A oração dominical nos ensina a orar dizendo: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.” (Mt 6.13) Em outro texto, Jesus ainda é mais enfática ao afirmar: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” (Mt 26.41). É interessante a ênfase de Jesus nesta segunda oração quando ele pede para que “não entremos” em tentação. Quando entramos neste processo, algo muito perigoso pode acontecer.
A palavra tentação e provação é a mesma no grego. (parasmose). O que Jesus ensina é: “Não nos conduza a uma situação na qual tenhamos a impressão de que a única saída que temos é atender aos fortes apelos e cair” A verdade é que, se a tentação for dura demais, podemos cair.
A Bíblia fala do “dia mau”. A oração nos pede para orarmos para que, se Deus não nos der força, não nos envie tal provação. “Livra-nos do mal”
O texto de Marcos 1.12-13 nos fala de alguns elementos presentes na tentação:
- Tentação é um processo de amadurecimento permitido pelo Pai – “O espírito o impeliu ao deserto”. (Mc 1.12)
- “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.” (1 Pe 4.12-13)
- “Tentação é o encontro do pior dos seres com o pior que há em mim”.
- A grande ação de Satanás com Jesus foi desestimular a obra da cruz.
i. “Tudo isto te darei, se prostrado me adorares.” (Mt 4.9)
ii. Pedro – "Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá." (Mt16.22)
- Tentação tem certo período de durabilidade – “Permaneceu no deserto por 40 dias”.
- Não se trata apenas de um pensamento que vem e desaparece, mas pode ser um sentimento que dura um tempo maior.
- Em alguns casos pode levar uma vida inteira: luxúria, poder, desejo de popularidade, depressão, ansiedade, vícios, taras...
- Jesus fica 40 dias debaixo de propostas que atingem diretamente o núcleo de sua identidade e missão: tirá-lo do foco da sua obra na cruz.
- Tentação é ação direta do diabo – “Tentado por satanás” (Mc 1.13)
- Esta tentação tem a forma de tortura psicológica. Reincidente, diária, recorrente. Exige muita resistência e resiliência.
- Surgem em formas de sugestões atraentes, em formas de coisas elegantes e alternativas aparentemente fáceis. “Embraçando sempre o escudo da fé com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef 6.16)
- Tentação nos rodeia por elementos que conspiram contra nossa saúde e vida. “Estava com feras”. Isto pode trazer danos à nossa vida, à nossa saúde espiritual e moral.
- Durante a tentação, nunca estamos sós – “Estava com feras, mas anjos o serviam”. Se temos a dimensão da obra e sugestões demoníacas, temos também a presença consoladora de Deus. Não nos sobrevém tentação além de nossas forças.
- Tentação nos fortalece e nos torna aptos para o ministério para o qual fomos chamados. Os homens costumam ser preparados para as grandes realizações, por meio de grandes tentações.
- Peter Marshal: “Mas não é pecado ser tentado. Não é o fato de ter tentação que deve envergonhar, mas o que fazemos com ela. Tentação é uma oportunidade para vencer. Quando chegarmos finalmente ao alvo a que todos nos dirigimos, Deus não olhará para os diplomas, mas para as cicatrizes que tivermos”. (Catherine Marshal, Para Todo o sempre, pg. 60.)
- George Elliot: “Nenhum homem está matriculado para viver a arte da vida, enquanto não tiver sido tentado”.
- Ditado Judeu: “O santo, bendito seja o teu nome, não eleva ninguém ao nível de dignidade que lhe está reservado sem antes havê-lo provado e examinado; se suporta a tentação, só então lhe confere dignidade”.
Conclusão
Estes são alguns dos elementos presentes durante o processo de tentação. Não podemos ignorar nenhum deles, antes devemos ficar atentos quando surgirem, para podermos resistir a cada uma das suas poderosas sugestões. A frase "Não nos deixe cair em tentação" é parte da oração do Pai Nosso e carrega consigo uma profundidade teológica e existencial que rende ricas discussões em grupo.
Algumas perguntas para nos ajudar a refletir sobre o tema:
- O que significa "tentação" para você? Como ela se manifesta em sua vida?
- A tentação é sempre sinônimo de mal?
- A tentação é algo externo a nós ou surge de nossos próprios desejos e fraquezas?
- Como discernir a gravidade de uma tentação?
- Deus nos tenta? Qual a diferença entre ser "tentado" e ser "posto à prova"?
- Qual o papel da oração e da fé na resistência à tentação?Existem "armaduras" ou estratégias para evitar cair em tentação?
- Como a comunidade de fé pode auxiliar seus membros a resistir à tentação?
- O que significa "vigiar e orar"?
- Como a esperança cristã na vitória final sobre o mal nos auxilia a enfrentar as tentações?
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