Introdução
As cinco perguntas que eu gostaria de levantar para nossa reflexão nessa manhã, são em parte respondidas nesse texto e outras respostas vamos encontrar em outros textos bíblicos.
1. Como Deus vê a minha cidade?
2. Como a cidade vê a minha igreja?
3. Como minha igreja vê a cidade?
4. Como minha igreja pode participar da construção da cidade?
5. Como meus dons podem ser usados para abençoar a cidade?
A relação da igreja com cidade nem sempre é uma relação fácil. Algumas vezes na história da igreja as relações são até truculentas. Há um tempo atrás, nós estávamos achando até engraçada a situação, porque a Igreja Presbiteriana de Dom Aquino, no Mato Grosso não podia colocar o nome de Igreja Presbiteriana Dom Aquino por uma razão muito simples. Dom Aquino foi um dos homens que mais perseguiu a igreja evangélica no Mato Grosso. Então, como é possível colocar o nome da igreja a um perseguidor da igreja? A igreja então descobriu outro novo nome, mesmo estando nesta cidade.
Nossa igreja, em parte existe, por causa da oposição de uma cidade. Quando o Dr. James Fanstone veio para o Brasil, sua ideia inicial era de se estabelecer em Pires do Rio e fundar ali o hospital evangélico. Mas aquela cidade tinha uma diocese católica e o bispo, muito hostil aos evangélicos, teve uma conversa com o Dr. James Fanstone, que também não era também muito fácil de dialogar, e o proibiu de ficarem na cidade. Graças a Deus, eles vieram para Anápolis e foram uma bênção maravilhosa aqui toda região.
Às vezes a relação da igreja com a cidade é não é fácil. Às vezes é hostil. Outras vezes a própria igreja hostilizar a cidade e se isola. Isto desemboca no obscurantismo, nenhum envolvimento, e a igreja existe, mas desligada da cidade, sem compreender e participar da dinâmica da cidade. Bispo Robson Cavalcante da Igreja Anglicana fez uma declaração irônica. Ele afirmou que a igreja às vezes é tão alienada que se fosse arrebatada numa quarta-feira de cinza, a cidade demoraria para descobrir que a igreja foi arrebatada, porque ela não faz diferença nenhuma. As pessoas iriam achar que aquelas pessoas ainda continuavam no retiro espiritual do carnaval.
Precisamos entender como é a dinâmica igreja & cidade deve acontecer. Então, vamos tentar responder as perguntas suscitadas.
Como Deus vê a minha cidade?
Isso é importante porque a partir do texto bíblico, Deus vem para conversar com Abraão sobre a realidade espiritual e moral daquela cidade. Ele tem uma conversa com Abraão, com alguém que seu amigo. Nessa conversa Deus afirma que veio ver in loco a situação de Sodoma e Gomorra, porque a maldade da cidade tinha chegado até mim os céus.
Três “pessoas” se aproximam de Abraão. Muitos comentaristas creem que se trata de uma teofania. Uma manifestação de Deus, aparentemente a Trindade. O \ Senhor permanece diante de Abraão e dois anjos, ou dois seres vão em direção a Sodoma e Gomorra. A visão de Deus sobre esta cidade era de uma cidade muito perversa e de fato, esta era a realidade daquela cidade.
Portanto, Deus faz uma leitura da cidade. Em Jeremias 5, Deus ordena o profeta que faça uma pesquisa sobre Jerusalém. “Dai voltas às ruas de Jerusalém; vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, se há um homem que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela.” (Jr 5.1) Deus estava escrutinando a cidade.
No livro de Jonas, encontramos Deus também avaliando a cidade. “Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.” (Jn 1.1-2)
Deus avalia ainda outras cidades como Corazim e Cafarnaum: “Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que para vós outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo.” (Mt 11.20-24)
Todas estas cidades estão sendo avaliadas por Deus. Como Deus avalia nossa cidade? Uma das cidades que se tornaram protótipas do mal nas Escrituras Sagradas é Babilônia. Em Isaías, no capítulo 46 e 47 Deus faz duras afirmações contra ela. Novamente esta cidade será citada ainda em Apocalipse 13 e 14. Dois capítulos inteiros julgando esta cidade. É bom entender que Deus não está fazendo julgamento apenas desta cidade do passado. Em Apocalipse, a referência direta é contra Roma, mas Babilônia encarna este perfil de uma cidade marcada pela feitiçaria, idolatria, desprezo contra os pobres e violência. Estas cidades são julgadas por Deus, pois se tornaram mestres do engano, cidades ricas e prósperas, mas que se afastaram de Deus e feriam sua santidade.
