sábado, 28 de outubro de 2023

Sl 33.3; 1 Co 14.15 A beleza do Louvor

 



 

 

“Eu ouço tudo, e não somente a música propriamente dita, mas os corações que estão por trás dela”.

(William Young, A Cabana), Pg. 81

 

 

O que significa Louvor?

 

Louvar é engrandecer, proclamar, exaltar o nome de alguém, mostrar apreciação. Muitas vezes ao invés e louvarmos a Deus, murmuramos contra ele. Falar mal de Deus e falar contra Deus é o anti-louvor.

 

Toda criação foi feita para proclamar o nome de Deus. O Sl 19.1 “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos”. Padre Antônio Vieira, com sua retorica perspicaz afirma: “O primeiro pregador da história foi a natureza, já que os céus proclamam.”

 

A queda da raça humana é um fator impeditivo para que a natureza glorifique a Deus. Paulo fala da natureza escravizada, corrompida, esmagada com a força do pecado. Parece ser esta a ideia central no Capítulo 8 da Carta de Paulo aos Romanos:

 

A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. “(Rm 8.19-22)

 

A eleição do povo de Israel tinha um proposito bem claro. Deus queria formar um povo para adorá-lo, ele levantou a nação israelita para cumprir este papel. O seu povo eleito deveria ser este canal de proclamação da glória de Deus.

 

O profeta Isaias relembra o povo da razão da eleição: “...a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória.” (Is 43.7); “...ao povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor. Contudo, não me tens invocado, ó Jacó, e de mim te cansaste, ó Israel.” (Is 43.21-22)

 

Esta também foi a razão da eleição da igreja de Cristo. Paulo afirma que Deus nos escolheu em Jesus, antes da fundação do mundo, para louvor da glória de sua graça. (Ef 1.4,5) Deus espera louvor de seu povo. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2.9)

 

A primeira pergunta do Catecismo Maior de Westminster (1643) é a seguinte: “Qual o fim principal do homem?E a resposta é: “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Somos chamados para exaltar a glória de Deus, anunciar ao mundo seu poder e majestade. Na visão de John Piper, a única forma de glorificar a Deus é desfrutando dele, tendo prazer nele. A razão principal da existência do ser humano é dar glória ao seu criador. Nosso chamado maior é dar glória e exaltar o nome de Deus. A a igreja de Cristo é chamada para glorificar a Deus.

 

Diante disto várias perguntas podem ser levantadas, dentre elas destacamos duas:

  1. Como deve ser o louvor?
  2. Qual a relevância do louvor?

 

 

Como deve ser o louvor?

 

Escolhemos dois textos para refletir: Sl 33.3 e 1 Co 14.15.

 

I

Arte e júbilo

 

Vamos ao saltério. “Celebrai o Senhor com harpa, louvai-com com cânticos no saltério de dez cordas. Entoai-lhe novo cântico. Tangei com arte e com júbilo” (Sl 33.2,3).

 

Neste primeiro texto, duas coisas são exigidas no culto prestado a Deus:

 

1.   Primeiro, que o louvor seja feito com arte. Isto envolve competência, habilidade, treino, preparação. Um culto malconduzido liturgicamente pode se tornar cansativo e pouco atraente. Este é o aspecto prático da questão. Mas o mais importante é considerar que Deus espera que o louvor seja feito com excelência.

 

Muitos ignoram a arte ao conduzirem o louvor e alguns até mesmo criticam. É fácil pensar que “se é de coração, está bom.” É obvio que sem coração não haverá louvor, mas será que isto nos autoriza a acreditar que a questão da arte pode ser ignorada? Sabemos que muitas comunidades não têm condições de ter músicos de altíssima qualidade, mas dentro das limitações devem procurar fazer o melhor que puder. Pense sempre na dimensão cúltica como algo que precisa ser feito com arte. Esta é a observação deste salmo: “Tangei com arte e com júbilo.”

 

Algo tempo atrás li o texto de uma pessoa convertida que veio do satanismo. Ele afirma que nas programações que fazem, os adoradores de demônios primam muito pela qualidade musical, e que Satanás se manifestava quando havia música “com muita qualidade. Não sei se posso chancelar o comentário deste escritor, mas fiquei pensando quanto mais excelente deve ser o louvor que prestamos a Deus.

