segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Gn 11 Babel: Confusão e caos





Introdução:

Um dos textos mais conhecidos da Bíblia encontra-se em Gn 11.1-9, no relato da torre de Babel. Curiosamente não me recordo de ter ouvido algum sermão falando deste assunto.
Babel é simbólica, paradigma de toda cidade, sociedade e sistema sem Deus, de um povo que perdeu a referencia do sagrado. Secularismo.

Afinal, que lições podemos aprender desta narrativa bíblica?

1. Uma sociedade sem Deus é auto-glorificada -
Neste texto vemos um povo buscando grandeza: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até os céus e tornemos célebre o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4). O que vemos, porém, é que este esforço se tornou um retumbante fracasso. “Ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a a terra e dali o Senhor os dispersou por toda superfície dela” (Gn 11.9). A busca da grandeza e glória, de chegar aos céus, revelou-se trágica. O homem perdeu o senso de direção, porque quis “chegar até os céus”. Não querem trazer os céus para suas vidas, mas querem penetrar os céus para controlá-lo.
No entanto, até hoje o que vemos são seres humanos “playing God”, brincando de Deus, querendo assumir o lugar e bancar a divindade. No filme Jurassic Park temos uma cena em que um cientista afirma: “Nós não podemos querer brincar de Deus, se a natureza extinguiu os dinossauros, é porque era necessário que assim acontecesse”.
Nos tempos de Galileu, quando o homem descobriu que não era a terra o centro do universo (Geocentrismo), e sim o sol (Heliocentrismo), o homem achou que agora ele poderia assumir o lugar da divindade, mas assim tem sido desde o inicio da criação. Homens tentam ser Deus. Homens pensam que são Deus, e alguns tem certeza de que são Deus.
Babel representa todo esforço da humanidade para excluir Deus. É o que Henry Nowen chamou de “Teomania”. Esta tentativa luciférica e adâmica do homem em querer assumir o lugar de Deus. Ser Deus. Certa pessoa chegou cúmulo de afirmar: “Não gosto deste negócio de Deus ser Deus”. Eu repliquei dizendo-lhe que só existe um que pode ter a prerrogativa da divindade, e este Ser é o próprio Deus.

2. Uma sociedade sob o pecado, dá espaço para a arrogância, excesso de trabalho e cansaço.
A primeira torre (um prédio), construído na história, pretende claramente desafiar os céus e mostrar sua independência do sagrado. Hoje, como sempre foi, a ciência, a tecnologia e a educação, pressiona para a busca da excelência, mas lamentavelmente torna o homem mais arrogante. Isto traz a rebelião: “tornemos célebre o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn 11.4).
Historicamente podemos afirmar que existem alguns núcleos centrais que dominam o pensamento humano, pelo menos 4 blocos da ciência podem aqui ser citados.

a. Na ciência Social: O Marxismo – A visão marxista, com seu inevitável totalitarismo, traz na raiz o materialismo dialético”, com a negação explicita de Deus. Deus nada mais é que “o ópio do povo”, e a religião seria assim instrumentalizada para manter os homens debaixo do controle das oligarquias. A história seria movida, não por ação divina, mas por lutas de classes.  Toda a leitura crítica que fazemos no campo social, usa o instrumental marxista.

b. Na Filosofia: O Existencialismo – Sartre, Nietzsche e Camus afirmam que “A existência precede a essência”. Você tem que viver o “aqui e agora”, porque o que importa é viver, não o ser. Esteja feliz com sua vida, e isto basta! Não existe ideia de eternidade. Nem conceito de sacralidade.

c. No campo da Biologia e genética: O Evolucionismo – Mais que o problema do evolucionismo,  temos o problema filosófico da “Geração espontânea “. A vida seria uma mera sucessão de acasos, coincidências naturais. Deus é subtraído dos bastidores da história. Não há Deus! Seu expoente máximo foi Charles Darwin.

d. No Universo da Psicologia e Psiquiatria. Toda a base da psicologia é humanista. A psicoterapia secular exclui Deus. A Psicanálise, com uma das suas linhas mais conhecidas, procurou desde o princípio, dinamitar Deus. Freud se torna um crítico acirrado  de toda concepção teológica e manifesta claramente seu pensamento em livros como “Totem e Tabu”, “O mal estar da civilização” e “Moisés e o Monoteísmo”. Religião nada mais é que “uma neurose obsessivo-compulsiva.

Em todos estes movimentos filosóficos, temos o mesmo pensamento de Babel: Ter o domínio, assumir o poder, controlar, ser igual a Deus e se possível, ser Deus. Como Lúcifer decidiu fazer. A grande tentação para Adão foi a de que não mais haveria barreiras para seu conhecimento, e “como Deus”, seria conhecedor do bem e do mal. A sugestão da serpente é que Deus estava escondendo o jogo, sendo mal intencionado. Babel. A tentação aliada ao seu orgulho levou-o fatalmente à queda.

No Budismo, uma das religiões que atualmente tem uma enorme penetração no mundo de intelectuais e artista, Deus é um completo ausente. Para o budismo, a divindade está dentro de você. Busque a Deus através da meditação, você vai encontrar aí, dentro de você, sua plena potencialidade através do Nirvana, o encontro com o nada. Ausência de conflitos e dor: Sua divindade interna.

3. A situação espiritual da sociedade sob o pecado, a transforma em um celeiro para cultos pagãos e falsas crenças.
Quase todas as cidades são dedicadas a entidades, mesmo em se tratando de cidades absolutamente seculares.
A cidade onde moramos, Anápolis, é uma “polis” de “Ana”, que na tradição católica, seria mãe de Maria. Mas as cidades secularizadas também constroem seus ídolos e erguem suas catedrais, para exaltação de seus deuses.

Veja o exemplo americano:
A cidade Boston possui mais de 207 universidades, num universo de 4 milhões de habitantes (Grande Boston).
New York está fundamentada no mundo das finanças. O coração financeiro do mundo passa pelos escritórios luxuosos da Wall Street, onde são movimentadas diariamente bilhões de dolares.
Las Vegas construiu seus “templos”, através de obras monumentais, transformando-se numa cidade de jogatinas e apostas e jogos de azar.
Washington DC construiu seus altares para os deuses do glamour político, valorizando o poder e as decisões que regem a nação americana, influenciando a político em quase todos governos ao redor do mundo.
Los Angeles ergueu suas capelas para celebrar a luxúria, a arte, a fantasia, transformando-se num campo para adoração e veneração de celebridades do mundo artístico.

A mesma linha de pensamento pode ser observado no Brasil:
Rio de Janeiro exala sensualidade em todos os lugares, quer seja nos sambódromos, com mulheres que decidiram tirar completamente a roupa, optando agora por apliques; quer nas praias onde celebra-se os fios dentais, que nunca foram “dentais”, e são cada vez mais “fios”.
São Paulo tornou-se a meca do poder financeiro, para onde acorrem as grandes empresas, celebradas e veneradas por seus adoradores, trazendo riqueza, celebridade, poder;
Em Brasília encontramos o panteão do poder e do centro das decisões de nossa nação, que por sua vez afeta diretamente milhares de pessoas ao redor de nossa nação.

4. Cidade é o lugar de gente sem esperança e cansada.
Babel constrói seus mega projetos, e seus habitantes são cobrados nos resultados esperados. A cidade se agita, assim como é dito que “São Paulo não dorme”. O resultado da cidade secular, porém, é a solidão, alienação, correria, distanciamento, anonimato. O resultado é confusão interior: Angústia, desordem, caos, desespero, bipolaridade, transtornos obsessivos, síndrome de pânico. Facilmente vem o cansaço, o stress, a exaustão. Parece que foi este sentimento que Jesus teve ao ver as multidões. “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas, como ovelhas que não tem pastor”(Mt 9.36).
No entanto, Jesus não se distancia da cidade, pelo contrário, e para ela que se dirige.
Sempre me fascina o relato de Mc 5 sobre o endemoninhado gadareno. Jesus saiu da Galileia, atravessou todo o lago de Genesaré, para libertar um homem que vivia atormentado por espírito malignos, andando nu pelos sepulcros e preso a correntes. Jesus não conseguiu penetrar naquela sociedade que o repeliu assim que ele mexeu com o chiqueiro deles. No entanto, Jesus deixou ali uma testemunha do seu poder e graça libertadores, transformando aquele que antes era um louco e possesso em alguém são, que será daqui em diante, um missionário.