Robert Linthicum, escreveu um livro com um título enigmático: “Cidade de Deus & Cidade de Satanás” no qual procura demonstrar que as cidades são, ao mesmo tempo objeto do juízo de Deus por causa da sua maldade, e objeto do seu amor. Assim como a Babilônia encarna a cidade maligna, Jerusalém é a cidade amada, protótipo das cidades a quem Deus ama. Mesmo cidades perversas como Nínive foram alcançadas pela mensagem de Deus ao convidá-los ao arrependimento.
Jesus fez uma advertência a Jerusalém: “Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37).
Vamos voltar ao texto que lemos inicialmente. O que vemos aqui em Gênesis 18? Como Deus via essa cidade?
A. Sodoma tinha um grave pecado sistêmico. Pecado não é algo apenas individual, mas possui um componente estrutural e corporativo.
Em Gênesis 19 Ló recebe estes dois homens e os abriga. De madrugada, tanto os jovens quanto os velhos se reuniram na frente da sua casa dizendo: “Dá-nos esses homens que estão aí na sua casa, para que abusemos deles.” (Gn 19.4) A palavra abusar em hebraico, Yehad, tem conotação sexual. Ló insiste com aqueles homens para que não façam isso e eles arremetem contra sua casa, o anjo de Deus estende a mão e eles ficam cegos.
O que vemos aqui é a manifestação de pecados sistêmitocs. Muitas cidades são marcadas por determinados pecados culturais, fazem parte da cosmovisão de um povo que os prática sem muita crise ou questionamento. O pecado de Sodoma e Gomorra é estrutural, sistêmico, comunitário, porque tantos velhos como jovens se mobilizam para este ritual macabro de sodomização destes homens. Não era apenas um grupo de adolescentes agressivos que estavam ali. A antiga geração, os velhos, participavam, aprovavam e eventualmente estimulavam este tipo de aberração.
B. A secularização da cidade
Outro aspecto que encontramos na cidade é seu aspecto secularizado. Talvez o melhor exemplo de secularismo que podemos encontrar revela-se neste texto. O secularista acredita até na possibilidade da existência de Deus, mas ele não acredita que Deus ouve as orações ou que Deus intervém na história.
Muitas vezes nós como cristãos nos tornamos profundamente secularizados. Não acreditamos no poder de Deus, nem na possibilidade de que ele intervenha na história da humanidade. Quando Ló fala aos seus genros que a cidade seria destruída por Deus, eles pensaram que Ló estava gracejando. (Gn 19.39). Olharam com descrença, zombaria e desdém para Ló, achando que era um tipo de piada, afinal, quando é que você já ouviu falar que Deus intervém na história? Eles não creram e morreram por sua incredulidade.
Esse é o típico exemplo de uma cidade secularizada. O secularismo é também um risco muito grande para nosso coração, mesmo sendo crentes, podemos duvidar que Deus tenha algo a ver com a nossa história ou com a história da humanidade.
C. O impacto de uma sociedade pagã na vida dos seus habitantes.
Um terceiro exemplo terrível que nós percebemos na cidade de Sodoma e Gomorra é que as meninas de Ló saem com ele com profunda resistência. Aliás, Ló sai meio que forçado também pelos anjos. A esposa vem, mas não vem, porque o glamour da cidade, o conforto, todos os privilégios relacionados à sua vida tranquila, própria de gente que fazia parte da elite econômica da cidade, se transformou em uma grande perda.
A palavra de Deus revela que a mulher de Ló não suporta toda esta pressão e aguenta aquela pressão e se transforma numa estátua de sal. E quanto as filhas? Aquelas jovens se deprimem, embriagam seu pai e terão um caso incestuoso com ele de onde surgem dois povos: Moabitas e amonitas. Aquelas moças saem da cidade, mas a cidade e a cultura não saem delas. Conviver nesta cultura maligna gera profunda deformação ética em seus corações, e elas se perderam na sua história delas. O que Deus dizia, ou os princípios e valores de Deus achava, já não significava muita coisa para elas.
