Introdução
Um dos mais conhecidos clássicos da literatura evangélica é “Para todo sempre, de Catherine Marshal, esposa de Peter Marshal, Ministro presbiteriano, que foi capelão do Congresso Americano. Neste livro, ela narra suas experiências de fé e alguns sermões que seu marido escreveu. Peter tinha uma grande erudição e piedade, e um dos seus famosos sermões foi “Cristãos de auditório”. Nele, o autor usa sua imaginação criativa para considerar como teria sido o chamado de Pedro e João, se os mesmos vivessem em Nova York e Jesus se encontrasse com eles na 5ª Avenida é uma verdadeira obra de literatura.
O Chamado de Cristo, de fato é surpreendente nas Escrituras. O que significa esse chamado? Para que Deus nos chamou?
Em 1 Ts 2.12, lemos que fomos chamados para o seu “reino e glória”. Assim, se você foi chamado para viver no reino de Deus, foi ele quem o capacitou; foi ele quem lhe colocou no caminho que ele mesmo estabeleceu.
Em Col 1.13, Deus nos transportou “do império das trevas para o reino do filho de seu amor”. Só podemos ir até Deus se ele nos chamar. É uma operação resgate das forças das trevas para a luz.
O chamado de Deus é um chamado para a vida. Por isso, o verbo “chamar” ou o substantivo “chamado” aponta para sair de um estado de uma situação de trevas para a luz. O chamado de Deus é um projeto de identidade e relacionamento, e possui um componente missionário.
Em Marcos vemos isto claramente:
Jesus “chamou os que ele mesmo quis” (Mc 3.13), e então, “designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar.” (Mc 3.14)
Este texto nos fala de algumas características deste chamado:
- O chamado é pessoal e único – Quantos pescadores existiam na Galileia? Jesus chamou apenas Simão e André. “E, andando junto do mar da Galileia, viu Simão, e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.” (Mc 1.16-17)
O chamado não é genérico, mas específico. Quem desperta e dá consciência a estes pescadores é o próprio Jesus. Eram homes excepcionais? Não!
“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele. É, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção, para que, como está escrito: "Quem se gloriar, glorie-se no Senhor". (1 Co 1.26-29)
“Deus não chama os qualificados, mas qualifica os chamados”.
- O chamado desestabiliza – “E, deixando logo as suas redes, o seguiram.” (Mc 1.18)
Simão e André encontram-se no seu trabalho, lançando as redes. Jesus os chama, e aquilo que faziam perdeu completamente o valor. Mateus está na coletoria, era funcionário publico, e Jesus o chama e ele “levantou-se e o seguiu” (Mc 2.13-14). Uma nova compreensão de sua história se deu a partir deste momento.
“E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro).” (Jo 1.42) Simão, no grego é “areia”, frágil e inconstante, mas Jesus o chama para ser Petros, (pedra), rocha sólida. Pedro negará Jesus três vezes, mas prega um poderoso sermão no dia do Pentecostes em que três mil pessoas se convertem e são batizadas. (At 2)
“Caminhando junto do mar da Galileia viu André e Simão” (Mc 1.16)
“Mais adiante, viu Tiago e João” (Mc 1.19).
“Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu” (Mc 1.14)
É Deus quem nos vê e nos percebe no meio da multidão. Chamado é obra de Deus, algo pessoal. Deus não busca outro profeta quando Jonas se esquiva do chamado, mas o envia para cumprir seu chamado. O chamado desestabiliza e inquieta. Deus chama pessoas trabalhando.
- O chamado redireciona – “E, deixando logo as suas redes, o seguiram.” (Mc 1.18) Dá sentido mais profundo ao que fazemos. Dá um senso de missão e objetivo.
