Introdução:
Um dos textos mais
conhecidos da Bíblia encontra-se em Gn 11.1-9, no relato da torre de Babel.
Curiosamente não me recordo de ter ouvido algum sermão falando deste assunto.
Babel é simbólica,
paradigma de toda cidade, sociedade e sistema sem Deus, de um povo que perdeu a
referencia do sagrado. Secularismo.
Afinal, que lições podemos
aprender desta narrativa bíblica?
1. Uma sociedade sem Deus é auto-glorificada -
Neste texto vemos um
povo buscando grandeza: “Vinde,
edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até os céus e
tornemos célebre o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda a terra”
(Gn 11.4). O que vemos, porém, é que este esforço se tornou um retumbante
fracasso. “Ali confundiu o Senhor a
linguagem de toda a a terra e dali o Senhor os dispersou por toda superfície
dela” (Gn 11.9). A busca da grandeza e glória, de chegar aos céus,
revelou-se trágica. O homem perdeu o senso de direção, porque quis “chegar até
os céus”. Não querem trazer os céus para suas vidas, mas querem penetrar os
céus para controlá-lo.
No entanto, até hoje o
que vemos são seres humanos “playing God”, brincando de Deus, querendo assumir
o lugar e bancar a divindade. No filme Jurassic Park temos uma cena em que um
cientista afirma: “Nós não podemos querer brincar de Deus, se a natureza
extinguiu os dinossauros, é porque era necessário que assim acontecesse”.
Nos tempos de Galileu,
quando o homem descobriu que não era a terra o centro do universo (Geocentrismo),
e sim o sol (Heliocentrismo), o homem achou que agora ele poderia assumir o
lugar da divindade, mas assim tem sido desde o inicio da criação. Homens tentam
ser Deus. Homens pensam que são Deus, e alguns tem certeza de que são Deus.
Babel representa todo
esforço da humanidade para excluir Deus. É o que Henry Nowen chamou de
“Teomania”. Esta tentativa luciférica e adâmica do homem em querer assumir o
lugar de Deus. Ser Deus. Certa pessoa chegou cúmulo de afirmar: “Não gosto
deste negócio de Deus ser Deus”. Eu repliquei dizendo-lhe que só existe um que
pode ter a prerrogativa da divindade, e este Ser é o próprio Deus.
2. Uma sociedade sob o pecado, dá espaço para a
arrogância, excesso de trabalho e cansaço.
A primeira torre (um
prédio), construído na história, pretende claramente desafiar os céus e mostrar
sua independência do sagrado. Hoje, como sempre foi, a ciência, a tecnologia e
a educação, pressiona para a busca da excelência, mas lamentavelmente torna o
homem mais arrogante. Isto traz a rebelião: “tornemos célebre o nosso nome para que não sejamos espalhados por toda
a terra” (Gn 11.4).
Historicamente podemos
afirmar que existem alguns núcleos centrais que dominam o pensamento humano,
pelo menos 4 blocos da ciência podem aqui ser citados.
a. Na ciência Social: O Marxismo – A visão
marxista, com seu inevitável totalitarismo, traz na raiz o materialismo
dialético”, com a negação explicita de Deus. Deus nada mais é que “o ópio do
povo”, e a religião seria assim instrumentalizada para manter os homens debaixo
do controle das oligarquias. A história seria movida, não por ação divina, mas
por lutas de classes. Toda a leitura
crítica que fazemos no campo social, usa o instrumental marxista.
b. Na Filosofia: O Existencialismo –
Sartre, Nietzsche e Camus afirmam que “A existência precede a essência”. Você
tem que viver o “aqui e agora”, porque o que importa é viver, não o ser. Esteja
feliz com sua vida, e isto basta! Não existe ideia de eternidade. Nem conceito
de sacralidade.
c. No campo da Biologia e genética: O
Evolucionismo – Mais que o problema do evolucionismo, temos o problema filosófico da “Geração
espontânea “. A vida seria uma mera sucessão de acasos, coincidências naturais.
