terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Habacuque 1 Quando Deus parece Inativo





Introdução:

Para aqueles que tem dificuldades para localizar o livro de Habacuque, gostaria de facilitar-lhes dizendo que ele se encontra entre Naum e Sofonias. Eh, parece que não vai ajudar muito...

Este texto relata o dilema de um profeta, que vê em seus dias, uma tragédia vindo sobre sua nação. Israel é outro dos pequenos paises que será dominado, em questão de dias, pela força imperialista dos Assírios. Os paises que ficavam ao norte de Israel, já estavam sendo dominados, e eles queriam conquistar e subjugar todas as pequenas nações para ampliar seu domínio.

O profeta como homem de Deus, se vê desafiado a orar. Afinal, espera-se que um servo do Senhor clame quando vê sua nação sendo destruída por homens inescrupulosos. Deus podia livrar Israel, Ele já fizera tantos milagres portentosos, e poderia libertar o seu povo, se assim o desejasse.

O problema é que, quando ele ora, Deus demora-se para responder e quando responde, o faz de forma inesperada. Gostaríamos de estudar este texto de hoje, focalizando neste tema que tem incomodado tantas pessoas hoje em dia: Por que Deus se parece tantas vezes inativo? Por que Deus muitas vezes parece não fazer sentido?

Há muitos problemas relacionados a vida de fé. Muitos pensam que a o tema exclusivo da Bíblia é o de Deus com os homens, mas a verdade é que a Bíblia relaciona-se com a condição do mundo inteiro e seu destino. Se não compreendermos que a Bíblia tem uma versão toda sua, não é de surpreender que o mundo nos desespere.

No final do século passado até os anos 60, existia o problema da ciência: “teoria da evolução” parecia ameaçar toda a fé bíblica. A questão era do como compartilhar esta teoria (supostamente científica), com o criacionismo adotado no nosso sistema de fé?. Alunos saiam para suas classes, e enfrentavam enormes problemas em relação a esta discussão, quando professores agnósticos zombavam dos pressupostos cristãos sobre este tema

Rubem Alves, conhecido escritor brasileiro, ex-pastor, chegou a afirmar que sobre este assunto devemos pensar em duas dimensões. Ciência é a forma como de fato são as coisas. Religião, contudo, usa uma linguagem poética, fala de desejos. É a forma como gostaríamos que fossem as coisas. Ao fazer isto, contudo, negou o pressuposto da verdade na fé cristã, e a reduziu a uma utopia. Apenas um discurso romântico.

O problema atual, contudo, parece caminhar noutra direção: Duas guerras mundiais parecem incompatíveis com a idéia de um Deus bom e Todo-Poderoso. O problema da exploração do pobre, do massacre de inocentes, de tragédias geradas pela natureza, levam-nos a uma questão filosófica tremenda, como alguém já definiu: “Ou Deus é bom, mas não é poderoso, ou é poderoso mas não é bom”.

No texto que lemos, o profeta Habacuque enfrenta exatamente esta questão. Ela encontra algumas dificuldades para conciliar sua fé, com a questões que os fatos históricos trazem sobre ele. É exatamente sobre este assunto que queremos considerar hoje. Por que Deus parece muitas vezes inativo em meio a situações provocativas da história, diante da dor humana?

O profeta Habacuque levanta pelo menos duas incômodas questões:

  1. O aparente silêncio de Deus- 1.2 Por que Deus muitas vezes não se pronuncia diante de questões aflitivas? O profeta ora, e parece que sua oração não encontra eco no ouvido do Senhor dos Exércitos: “Até quando clamarei e tu não me escutarás?".

  1. A aparente impotência de Deus – Que vê a atitude daquela nação perversa e parece não se importar. O profeta sente isto na pele, ao ver a iniqüidade e a opressão e não ter instrumentos para poder reagir. E pedir a Deus resposta ela simplesmente parece não vir.

E, por que Deus demora em reagir o profeta percebe que:
-
(a)   As pessoas perdem a noção de ética e surge a frouxidão moral – (Hb 1.4)
 Esta mesma tensão foi levantada por Rui Barbosa, ao afirmar:
  “De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver crescer as injustiças,
De tanto ver agitarem-se os poderes nas mãos dos maus,
O homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,e a ter vergonha de ser honesto”.