 

Certo pastor ouviu uma ovelha dizendo que queria cantar uma música no culto daquele domingo a noite, que não estava ainda bem ensaiada, mas que era para o Senhor. Então, o pastor respondeu: “Já que você está fazendo para o Senhor, ensaie o melhor que você puder para apresentá-lo.”

 

Existe muita música mal ensaiada, de improviso, resultado do descaso dos músicos que fazem as coisas sem seriedade e profundidade. Quando lemos a Palavra de Deus orientando seu povo a “tanger com arte”, não será que estamos desconsiderando sua recomendação?

 

Louvor deve ser feito com arte. Deve ser criativo, bem elaborado, bem ensaiado e preparado. Tem que ter poesia bonita, harmonia bem construída. Existe nas letras atuais uma mesmice, pobreza harmônica e poética, do tipo “Jesus rimando com cruz e luz”, música pobre em seu conteúdo e métrica e ainda por cima mal cantada.

 

2.   Segundo louvor a Deus possui a dimensão de júbilo. “Tangei com arte e com júbilo (Sl 33.3).

 

O que é júbilo?

Júbilo é um estado de imensa alegria, felicidade transbordante, uma atitude do coração que não dá para esconder. Júbilo é um elemento intrínseco do Reino de Deus (Rm 14.17). Gratidão a Deus é fruto de um coração jubiloso (Sl 126.2-3).

Há muito júbilo na Bíblia, momentos de intensa alegria. Quando o povo hebreu atravessou o Mar Vermelho, Miriã dançou de alegria (Ex 15.20). Ao trazer a arca da aliança para Jerusalém Davi dançou com todas as suas forças. A compreensão da obra de Cristo gera júbilo em nosso coração. Alegria exuberante, carregada de empolgação. Culto não é réquiem (música para mortos), mas um ato de adoração ao Deus vivo. Por isto deve-se considerar o aspecto celebrativo da liturgia.

Existe sempre o perigo de celebrarmos a Deus prezando excessivamente a técnica, valorizando o lado do profissionalismo, desacompanhada de unção. A benção de Deus sobre os músicos, é o que faz grande diferença no culto. Existe também o perigo do emocionalismo, da alegria superficial e mundana. Louvor tem que ter alegria, exultação, celebração, espontaneidade, e deve ser capaz de tocar nas vísceras do nosso ser. Por isto precisamos celebrar! Júbilo é força. Cante animado, feliz, cante para o Senhor. Imagine-se num campo de batalha enfrentando um inimigo que será destruído pelo poder de um cântico. Assim deve ser nosso louvor.

 

O que acontece quando um existe sem o outro?

Quando um destes lados é maximizado ou minimizado ocorre uma distorção. Heresia pode ser definida não como a negação de uma verdade, mas a distorção ou hipervalorização de uma doutrina em detrimento da outra. Ação sem oração é heresia; Oração sem ação também é herética. Em ambas temos distorções. Portanto, arte e júbilo devem ser companheiras na liturgia da igreja que celebra o maravilhoso nome de Jesus, para que não haja distorção.

 

II.

Cantar com o Espírito e com a mente

 

No segundo texto, duas coisas também são exigidas quando se presta culto a Deus: “Orarei com o espírito e também com a mente; cantarei com o espírito e também com a mente.” (1 Co 14.15)

 

1.   Louvar com a mente – (Conteúdo) Louvor tem a ver com coerência, tem que ter peso lógico, precisa envolver a razão, tem que ser razoável.

 

Muitos cânticos, lamentavelmente, parecem prescindir da mente, como se fosse desnecessária. Canta-se muita coisa sem inteligência, e alguns cânticos não somente são pobres e vazios, mas ainda são heréticos, por causa de seu conteúdo. Basta recordar algumas músicas do cancioneiro evangélico.

 

Um deles diz assim: “Quem tem Jesus, gosta de cantar, está sempre sorrindo mesmo quando não dá.” Isto não é nem lógico, nem racional. O cristianismo não é romântico, nem nega a dor. Por isto a Bíblia diz para alegrarmos com os que se alegram, e chorarmos com os que choram. Há momento para rir, mas há momento de chorar. O fato de ter Jesus não nos impedirá as lágrimas, nem a dor. Nem sempre dá para cantar, mesmo tendo Jesus.

