Introdução
Na Primavera de 1974, Oscar Cullmann, um grande conhecido professor de grego foi convidado para assumir a cadeira de Novo Testamento em Munique (Alemanha), para ensinar o Evangelho de João. Durante 13 semanas ele estudou apenas estes 14 versículos. Então, ao tentarmos falar destas verdades bíblicas aqui neste texto precisamos entender a profundidade delas.
A época de natal é um dos períodos mais significativos para pensarmos sobre as verdades deste texto: “E o Verbo se fez carne habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Este é o verdadeiro sentido do Natal. Deus veio a este mundo, nascido de uma virgem, na pessoa de Jesus de Nazaré.
A controvérsia sobre a pessoa de Jesus foi a que mais ocupou os pais da igreja, por causa das constantes heresias em torno delas. Não temos muito tempo, mas apenas gostaria de citar algumas delas: cerintianismo, ebionismo, docetismo, arianismo, esta última, a mais forte de todas e que ainda hoje ocupa a mente dos Testemunhas de Jeová, que negam a divindade de Cristo. Acham que ele não é Deus, mas admitem que ele seja “um pequeno Deus”.
Resgatar estas premissas bíblicas é extremamente importante se considerarmos que muitos líderes não cristãos e intelectuais, consideram Jesus como alguém digno de estima e respeito, mas não acreditam que Deus poderia se tornar humano, que isto ocupa a esfera da mitologia e fábulas, e para estes, a morte na angustiante de cruz, apenas revela a contradição da história sendo condenado por uma estrutura criminosa do primeiro século. Por isto é tão importante sabermos a diferença entre o Cristo das Escrituras e o Cristo da perspectiva secular.
Este texto foi escrito por João, um dos apóstolos mais íntimos de Jesus. Meu desejo é que você entenda quem é este Jesus, o receba no seu coração como seu Deus e seu Senhor, e se você já o recebeu, que você o guarde como um tesouro precioso e encontre prazer nele, mais do que nunca.
John Piper afirma que existem cinco verdades sobre “o Verbo se fez Carne”, aqui neste texto:
1. Deus se tornou carne na pessoa de Jesus de Nazaré – “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça.” (Jo 1.14) O vs 17 afirma: “A lei veio através de Moisés, graça e verdade através de Jesus Cristo”.
“Jesus” foi o nome que o anjo disse a José que deveria ser dado à criança que haveria de nascer. “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.“ (Mt 1.21) O nome Jesus significa aquele que salva, e Cristo é a tradução do termo Messias (hebraico), que se refere à promessa dada aos judeus do libertador para o povo de Israel. Quando André se encontrou com Pedro ele afirmou “Achamos o Messias (que quer dizer Cristo.” (Jo 1.41) Portanto, estes dois nomes trazem em si um significado impressionante: Ele é Salvador e Rei.
2. A Palavra feito carne existia como Deus e com Deus antes que nascesse como homem na terra- “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.”
Grupos heréticos dentro e fora da igreja sempre tentaram esvaziar a força destas duas declarações complementares que existem neste texto dizendo: “Se ele era Deus não podia estar com Deus, se estava com Deus não podia ser Deus. Ou ele era Deus, ou estava com Deus.” As duas coisas filosoficamente não poderiam coexistir.
Desta forma, há uma tentativa de esvaziar a força e o mistério implícito nestas duas sentenças. Outras vezes adulteram a tradução como fazem os Testemunhas de Jeová: A Palavra estava com Deus e era um Deus. Mas existem boas razões hermenêuticas, gramaticais e históricas que nos levam a entender porque a igreja cristã na história nunca aceitou tais deturpadas informações.
O que estes versos ensinam é que Jesus, antes de ter nascido carne, era Deus, e que o Pai também era Deus. Este texto nos fala de duas pessoas e um Deus. Esta é uma das partes da doutrina da Trindade. Esta é a razão pela qual adoramos Jesus e como Tomé afirmamos: “Senhor meu e Deus meu.” (Jo 20.28)
3. Antes de se tornar carne, este texto nos afirma que ele era “a Palavra” - “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Jo 1.1)
O que significa ser a “Palavra”, ou o “logos”? O texto tenta nos desvendar quem
era o Cristo, sua identidade, sua missão.
