O Evangelho de Marcos frequentemente destaca a exousia (autoridade) de Cristo. Este tema, embora comum nas cartas paulinas, assume um caráter marcante nos escritos de Marcos. A fonte da autoridade de Jesus é objeto de discussão em Marcos. No capítulo 11, versículos 27-33, Jesus não responde diretamente à pergunta dos sacerdotes, escribas e anciãos, mas os leva a refletir sobre a autoridade de João Batista, colocando-os em uma situação de neutralidade condenatória. Jesus responde da mesma forma que eles, sem demonstrar interesse em discursar sobre a origem de sua autoridade.
A Autoridade de Cristo
O Evangelho de Marcos é notável por sua apresentação dinâmica e vívida da autoridade de Jesus Cristo. Desde os primeiros capítulos, Marcos demonstra que Jesus não é apenas um mestre ou profeta, mas alguém que possui autoridade sobre todas as coisas.
1. Autoridade sobre o mundo espiritual, para confrontar poderes demoníacos
- Marcos registra diversos episódios em que Jesus expulsa demônios, demonstrando seu poder sobre as forças do mal (Mc 1:23-27, 3:11-12, 5:1-20).
- Esses eventos revelam que Jesus não apenas fala com autoridade, mas também age com poder sobre o reino das trevas.
Há uma grande quantidade de textos neste evangelho que demonstram essa autoridade de Jesus. Ele está sempre dando ordens às potestades malignas sobre este assunto:
- Mc 1:23-27 - Espírito imundo em Cafarnaum
- Mc 1:34 - Muitos demônios repreendidos
- Mc 1:39 - Pregando e expelindo demônios
- Mc 3:11,12 - Jesus repreende espíritos imundos e os proíbe de falar
- Mc 3:13-15 - Autoriza seus discípulos a terem a mesma autoridade
- Mc 5:1-14 - O endemoninhado gadareno
2. Autoridade sobre doenças
- Jesus realiza inúmeras curas, demonstrando seu poder sobre a doença e a morte (Mc 1:29-31, 2:1-12, 5:21-43).
- Esses milagres confirmam que Jesus tem autoridade para restaurar a saúde e a vida.
Seu poder se manifestava também em sua capacidade de trazer normalidade à vida das pessoas:
- Mc 1:28-31 - A sogra de Pedro
- Mc 1:31-34 - Muitos doentes de toda sorte de enfermidades
3. Autoridade sobre os fenômenos da natureza
- Jesus acalma a tempestade no mar da Galileia, demonstrando seu poder sobre as forças da natureza (Mc 4:35-41).
- Este evento mostra que até a própria natureza obedece à voz de Cristo.
Exemplos:
- Mc 4:35-41 - Acalma uma tempestade
- Mc 6:45-52 - Anda sobre o mar
- Mc 11:12-14 - Amaldiçoa a figueira sem fruto (Mc 11:20)
4. Autoridade para perdoar pecados
- Jesus perdoa pecados, uma prerrogativa que os judeus atribuíam apenas a Deus (Mc 2:5-10).
- Essa ação demonstra que Jesus tem autoridade para perdoar pecados e reconciliar a humanidade com Deus.
Exemplo:
- Mc 2:5-7 - Para espanto das pessoas presentes, declara o perdão dos pecados, e declara a libertação da culpa que estava sobre o paralitico. Curiosamente, esta foi uma das suas atitudes mais questionadas.
5. Autoridade para ensinar
- O ensino de Jesus é marcado por sua autoridade, diferente do ensino dos escribas (Mc 1:22).
- Jesus ensina com convicção e poder, revelando a verdade de Deus.
Jesus não era formado pelas escolas rabínicas. Ele não tinha autoridade institucional para ministrar. Entretanto, Marcos demonstra que Jesus assume esta autoridade.
Exemplos:
- Mc 1:21-28 - "Como quem tem autoridade"
- Mc 12:28-34 - Um escriba se rende à sua sabedoria
- Mc 12:37 - "A multidão o ouvia com prazer"
A Fonte da Autoridade de Cristo no Evangelho de Marcos
Marcos identifica pelo menos seis fontes para a autoridade de Cristo:
1. Sua coerência de vida
- Mc 1:22: "Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas."
2. Sua intimidade com Deus
- Mc 1:35: "Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava." Após um dia intenso de curas e expulsões de demônios, Jesus se levanta de madrugada e vai para um lugar deserto para orar.
- Mc 14:32-42: Na noite anterior à sua crucificação, Jesus se retira com seus discípulos para o Getsêmani, onde ora intensamente ao Pai.
A autoridade de Jesus deriva de sua relação única com Deus Pai. Jesus age em nome do Pai, revelando o amor e a misericórdia de Deus.
3. Sua consciência vocacional
Marcos procura revelar quão profundo era o sentimento de Jesus em relação ao seu ministério.
- Mc 1:38: "Para isto vim..."
O ensino de Jesus é diferente do dos escribas, pois ele ensina com convicção e poder, revelando a verdade de Deus. As pessoas se admiravam com o ensino de Jesus, pois ele falava com autoridade, como alguém que conhecia a vontade de Deus.
4. Sua identidade: relação com o Pai
- Mc 11:15-19: "A casa de meu Pai será chamada casa de oração..."
- Mc 11:1-11: "O Senhor precisa dele."
Ao ser questionado sobre sua fonte de autoridade, Jesus não se preocupa em responder. A parábola dos lavradores maus de Marcos 12 revela sua identidade e a consciência que ele mesmo tinha de herdeiro e filho legítimo da vinha.
Sua identidade divina é a base de sua autoridade sobre todas as coisas. Em diversos momentos, Jesus demonstra ter conhecimento e poder que transcendem as capacidades humanas, confirmando sua natureza divina.
5. Sua humanidade, aceitação e amor
- Mc 2:15-17: Assenta-se com publicanos (traidores da nação) e gente de caráter reconhecidamente refutável.
- Mc 14:3-9: Aceita estranha adoração de uma mulher cujos convidados murmuravam pelo simples fato de tê-la presente.
- Mc 14:17-21: Convida para assentar à mesa um homem que haveria de traí-lo, mesmo sabendo de antemão de suas intenções malignas.
6. Sua vitória sobre a morte
- Mc 16:6: Não permaneceu na sepultura.
Implicações desta autoridade
- Jesus é o Filho de Deus: A autoridade de Jesus confirma sua identidade como o Filho de Deus, o Messias prometido.
- O Reino de Deus está presente: A autoridade de Jesus demonstra que o Reino de Deus se manifesta em suas palavras e ações.
- Chamado ao discipulado: A autoridade de Jesus exige fé, obediência e o chamado para segui-lo.
- Sua autoridade é atemporal: Marcos demonstra o domínio eterno do Mestre.
- Mc 16:17: "Estes sinais hão de acompanhar os que creem". Ele é soberano eternamente.
- Sua autoridade delegada à Igreja:
- Mc 3:13-15: Designou os discípulos para estarem com ele e os enviou a pregar.
- Mc 16:17-18: Afirma que sinais e prodígios seguirão os seus discípulos.
- Mc 16:20: Os discípulos tiveram a confirmação da delegação desta autoridade, ao ministrarem sinais que se manifestavam quando pregavam o Evangelho.
Boston- 1997
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