(b)   Torna-se difícil conciliar o caráter de um Deus bom com a aflitividade e o desespero humano. Ou Deus é bom, mas não é poderoso, ou Deus é poderoso, mas não é bom. Ou Deus é frágil ou é bom…

(c)   Perde-se a razão de viver "Por que fazes os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não tem quem os governe?" (Hab1.14) Você por acaso nunca viu gente desiludida com a vida dizendo que a vida é apenas biológica? Que não existe racionalidade na existência? Que os homens são como animais? É exatamente isto que o profeta está mostrando aqui.

Por que o profeta sente assim?
1.     Porque como nós, pessoas no meio da dor, não conseguem ver além de seu sofrimento -  a dor retira de nós a capacidade crítica, impossibilita-nos de olharmos friamente e vermos as coisas numa perspectiva mais ampla.

2.     O profeta faz uma Leitura Parcial da história  - Habacuque só vê um bloco da história no qual ele está inserido. Ele não vê o plano maior. O propósito de Deus para a história como um todo. Como Jó, encontra-se no meio de um grande drama, no qual ele é protagonista, sem saber… As coisas parecem não ter coerência, simplesmente acontecem. Por isto ele pergunta: "Até quando?".  
Deus, na sua sabedoria, está conduzindo a história a um fim, e parece-nos, em determinado momento, que as coisas não fazem sentido. Como uma colcha de retalhos, mal costurada por debaixo.

3.     Porque o cronograma de Deus nem sempre bate com o nosso. Deus muitas vezes se parece inativo - “Até quando?” (1.2) e “porque” (1.13). Deus pode parecer estranhamente silencioso e inativo em circunstâncias provocativas. Oramos por alguém, jejuamos e o problema persiste (Hab 1.13). Por que? Ex. Da esposa do Carlos Alberto em Brasília…

4.     Por causa das respostas inesperadas de Deus. No texto lido ele demora, e quando responde, usa instrumentos incomuns e dá respostas inesperadas. Demora, e quando responde, responde de forma adversa (Hab. 1.6).  Ele ora preocupado com os caldeus e Deus diz: "Estou enviando os caldeus". Pensamos que Deus deve responder de uma forma, mas Deus o faz de forma completamente distinta. Usa os caldeus…Às vezes o último instrumento esperado…

Como encontrar sentido nestas coisas?
No meio desta contradição presente no texto, Martin Lloyd Jones, grande pregador reformado de Londres, mostra três grandes verdades que surgem desta experiência:

1.  A história está sob controle divino - “Suscito os caldeus”.  (Hab 1.6).

Os caldeus, ou qualquer outro evento histórico, não são obras do acaso, da coincidência histórica, antes cumprem propósitos determinados por Deus. Aquela nação está fazendo aquilo que Deus queria que ela fizesse. Ela não surge sem que uma força maior a controle. O texto demonstra que Deus controla não apenas Israel, mas os caldeus. 

Idéia semelhante nos é demonstrada em Jeremias.
O povo de Deus havia sido exilado. Encontrava-se desanimado na terra dos Caldeus, queixoso e aborrecido, e Deus traz uma palavra por meio do seu profeta dizendo. “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia ” (Jr 29.4).

O que Deus lhes diz é que nunca, em nenhum momento, a história deixou de ser história de Deus. Os homens fazem as coisas, mas Deus está no controle divino, e vai realizar aquilo que Deus deseja através dos agentes da história, mesmo quando os homens não tem consciência desta verdade.

Mais surpreendente ainda é quando Deus afirma que o Rei Ciro, rei dos Medos e Persas , portanto um homem absolutamente pagão, distanciado das verdades de Deus, afirmando que ele era seu pastor. “Assim diz o Senhor ao seu ungido, A Ciro, a quem tomo pela mão direita (...) Ainda que não me conheces" (Is 45.1,5).

Toda nação da terra e todo indivíduo estão debaixo da soberania de Deus. Mesmo o diabo não é capaz de impedir a obra de Deus na história. Não há poder neste mundo que não seja controlado por Deus e que possa resistir a sua vontade.