 

A música “ceuzinho”, do Conjunto Novo Alvorecer, que foi gravado em LP e teve relativo sucesso nos meios evangélicos na década de 1970 dizia:

 

“Se você no céu
Conseguir chegar
Faça um buraquinho
Para eu entrar (bis)
Aili, ailô, aili, ailô, ô, ô

Se você no inferno
conseguir sair
Feche um buraquinho
Para eu não cair (bis)
Aili, ailô, aili, ailô, ô, ô”

 

Analise a letra destas duas estrofes acima: “fazer um buraquinho para entrarmos no céu?” “Fechar um buraquinho pra não cairmos no inferno?” Sem considerar ainda que esta pessoa conseguiu “entrar no céu”, e conseguiu “sair do inferno.” De onde veio tal teologia? Como as igrejas permitiram que tal cântico fosse ensinado às crianças em nossos ministérios infantis?

 

Precisamos louvar a Deus com a mente, caso contrário corremos o risco de cantarmos os famosos corinhos “seven/eleven” – Sete palavras e 11 repetições. É necessário refletir sobre a letra das músicas que cantamos. Muitas vezes ao participar da liturgia da igreja e ouvir a seriedade das músicas, eu me recuso a cantar, e fico orando dizendo a Deus: “Senhor, eu gostaria de cantar esta música, porque ela é teologicamente correta, mas eu preciso ter o meu coração mudado, por isto eu peço que o Senhor me dê disposição para cantar isto de coração e com todo a minha mente e meu ser.

 

Conta-se que certa vez o Rev. Haroldo Cook, missionário presbiteriano inglês, estava participando do culto na Catedral Presbiteriana do Rio quando a congregação começou a cantar “Tudo a ti Jesus consagro...” Ele então, se levantou com seu carregado sotaque inglês e disse: “Será que consagramos mesmo tudo a Deus? Você tem consagrado sua mente a Deus, sua família, seu tempo, seu dinheiro?” “E disse mais: “Se não temos consagrado tudo, não deveríamos cantar esta música...”

 

Se você refletir profundamente sobre as letras, e quiser fazer um louvor coerente, integro e honesto a Deus, provavelmente vai deixar de cantar muitas músicas e vai orar pedindo perdão e misericórdia. É preciso orar e cantar com a mente.

 

3.   Louvar com o espírito – (Devoção) “Orarei com o espírito e também com a mente; cantarei com o espírito e também com a mente.” (1 Co 14.15)

 

Louvor não é oba-oba vazio. Louvor tem a ver com adoração, tem que vir da alma, do interior, ter profundidade, envolver todo ser. Precisamos louvar com a mente e com o espírito. Tudo tem que estar próximo. Tem que sair da superficialidade e da mera logicidade e penetrar nos segredos da alma. O Espírito Santo precisa fluir.

 

Por isto Jesus faz questão de reafirmar a afirmação do profeta Isaias: “Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe.” (Mt 15.8-9). É possível fazermos as coisas para Deus, da forma certa, com a técnica certa, com arte e com a mente, e ainda assim estar com o coração longe. É preciso cantar com o espírito.

 

Para entendermos melhor é necessário fazer distinção entre “Louvor e adoração”

 

Louvor é o que declaramos com os lábios, adoração é aquilo que sai do coração. Louvar é falar bem de Deus, não importa qual seja a forma de expressão.  Jesus censura aqueles que honravam a Deus com os lábios, mas cujos corações estavam longe. O perfeito louvor só existe quando o coração está disposto a adorar. Louvor é elogio ou exaltação a Deus, adoração é resultado de um coração sincero e verdadeiro. No Antigo Testamento o verbo “adorar” originariamente significava prostrar-se, curvar-se até o chão. Adoração é rendição, reconhecimento da grandeza de Deus, dependência completa a Deus. Todos podem louvar, mas adorar só aquele que é comprometido com Deus.

 

Outro aspecto precisa ser mencionado. Você pode adorar a Deus em silêncio sem dizer uma palavra, já que adoração não é o que você faz ou diz, mas tem a ver com seu coração diante de Deus. Adoração é sobre atitude, amor e afeição, Louvor é sobre proclamação e declaração. Louvor é uma expressão exterior, de algo que vem do interior, do coração. Qualquer louvor não alicerçado na verdadeira devoção não honra e nem glorifica a Deus.