Assim aconteceu com Nínive, cuja malicia subiu até os céus (Jn 1.1). Ainda assim Deus demonstra sua compaixão e amor a este tão rebelde povo. Jonas não conseguia entender como Deus poderia amar pessoas tão desprezíveis, mas ao encerrar o livro de Jonas, vemos Deus ensinando pedagogicamente o profeta rebelde: “Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.10,11)
Nínive era uma cidade sem valores éticos. Não sabia discernir entre a mão direita e a mão esquerda. Não encontramos a mesma realidade hoje numa sociedade pós-moderna, plural e relativista? Isaias fala de uma sociedade, “que ao mal chama bem e ao bem, mal; que faz da escuridade luz e da luz, escuridade; põe o amargo por doce e o doce, por amargo!” (Is 5.20)
Como Deus vê nossa cidade? Como Deus vê a cidade de Anápolis? Essa é uma pergunta importante para nós. Precisamos entender como tem sido o comportamento dos cidadãos de nossa cidade.
Como a cidade vê a igreja
A segunda pergunta é: Qual é a visão que a cidade tem da nossa igreja? Quando você anda pelas ruas, quando você vai ao salão de beleza, quando você está na fila de um banco, o que que as pessoas acham de nossa igreja?
Muitas vezes a visão que a cidade tem da igreja é uma visão terrível. E essa visão se constrói muitas vezes por causa do comportamento e da integridade ou não dos membros da igreja. Eu conheço uma igreja na qual todos os membros do conselho se envolveram com problemas sexuais. Quando a liderança é infiel, lida mal com dinheiro, são corruptos, qual visão a cidade terá desta igreja? Nenhuma igreja vai além de sua liderança. Se ela possui uma liderança integra, fiel, amorosa, a igreja seguirá nesta direção.
Qual a leitura que essa cidade faz a nosso respeito? Felizmente tenho ouvido relatos e testemunhos positivos a nosso respeito. Alguns anos atrás, o diretor de uma empresa veio por transferência para nossa cidade. Ele tinha um bom emprego e trabalhava numa grande multinacional. Infelizmente, por desavenças e discórdias com sua igreja ele estava desviado. Um dia ele passa pela livraria El Shaddai, bem conhecida aqui em nossa cidade, e perguntou ao dono da livraria, que não é de nossa igreja, onde poderia encontrar uma igreja bíblica, íntegra, uma igreja séria? A resposta foi: Aqui pertinho de nós tem uma boa igreja. Basta você virar duas esquinas, etc. e deu as diretrizes e esse homem que veio nos visitar e nunca mais saiu da igreja. Ele mesmo me contou essa história. Se tornou membro da nossa igreja e posteriormente foi transferido para São Paulo.
Este é um bom testemunho a nosso respeito, mas será que essa é uma visão que todos têm de nós? Como a cidade nos percebe? Uma igreja fiel, amorosa, acolhedora, bíblica, ou a cidade nos vê como uma igreja insensível, desumana ou até mesmo corrupta? Como a cidade vê nossa igreja? Precisamos ser conhecidos de fato como Deus quer que a gente seja conhecida. Igrejas marcadas por escândalos são péssimo testemunho para a cidade e geram descrença, questionamento sobre Deus e afastamento das pessoas. Essas igrejas caem na boca das pessoas e a crítica é severa.
Como minha igreja vê a cidade?
Este terceiro aspecto nos desafia tremendamente, porque muitas vezes a igreja vê a cidade como algo contagioso, perigoso, e precisa manter distância. Enxerga a cidade como objeto da ira de Deus. Muitas vezes a igreja não vê a cidade como uma comunidade, um povo que precisa de cuidado, de amor, sensibilidade. Temos medo de nos aproximar, medo de sermos contaminados, e por isto mantem uma relação de suspeição.
Este cenário não é incomum. Quando a igreja não se contextualiza e não entende o que tá acontecendo e como pode ajudar a cidade. O resultado da não contextualização é o obscurantismo. Obviamente temos o outro lado, igualmente perigoso: Quando a igreja se contextualiza demais pode perder sua identidade como sal e luz, gerando sincretismo.
É muito importante perguntar: Nossa igreja tem se afastado da cidade, em nome da pureza, da identidade, ou algo semelhante, resistindo, afastando-se criando um gueto? Às vezes a cidade sendo devorada pelo pecado e estamos com medo de nos aproximar dela e ser uma benção trazendo o evangelho e a graça de Cristo. Temos medo de sermos contaminados e nos afastamos por moralismo e um legalismo, com uma equivocada teologia. Precisamos aprender a olhar a igreja com os olhos de Cristo.