Eram pescadores, mas agora serão “pescadores de homens.” “Todos temos uma vocação, embora haja várias profissões. (José Borges dos Santos Jr) Nossa profissão se torna significativa quando a colocamos a serviço da obra de Deus e ela adquire uma dimensão missiona. Esta é a diferença entre o homem que quer viver para Deus e aquele que não reconhece Deus. O homem de Deus vê significado maior naquilo que faz. Não trabalha apenas para ganhar, mas para glorificar a Deus.
Paul Meyers foi um homem de negócios bem-sucedido na área de seguros nos Estados Unidos. Ele dizia que Deus o havia capacidade a ganhar dinheiro. Ele decidiu colocar seus bens e inteligência a serviço da obra de Deus, e seu dinheiro foi usado para sustentar a obra do Instituto Haggai, até sua morte, em 2010. Ele foi o maior contribuinte individual para treinar líderes do terceiro mundo investindo milhões de dólares neste projeto.
Dr. Donald C. Gordon, e sua esposa, Helena, enfermeira, se fixaram na pequena cidade de Rio Verde-GO, em 1937, que na época tinha cinco mil habitantes. Ainda jovem nos EUA ouviu falar que Deus poderia usar qualquer profissão para servir no campo missionário. Até então ele acreditava que apenas missionários treinados em teologia poderiam servir nesta função. Depois de ter concluído seu curso de medicina, ele e sua esposa deixaram sua cidade e família e vieram para o Brasil e fundaram o Hospital Presbiteriano que tem abençoado milhares de pessoas.
O chamado redireciona. Deus nos aponta para uma vocação mais sublime.
Em junho 2011, vi um carro que tinha a seguinte placa: “Propriedade de Jesus!” e logo abaixo escrito: “Vende-se!”. Fiquei com vontade de ligar para o proprietário: “Como você pode querer vender aquilo que não é sua propriedade?”.
- O chamado implica em ruptura - -“Então eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (Mc 1.18). -“Deixando eles no barco a seu pai... seguiram a Jesus” (Mc 1.20).
Ambos deixaram trabalho, posições e privilégios. Muitos projetos e planos são deixados quando um novo e maior chamado se interpõe. Chamado desestabiliza e causa ruptura. Prioridades são redirecionadas. Tiago e João tinham uma empresa de pesca, agora abandonam as redes.
- O Grande chamado de Deus aponta para resgate de vidas – Deus nos chama para sermos “pescadores de homens”. Ministério tem a ver com a vida. Às vezes corremos o risco de achar que o ministério basta a si mesmo. O chamado de Deus é para desembocar em vidas.
Quando fomos construir o Edifício de Educação Religiosa da igreja em Anápolis, duas decisões foram tomadas pelo Conselho:
- Não vamos nos distrair. Nenhum projeto missionário será substituído ou deixado de lado para investir em tijolos. Se Deus quiser nos dar, ele nos dará com as sobras.
- Nosso prédio será usado para a obra de Deus. Investimento em gente, missões. A visão é que o melhor investimento da igreja não é em prédios, nem estruturas, mas em gente. O alvo da igreja são seres humanos.
- Como utilizar estruturas para abençoar a cidade? Que ministério será adequado às estruturas que temos? Como abençoar famílias e a sociedade?
- Alvo final: Investimento em gente. Deus nos chama para sermos pescadores de homens.
A visão atual na construção do novo templo:
- A maior beleza da construção não tem a ver com arquitetura, mas com as possibilidades ministeriais.
- Investiremos a mesma quantidade de recursos da construção, na plantação de novas igrejas
- Não substituiremos nenhum projeto missionário para investir na construção. Investir em pessoas é mais importante que investir em prédios.
Conclusão
O chamado de Cristo é um privilégio. Ele muda radicalmente a forma de ver a vida, de considerar nossos projetos, de investir nossos recursos, talentos e tempo. Este projeto envolve toda nossa vida. “Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo.” (2 Co 5.16)
Como reagimos ao seu chamado? Se estivéssemos hoje, lançando nossas redes ao mar, consertando as redes, ou, como funcionários, empresários, profissionais liberais, como reagimos ao seu chamado que diz: “Vem e segue-me”?
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