 

Muitas vezes Deus censurou o louvor do povo de Israel. O profeta Amós adverte sobre o cântico que sai dos lábios, mas não do coração: “Afasta de mim o estrépito de teus cânticos, porque não ouvirei a melodia de suas liras.” (Am 5.23). Precisamos louvar de coração a Deus. Sem o coração, nossos louvores se transformam em estrépitos, barulhos estridentes, sons que ferem os ouvidos de Deus.  

             

Qual a importância do louvor?

 

Se no primeiro momento analisamos o “como se deve louvar”, citando dois textos, um do Antigo e outro do Novo Testamento, neste segundo tópico, queremos considerar o impacto, valor, relevância, e importância do louvor.

 

Se no primeiro, consideramos o “como”, a metodologia, no segundo analisaremos o “porque”, o valor e a razão de louvarmos a Deus. Vários aspectos podem ser considerados a partir das Escrituras Sagradas, estes aspectos não são exaustivos, mas nos ajudam a entender a importância do louvor na nossa consegracao a Deus e vida do adorador.

 

1.   Louvor glorifica a Deus

 

A primeira e mais relevante razão para louvar a Deus, é porque isto traz glória ao seu santo nome. Embora Deus não dependa de qualquer invocação humana para se manifestar, ele tem prazer nos louvores do seu povo. O salmista declara: “Porém tu és Santo, tu que habitas entre os louvores de Israel.” (Sl 22.3). Deus é honrado quando seu povo lhe rende louvores. Embora Deus não dependa de qualquer ação humana para existir ou se manifestar, ele habita entre os louvores de Israel, e se revela quando a igreja lhe adora. Como afirmou Brennan Manning: “Deus se agrada quando trabalhamos, encanta-se quando cantamos”. (In Meditações para maltrapilhos, S. Paulo, Ed. Mundo cristão, 2008, pg 115)

 

A expressão, “no meio dos louvores Deus habita” nos vem lembrar do prazer de Deus quando o seu povo o glorifica, ele se deleita no louvor. Nada é melhor para encher nosso coração e tão eficiente para manifestar a glória de Deus que um louvor ungido. Gosto de usar a seguinte alegoria: Louvor é como o instrumentista numa sala de cirurgia, e o pregador é como o cirurgião, que com habilidade, vai fazer o corte preciso ministrando a palavra de Deus. O pregador é o cirurgião’ os músicos instrumentistas. Quando o louvor é bem cantado a palavra faz a cirurgia o culto atingiu seu propósito maior. Todo músico deveria entender isto.

 

Quando Salomão terminou de edificar a Casa do Senhor, ele ofereceu um grande culto e algo tremendo aconteceu: “E quando todos os levitas que eram cantores, isto é, Asafe, Hemã, Jedutum e os filhos e irmãos deles, vestidos de linho fino, estavam de pé, para o oriente do altar, com címbalos, alaúdes e harpas, e com eles até cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas; e quando em uníssono, a um tempo, tocaram as trombetas e cantaram para se fazerem ouvir, para louvarem o SENHOR e render-lhe graças; e quando levantaram eles a voz com trombetas, címbalos e outros instrumentos músicos para louvarem o SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre, então, sucedeu que a casa, a saber, a Casa do SENHOR, se encheu de uma nuvem.” (2 Cr 5.12-13)

 

Louvor glorifica a Deus e ele manifesta sua glória entre o seu povo, no meio dos louvores.

 

2.   Louvor confronta as trevas.

 

Outro aspecto muito importante é que o louvor é uma afronta às trevas. Plantar igrejas é uma das minhas ações ministeriais mais marcantes, e quando penso nas razões práticas para glorificar a Deus sempre reflito sobre o poder de uma igreja que ora ao Senhor dentro de uma cultura pagã, prega a Palavra poderosa de Deus a um mundo em confusão e expressa seus louvores no meio das trevas. Os louvores são uma afronta e uma confrontação às trevas.