O filme Mudança de Hábito é muito interessante. É um filme de humor. Uma cantora de boate se torna amante de um gangster e de repente o vê assassinando friamente seu adversário. Ela se toma testemunha de um crime e conta para a polícia. O gangster descobre a delação e resolve matá-la. Para protegê-la o policial a envia para um convento.
Você pode imaginar o que pode acontecer com uma mulher, cantora de boate, dentro de um convento fazendo-se passar por freira? A situação é hilária em muitos aspectos, mas ao mesmo tempo nos desafia tremendamente. Por quê? Porque ela é ótima cantora e ao chegar ao convento, percebe que a qualidade musical é muito ruim, e decide ajudar o coral, no meio de muita controvérsia e disputa. Ela se envolve com o coral e começa a dinamizar com músicas mais contemporâneas revolucionando o convento e a igreja onde se reúnem. Ao mesmo tempo ela olha para fora e vê a cidade completamente suja, abandonada, enquanto elas estão ali dentro, protegidas da corrupção moral.
Ela então desafia as freiras para saírem do convento para interagirem e ajudarem aquele ambiente tão sujo e pervertido ao redor da igreja. Você imagina um bando de pinguim saindo, e indo para a rua? Aquela coisa complicada, com as moças todas sem relacionamento com o mundo do lado de fora. De repente a madre superiora percebe o risco das meninas saindo do convento e dá uma aula do risco delas saírem. Num determinado momento ela usa uma frase muito interessante, que eventualmente pode refletir a realidade da igreja em geral. “Você precisa aprender que esses muros aqui do convento são a nossa proteção.”
Às vezes eu tenho a sensação que a gente olha para cidade exatamente assim, como um perigo, um grande risco. Não olhamos para a cidade com misericórdia, cuidado, graça, mas olhamos para os muros da igreja, suas paredes da igreja como proteção e defesa contra a cidade, quando na verdade nós somos chamados para sermos sal e luz. Chamados para testemunharmos a Jesus no meio de uma geração pervertida e corrupta. E não podemos nos distanciar. Nós precisamos começar e ter um olhar de amor, de cuidado, de proteção pela cidade.
Essa semana uma irmã que recentemente chegou a nossa igreja me procurou. Ela está passando por um momento muito difícil na sua história, muito pesado. E está sendo acolhida por um grupo da igreja. Ela me disse: “Pastor, eu queria frequentar a igreja e me tornar membro.” Eu disse: Fico muito feliz em recebê-la aqui, mas o fundamental não é este caminho. Venha para ser cuidada e cuidar de outras. Venha para aprender, crescer junto com as irmãs, com os irmãos que tão cuidando de você. Ela então me disse: Eu já estou sendo cuidada. Eu falei: Ótimo! Então continue entendendo isso.
É maravilhoso ver a igreja assumindo o papel de koinonia, de cuidado, de proteção, de amor, dando colo para as pessoas que sofrem. Esse é o relacionamento que devemos ter com a cidade.
A igreja precisa ver a cidade como uma oportunidade missionária, de acolher e de abençoar. E mais uma vez vou citar o Dr James Fanstone, que foi um dos fundadores da nossa igreja. Como missionário, foi chamado por Deus para criar o hospital evangélico no Brasil, lá pelos idos de 1920. Chegou nesta cidade, que era bem pequena, sem nenhuma estrutura, e foi se adaptando com o povo e com a poeirada. Logo percebeu que a cidade precisava de atividade esportiva. O que que ele fez? Colocou ao lado do hospital, e não dá para entender a lógica dele, uma quadra de tênis e de vôlei para o pessoal da cidade jogar. Sim, os pacientes estavam lá nos seus quartos, mas aqui do lado de fora as pessoas vinham para jogar vôlei, o que se transformou num evento para a cidade.
Mas o que mais me surpreende é o fato de que ele comprou uma chácara perto da cidade. Na época era perto da cidade, hoje é dentro da cidade, e fez uma represa, um parque, não era coisa pública, era privada, e a represa estava aberta nos finais de semana, e as pessoas da cidade tinham agora um lugar de lazer. Que visão maravilhosa! Ele a cidade como objeto de sua missão e cuidado.
Como é que a nossa igreja vê a cidade hoje? Essa questão do cuidado com a cidade é alguma extremamente importante.