Os estoicos, conhecido grupo filosófico dos tempos cristãos, afirmavam que na origem de todas as coisas (en arche) estava o Logos. Este era o alvo intelectual e ponto de partida de todas as coisas. eles procuravam este logos, que seria o primeiro motor e o elemento que daria sentido à existência humana. Durante muito tempo buscaram esta pedra de esquina da filosofia. Uns diziam ser o fogo, outros, a água, outros, os quatro elementos: fogo, terra, ar e água. Criam que a partir do momento em que estes referenciais fossem encontrados seria descoberto o ponto X da humanidade, a hermenêutica que daria o sentido final à existência. Fausto, um personagem de um dos livros de Goethe, é um herói suspirando pela luz da revelação.
Em nenhum outro lugar o Logos brilha mais que na Bíblia. Mas como traduzir, "No princípio era o verbo?" Palavra? Como atribuir à palavra tão grande valor? Pensamento? Teria sido realmente pelo pensamento que todas as coisas foram feitas? Poder? Ou deveria audaciosamente exprimir o sentido da palavra: No princípio era a ação? Goethe era filósofo, e a função filosófica é a inquirição, por isto ele deixa na inquirição aquilo que poderia ser a resposta a Fausto: "O verbo se fez carne e habitou entre nós". O sentido da vida estava ali, tão próximo. Goethe parou na indagação, como tantos, e deixou o coração do seu personagem central, Fausto, num profundo vazio e falta de esperança.
Dr. Righ no seu livro "O quarto Evangelho e sua mensagem para hoje", diz:
"O propósito de João não era apresentar uma forma reduzida de cristianismo, mas interpretá-lo de tal forma que viesse a se tornar um tratado para o tempo, sendo entendido por judeus e gentios ao mesmo tempo, preenchendo assim suas aspirações mais profundas e suas mais elevadas esperanças".
4. Todas as coisas, exceto Deus, foram criadas através da sua palavra – “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.” (Jo 1.3)
Ao afirmar isto, reafirma sua divindade, porque quando pensamos acerca de Deus, quase sempre pensamos no ato da criação. Isto demonstra que ele é Deus e não é criatura. Ele é o fiat lux, o ponto central da criação. “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade.” (Cl 2.9)
5. A Palavra feito carne tem vida em si mesma e a vida tornou-se a luz dos homens – “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.” (Jo 1.4) Toda vida se origina através do verbo, por isto Jesus é o criador de todas as coisas.
Ele é a luz do mundo de duas formas:
1) Sua luz nos capacita a ver – Foi isto que Jesus ensinou a Nicodemos: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” (Jo 3.3) Jesus nos capacita a enxergar as realidades espirituais. No Salmo 14, em meio a uma grande crise espiritual que levou o salmista a achar que Deus estava longe dele, o autor ora “Ilumina-me os olhos do coração”.
2) Jesus é a luz que precisamos enxergar – Ele é a luz do mundo. O homem, morto espiritualmente, não consegue ver a glória e a beleza da obra de Cristo. “A vida era a luz dos homens.” (Jo 1.4) Na oração sacerdotal Jesus pede a Deus para que seus discípulos possam ver sua glória (Jo 17.24). Por duas vezes Jesus ensina que era a luz do mundo (Jo 8.12; 9.5).
Conclusão
Que respostas devo dar a estas revelações acerca da pessoa de Jesus, a Palavra feito carne? O que isto tem a ver com a minha vida?
Primeira: Eu não o conheço e não quero recebê-lo em minha vida. “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que eram seus, e os seus não o receberam.” (Jo.1-10-11) Esta é uma situação complicada e arriscada. A atitude de passividade, indiferença e de descaso é uma forma de dizermos não a Jesus. Deixar de tomar uma decisão por Jesus é uma forma de decidir negativamente pela vida que ele se propôs a nos dar.