 

Um dos textos mais marcantes da Bíblia sobre o poder do louvor em relação às trevas é relatado no Antigo Testamento, quando Saul era dominado por espíritos malignos e os súditos decidiram trazer alguém que tangesse bem a harpa para confrontar o diabo. Como sabiam disto? Certamente o povo de Deus já entendia o poder que uma música ungida tinha para repreender as trevas. Veja o relato da Palavra de Deus: “E sucedia que, quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a dedilhava; então Saul sentia alívio. E se achava melhor, e o espírito malignos se retirava dele.” (1 Sm 16.23)  O louvor é uma poderosa arma para expulsar o demônio. Um louvor cheio de unção e adoração tem um efeito profundo e detém a ação dos espíritos malignos.

 

3.   Louvor traz vitória para o povo de Deus

 

Várias vezes na Bíblia, a vitória sobre os inimigos se deu quando o povo, simplesmente, cantava. Não é isto maravilhoso? “Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o Senhor emboscadas contra os filhos de Amom e Moabe, e os do monte Seir que vieram contra Judá e foram desbaratados.” (2 Cr 20.19-22) Deus derrota os inimigos quando o povo começa a cantar. Você pode imaginar esta cena? Os que vão na frente do exército em direção ao inimigo não são os guerreiros mais valentes, nem o batalhão de frente, mas os cantores. Esta é uma cena inusitada e inesperada.

 

Veja a narrativa completa deste texto numa versão mais contemporânea:

 

“Então o rei Josafá se ajoelhou e encostou o rosto no chão; e todo o povo de Judá e os moradores de Jerusalém também se ajoelharam na presença de Deus, o SENHOR, e o adoraram. Aí os levitas que eram descendentes de Coate e de Corá começaram a louvar o SENHOR, o Deus de Israel, em voz bem alta. Na manhã seguinte, todos se levantaram cedo e foram para o deserto de Tecoa. Ao saírem, Josafá ficou de pé e disse: — Povo de Judá e moradores de Jerusalém, escutem! Confiem no SENHOR, seu Deus, e estarão seguros; confiem nos profetas dele, e tudo o que vocês fizerem dará certo. Depois de consultar o povo, Josafá ordenou que alguns cantores vestissem roupas sagradas e marchassem à frente do exército, louvando a Deus e cantando assim: “Louvem a Deus, o SENHOR, porque o seu amor dura para sempre.” Logo que começaram a cantar, o SENHOR Deus causou confusão entre os moabitas, os amonitas e os edomitas, e eles foram derrotados. Os amonitas e os moabitas atacaram os edomitas e os destruíram completamente; depois os amonitas lutaram contra os moabitas, e os dois lados também acabaram se destruindo.” (2 Cr  20.18-23 NTLH

 

4.   Louvor traz consolo

 

O relato de At 16 é surpreendente:

E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam.” (At 16.23-25)

 

Paulo e Silas estavam esmagados pela tortura sofrida. Certamente todo corpo doía, e ainda assim resolveram cantar. Por que cantavam? Porque a música é um instrumento maravilhoso de consolo, ânimo, graça. Quantas pessoas já tiveram a incrível e libertadora experiência de louvarem a Deus no meio do seu sofrimento. Não raras vezes faço o mesmo. Quando estou com meu coração agitado, inquieto, ansioso, tenso, ouvir uma música clássica, ou um hino tradicional, ou contemporâneo, como o cântico “sossega” da banda Canção e Louvor, traz um enorme descanso e refrigério para minha alma.

 

Você já teve experiência semelhante?

 

5.   Louvor gera conversão

 

O mesmo relato de Atos 16 nos mostra que enquanto Paulo e Silas cantavam, os outros presos escutavam. Fico tentando imaginar como era este ambiente no cárcere. Pesado, tenso, ameaçador... mas dois homens estão ali cantando. Os outros presos ouvem. Depois do terremoto, Paulo e Silas ainda precisam clarificar o evangelho para aquele homem, mas seu coração já está inclinado para acolher a pregação. A mensagem é comunicada inicialmente através da música.

 

Quantas pessoas têm sido impactadas pela música da igreja, e foram tocadas pelo Espírito Santo através do louvor de uma igreja? Louvor entra na alma, destrói as barreiras, conduz ao arrependimento e à compreensão da graça de Deus.