5. Esta cidade rica e confusa, apaixonada pela ciência e pela tecnologia, precisa ser alcançada.
Como igreja, temos o grande desafio de sermos uma igreja para a cidade. A presença da igreja traz esperança, cura e acolhimento. Babel se perdeu na sua arrogância como tantas outras cidades também estão vivendo.
Em At 8.8 há o registro da chegada do Evangelho a Samaria. Deus usava poderosamente a vida de Filipe, e muitas pessoas foram libertadas de espíritos malignos e outras foram curadas. Ao verem a manifestação da presença de Deus, os moradores passaram a celebrar a graça de Deus, “E houve grande alegria naquela cidade” (At 8.8). Que grande nota nos é descrita neste texto. A presença da igreja trouxe grande alegria à cidade.

Babel e Pentecostes

A Bíblia mostra uma unidade de pensamento. Todas as suas partes estão interligadas. Existe um texto, no Novo Testamento, que nos fala de um aspecto completamente diferente de Babel, sua narrativa correlata encontra-se em Atos 2, no evento do Pentecostes. “Estavam, pois, atônitos e se admiravam dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que ai estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna”(At 2.8). Ocorre aqui o inverso de Babel. Pessoas com linguagens diferentes compreendem o que ouvem.  O caos e a confusão são desfeitos e a comunhão se estabelece.
A ordem começa com Deus, no derramamento do seu Espírito Santo, (Pentecostes), e não no esforço humano da supremacia. Babel gera confusão, caos e competição.
No Pentecostes, Deus reveste os homens de poder, é uma operação que desce “do alto”. A raça humana não consegue se entender sem Deus. Fala idioma distinto. Temos a mesma língua mas não sabemos nos comunicar. Se você acha que você se comunica bem, pergunte à sua esposa. Os lares encontram enormes dificuldades para se entenderem. Só é possível falar a mesma linguagem que o Espírito Santo gera esta identificação.
Nossa comunicação se torna confusa por causa da auto exaltação e auto-glorificação. Paulo exorta a duas irmãs de Filipos que pensem concordemente no Senhor (Fp 4.2); exorta também a comunidade de Corinto, para que seja inteiramente unida, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. Isto só é possível quando o Espírito Santo media o diálogo.
Quando buscamos auto-glorificacão, o investimento será em indústrias e armas bélicas. Nos armamos. A tentativa de deificação do homem, de alcançar os céus, precipita o homem na confusão e no desamor. 
Babel mostra o homem perdendo o ponto de referência com o semelhante. No Pentecoste vemos a raça humana reencontrando a capacidade do diálogo. Se seu casamento, sua igreja, sua família não fala a mesma linguagem, certamente a luta de poder e controle está em jogo, e só Deus poderá ajudar a entender o outro. Em Babel vemos divergência, em Pentecoste, convergência; em Babel confronto, no Pentecoste, encontro.

Conclusão:
Somos sempre exortados na Palavra de Deus a termos um coração quebrantado. Deus já ensinava através dos profetas que Deus não se agradava de sacrifícios, mas de um coração quebrantado, isto é demonstrado claramente no Sl 51.16-17. A religiosidade mecânica em torno de ritos não é o que Deus deseja de seu povo, e sim um coração sensível. O caminho passa pela rendição. “ Deus resiste aos soberbos, contudo aos humildes concede a sua graça”.
Babel é o oposto do Evangelho. Babel é auto-afirmação, controle, domínio, supremacia, arrogância e orgulho. Evangelho é rendição, quebrantamento, retorno a Deus, dependência. Transfiro meus direitos, destrono meu eu.
Certamente não há nada tão “politicamente errado” quanto isto. Não existe mensagem secular que fale da gente morrer para o EU, mas Jesus foi enfático ao afirmar: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muitos frutos”.
O modelo de Jesus é sua entrega a nosso favor. Olhando para Jesus vemos sua humildade, sua dependência do Pai, e seu desejo de servir. Tudo isto é oposto a Babel. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ap 1. 1-8 Nos bastidores da história




Introdução:

Muitas pessoas se assustam quando pensam em estudar o livro de Apocalipse. Eu também fiquei assim por muitos anos da minha vida. Talvez as reminiscências adolescentes que faziam minha mente associar o texto a coisas assustadoras, como dragões, antigas serpentes, 1/3 das estrelas caindo. O fato é que sempre evitei me aproximar do texto.
Creio que muitos ainda vêem o livro de Apocalipse como "um livro fechado", impossível de ser entendido. No entanto, o próprio livro afirma que se trata de uma revelação (1.1) Revelar é trazer à luz o que está escondido, não ocultar o enigma. Obviamente estamos lidando com um livro simbólico, com uma linguagem peculiar ao seu estilo literário, o que dificulta a compreensão de seu conteúdo, mas isto não deveria nos impedir de estudarmos o livro.
O próprio título do livro nos revela seu conteúdo. O termo apocalipse vem do grego apukalupsis que deve ser traduzido como “revelação”, “tirar o véu”. Os tradutores da Bíblia em Inglês, já preferiram traduzir este termo de uma forma mais direta, Revelation, e não Apocalipse, como aparece em português. Obviamente trata-se de um livro simbólico e deve ser lido com tal pressuposto na mente. A sua forma literária determina a base de sua interpretação. Ninguém lê um romance como lê um livro de história, ninguém lê uma narrativa como poesia, nem uma parábola como um texto profético. O literalismo apocalíptico não somente é perigoso, mas impossível.
O livro está inserido dentro de um contexto histórico, e como tal deve ser interpretado. Foi escrito às sete igrejas da Ásia para que elas pudessem ser orientadas teologicamente, consoladas e encorajadas diante da perseguição que assolava a igreja naqueles dias. Trata-se de uma "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem acontecer” (Ap 1.1)
Apesar de ter sido escrito numa linguagem enigmática e simbólica, o livro revela um código inerente à mensagem, que torna o texto compreensível. Tais símbolos eram lógicos e coerentes para aqueles irmãos que recebiam tais mensagens. Ao invés de fazermos uma leitura apenas numa perspectiva preterista, porém, deveríamos incluir uma perspectiva futurista, integrando seu conteúdo. Na verdade, melhor que lê-lo de uma forma ou outra, deveríamos imaginá-lo como uma fita, ou uma “arquitetura em movimento”, como prefere Jacques Ellul. Isto é, em qualquer tempo que lermos Apocalipse ele será atual, porque mais do que se referir a eventos isolados, ele descreve a dinâmica da história e das forças que interagem no desenrolar da humanidade.
Hendriksen segue a mesma abordagem: “O livro de Apocalipse se compõe de uma série de quadros. Os quadros se movem, estando cheios de ação. Tudo se mantém em constante atividade. Vemos um quadro, e imediatamente outro, em seguida outro e outro, e assim, sucessivamente. Se realmente quisermos entender o livro, temos que imaginar que estamos olhando para uma tela… selos, as trombetas, as taças e outros quadros semelhantes, não se referem a fatos específicos ou a detalhes da história, antes, a princípios que estão operando durante toda a história mundial, especialmente durante a nova dispensação... Os símbolos descrevem princípios de conduta e do governo moral divino e que são percebidos hoje, assim como foram vistos no primeiro século”. Por esta causa, este livro é sempre atualizado e contemporâneo.
O primeiro capítulo nos fala dos bastidores: Quem está por trás deste livro? A primeira coisa que vemos é a identidade do Pai e do Filho. Apocalipse não traz apenas revelações sobre as forças da história, e os movimentos que sustentam a dinâmica humana, mas nos dá uma compreensão sobre o Deus das Escrituras. Nos bastidores encontramos a Identidade do Pai, sua majestade e poder, e a Identidade do Filho, seu caráter glorioso.