Segunda: Eu o conheço e o recebo. Esta resposta é encontrada em alguns versículos deste texto: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (Jo 1.12-13).
Aqueles que nasceram, não do sangue, nem da vontade da carne, mas tiveram um nascimento espiritual. Esta é a resposta positiva que gostaria que cada alguém desse a esta mensagem. Receba-o como Salvador, Deus, Rei, a Palavra, o criador, a luz e a vida.
Natal nos faz lembrar que seu filho veio a este mundo, para nos tirar das trevas, nos tornar seu filho, nos dar sua herança e direito adquiridos para nós através da cruz. Sua vida foi dada para trazer luz à minha vida.
Existe algum Logos? Algo que dê sentido? A Bíblia diz que sim, e aponta para o logos, Jesus. O verbo estava com Deus, o verbo era Deus, e habitou entre nós. Dostoievsky: "O segredo da existência humana consiste não somente em viver, mas acima de tudo, encontrar um motivo para viver".
O verbo era Deus, o Verbo estava com Deus.
A história de dois grandes músicos nos ajuda a entender a necessidade de sentido.
Eric Clapton.
Li atentamente sua autobiografia (São Paulo, Ed. Planeta, 2007), que, consumido e dominado pelas drogas e álcool, ora a um Deus inteiramente desconhecido para ele e foi miraculosamente liberto, sendo restaurado numa experiência maravilhosa de encontro com a divindade. Eric Clapton, conhecido músico é um grande guitarrista com um estilo de vida destrutivo, nas drogas e na prostituição, mas que relata no seu livro autobiográfico a experiência que teve com Deus. Seu relato é impressionante.
“Não obstante, atravessei meu mês de tratamento aos trancos e barrancos, a exemplo do que havia feito da primeira vez, apenas riscando os dias que passavam, esperando que algo em mim mudasse sem que eu tivesse que fazer muito por isso. Então, certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro e estava em sério perigo. Fique absolutamente aterrorizado, em completo desespero.
Naquele momento, quase por si mesmas, minhas pernas cederam, e cai de joelhos, na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei de que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.
Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateu provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida, é verdade, mas foi muito mais que isso, encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.
Se você está perguntando porque faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter início, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos com Muddy Waters, Howlin Wolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve presente ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele”.
(Eric Clapton, A Autobiografia, São Paulo, Ed. Planeta, 2007, pg 280-281)
Jonnhy Cash
Gravou mais de 1500 músicas, teve 14 músicas de sucesso, ganhou 11 Grammys e vendeu 50 milhões de álbuns. A primeira vez que ingeriu droga foi um comprimido de anfetamina (benzedrina), em 1957, e afirma que desde então ficou viciado. “Todo comprimido que eu tomava era uma tentativa de recuperar o primeiro sentimento, mas nenhum deles jamais trouxe aquele sentimento anterior. Aos poucos me afastei da família, de Deus e de mim mesmo.” Chegou a pesar 70 kg (1.86 de altura), um dia resolveu visitar a Nick Jack Cave, em Tennesse, uma série de cavernas profundas onde espeleologistas e exploradores se perdiam e morriam por não encontrarem a saída. Ficou até lá, até a pilha da lanterna acabar e se deixou na escuridão para morrer. No escuro, teve um encontro com Deus e percebeu que sua vida não era um bem que ele podia jogar fora. Com esta descoberta começou a andar no escuro e milagrosamente encontrou a saída.
É exatamente sobre este Deus que estamos falando hoje. Palavra encarnada, Deus que se fez gente e visitou nossa história. Visita a nossa confusão, nossa dor, nosso caos, e empresta sentido a nossa história. Apenas Deus pode fazer algo tão maravilhoso, e este Deus se tornou gente e habitou entre nós, andando em nossa geografia e se fazendo homem. “Alguém assim tão especial só poderia ser Deus.” (Leonardo Boff)
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