segunda-feira, 2 de junho de 2025

Mc 1.13 “Estava com as feras, mas anjos o serviam”

 


 

Introdução:

 

"Estava com as feras, mas anjos o serviam" é uma frase bíblica que se refere diretamente a Jesus Cristo e ao seu período de tentação no deserto. Já faz algum tempo que venho pensando em ministrar sobre este texto, mas as idéias nunca se organizavam o suficiente para que eu me sentisse seguro para pregá-la. Este versículo faz referência a Jesus quando ele foi levado ao deserto para a tentação, e nos ensina algumas coisas.

 

O texto completo afirma: "E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E estava com as feras, e os anjos o serviam."

 

Este detalhe exclusivo do relato de Marcos sobre a tentação de Jesus no deserto, adiciona uma camada de solidão, vulnerabilidade e selvageria ao ambiente. O deserto era um lugar inóspito, e a presença de animais selvagens (feras) realça a dureza da provação de Jesus. Simbolicamente, a presença das feras pode evocar a natureza primitiva e desolada do mundo, ou até mesmo as forças do mal e da desordem que Satanás representa, que tentavam Jesus naquele ambiente.

 

A expressão, "mas anjos o serviam" contrasta fortemente com a presença das feras. Apesar do ambiente hostil e da tentação de Satanás, Jesus não estava sozinho nem desamparado. "Anjos o serviam" indica que Deus providenciou cuidado e sustento para Jesus durante esse período de fraqueza física e intensa luta espiritual. O verbo diakoneō (servir) sugere assistência, provisão de necessidades e cuidado. Em Mateus 4.11 e Lucas 4.13, é mencionado que os anjos vieram e o serviram após as tentações. Marcos coloca essa realidade como parte integrante do tempo no deserto, ressaltando a constante provisão divina.

 

Este texto revela a humanidade e vulnerabilidade de Jesus. Mesmo sendo Deus, também era plenamente humano, sujeito à fome, ao cansaço e à tentação em um ambiente desolador. Enfatiza a intensidade do confronto de Jesus com Satanás e as forças do mal. Mesmo no ambiente mais adverso, Ele enfrentou e resistiu à tentação. Revela ainda a provisão divina em meio à provação. Apesar da selvageria do deserto e da presença das feras, Deus não o abandonou. A presença dos anjos serve como um lembrete da proteção e do sustento divino, mesmo nos momentos mais difíceis e solitários. É uma afirmação da soberania de Deus sobre as circunstâncias e sobre as forças do mal.

 

Esta passagem serve como um encorajamento. Mesmo quando se encontram em situações de "deserto", rodeados por "feras" (desafios, problemas, tentações, adversidades), a presença e o serviço de Deus (através de seus anjos, de sua providência, ou de seu Espírito) estão disponíveis para sustentá-los. Esta frase "estava com as feras, mas anjos o serviam" é uma poderosa declaração sobre a natureza de Jesus, a realidade da tentação, e a fidelidade e provisão de Deus em meio às mais severas provações.

Deste texto podemos extrair algumas aplicações:

  1. Só é possível enfrentar tentação e ficar firme se nossa vida estiver calcada na certeza do amor de Deus por nós.

 

O texto anterior afirma que Deus faz uma declaração de amor por Jesus. “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo” (Mc 1.12). quando você sabe que Deus o ama e está firmado nesta verdade, é capaz de vencer qualquer tentação.

 

A grande tentação de nossa vida tem a ver com a identidade. Quando enfrentamos a fornalha ardente e não sabemos quem somos aos olhos de Deus, a primeira coisa que fazemos é acusar o Pai, ou desconfiar de seus motivos, afinal, nossa posição é frágil. No texto anterior, O Pai declara seu amor ao Filho. Declarações como esta sustentam nossas vidas. Vemos aqui o Deus Pai manifestando e confirmando sua relação de afeto com o seu filho amado.

 

A vida humana se baseia sempre na confiança dos relacionamentos. O que dá segurança a um filho é a convicção de que são amados pelos pais. Filhos inseguros quanto ao amor do Pai crescem também inseguros na sua personalidade. Marido e mulher que possui relacionamento de insegurança afetividade, desenvolve patologias, desconfianças e ciúmes. Nenhum relacionamento é positivo se não se encontra a mínima segurança quanto aos afetos. Filhos desintegrados psicologicamente possuem grandes déficits emocionais. Quando surgem as crises são facilmente destruídos porque suas emoções são muito fragilizadas.

 

Alguma vez na vida você já sentiu que Deus tem prazer em você? Não existe nada melhor e mais satisfatório que a compreensão do amor do Pai celestial. O modelo de nossa espiritualidade está centrado na convicção de que somos amados.

 

Como o pai se dirige ao Filho? "Este é o meu Filho amado". Esta declaração é feita por duas vezes: No Batismo e na transfiguração. Como o Filho se dirige ao Pai? "Aba, Pai". Relacionamento de intimidade e afetividade (Rm 8.15; MC 14.36; Gl 4.15). É isto que nos dá condições de vencer a tentação e o deserto. Saber que somos amados.

 

Na primeira crise que você tiver, o grande desafio é estar firme na convicção que você é filho amado. Não dá para enfrentar o diabo, nem ser acuado no deserto sem esta clara compreensão de que somos filhos amados do Pai.