 A MAJESTADE DO PAI

Quatro características se tornam marcantes sobre a identidade de Deus, nos primeiros versículos de Apocalipse:

1.         Sua Eternidade

O Pai é descrito como aquele que transcende os limites de nossa temporalidade. Como aquele que é desde o princípio e que continua sendo até o fim. Ele é aquele “que é, que era, e que há de vir”. A eternidade de Deus é uma doutrina que tem profundas implicações práticas para o nosso coração humano, de gente transitória e temporal. Sua eternidade nos revela que Deus não é pego de surpresa, que ele vê o futuro e o passado ao mesmo tempo, que ele não está circunscrito às categorias aristotélicas. Deus esteve no passado e já está no futuro. Nenhum movimento histórico, nenhum acontecimento surpreende a Deus. Diante dele estão presentes todas as coisas e nada foge ao seu controle. A grande lição desta belíssima doutrina é que o futuro não pode ser um fator de ansiedade para nossa existência, para a vida daqueles que amam ao Deus Eterno, porque, conquanto não tenhamos idéia do que nos aguarda no futuro, sabemos que Deus já está no futuro de nossa existência, e ele é amoroso, ele é Pai, ele provê todas as coisas para nossa vida.“Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor, pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jer.29:11). Vivemos angustiados porque desconfiamos do caráter santo de Deus e de suas motivações a nosso respeito.

2.         Seu aspecto trinitário –

O texto nos revela que assim como era desde o princípio, as decisões do Deus da Bíblia são tomadas num conselho trinitário. “Façamos o homem à nossa imagem semelhança” ( Gn 1.26). O homem foi feito por um Deus relacional, que se revela comunitariamente,  e não um Deus solitário,. Em Apocalipse, vemos também a Trindade presente.

O Pai é revelado como o Alfa e o Ômega, aquele que é Eterno, “o que era, que é, e que há de ser”, e o Todo-poderoso (1.6)
O Espírito é descrito como aquele que se acha diante do Trono e é descrito como “os sete espíritos” (1.4) que se apresentam diante do Pai, significando que o Espírito Santo em sua plenitude apresenta-se septiforme (3.1; 4.5; 5.6).
O Filho: Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primogenito entre os mortos e o soberano dos reis da terra (1.5)
A mensagem de Apocalipse é dada pela Trindade.
De Gênesis a Apocalipse, vemos a Trindade se manifestando. Em Gn. 1:26 Deus diz: “façamos”. O nosso Deus não é uma divindade isolada, mas um Deus que vive em comunidade, como afirma Ricardo Barbosa de Souza: “Não há entre as pessoas da Trindade nenhum sinal de disputa por poder, ou supremacia de um sobre os outros, não há negação, individualismo nem o coletivismo (negação do indivíduo). Pelo contrário, há a afirmação de todos e o amor entre todos, de sorte que não são três, mas um”.

Boff sugere que seja necessário “cristianizar nossa compreensão de Deus”. Afirma ele: “Deus é sempre a comunhão das três divinas pessoas. Deus-Pai nunca está sem o Deus-Filho e o Deus-Espírito Santo. Não é suficiente confessar que Jesus é Deus. Importa dizer que Ele é o Deus-Filho do Pai junto com o Espírito Santo. Não podemos falar de uma pessoa sem falar também das outras duas”.
A Trindade inspira o modelo comunitário de nossa existência. Nem Deus, que é auto-suficiente, opta por viver de forma autônoma. Pessoas, mesmo divinas, possuem relações de afetos. A Trindade busca conselho entre si. O Deus trinitário é um Deus que comunga. A Trindade é a melhor comunidade.

3.        Sua soberania –

O Pai é Todo-Poderoso. Esta descrição do Pai revela sua absoluta Soberania em todas as coisas. Seu poder não é determinado por nenhuma força externa, e não está restrito a nenhuma estrutura humana ou espiritual. Ele é Todo-poderoso.
Das das 12 vezes que esta expressão aparece no NT, 9 estão em Apocalipse(4.8,11,17; 15.3; 16.7,14; 19.6,15; 21.22). O Livro de Apocalipse aponta para grandes lutas cósmicas, onde as forças espirituais do grande dragão lutam para manter sua autonomia e dominação. A descrição de Deus como Todo Poderoso nos vem lembrar que por maiores que sejam as batalhas que virão Deus é o Senhor delas. Ele é El-Shaddai, o Deus de Poder.
A Confissão de Fé de Westminster afirma: “Deus tem, em si mesmo, toda a vida, glória, bondade e bem aventurança. Ele é Todo-suficiente em si e para si, pois não precisa das criaturas que trouxe à existência; não deriva delas glória alguma, mas somente manifesta a sua glória nelas, por elas, para elas e sobre elas. Ele é a única origem de todo ser; dele, por ele e para ele são todas as coisas e sobre elas tem ele soberano domínio para fazer com elas, para elas e sobre elas, tudo quanto quiser”.

4.         Deus é o princípio/Meio/Fim da história

Ele é o “Alfa e o Ômega” (1.8)  A primeira e a última letra do alfabeto grego. Isto mostra que Deus é aquele que dá o pontapé inicial na história e a conclui dentro de seus planos. Ele é o princípio e o fim (21.6). Na verdade, toda história é, em última instância, a história de Deus. As coisas não se dão no vácuo, os fatos não são circunstanciais e acidentais. Deus não é pego de surpresa, e nunca é surpreendido por qualquer evento humano. A história está sob controle divino e segue um cronograma divino. Tudo está nas mãos dele, para Deus não há acaso, mas sábia providência e direção. Esta verdade tem profunda relevância para nossas almas, senão vejamos:
A história tem propósito. Nossa história pessoal também tem propósito. Deus não joga dados. Não estamos entregues à mão de um destino cego e impiedoso, mas nas mãos de um Deus sábio e gracioso. Aleluia!

Conclusão:

As sete igrejas da Ásia Menor, que estavam na Turquia, viviam debaixo de perseguição, morte, sendo ameaçadas e fustigadas. O próprio João, estava exilado, em condições sub-humanas, e provavelmente deve ter morrido naquela horrível ilha, mas saber que Deus estava por detrás da história, nos bastidores de todo movimento aparente secular, lhes dava conforto, consolo e esperança.
Esta também é nossa condição. Muitas vezes sob ameaça, ansiosos, amedrontados, inseguros. Mas precisamos sempre lembrar que Deus nunca é pego de surpresa. Deus não apenas participa da história, mas Ele é Senhor da história. E no pontapé inicial do que podemos convencionar história, no inicio de tudo, Deus estava lá. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1); mas ele não apenas é o Alfa, ele também é Ômega. Quando chegarmos onde temos que chegar, também encontraremos aquele que era, que é, e que há de ser.
Ao entendermos isto, somos profundamente consolados, afinal, “Não sabemos o que nos espera no futuro, mas sabemos quem nos espera no futuro”. Nos bastidores da história, temos o Senhor da história. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

1 Co 1.10-17 Como proteger sua igreja?





Introdução:

Uma das características marcantes da geração pós moderna é seu descompromisso com as instituições, e esta atitude pode ser sintetizada na afirmação de que “cremos, mas não pertencemos”. Muitos participam de uma comunidade, crêem naquilo que é pregado, mas não se sentem parte daquele projeto, não tem um senso de pertencimento.
A Palavra de Deus nos afirma que uma das coisas que o Espírito Santo nos chama para viver em comunidade. “Todos nós fomos batizados em um corpo” (1 Co 12.13). É fácil dizer que cremos numa igreja universal, invisível, mística, mas nem sempre é fácil traduzir esta convicção para um corpo visível, tangível, histórica e concreta.
Um dos grandes desafios para quem participa de uma comunidade local e quer ver o bom andamento deste grupo é tomar atitudes para ajudá-la a andar com saúde, ser mais efetiva em sua missão, atingir as pessoas que precisam ser alcançadas.
Estudar a carta de Paulo aos Coríntios é importante para isto, porque esta igreja é extremamente confusa e vive uma convulsão espiritual, com lutas internas e partidarismos. A luta pelo poder era evidente: Pessoas espiritualizavam suas atitudes, havia sérios conflitos doutrinários e a igreja estava morrendo espiritualmente. Nenhuma igreja do Novo testamento foi mais confusa que esta. Paulo tenta colocar as coisas no seu devido lugar, dando instruções ao povo de Deus.