A Bíblia diz que quando Estevão foi apedrejado (At 7), os cristãos foram expulsos de Jerusalém e foram dispersos. Os diáconos da igreja, que tinham uma função humanitária de cuidar das viúvas, transformam-se em poderosos evangelistas, entre eles se destaca Felipe (At 8). O primeiro agente missionário da história da igreja foi a perseguição. E quando eles saem, Felipe segue para Samaria. Os judeus não se davam com o samaritano, mas Filipe transcendeu a barreira cultural e começou a ministrar o evangelho, trazendo cura dos enfermos, libertação dos cativos pelo demônio, e a Bíblia diz que: “houve grande alegria naquela cidade.” (At 8.8). que síntese maravilhosa que a Bíblia faz da presença da igreja numa cidade. E houve grande alegria naquela cidade. Será que conseguimos decorar esse versículo? Assim, pelo menos você poderá afirmar que decorou um versículo da Bíblia. Repita comigo: “E houve grande alegria naquela cidade.” (At 8.8). A presença da igreja traze um novo momento para aquela cidade. Traz alegria e salvação.
Precisamos capturar essa dimensão do chamado de Deus para que, como igreja, possamos ser instrumentos de Deus para gerar alegria, graça e compaixão pra cidade. A igreja precisa ver a cidade como objeto do amor de Deus, como campo missionário, um lugar para ministrar benção.
Como a igreja pode participar na construção da cidade?
Precisamos ter não apenas uma visão teológica de como vemos a cidade, mas como, de forma prática, podemos participar da cidade.
Há muitos espaços e desafios para que a igreja possa participar de forma eficiente.
a. Temos desafio de orar pela cidade.
b. Pregar o evangelho
c. Ser agente de cuidado, justiça e misericórdia
d. Temos também o desafio do cuidado.
e. O desafio da politicidade
f. E da sustentabilidade
Aproveito agora para falar de um braço da igreja, chamado Associação Bom Samaritano. Uma associação com mais de 50 anos, educando, cuidando, formando vidas. Podemos falar do Day Camp, uma atividade desenvolvida por pessoas da igreja, que se mobilizam para cuidar da cidade.
Basta estar disponível com tempo, talento e dinheiro, que logo você encontrará uma forma de servir, e participar na construção da cidade, temos que pensar em como podemos nos envolver como cidadãos da cidade, entendendo e participando das dinâmicas sociais e políticas da cidade. Como é que nós podemos participar e devemos participar?
Há sempre muito risco nesta abordagem, mas há sempre muito espaço e oportunidade também para sermos sal e luz na terra. Precisamos aprender essa relação que precisa ser cuidadosa, mas pode ser ousada também. Precisamos nos aproximar da cidade e cuidar da cidade, entendendo que somos chamados para fazer isto como povo de Deus.
Mais do que isso, precisamos também pensar na questão da sustentabilidade, da ecologia da cidade. Um cristão não pode emporcalhar a cidade, jogando papel de balinha, latinhas de refrigerantes, ou sujeira pelo chão. Precisamos cuidar das nascentes, dos rios, como empresários, ter consciência de precisa cuidar da natureza, mesmo quando isto implica em maiores investimentos e menos lucros.
Algum tempo atrás, no acampamento da nossa igreja, eu vi, e espero que não tenha sido alguém da igreja, naquele lugar tão preservado, bonito e bem cuidado, uma fralda descartável jogada no meio do mato. Certamente não é este o proceder sadio de alguém que é discípulo de Cristo.
Nossa cidade precisa de cuidado, cuidar das fontes e nascentes da cidade, da beleza, dos parques, da rua, ter uma casa bonita com árvores e flores na porta de casa. Nós precisamos cuidar do ambiente. Nós precisamos entender como parte dessa cidade para a construção dessa cidade. Devemos fazer isso porque faz parte da ordem inicial de Deus para preservar e cuidar do jardim.
Temos, portanto, várias opções, que vai de cidadania, sustentabilidade, cuidado, ecologia, cuidado com as pessoas, acolhimento, oração e pregação. Quando você acolhe pessoas na sua casa para estudar a Palavra de Deus e ama essas pessoas, essa é uma forma de estar cuidando e abençoando a cidade, na qual tantas pessoas vivem no anonimato, indiferença e invisibilidade. Precisamos participar na construção da cidade de alguma forma.
