos personagens do texto, mas que decide silenciar-se diante da dor. Jó está sempre perguntando o porquê das coisas, mas Deus permanece silencioso e distante. Num dado momento, sua esposa se cansa da sua resignação e explode: “Por que conservas ainda a tua integridade. Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.8-10).

Como Jó responde quando não há esperança concreta? Focando nas perspectivas.

Primeiro, ele tenta balancear suas experiências: “falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal?”  (Jó 2.10). Ele coloca o foco em Deus e na sua liberdade de exercer sua soberania como quiser. Deus faz o bem e permite o mal. Não conseguimos entender este exercício de sua soberania, mas Jó se submete a ela: “E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isto Jó não pecou nem atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1.21).
Jó foca em Deus, não nas tragédias.

Em segundo lugar, e ainda mais incisivo, ele foca no caráter e na existência de Deus:
Por eu sei que o meu redentor vive por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo de minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim” (Jó 19.25-26). 

Os estudiosos da Bíblia afirmam que este é um dos textos mais citados quando se estuda escatologia do Antigo Testamento. Jó está falando de ressurreição. Se lermos atentamente ele sequer está se referindo à possibilidade de continuar vivo, ele está falando da esperança depois da morte. Ele está falando do céu, de uma realidade que ele ainda não experimentou, mas que tem certeza dela. Ele fala dialeticamente “de saudade me desfalece o coração dentro de mim”. Ele afirma que tem saudade da eternidade, mas como ter saudade de algo que ainda não se experimentou? Sua fé é tão concreta, que ele sente saudade do gozo celestial.
Dr. Russel Shedd, perto de sua morte, passando pelo tratamento de um câncer, enfrentando as dores normais nestes procedimentos, afirmou o seguinte: “Eu nunca tinha sofrido este sofrimento até estes últimos meses, é uma experiência muito boa. Sinto-me desmamando do mundo. O sofrimento daqui é muito pouco em comparação com aquela alegria que nós sentiremos na presença de Deus. É normal o crente sofrer, estou muito feliz com esta experiência”. 
Jó estabelece perspectiva.
Dr. Shedd também fala da vida com perspectiva. 
Isto muda todas as coisas.

3.    É sempre possível ter esperança quando estamos diante do Deus de milagres. 

A verdade é que existem centenas de situações na Bíblia nas quais as pessoas parecem não ter saída alguma, mas Deus age sobrenaturalmente.
Jó não parece centrado na questão da restauração e dos milagres. Seu coração parece ter um problema maior que é tentar entender os movimentos misteriosos de Deus. A temática em Jó não é sobre cura, mas sobre confiança em Deus a despeito das circunstâncias. 
Apesar de tudo isto, Deus intervém de forma miraculosa e transforma sua vida, restaurando sua história.

Considere a situação do povo de Deus nos dias do rei Ezequias. 
Senaqueribe, rei da Assíria montou um cerco em Jerusalém, e as condições de guerra eram tão distintas que não havia possibilidade alguma de pensar numa saída.
Veja a narrativa do texto de 2 Rs 18.19-23:

O comandante de campo lhes disse: "Digam isto a Ezequias: Assim diz o grande rei, o rei da Assíria: Em que você baseia sua confiança?
Você pensa que meras palavras já são estratégia e poderio militar. Em quem você está confiando para se rebelar contra mim?
Você está confiando no Egito, aquele caniço quebrado, que espeta e perfura a mão do homem que nele se apoia! Assim o faraó, rei do Egito, retribui a quem confia nele.
Mas, se vocês me disserem: "Estamos confiando no Senhor nosso Deus"; não é ele aquele cujos santuários e altares Ezequias removeu, dizendo a Judá e Jerusalém: "Vocês devem adorar diante deste altar em Jerusalém? "
Aceite, pois, agora, o desafio do meu senhor, o rei da Assíria: Eu lhe darei dois mil cavalos; se você tiver cavaleiros para eles!

Os assírios estavam tão confiantes, e o povo judeu estava tão certo de sua limitação. Entretanto, Deus interviu de forma sobrenatural e milhares de soldados inimigos morreram numa só noite, feridos pelo Anjo do Senhor, o rei invasor retornou destruído para seu país e quando chegou à sua terra, entrou no templo pagão do deus Nisroque e dois de seus filhos, Adrameleque e Sarezer, o mataram ainda no templo.
Ele estava tão seguro, o povo de Deus tão frágil, contudo, a mão de Deus se moveu e uma realidade inteiramente transformadora se deu, pelo mover de Deus.