Neste texto vemos algumas medidas praticas sugeridas por Paulo, para protegermos a igreja de Cristo, da qual fazemos parte:

  1. Focalize no objetivo comum – Na missão e vocação da igreja local (1 Co 1.10). “Falem a mesma coisa, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer”. Se você deseja abençoar sua igreja, você precisa entender isto.

A palavra “mesmo”, aparece três vezes expressando unidade de propósito. Isto significa ter um objetivo comum. Como membro de um corpo, precisamos entender a filosofia de visão e Missão da comunidade local. Mesmo que esta igreja nunca tenha discutido filosofia de missão, possui na sua essência, uma forma de ser subjacente ao projeto,  e tem uma configuração própria, um propósito, uma personalidade que foi construída com o tempo. Talvez o seu rosto não seja aquele com o qual você identifica, por isto temos diferentes tipos de comunidades. Igrejas e pessoas possuem personalidade: Algumas são barulhentas na sua essência, outras silenciosas; algumas são voltadas para justiça social, outras são de muita oração e busca de poder; umas amam o estudo reflexivo e sério da palavra, outras possuem forte ênfase em missão transcultural; algumas estão com um forte programa de Escola Dominical ou grupos de comunhão, e outras nos sacramentos e justiça social, etc... As opções são quase infinitas. Mas se você quiser participar de uma comunidade precisa se identificar e somar com esta visão, nunca dividir.
Algumas pessoas sofrem do famoso “complexo de Adão”, querem refazer tudo a partir delas mesmas. Ao participarem de uma comunidade, querem mudar tudo porque possuem uma visão diferente. Quando cremos que determinados projetos precisam existir dentro de um corpo local, obviamente podemos tentar influenciar e abençoar a igreja, mas é importante também descobrir a visão da igreja e dispor dons e talentos para que sejam utilizados na dinâmica deste corpo. Nenhuma igreja consegue atender todos os tipos de pessoas e ministério. Traga seus talentos e sua visão para ajudar a igreja. Procure descobrir o que anda acontecendo e aquilo que pode e deve ser fortalecido. Nós estamos num time e queremos saber como este time pode ganhar do inimigo real, Satanás.

Portanto, descubra qual é a agenda comum da igreja.

Existem irmãos que parecem não se aperceber da idéia do corpo. As atividades da igreja e a programação estão acontecendo, mas isto não tem nada a ver com ele. Ele não se sente responsável por sua comunidade, pelos programas nem pelo sustento da obra da igreja. Coloca-se como crítico e observador da comunidade, torna-se exigente com ela, mas não contribui, não acrescenta nada, não se engaja. Facilmente cobra atitudes do pastor, e é exigente quanto aos líderes, mas ele mesmo não sabe e não deseja saber quais tem sido os sonhos da comunidade. Anos após anos seus filhos são cuidados pelas professoras do Depto Infantil, mas ele não quer saber quanto custa o material que as crianças usam, nem como podem ajudar no trabalho das crianças, não se envolvem com os líderes dos pré-adolescentes e adolescentes, etc. Se a Igreja está em construção ou reforma, isto não tem nada a ver com ele. A igreja está em campanha de oração? Isto não lhe toca. Se existe um curso de e treinamento e aperfeiçoamento na igreja ele não se interessa, porque estas coisas  não lhe interessam.

Você abençoa sua igreja quando você traz você para somar na visão da sua igreja local.

Muitos reclamam que a igreja é fria, mas nunca participam de uma reunião de oração. Falam que a igreja não visita, mas nunca visitaram ninguém, nunca ligam para um irmão para saber porque ele está afastado da igreja, nunca quiseram se envolver com qualquer grupo da igreja, não participam de uma célula. Distanciados assim, sem envolvimento, enfraquecem a igreja, já que uma comunidade nada mais é que a soma de seus membros.
                Ela será receptiva se você é receptivo;
                Será forte em oração, se você se dispuser a orar;
                Será uma comunidade rica se você decidir contribuir;
                Terá programas interessantes se você trouxer seus talentos e sua disposição.
Existem pessoas que passam anos na igreja mas nunca descobriram seu lugar. Outros, porém, já chegam e se encontram, acham como abençoar sua igreja, trazem seus talentos, dispõem do seu tempo, disponibilizam seus recursos.

A igreja de Corinto era problemática. Havia sérios problemas morais e teológicos rondando o povo. Alguns não sabiam discernir corretamente entre o certo e errado. Outro grave problema estava nas suas tendências e preferências em torno de líderes. Era uma comunidade cheia de conflitos relacionais, por isto estava ameaçada.

Neste texto verificamos que existiam 4 grupos na igreja: Paulo, Apolo, Cefas e Cristo. Ela se dividia em torno de quatro líderes que representavam quatro atitudes e tendências dentro do grupo. Paulo faz aqui uma pergunta essencial: Está cristo dividido?

  1. O Grupo de Paulo : Os Intelectuais.

Paulo representa o grupo mais reflexivo da Igreja. Aquele tipo de pessoa que gosta de análise pesada teologicamente; são os leitores de compêndios de Teologia sistemática, apreciam de Francis Schaeffer; C.S. Lewis; R.C. Sproul, Darrel Johnson – é um grupo teologicamente mais denso.
Podemos inferir isto ao fazermos uma análise do estilo de ministério de Paulo. Ele não era um grande pregador, mas suas idéias eram muito precisas e aquilo agradava um grupo especifico da comunidade, que detesta uma teologia superficial.
Porque sabemos que ele não era grande pregador?
                1. Na sua terceira viagem, em Trôade, pregou um sermão muito longo, e um rapaz dormiu durante o mesmo, a bíblia até mesmo registra o seu nome: Êutico (At 20.9). Naturalmente que se o fato de alguém dormir durante o sermão revela a oratória do pregador, como pregadores estamos perdidos, porque o que tem de gente dormindo durante a mensagem... mas o texto de Atos nos mostra que Paulo prolongou demasiadamente em seu discurso, e o resultado é que sua fala monótona trouxe sono ao auditório;

                2. O próprio Paulo reverbera um comentário que teria sido feito na igreja de Corinto. Então, tratava-se de uma espécie de consenso nas igrejas em que havia pastoreado. “As cartas, com são efeito são graves, mas a palavra, fraca e desprezível” (2 Co10.10). Ele não era do tipo de pregador que empolgava um grupo de fiéis.

                3. Sabemos também, por outro lado, que a marca de Paulo era a profundidade com que tratava os assuntos da igreja. O próprio Pedro, que era também um apóstolo, faz um comentário sobre isto, ao fazer uma referência sobre as cartas paulinas: “...ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epistolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorante e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pe 3.16).

O valor deste grupo: A Igreja de Cristo precisa ter homens que tenham capacidade de reflexão e conteúdo mais amadurecido. Existe sempre uma tendência à superficialidade da fé e crendices. Nestas horas, homens bem preparados, são capazes de olhar para as Escrituras com mais profundidade e trazer equilíbrio. Uma das características da Reforma do Século XVI, é que surgiram homens muito bem preparados intelectualmente, como Martinho Lutero e João Calvino.
Perigos deste grupo: Intelectuais correm o risco de se tornarem frios e racionalistas, apesar de amarem a Jesus. Desenvolvem uma espécie razão sem paixão, fé sem fogo, vida espiritual sem emoção, coração seco. Uma das piores conseqüências é o orgulho, já que “o saber ensoberbece” (RA) ou  “incha” (RC). (1 Co 8.1).

B. O Grupo de Apolo: apaixonados e emotivos.

Se entendermos quem era Apolo, entenderemos o que ele representa.