Algum tempo atrás, Laurent, engenheiro florestal, um irmão da nossa igreja que veio da França, olhou a nossa área onde construiremos o futuro templo e decidiu fazer um projeto e reflorestar aquela área. Ele escolheu as plantas do viveiro da cidade, e fez o reflorestamento. Que projeto lindo. Um parque com árvores. Tudo estava indo bem até que a Saneago, que cuida da água e do esgoto, teve que entrar lá e foi destruindo tudo com máquinas, tratores e caminhões, e nunca mais retornou para refazer. E agora, quero fazer uma denúncia pública, porque esta estatal, tem um discurso de que é ecologicamente correta. Ela foi lá e destruiu todo o parque reflorestado. Isto já tem cerca de 4 anos. Já entramos em contato, prometem, mas até hoje nada fizeram. Preciso, portanto, deixar registrado minha indignação. Certamente teremos que entrar com ação judicial contra a Saneago pelo seu descaso. Este é o meu desabafo, mas acho que ele é absolutamente necessário.
Precisamos cuidar da cidade, plantar árvores, colher frutos, limpar a cidade, não emporcalhar a cidade. Isso tem a ver com o discipulado, com gente crente, que ama o Senhor. Precisamos entender como nossa igreja pode participar da construção da cidade.
Como posso abençoar a cidade com o currículo que Deus me deu?
Esta é a última pergunta. Como posso, com aquilo que aprendi e tenho, ajudar minha cidade? É uma questão mais particular. John Kennedy uma vez afirmou: “Não pergunte a sua nação o que ela pode fazer por você, mas o que você pode fazer para sua nação.” Essa é uma desafiadora.
Em 2023, o Estado de Goiás cortou todo o incentivo e parcerias com as escolas confessionais. A decisão foi financeira, mas acho que o estado perdeu muito. Quando nos reunimos com a Secretária de Educação fomos comunicados que , depois de 52 anos, não mais teríamos os recursos, o que, de certa forma, inviabilizaria o funcionamento da escola. Ela então, querendo ser simpática disse: “Pastor, nós podemos alugar suas propriedades. Minha resposta foi: Não queremos dinheiro do Estado, mas estamos preocupados com os alunos. Deus foi muito gracioso conosco, e a despeito de todo cenário assustador e caótico, nossas escolas sobreviveram.
Como indivíduos, precisamos entender o nosso papel, como é que podemos, com aquilo que Deus nos tem dado, abençoar a cidade. Então, pergunte a você mesmo. “O que posso fazer por minha cidade?”
Algum tempo atrás, um empresário da igreja se envolveu com a Associação Bom Samaritano, que é coordenada por irmãos da igreja. Bill Fanstone, prof. Edésio, já falecido e D. Terezinha Carvalho, criaram essa associação visando o cuidado da cidade. Hoje nosso irmão Bill Fanstone já tá com 95 anos de idade, e vem à igreja todo domingo, lúcido, perfeitamente lúcido, apesar de sua idade. Alguém tinha que assumir o lugar dele, quem vai assumir? Então, este empresário decidiu assumir esta função que demanda tempo e competência, e é hoje seu presidente. Quando ele assumiu, eu olhei para ele, meio tímido, e me perguntei: Será que vai dar certo? Meus queridos irmãos, hoje eu não consigo entender como é que a nossa associação viveria sem a disposição desse homem.
Deixe-me relatar outro exemplo. Algum tempo atrás, uma mulher aposentada veio de Brasília. Seu trabalho até então era cuidar de adolescentes marginais. Ao retornar para Anapolis me perguntou: “Pastor, onde é que eu posso servir na igreja? Eu sugeri sua participação, dando um tempo na escola Bom Samaritano. Ela vestiu a camisa, e eu não estava sabendo muito bem o que estava acontecendo. Um dia ela me pegou na porta da igreja e brincando disse: “Pastor, eu queria te convidar um dia para nos fazer uma visita e conhecer a nossa escola.” Ela chegou, se dispôs e está dando seu tempo, voluntariamente, servindo a escola. Trouxe seu currículo para servir, abençoar vidas, glorificar o nome do Senhor.
Como posso ajudar nossa cidade? Esta é a pergunta de gente que ama o Senhor e quer servir no seu reino.
Aproveito ainda para dar uma palavra aos “coroas” da igreja. Não vou nem chamar de velho, porque ninguém hoje com 60 anos se considera velho inclusive eu, né? Esse negócio de entender-se velho é complicado, né? Como dizia o Sr. Jorge Sahium, Membro da nossa igreja que faleceu aos 97 anos. Quando tinha 94, ele disse brincando: “Eu morro de medo de ficar velho.”