 

  1. Deserto e tentação fazem parte de um processo pedagógico de Deus – “E logo o Espírito o impeliu para o deserto.(Mc 1.12).

 

Deserto é projeto de Deus, por isto o Espírito é quem impele a Jesus nesta direção. Impelir é um termo que demonstra a intencionalidade do Espírito em relação ä vida de Jesus.

 

    1. O Espírito nos leva ao deserto para que nossa identidade seja avaliada – Por isto que Satanás começa a tentação com uma picante sugestão: “Se és Filho de Deus”.

 

No deserto, tudo o que temos nada vale, se não soubermos o que somos. No deserto estamos sós, o dia é absurdamente quente e a madrugada é gelada e solitária. Ali nossos afetos e identidade são colocados à prova, passando pelo crivo da validade. Neste contexto as máscaras caem e os esquemas e defesas são jogados por terra. O deserto confronta a compreensão que temos de Deus. Na avaliação da identidade, quem sabe quem é, mantém-se firme, quem não sabe a relação que tem com o Pai, tende a negociar conforto e bem-estar.

 

    1. O Espírito nos leva ao deserto para que sejamos testados quanto aos nossos desejos – Ali, diante do diabo, Jesus é provado em várias áreas:

 

                                               i.     Satanás o tenta quanto aos desejos e apetites da carne – “Manda que estas pedras se transformem em Paes” (MT 4.3). A provocação de Satanás neste texto é quanto à validade de se privar de satisfações imediatas dos desejos e de seu corpo se você pode satisfazê-los agora. Portanto, coma!

 

Jovens são tentados quanto à pureza moral quando são colocados nesta situação. Casais são confrontados quanto à fidelidade. A ganância, os esquemas, e os apetites animais querem satisfação, não gostam de privações. Querem governar soberanamente. O deserto nos leva para testar nossa capacidade de dizer não ao que desejo, pelo fato de amar a Deus, e porque sua palavra me aponta numa direção contrária aos meus impulsos.

 

                                             ii.     Satanás tenta quanto aos desejos de tomar atalhos – “Atira-te abaixo, porque está escrito.” (Mt 4.6)

 

Jesus sabia da necessidade de ir para a cruz, para atrair todos a si mesmo, mas Satanás o convida a lançar mão do poder de Deus para seu benefício, afinal, porque ir para a cruz, se um show em Jerusalém poderia confirmar sua messianidade? Saltar do templo e ser sustentado pelos anjos o colocaria nos holofotes e nas manchetes dos jornais mais badalados: fama, sucesso, reconhecimento viriam quase automaticamente.

 

Jesus sabe, porém, que o caminho de Deus não passa por aplausos e vivas, e é isto que Satanás lhe oferece, e ele recusa. Ali no deserto os seus desejos estão sendo testados. Diante das provações, das privações, nossos desejos são colocados à prova. Afinal, quão bom é ser reconhecido e aclamado?

 

                                            iii.     Satanás o tenta quanto aos desejos relacionados ao poder humano – “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares” (Mt 4.9).

 

Satanás oferece riquezas e poder. Quantos sucumbem a esta grande tentação de ter, dominar, conquistar. Viver uma condição humilde quanto temos a oferta de grandes conquistas não parece ser muito fácil.

 

O mundo está cheio de ofertas que apelam aos nossos desejos. Tentações só são reais quando provocam nossos desejos internos, nossas inclinações. O Espírito muitas vezes nos conduz ao deserto para que sejamos testados quanto aos nossos motivos, para vermos se são validadas nossas necessidades.

 

  1. Deserto e tentação podem ser vencidos, quando nosso coração está identificado com as coisas do reino: “Estava com as feras, mas anjos o serviam(Mc 1.13).

 

Não há problema em estarmos rodeados por feras, por pressões públicas, por ameaças, se nossa consolação e fundamento de alma é a relação com os mistérios de Deus. Muitas vezes nos sentimos assustados, quando olhamos ao redor e vemos as feras que nos cercam. Inimigos muito maiores que nós, poderes ameaçadores, grunhidos e rugidos que fazem estremecer nossa estrutura interna, mas quando olhamos de forma mais acurada, percebemos que Deus está ao nosso lado nos confortando com seus mensageiros.

 

A palavra anjos (angelos), significa mensageiro. A Bíblia fala da existência destes seres, e afirma que eles são espíritos ministradores a favor dos que hão de herdar a salvação. (Hb 1.14) Portanto, estes seres espirituais cuidam de nossa vida e nos protegem.

 

Gosto de considerar ainda que Deus levanta anjos de outras naturezas. Pessoas de carne e osso que nos assistem e caminham conosco nos dias de tribulações e travessias ameaçadoras no deserto. Nessa hora, Deus vem com seu consolo e nos capacita à vitória. Afinal, seu consolo e conforto estão conosco, mesmo quando atravessamos vales da sombra da morte.

 

Só podemos vencer os desertos com a abençoadora presença destes enviados de Deus, que nos acodem e cuidam de nossa vida nos momentos de sequidão, sede, fome, quando as sugestões mais ousadas e pertinentes do diabo vêm em nossa direção. A palavra de Deus afirma: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor daqueles que o temem, e os livra.” (Sl 34.7)

Um comentário:

  1. Glórias a Deus.. texto maravilhoso. Deus continue te abençoando Rev Samuel

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