                1. Apolo era egípcio, de Alexandria, eloqüente e fervoroso na Palavra (At 18.25). Era capaz de balançar a igreja com seus sermões apaixonados, impactar pessoas pela dinâmica de sua própria alma. Apolo satisfazia ao grupo mais emotivo da igreja.

                2. Era fervoroso de Espírito – At 18.25  Já viram isto na Igreja? Uma pessoa cheia de vibração e exuberância na alma, como isto provoca reações? Ele “falava ousadamente”. Era enfático na sua forma de comunicar o Evangelho.

                3. Não era muito profundo – Apesar de toda sua empolgação e carisma, não era do tipo que conhecia de forma plena o que comunicava.

                                3.1. Conhecia apenas o batismo de João - At 18.25
                                3.2. Priscila e Áquila tiveram que tomá-lo consigo e mais exatamente expor o caminho do Senhor- At 18.26

                4. Forte poder de convencimento - At 18.26

Existem muitos na igreja, que sem saber muito são capazes de incendiar o corpo de Cristo, gerar emoção e empolgação numa comunidade. Este grupo é apaixonado e fácil se deixa contagiar por emoções e paixões espirituais e representa outra faceta da comunidade: Gente do fogo, apaixonada. Apolo é carismático, personalista, apaixonado.

O valor deste grupo:   É bom ter um grupo assim na igreja. Pessoas que se apaixonam pelas verdades do evangelho, empolgadas nos projetos e cheias de fé e coragem em Deus para enfrentar grandes desafios. Quando preciso de pessoas para orar, para sonhar, este é o grupo que primeiramente compra a idéia. A história possui vários exemplos de pessoas como Carlos Wesley, avivalistas como Finney e Charles Whitefield e a paixão de Spencer e dos moravianos.

Perigos deste grupo: Facilmente descamba em doutrinas que não somente distorcem o evangelho, mas que o negam frontalmente. Veja os grandes tele evangelistas nos dias de hoje. Leia um livro como “Bom dia, Espírito Santo” de Benny Himm, que vendeu milhões de exemplares, mas o seu conteúdo é fraco e herético em muitos pontos.  São muito apaixonados e emotivos, mas superficiais na análise das Escrituras e no conteúdo da Bíblia. Falam com paixão, mas sem precisão. Priscila e Áquila tiveram que gastar um tempo com ele, para levá-lo ao conhecimento maduro das escrituras; Consideram mais importante a paixão que a razão, a emoção que a verdade, por isto se perdem facilmente em experiências e sinais e podem correr o risco de criar uma teologia sem fundamento, só porque sentiram um pouco mais de arrepio. O problema é que todo desvio da Palavra de Deus pode trazer morte. Errar na interpretação da Palavra significa “errar na vocação de Deus” para a vida. Por isto é necessário conhecer bem a Palavra do Senhor.

C. O Grupo de Pedro: Conservadores e tradicionais.

Pedro era essencialmente conservador. Por várias vezes a Palavra nos mostra como enfrentou  dilemas simplesmente por causa desta sua tendência.

Vejamos a experiência de Cornélio em At 10.
Quando Deus mostra a Pedro o seu projeto para os gentios, ele se revela muito resistente. Encontra dificuldade em entender a mensagem de Deus. Ariovaldo Ramos afirma que esta visão lhe foi dada não porque ele fosse um homem espiritual, mas pela sua teimosia em achar que Deus só poderia fazer do jeito que sua tradição lhe havia ensinado (At 10.9-16).
O texto nos mostra que Cornélio recebe uma visão de Deus e envia os mensageiros e Pedro.  Mas para que ele pudesse conversar com os gentios, Deus teve que dar a mesma visão três vezes, até que foi incisivo com ele. “Não consideres impuro aquilo que eu já purifiquei”. O assustado Pedro os acompanha. Ao chegar à casa de um gentio, sua pergunta reflete o seu incômodo, ao levantar a incrível questão: “Por que me chamastes?”. Ora, Deus já havia dito a Pedro o que deveria fazer na casa deste homem, no entanto ele ainda se encontra indeciso sobre pregar ou não a mensagem àqueles que não eram judeus. Não nos admiramos, portanto, que o Espírito Santo desça sobre os gentios quando Pedro ainda pregava. A impressão que tenho é que o Espírito Santo agiu assim, com medo de que Pedro estragasse o que já havia falado até então.

Existe ainda outro episódio na Galácia que nos revela sua dificuldade para entender a universalidade da mensagem, registrado em Gálatas 2.11-14.
Neste texto Pedro chega a ser admoestado por Paulo, porque convive bem com os gentios, enquanto os irmãos judeus não chegam de Jerusalém, mas depois se afasta e rejeita os gentios novamente, apesar de todas as experiências anteriormente presenciadas. Paulo diz que Pedro agiu de forma contrária ao evangelho. Por que? Por causa do seu conservadorismo.
Ainda encontramos outro episódio revelando sua dificuldade diante do presbitério em Jerusalém (At 15). Aqui, mais uma vez, Pedro é colocado numa situação de ter que defender algo que ele mesmo não estava muito certo. Felizmente, apesar de toda pusilanimidade de sua defesa, o Concílio de Jerusalém reconhece que os gentios de fato deveriam estar incluídos na missão. Mas apesar desta abertura, a resolução ainda sai com alguns ranços judaicos relacionados à comida e rituais (At 15.29)

O valor deste grupo: Toda Igreja possui pessoas conservadoras. Particularmente gosto de trabalhar com este grupo, por que ele é sempre fiel e presente em situações de crise. É o grupo que se mantém firme quando a comunidade enfrenta oposição, e é o grupo fiel no trabalho, na presença, nos dízimos, são pessoas com as quais você pode contar porque são sólidas nas suas atitudes.
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Perigos deste grupo: O problema surge quando atitudes conservadoras contrariam até mesmo o Evangelho, como no caso de Pedro na Galácia. Por exemplo, facilmente conservadores se perdem em usos e costumes, em procedimentos que não são bíblicos, mas temporais. Confundem ainda acidente com essência; histórico com revelado; temporal com o eterno, sem perceber que a verdade não está nem no velho nem no novo, mas no eterno. O resultado é que surge deste grupo uma tendência legalista que pode conspirar contra o projeto de Deus, e com as adaptações culturais que a igreja precisa fazer, dependendo do seu contexto histórico.
Existem muitas pessoas na igreja que são fiéis e conservadoras, não tanto na teologia que não pode ser mudada, mas nas formas e métodos, naquilo que pode ser negociado sem nenhuma perda para o evangelho, que muitas vezes tem a ver com a cultura de um povo, ou a expressão litúrgica de uma geração ou de uma nação. São pessoas que nunca pararam para perguntar porque fazem o “que” fazem e o “como” fazem. Não querem refletir nem questionar. Parecem-se com o personagem do famoso filme “O violonista no telhado”, que só tem vontade de gritar “tradição!!!”. Grupos assim tendem a valorizar coisas, formas, metodologia, sem verificar a validade da herança que receberam.  Confundem métodos com princípios.
Por causa disto, encontram dificuldade em romper com valores e estruturas arcaicas. Não param para perguntar se Deus está querendo trazer algo novo para sua comunidade, tem dificuldade em entender a vontade de Deus no contexto em que estão vivendo, e valorizam mais os métodos que as pessoas, a instituição que sua dinâmica, e acham isto muito espiritual.

d. O Grupo dos “Espirituais”  – 

O último grupo que surge aqui é o grupo que diz “e eu de Cristo” (1 Co 1.12). Ao afirmar isto, dá uma aparência de espiritualidade, mas a motivação pecaminosa é a mesma dos grupos anteriores, que estão dividindo a igreja de Corinto. A base é a carne. Este grupo expressa “orgulho espiritual” e superioridade sobre os demais irmãos. A Igreja primitiva já enfrentava este tipo de problema com os “pneumatikons” (literalmente, gente do “espírito”), que se julgava espiritual demais em relação aos outros.

Dois textos nos ajudam a entender este tipo de atitude.