 

No início do meu ministério conheci o Sr. Beano, homem simples na religião e costumes. Seu coração se inclinou ao evangelho e ele foi alcançado pelo Espírito de Deus através dos hinos acompanhados pelo violino do missionário americano que estava plantando igreja na sua cidade, Crixás de Goiás. Sua esposa era crente e ia sozinha para a igreja, mas ele se sentia atraído pelos hinos da igreja, então ficava mum lote vazio ouvindo as músicas, não querendo ser visto por ninguém, mas Deus foi falando com ele e ele foi se aproximando e a graça de Deus o alcançou. Louvor é fortíssimo instrumento de evangelização. Na história do povo de Deus, em épocas de avivamentos, Deus inspira grandes músicos e usa o louvor para atrair os pecadores ao seu plano de salvação.

 

6.   Louvor educa teologicamente

 

Precisamos ter muito cuidado com a música que cantamos na igreja. O que cantamos revela o que cremos, e pode fazer as pessoas crerem em afirmações que são anti bíblicas. O povo aprende as doutrinas do evangelho por meio das mensagens cantadas. Então, se cantamos algo errado teologicamente, teremos dificuldades em ajudar as pessoas a crerem na mensagem simples da bíblia.

 

O povo aprende teologia com música. Na visão de muitos comentaristas, pelo menos dois textos bíblicos escritos por Paulo, eram hinos cantados pela igreja primitiva. Esta era uma forma de ensinar, fixar as mensagens na mente. Um deles é Efésios 1.3-14. Um longo texto. Não sabemos que harmonia musical eles usavam, nem qual era o ritmo e a métrica, mas a Igreja Primitiva o cantava. Outro texto que também era um hino primitivo encontra-se em 1 Tm 3.16. Ele fala de Jesus, de sua pessoa, obra e missão.

 

“Evidentemente, grande é o mistério da piedade:

  Aquele que foi manifestado na carne

  foi justificado em espírito,

  contemplado por anjos,

  pregado entre os gentios,

  crido no mundo,

  recebido na glória.”

 

7.   Louvor traz cura emocional

 

Pessoas são restauradas emocionalmente pelo louvor. Louvor traz cura. Quantas vezes nos aproximamos da igreja e Deus começa a nos ministrar na hora dos louvores? Deus mexe com inquietações, ansiedade, medo, solidão, tristeza. Repreende, consola e orienta. Muitas vezes já parei na beira da estrada para ouvir uma determinada música, porque ela falava exatamente o que eu precisava ouvir naquela hora.

 

Se é certo pensarmos na beleza e no impacto dos hinos e músicas que cantamos, é necessário também refletir sobre o malefício que músicas pervertidas causam na mente das pessoas. Certa mulher não podia ouvir determinadas músicas porque era levada à melancolia, tristeza e depressão. Ela passou a selecionar as músicas, para que não tivesse que lidar com este desconforto.

 

Quanto cantamos, trazemos cura para nossos corações, e levamos cura para o coração de outras pessoas, que precisam ser tocadas pela mensagem poderosa do evangelho.

 

Estudos mostram que cantar produz endorfina, a mesma substância gerada quando realizamos exercícios físicos ou comemos chocolate. Há uma potente ação analgésica que estimula a sensação de bem-estar, autoconfiança, otimismo e conforto em uma pessoa que canta. Diminui o stress, melhora a capacidade pulmonar e ativa o sistema cardiovascular.

 

Conclusão

 

Tudo isto nos leva à beleza do louvor.

O Profeta Isaias diz: “Falarei da bondade do Senhor, dos seus gloriosos feitos, por tudo o que o Senhor fez por nós, sim, de quanto bem ele fez à nação de Israel, conforme a sua compaixão e a grandeza da sua bondade.” (Is 63.7)

Louvar é falar algo elogioso, exaltar alguém. Louvar a Deus é contar ou falar em voz alta as grandes coisas que Ele fez. O louvor é belo porque magnifica a bondade de Deus e nos fortalece.

A frase de C.S.Lewis faz muito sentido:

Louvar é se encantar com a beleza do caráter de Deus.”

 

 

 

Culto Celebrando Deus. Cambridge, Ma22/11/99

Conselho de Pastores

Ministério de música – Igreja Central de Anápolis. Out 2023