Preste atenção você que tem mais de 60 anos, aposentado, com tempo livre, criativo, com currículo, talento, saúde e dinheiro, você tem recursos para servir. Você vai ficar o dia inteiro na frente da sua casa assistindo televisão, fazendo crítica social e falando mal da geração atual? É isso que Deus te chamou para fazer? Como você pode servir sua cidade? Descubra um lugar onde você pode trazer seus talentos como voluntário.
Alguns anos atrás, eu tive o privilégio de conhecer um homem fenomenal, Dr. Caio, americano, que foi auxiliar do então Ministro da Fazenda, Dr. Henrique Meirelles. Quando Meirelles assumiu a pasta, ele ligou para o Caio, que havia trabalhado com ele no Bank of Boston. Henrique Meirelles, nascido aqui em Anápolis, foi presidente do banco de Boston por 17 anos e Caio era diretor, homem de sua confiança, trabalhava ao seu lado. Meirelles ligou pedindo para que ele viesse morar no Brasil e o ajudasse na grande tarefa que lhe havia sido dada. Caio veio para cá e ficou 3 anos.
Eu tive o privilégio de conhecer esse homem em um jantar lá nos Estados Unidos, e na conversa, ele nos falou o que estava fazendo agora aposentado? Ele disse que viu na sua cidade em Massachusetts, uma oportunidade de dar um curso de finanças para os alunos da escola de sua cidade que mostrassem interesse neste tema. E duas vezes por semana ele assentava com estes alunos que se reuniam com ele.
Como seus talentos, seu aprendizado, seu currículo, podem servir à sua cidade? Você não vai resolver todos os problemas, mas pode ser uma bênção onde você estiver. Portanto, vamos aproximar da cidade, não por fisiologismo ou oportunismo, mas com amor e compaixão. Não foi assim que Jesus Cristo se aproximou das pessoas?
A Bíblia diz que ele olhou e teve compaixão da multidão porque “eram como ovelhas sem pastor.” (Mt 9.36) Ovelhas sem pastor correm muito risco. Este texto diz que ele viu as pessoas cansadas e abatidas, aflitas e exaustas. Ele teve compaixão. Jesus se compadece. Assim é o evangelho. Compaixão não é dó. Dó é sentimento, compaixão é ato. Você pode até ter dó, mas este dó que você tem, tem que te mobilizar a compaixão. O Que você pode fazer? Compaixão é o impulso para o serviço.
A compaixão de Cristo, é tão grande que vai chegar à cruz. Ali na cruz, Jesus Cristo morre pelos nossos pecados. Justo pelos injustos. Morre por você e por mim. Ali ele estende a sua mão sobre Jerusalém para tentar libertar uma cidade rebelde que o leva à cruz, mas não importa. Ele quer cuidar. Ele olha para as pessoas aflitas e exaustas. Compaixão gera redenção, resgate, salvação. E é por causa da obra de Cristo que somos salvos. Porque um dia ele se deu por nós.
Um dia ele não considerou a sua vida preciosa para si mesmo, mas ele morreu pelos nossos pecados. Assim é o evangelho. O filho do homem não veio para servir. Ele mesmo define a sua missão dessa forma. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir.” (Lc 19.10) Essa é a ação do Filho do homem.
Hoje cantamos: “Se eu não for, quem irá? Se eu não estender a mão, quem o fará?” Essa é a mensagem de Deus para nós. Que Deus nos ajude a pensar e refletir sobre essas verdades tão fundamentais ligadas ao Evangelho de Cristo Jesus.
Vamos orar. Quando oramos no final de um culto, é muito importante perceber que tipo de oração devemos fazer. Nossa oração tem que ser uma resposta à Palavra de Deus. A Bíblia diz que o homem tolo é aquele homem que ouve a Palavra de Deus e ele não se lembra do que ouviu. É como um homem que olha para o espelho e não se lembra de sua fisionomia. Quando reagimos à
Palavra de Deus dizendo: “Senhor, aqui estou, me ajude a ver as oportunidades, me ajude a ver onde o Senhor quer que eu sirva, como o Senhor quer que eu sirva. Ore por isso. Tente entender a vontade de Deus e o lugar onde Deus quer que eu sirva.
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