Col 2.18-23 – Neste texto Paulo questiona um grupo que “pretextava humildade”, isto é, tinha aparência de coisa boa, “baseava-se em visão”, e começa a se orientar por experiências místicas. Este grupo apresenta três graves sintomas:
*         Gosta de “arbitrar” sobre a vida dos outros, tornando-se o juiz espiritual, condenando e julgando os outros. Ao fazerem isto se transformam implicitamente em parâmetros de espiritualidade, medida e fim para os demais.
*         Sua aparente humildade nada mais é que disfarce para sua “pretensão”, pois são “enfatuados” na sua mente. Outra tradução mais antiga usa o termo “inchados” (RC)
*         Tal espiritualidade é “carnal”. A mente deles é orientada por sentimentos interiores, apesar de aparentar humildade. É falsa humildade!

1 Co 12.1 – Aqui Paulo fala dos que se julgavam acima dos outros na sua espiritualidade: “Acerca dos espirituais” (1 Co 12.1). Curiosamente não está se referindo aos “dons espirituais”, como a nossa tradução da Bíblia parece indicar, mas originalmente ele diz: “peri de toun pneumatikon”, isto é, “acerca dos espirituais”. Paulo está tratando daqueles que se julgam donos e detentores dos dons, e por isto, toda discussão do texto gira em torno de atitudes. Paulo não está questionando os dons, já que dons são bênçãos, não problemas. O problema são os espirituais. Stuart Briscoe, conhecido pregador americano disse certa vez: “As pessoas que mais me dão trabalho são os super-espirituais”.
Os super-espirituais não são ensináveis - Sabem tudo! Os “super-espirituais” estão acima de julgamentos. Linguagens de poder como “Deus me falou”, “eu ordeno!”, “tenho uma visão”, podem se tornar muito fortes, dependendo o contexto no qual são proferidas.

Perigos deste grupo: Vocês devem ter percebido que, honestamente, não estou dando nenhum valor a este grupo, ao contrário dos demais. Aqui surge o clássico caso descrito por Paulo como
zelo sem entendimento (Rm10.2). São pessoas aplicadas, mas que podem destruir a unidade e a paz de uma comunidade, em nome de Deus. Tudo isto numa vestimenta muito espiritual, com profecias, dons, visões, revelações, etc. São capazes de destruir valores, relações, tudo em nome de uma suposta e profunda espiritualidade. Jesus disse que “a sabedoria é justificada apelos seus filhos”. Que filhos os super espirituais estão gerando?
Certa igreja no Estado de Tocantins se dividiu por causa de uma profetisa. Ela começou trazendo algumas palavras “espirituais” para a igreja, depois questionou a autoridade do jovem pastor, e num domingo afirmou que ela, e não o pastor, deveria pregar. Quando o pastor a questionou, ela foi embora da igreja levando cerca de 30 seguidores consigo. Dentro de um mês estourou o escândalo: Um dos diáconos que a seguiu estava envolvida com ela num escândalo sexual.
Outra tendência dos super-espirituais é a atitude sem reflexão. Gente apaixonada, e pouco reflexiva tende a se fundamentarem em disposições que atraem muitas pessoas. Jeremias fala destas pessoas como “fanáticas que se fazem passar por profetas” (Jr 29.26). São tendentes a criar seus fundamentos nas emoções, do tipo “Deus me falou”.  Certo dia um rapazinho me disse que teve uma “revelação”. Ele afirmou: “Deus me falou”. Quando lhe perguntei como Deus lhe falara, se era uma voz audível, se foi uma experiência mística, se foi um sentimento ele me respondeu: “Eu senti no meu coração!”. Então, tive oportunidade de lhe ministrar dizendo que havia uma imensa distância entre “sentir no coração” e “ter uma revelação de Deus”.

Por isto é importante focalizar no objetivo comum. Na missão e vocação da igreja local. Trabalhar junto, falar a mesma coisa, ser inteiramente unido, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. Se você deseja abençoar sua igreja, precisa entender isto. Este é o primeiro passo para proteger sua igreja.
                Qual é a natureza da igreja?
                Para que ela existe?
                Qual é a filosofia de ministério de sua igreja?
                Apóie. Encoraje.
                E se descobrir uma igreja perfeita, não se dirija a ela, porque você a estragará!
                Certa igreja colocou na entrada: “Você não é mau demais para entrar, nem bom demais para ficar de fora”.

  1. Quando existir conflitos, dê nome aos bois – Este é o segundo ponto, se quiser proteger a sua igreja. Tome cuidado com a maledicência.

A igreja de Corinto estava passando por muitas disputas e diferenças, e era até natural que a maledicência tomasse conta do grupo. Em épocas de discordância é muito fácil desenvolver esta atitude e tomar partido. Nestas horas, é fácil semear discórdia, e falar quando não deveríamos falar. No entanto, a Palavra de Deus trata com muita seriedade esta questão.
Muitos gostam de trazer informações dizendo que não vão falar a fonte, por uma questão de ética, mas Paulo faz questão de dizer o nome da pessoa que trouxe as informações. “fui informado pelos da casa de Cloe”(1 Co 1.11). Cloe é um substantivo feminino. Uma mulher da comunidade trouxe a informação para Paulo. Apesar de todas as brincadeiras que fazemos sobre a fofoca feminina, gostaria de enfatizar que homem quando dá para ser fofoqueiro, também é um desastre. 
Paulo demonstra que, por uma questão de ética, a fonte precisa ser citada. Ele cita a irmã que lhe trouxe a informação. Se o que ela estava dizendo era mentira, seria desmascarada.
Portanto, quando existir um conflito, dê nome aos bois. 
Quando nomeamos os agentes da informação evitamos a maledicência.
Paulo fala de Alexandre, o latoeiro, que lhe causou grandes males; cita Evode e Síntique, duas irmãzinhas da igreja de Filipos que tiveram que ser publicamente admoestadas, porque estavam numa disputa interna; fala ainda de Himeneu e Fileto, dois irmãos cujo língua corroia como câncer.
Um dos grandes problemas da igreja é a fofoca, e quem lança mão desta atitude, invariavelmente gosta de usar termos impessoais: “alguém falou”, ou, “disseram”, ou “andam falando”. Isto é maledicência.
Então, para destruir o germe desta atitude, pergunte quem disse. É necessário confrontar, ouvir as partes, dar tempo para defesa. Talvez quem disse tenha razão e isto precisa ser considerado. Se, por outro lado fez declarações de má fé, deve ser confrontado porque está mentindo. Perdeu a oportunidade de ficar calado. A melhor forma de acabar com o estopim de uma fofoca, é dando nome aos agentes da notícia. Transparência destrói murmuração.
Em Pv 6.16.19 lemos o seguinte: “Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”. Curiosamente, a ênfase mais pesada do texto recai no uso maléfico da língua. Deus abomina aquele que “semeia contenda entre os irmãos”. O termo abominar é usado no Antigo Testamento para práticas homossexuais, feitiçarias e mediunidade.
Rick Warren afirma que “fofocar é transmitir informações quando você nem é parte do problema nem parte da solução.” Diplomata é aquele que manda o outro pro inferno de tal forma que o cara fica louco para chegar o dia da viagem.
A verdade é que só existe uma forma de você se aproximar de um conflito, de comentários e fofocas: com uma lata de água ou com um barril de gasolina.
Certa mulher tinha um sério problema por causa do mau uso da língua. Um dia, reconhecendo o seu pecado, procurou o pastor e disse que gostaria de consagrar sua língua no altar do Senhor. O pastor, cansado daquela mulher fofoqueira, olhou para o púlpito e disse: “não dá irmã, sua língua não cabe no altar”.
Diante de boatos e maledicências, antes de passar a informação adiante, pergunte três coisas:
A.      O que ouvi é Verdadeiro?