O tema mais constante em Apocalipse é que “Todas as coisas estão sob o controle de Deus”… Às vezes achamos que nosso mundo é caótico, que não há coerência nem propósito. Mas as coisas não são como aparentam ser. Em Hebreus 2.8 nos é dito “Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas…” Nem tudo está claro para nós, mas todas as coisas seguem um propósito de Deus.

John Stott afirma que esta é uma clara dialética da escrituras sagradas. Temos na Bíblia o “Já e ainda não”. Deus é Senhor de todas as coisas por Lei, mas na prática ainda não vemos todas estas coisas sujeitas a ele, e achamos, eventualmente, até que satanás pode ter algum controle. Mas a Bíblia nos diz, nem um fio de cabelo cai sem a permissão de Deus. Todas as coisas estão sob seu controle. Ele, e apenas Ele é Deus! Existem alguns inimigos ainda não destruídos. A MORTE  é um destes inimigos, vencida sim, na cruz, mas ainda não destruída (I Co 15.26).
A façanha militar dos caldeus era permissão de Deus…

2.  A história segue um plano divino:  As coisas não acontecem por acaso. Um antigo hino afirma: "As tuas maos dirigem meu destino", e mais à frente afirma em outra estrofe "O acaso para mim não haverá". Os acontecimentos não são acidentais. Há um plano definido para a história.  Deus vê o fim desde o princípio.

O capitulo 19 de Apocalipse é um bom texto para que entendamos isto. Nele nos é relatado a volta do Cordeiro, a volta de Jesus. Três verdades claras são estabelecidas naquele texto, e tais verdades não podem ser revogadas pelo diabo:

2.1.          O Povo de Deus é vitorioso – Ap 19.9 e 22.14 fala-nos da bem aventurança deste povo. Satanás não pode impedir a igreja, não pode impedir que aqueles que foram lavados no sangue do Cordeiro não participem da festa. A igreja segue vitoriosa no nome de Jesus. Isto não pode ser revogado, porque "os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis". A Igreja esta no sempre do plano de Deus.

2.2.          O diabo já tem sua derrota decretada. Ele será manietado e jogado no lago de fogo e enxofre – "mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre" (Ap 19.20).

2.3.          O Cordeiro é vitorioso - A descrição do texto de Apocalipse 19.11ss é magistral. "Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus" (Ap 19.11-13) Vale a pena continuar a leitura do texto.

3.  A história segue horário divino – Este é um dos dilemas mais pesados para nós. Muitas vezes achamos a intervenção de Deus demorada. Veja o que Pedro nos diz: "Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3.9). A razão da aparente demora de Deus é porque ele ainda está dando tempo para que nos voltemos para ele, e sejamos salvos.

A Bíblia nos afirma que "Há tempo para todo propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Algumas vezes Jesus se referiu a esta questão do tempo de seu ministério, tempo de sua ação. “Ainda não é chegada a minha hora…” (Jo 2.1). Para que Jesus se revelasse, havia ao tempo certo de Deus. Mas, “Vindo porém a plenitude do tempo, Deus enviou seu filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). No centro do drama da história está o Filho de Deus.


Conclusão:

Todas estas questões incomodam profundamente a nossa alma, principalmente quando estamos na expectativa de um livramento, ou nos sentindo ameaçados, mas uma coisa pelo menos temos que nos lembrar: O profeta Habacuque continua a orar, apesar de não entender, a crer e a esperar, apesar de não ver ainda as respostas de suas orações, ou mesmo de ver respostas diferentes daquelas pelas quais orou. Ele sabe que Deus está acima. Deus ministra ao seu coração.

A Bíblia diz: “Sede firmes e perseverantes, sabendo que no Senhor, o nosso trabalho não é vão” (1 Co 15.58).  Não deixe de perseverar e fazer o que é certo, porque Deus, deixa de lhe atender como você espera que ele faça. Isto significa “perseverança”.

Jesus afirmou varias vezes no livro de Apocalipse: "Eis que venho sem demora, guarda o que tens para que ninguém tome a sua coroa" (Ap 22.7).

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