Conclusão:
O livro de Jó não termina de forma desoladora, mas repleto de esperança!
Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o Senhor deu-lhes o dobro de tudo o que antes possuíra” (Jó 42.10).
Tudo é tão trágico, intenso, profundo, no início do livro, mas tudo é tão poderosamente transformador quando se anda com Deus.
Não é disto que fala também o Evangelho?
Consideremos a morte de Cristo. A cruz parece o fim da vida. Não há esperança para a humanidade, que sentenciou injustamente o homem mais justo que pisou sobre a face da terra. A cruz é o veredito do fracasso humano. Os homens rejeitaram a luz e a encarnação do próprio Deus. Jesus é aparentemente um fracassado, cheio de utopias, que aos 33 anos é sentenciado e colocado numa cruz por causa de seus sonhos megalomaníacos. Ali está a cruz para dizer: “Não há esperança!”. Não há saída.
Os discípulos entenderam bem o recado.
Pedro disse: “Vamos pescar!” O projeto de salvar o mundo, de dar esperança aos pobres, de impactar a história acaba na cruz.
Dois discípulos decidem retornar à sua antiga vida da aldeia de Emaús. “Nós esperávamos que ele fosse o Messias”. Nada mais existe. O sonho acabou.
Temos ali um cenário de morte, frustração e desolação. Uma comunidade, com cerca de 120 pessoas sendo zombada do “falso messianismo” do Jesus de Nazaré, que acabou em desgraça, como tantos outros da história. Jesus é levado para um túmulo, sentença final de uma vida sem propósito.
Mas o cenário muda ao terceiro dia.
A morte dá lugar à vida. A desesperança desaparece, e o sonho renasce.
“Ele ressuscitou!” dizem as mulheres. Mas isto lhes parece mais um delírio.
Dídimo reage: “É alucinação!” Não crerei se não colocar minhas mãos nas suas feridas. Logo em seguida reencontra-se com o seu senhor ressurreto e declara: “Senhor meu e Deus meu!”
O Evangelho nos fala de esperança viva!
Sempre há esperança quando estamos diante de um Deus vivo!
O Evangelho não termina com uma nota de desânimo, mas com uma declaração de júbilo ao Cordeiro, que foi morto, mas vive!


É possível que alguém que esteja lendo este texto até agora esteja numa situação limite. E são aparentemente tantas. Tantos desfiladeiros e estradas sem saída, sem retorno. A noite pesada, a dor intensa, a esperança nula, o medo dominando e invadindo a alma. Tudo sem esperança. Parece o fim.

Alguns anos atrás estava viajando de carro numa estrada no Sudoeste Goiano, e caiu uma tempestade fortíssima. Era quase impossível dirigir, Os carros iam parando no acostamento, com as luzes piscando, e outros corajosos, iam com cuidado estrada fora. Parecia não ter fim aquela escuridão e névoa. Eu jamais poderia esperar que algo tão surpreendente ainda aconteceria. Já era final da tarde e parecia que a noite já havia chegado, mas de repente, o céu se tornou claro, as nuvens desapareceram, a chuva acabou, e o sol brilhou fortemente ainda naquele dia.

Lembro do pensamento que tive naquele dia.
Pessoa à beira do suicídio, envergonhadas, cansadas, zangadas, frustradas, irritadas com a vida, com Deus. Se elas soubessem como a vida tem o poder da mudança. Atletas fracassados hoje, podem ser heróis amanhã. Quem hoje está humilhado, com ou sem razão, com justiça ou injustamente, amanhã poderão ser colocados em lugares de honra.
Nelson Mandela foi opositor político do Governo que defendia o apartheid na África do Sul, e por causa de sua luta contra a discriminação, ficou preso por cerca de 30 anos. Provavelmente ele deve ter ficado desanimado muitas vezes, talvez considerando que este seria sua condição para sempre. As coisas porém mudaram, uma novo capitulo foi escrito na sua história de vergonha e abandono, e ele terminou seus dias como um presidente respeitado, e morreu reverenciado por nações do mundo inteiro como referência histórica e chefe de Estado.
Colecionei algumas afirmações sobre mudança de vida que são verdadeiras pérolas: 
Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro.
A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos, dos quais o último também poderia mudar o sentido de todo o conjunto.
Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.


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