B.       É necessário que eu leve a notícia adiante?

C.      Este comentário vai edificar o outro?


3. Contribua com sua igreja – Outra forma de proteger sua igreja é investindo na sua comunidade local. Por isto, participe, envolva-se. Para contribuir positivamente com sua comunidade, existem três coisas fundamentais:

  1. Tempo: A grande mentira que tentamos usar é que não temos tempo, mas todos sabemos que tempo é questão de prioridade. Você acha que uma pessoa interessada num negócio ou um rapaz interessado numa moça não vai encontrar tempo para se conectar a esta pessoa, por mais corrido que tenha sido seu dia?
Por isto, disponha-se a dar de seu tempo para sua comunidade. Veja como o tempo é importante:
ü       Adoração envolve tempo. Um antigo hino dizia: “Para seres santo, tempo hás de tomar”. Não há como desenvolver uma espiritualidade profunda sem dar de seu tempo para a obra do Senhor.

ü       Liderança - Toda pessoa que deseja assumir liderança na igreja, precisa dispor de tempo para sua comunidade. Esta pergunta deveria ser feita a todo aquele que deseja ser um oficial da igreja.

ü       Participe de suas atividades: Não é estranho que os líderes e pastores, precisem insistir com as pessoas para que venham aos eventos de sua comunidade? Muitas vezes existem programações especiais na igreja, e ninguém aparece. Isto enfraquece as atividades da igreja..

Quando o Dr John Stott esteve trazendo palestras ao Brasil, um dos interlocutores lhe perguntou qual era o segredo de sua vitalidade espiritual, e ele respondeu: “Existem quatro princípios que norteiam minha vida:  a). Sempre participo dos cultos da minha igreja; b)-Leio a Bíblia todos os dias; c)- Oro todos os dias; d)-Nunca me ausento da Eucaristia.
Inicialmente podemos achar simples tais afirmações, mas na medida em que avançamos na vida, vemos como são relevantes e oportunas. Sem um envolvimento de qualidade e de tempo com nossa igreja, não conseguiremos abençoá-la e protegê-la.
Traga seu tempo. Ninguém pode contribuir se não estiver disposto a dar parte de seu tempo para receber treinamento adequado, para investir na obra do Senhor. Um dia destes liguei para uma pessoa da igreja, estávamos olhando a casa do lado da igreja que foi a leilão, para ver a viabilidade da compra, e eu lhe disse três coisas, já que ele tem boa experiência nesta área: Quero que você nos ajude em três pontos:
                (a)- Ligue para a empresa e descubra os detalhes;
                (b) Não me cobre sua consultoria;
                (c)- Caso venhamos a comprar a casa, que você nos ajude financeiramente.
Ou seja, além de pedir seu talento, ainda queria sua ajuda. Vocês não acham esta proposta razoável e viável?

  1. Talento: Para contribuir efetivamente com nossa comunidade, precisamos trazer os talentos e dons. Ofertar aquilo que sabemos fazer de melhor. Existem muitas pessoas talentosas no mundo empresarial, que freqüentam igrejas, mas que não as servem com seus dons. Sabem lançar mão do marketing empresarial para seus business, aplicam métodos e sistemas modernos à sua empresa, lançam mãos das ferramentas da sociologia, psicologia, medicina e marketing para alcançar resultados expressivos para sua companhia, mas não empregam a mesma dinâmica na igreja. Parece que tudo o que é medíocre é admissível na igreja.
Precisamos colocar nossos dons a serviço do reino. Participar da vida da igreja, com aquilo que sabemos fazer.
O Pr. Ebenézer Bittencourt, presidente do Instituto Haggai no Brasil, afirma que parece existir na entrada de toda igreja, um espírito maligno que leva as pessoas a se tornarem medíocres. Ele chama isto de “encapetamento da mediocridade”. Enquanto a tecnologia, a informática e pesquisas de ponta são usadas no mundo fora da igreja, parece que nos acomodamos com tudo que é ruim.
Pense em como utilizar seus talentos. Como você pode ajudar sua igreja a sair de uma determinada etapa para outra? Melhorar a sua forma de ser e fazer as coisas? Trazer qualidade e excelência para sua comunidade?

  1. Tesouro: Traga seu tesouro – ajude a contribuir financeiramente com sua igreja local. Aprenda a trazer com fidelidade suas ofertas e dízimos. Quando não nos sentimos como parte do projeto, não nos dispomos a contribuir, pois achamos que a construção da igreja não tem nada a ver conosco.

Você tem contribuído sistematicamente com sua igreja?
No meu pastorado descobri que as pessoas não contribuem por quatro razões:

                a. Não crêem na Bíblia – A palavra de Deus está cheia de exortações para que os adoradores tragam suas ofertas a Deus. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, vemos sempre estas recomendações. Então, se a pessoa não está contribuindo realmente, acho que ou ela não conhece as Escrituras ou deliberadamente a quer desobedecer;

                b. Não confiam nas promessas de Deus – A palavra de Deus faz promessas claras àqueles que contribuem para a obra do Senhor. “Honra ao SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares” (Pv 3.9-10). “Ninguém aparecerá diante de mim de mãos vazias” (Ex 34.20); “Tornou o rei Davi a Ornã: Não; antes, pelo seu inteiro valor a quero comprar; porque não tomarei o que é teu para o SENHOR, nem oferecerei holocausto que não me custe nada” (1 Cr 21.24); “E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará” (2 Co 9.6); “Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça” (2 Co 9.10); “Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for” (1 Co 16.1,2). Uma coisa é certa: dinheiro é coisa espiritual, e devemos lidar com nossos recursos desta forma.

                c. Não confiam na liderança desta igreja – Esta é uma razão que costumeiramente encontramos naqueles que não trazem suas ofertas á casa do Senhor. “Não confio na administração dos recursos da igreja”. Neste caso, sinceramente, você deveria procurar outra igreja, na qual você se sinta confortável em contribuir, mas não deixe de trazer seus recursos à casa do Senhor.

                d. Não tem nada a ver com a comunidade, portanto, não sente a responsabilidade de  sustentá-la ou mantê-la. Talvez este seja o motivo pelo qual tantas pessoas jamais contribuíram para suas igrejas locais, e talvez elas estejam certas. Elas realmente não fazem parte daquela igreja. A manutenção e sustento da igreja não tem nada a ver com elas.

                4. Cuide de seus líderes – Se você deseja proteger sua igreja, este é o quarto passo, Tenho encontrado vários grupos diferentes de pastores: deprimidos, desencorajados, desanimados e descrentes.

                               a. Líderes deprimidos  – Este é um caso de enfermidade. Muitas pessoas sofrem com diversas doenças e embora a depressão seja a mais conhecida ela não é a única. Existem variações da melancolia, entre elas síndrome de pânico, fobias, transtornos obsessivos- compulsivos, etc. eventualmente tenho encontrado pastores doentes. Eles não tem vontade nem força para o trabalho. Como a igreja pode agir em situações como esta?

                               b. Líderes desencorajados – Esta é uma situação bem diferente da primeira. Eles simplesmente perderam o ânimo para o trabalho, seja por causa de situações especificas do campo, seja por causa do histórico de frustrações e desilusões. Eles simplesmente vão deixando o ministério passar lentamente, sem empolgação para novos projetos. O que pode ser feito para encorajar este pastor: Companheirismo? Oração? Palavras de apreciação?

                               c. Líderes desanimados – Tento fazer uma pequena distinção entre o grupo anterior. Neste caso, faz parte da natureza a preguiça, a falta de vontade, a justificativa constante para não fazer as coisas. A Bíblia fala do homem preguiçoso, que diz sempre: “Um leão está solto na rua”. Ele não faz porque é, por sua natureza e constituição, ruim de serviço mesmo...  Se você trabalha numa grande empresa sabe que existem funcionários assim. Sem disposição para fazer, sofrem um conhecido caso de desídia. Só fazem a coisa sob pressão, e quando cobrados se mostram reativos. Que atitude a igreja pode tomar quando encontra pastores em situações semelhantes? No mercado de trabalho ele seria imediatamente demitido, será que não seria esta mesma atitude a ser tomada quando se refere à obra do Senhor? E quando este líder tem sempre uma resposta muito espiritual para justificar sua atitude?

                       d. Líderes descrentes – Neste caso, perderam a fé no poder do Evangelho. Pode ser que nem sempre tenha sido assim. Talvez uma frustração maior com Deus ou com as pessoas, ou uma oração que não foi respondida, gere este sentimento de falta de fé. Mas a Bíblia afirma que “aquele que semeia, cumpre fazê-lo com esperança” (1 Co 9.10). O que fazer se o coração não consegue mais crer o que sabe ser verdade, quando prega sem confiar nas próprias promessas que anuncia ao povo de Deus, quando se está vivendo de aparências? Quando não mais sabemos orar nem depender de Deus?

A Palavra nos exorta a encorajarmos os líderes, para que exerçam seus ministérios sem gemerem (Hb 13.17). Normalmente pessoas que amam os pastores são capazes de aproximar-se deles em tempos de dificuldade e protegê-los. Gostam de convidá-los para suas casas, para terem lanches e almoços com eles. O resultado que tenho visto é que, em geral, novos líderes da igreja surgem de lares que gostam de pastores e missionários. Pessoas que falam mal de seus líderes, em geral, afugentam os filhos da igreja.
Nas Escrituras, aprendemos ainda a tratar com consideração os nossos pastores: “Acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam. Os tenhais em máxima consideração. Vivei em paz uns com os outros” (1 Ts 5.12-13).
Portanto, ame seus líderes, ore por eles, encoraje-os, convide-os a tomarem um café na tua casa, faça um almoço para teus pastores, abençoe-os, cuidem destes homens, pois isto redunda em benção para suas vidas. Já vi muitos diáconos, presbíteros e pastores sofrendo pela incompreensão e desamor da igreja.

                5. Assuma um compromisso público com sua igreja – 1 Co 1.13 lemos: “...Foram vocês batizados em nome de Paulo?” Esta pergunta retórica de Paulo, leva-nos a pensar num passo simples e decisivo que devemos assumir  diante da comunidade: O compromisso do batismo e do envolvimento público com a comunidade. Este é o quinto passo para proteger e se envolver com sua igreja local.
Vivemos dias em que as pessoas admitem que fazem parte de uma igreja universal, invisível, que se constitui de todos os remidos da igreja de Cristo, de todos os tempos e em todos os lugares. Mas a Bíblia também nos exorta a fazermos parte de uma igreja tangível, histórica e local. Na grande comissão, os discípulos de Cristo deveriam ser batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tenho visto muitas pessoas que ainda não se comprometeram com sua igreja local, não foram batizadas e nem assumiram o compromisso de um vinculo no qual se tornam parte de uma comunidade. Mas viver isoladamente no cristianismo é uma negação, já que somos um corpo, tendo como cabeça, Cristo; o Senhor da igreja.
Tenho encontrado muitos irmãos que se sentem envergonhados do batismo em público e gostariam de fazer isto em uma cerimônia privativa. Quando isto acontece, sempre abro a palavra para demonstrar que o batismo não é uma decisão solitária, mas comunitária. É uma forma de testemunhar e confirmar a todos, aquilo que cremos, e o passo de fé e coragem que damos ao assumir publicamente o Senhor Jesus. E que ao invés de fazermos isto secretamente, deveríamos convidar nossos amigos, fazer uma festa e celebrar a redenção que Jesus realizou em nossas vidas.
Portanto, para defender sua igreja, assuma seu lugar no corpo. Envolva-se!

6. Envolva sua família no projeto – “Batizei também a casa de Estéfanas, além destes, não me lembro se batizei alguém mais” (1 Co 1.16).

Era comum, que os pais tomassem a decisão espiritual da casa e assumissem uma posição espiritual. Não sabemos se o texto sugere que crianças foram batizadas, existem outros textos da Bíblia onde também vemos referências a batismo de toda família. Quando Lidia se batizou, também foram batizados “todos de sua casa” (At 16.15); Quando o carcereiro de Filipos se batizou, também foram batizados. “E todos os seus foram batizados” (At 16.33). Os batistas afirmam que não há uma menção clara de batismo de criança neste texto; os reformados indagam que se não eram os filhos, quem teria sido?
Bem, certamente não teremos subsídios exegéticos para negar ou confirmar esta briga histórica, mas de uma coisa estamos certos. Os apóstolos e os novos convertidos estavam atentos à necessidade de envolverem, de alguma forma, seus familiares, neste processo. A casa, os familiares, todos os seus, precisavam ser batizados e assim o foram.
Isto nos mostra como precisamos trazer nossos filhos e familiares ao encontro de Cristo. É interessante a pergunta que o carcereiro faz a Paulo e Silas: “Senhores, que farei para ser salvo?”. Sua resposta foi: “Crê no Senhor Jesus, e será salvo, tu e tua casa” (At 16.31). A pergunta foi feita no singular, mas a resposta para a salvação foi dada no plural. Deus tem um projeto para nossa família.
Não deixe de envolver seus filhos na vida da igreja. Muitos pais distanciam os filhos da comunidade cristã, e eles crescem sem perceber a importância de estarem firmes na graça de Deus.

                7. Ore pela sua igreja – Como último ponto para proteger a igreja, creio que precisamos cobri-la com nossas orações. A igreja de Cristo tem sido atacada por setas do diabo, e muitas vezes sofre profundamente com as obras malignas. Eventualmente não conseguimos entender ou não percebemos quão seriamente estamos ameaçados.
A Igreja é oposição declarada ao inferno. Quando Jesus fala em edificar sua igreja, ele afirma que “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18). Apesar deste texto nos revelar que o inferno é quem está na defensiva, enquanto a igreja avança, é também muito certo de que igreja é uma ameaça ao avanço do mal e das trevas. Não sem razão, a igreja tem sido historicamente tão atacada. Um líder que tomba, um pastor que adultera, um jovem que de desvia, é sempre uma vitória do maligno.
Não sei se você tem dificuldade de orar. Mas se há uma coisa na minha vida que é 5% de inspiração e 95% de transpiração, esta é a oração.
Uma pessoa de joelhos, conspira contra as trevas. Gente intercedendo pela igreja traz vida, e afugenta as trevas. Precisamos de cobertura espiritual. Nossos líderes e filhos precisam de cobertura espiritual. Nossos missionários carecem de nossas orações.

Conclusão:

A Igreja é ameaçada quando sua unidade está em risco. Nada ameaça mais a igreja que suas lutas internas, s divisões e nichos tribais. Igrejas divididas enfraquecem o testemunho, diminuem a alegria de servir, tornam-se competitivas entre seus membros e perdem o poder e a capacidade de impactar a comunidade.
A igreja dividida por lutas e desejo de poder ainda tem o efeito deletério sofre as futuras gerações. Os filhos sofrem ao perceber as brigas dentro dela, e perdem a alegria de freqüentarem tais comunidades. Igrejas onde famílias estão falando mal uma das outras, de líderes contra pastores e vice versa, causam grande dano ao corpo de Cristo.
Se quisermos proteger nossa igreja local, precisamos focalizar no objetivo comum de nossa comunidade, dar nome das pessoas envolvidas nos dilemas internos, contribuir com nosso tempo, talento e tesouro; precisamos apoiar os líderes, nos envolvermos publicamente, trazer nossos filhos para a vivencia comunitária, e acima de tudo, orar fervorosamente por ela. A igreja é uma agencia que conspira contra o inferno, e não é sem sentido pensarmos que o inferno tem todo interesse no seu fracasso.

Esta é a minha Igreja
“Ela é composta de pessoas como eu,
Ela será simpática , se eu for
Ela fará um trabalho maravilhoso, se eu trabalhar
Ela dará generosamente se eu der generosamente,
Ela atrairá outros à sua comunhão, se eu comungar.
Ela será uma Igreja de lealdade e amor, de fé e serviço, se eu for cheio disso.
Então, com a ajuda de Deus, eu dedico a mim mesmo
à tarefa de ser tudo isso que eu quero que a minha igreja seja”.


Samuel Vieira
Anápolis, Janeiro 2012