Deus é subtraído dos bastidores da história. Não há Deus! Seu expoente máximo
foi Charles Darwin.
d. No Universo da Psicologia e Psiquiatria.
Toda a base da psicologia é humanista. A psicoterapia secular exclui Deus. A
Psicanálise, com uma das suas linhas mais conhecidas, procurou desde o
princípio, dinamitar Deus. Freud se torna um crítico acirrado de toda concepção teológica e manifesta
claramente seu pensamento em livros como “Totem e Tabu”, “O mal estar da
civilização” e “Moisés e o Monoteísmo”. Religião nada mais é que “uma neurose
obsessivo-compulsiva.
Em todos estes
movimentos filosóficos, temos o mesmo pensamento de Babel: Ter o domínio,
assumir o poder, controlar, ser igual a Deus e se possível, ser Deus. Como
Lúcifer decidiu fazer. A grande tentação para Adão foi a de que não mais haveria
barreiras para seu conhecimento, e “como
Deus”, seria conhecedor do bem e do mal. A sugestão da serpente é que Deus
estava escondendo o jogo, sendo mal intencionado. Babel. A tentação aliada ao
seu orgulho levou-o fatalmente à queda.
No Budismo, uma das
religiões que atualmente tem uma enorme penetração no mundo de intelectuais e
artista, Deus é um completo ausente. Para o budismo, a divindade está dentro de
você. Busque a Deus através da meditação, você vai encontrar aí, dentro de
você, sua plena potencialidade através do Nirvana, o encontro com o nada.
Ausência de conflitos e dor: Sua divindade interna.
Quase todas as cidades
são dedicadas a entidades, mesmo em se tratando de cidades absolutamente
seculares.
A cidade onde moramos,
Anápolis, é uma “polis” de “Ana”, que na tradição católica, seria
mãe de Maria. Mas as cidades secularizadas também constroem seus ídolos e
erguem suas catedrais, para exaltação de seus deuses.
Veja o exemplo
americano:
A cidade Boston possui
mais de 207 universidades, num universo de 4 milhões de habitantes (Grande
Boston).
New York está
fundamentada no mundo das finanças. O coração financeiro do mundo passa pelos
escritórios luxuosos da Wall Street, onde são movimentadas diariamente bilhões
de dolares.
Las Vegas construiu
seus “templos”, através de obras monumentais, transformando-se numa cidade de
jogatinas e apostas e jogos de azar.
Washington DC
construiu seus altares para os deuses do glamour político, valorizando o poder
e as decisões que regem a nação americana, influenciando a político em quase todos
governos ao redor do mundo.
Los Angeles ergueu
suas capelas para celebrar a luxúria, a arte, a fantasia, transformando-se num
campo para adoração e veneração de celebridades do mundo artístico.
A mesma linha de
pensamento pode ser observado no Brasil:
Rio de Janeiro exala
sensualidade em todos os lugares, quer seja nos sambódromos, com mulheres que
decidiram tirar completamente a roupa, optando agora por apliques; quer nas
praias onde celebra-se os fios dentais, que nunca foram “dentais”, e são cada
vez mais “fios”.
São Paulo tornou-se a
meca do poder financeiro, para onde acorrem as grandes empresas, celebradas e
veneradas por seus adoradores, trazendo riqueza, celebridade, poder;
Em Brasília encontramos
o panteão do poder e do centro das decisões de nossa nação, que por sua vez
afeta diretamente milhares de pessoas ao redor de nossa nação.
4. Cidade é o lugar de gente sem esperança e cansada.
Babel constrói seus
mega projetos, e seus habitantes são cobrados nos resultados esperados. A
cidade se agita, assim como é dito que “São Paulo não dorme”. O resultado da
cidade secular, porém, é a solidão, alienação, correria, distanciamento, anonimato.
O resultado é confusão interior: Angústia, desordem, caos, desespero,
bipolaridade, transtornos obsessivos, síndrome de pânico. Facilmente vem o
cansaço, o stress, a exaustão. Parece que foi este sentimento que Jesus teve ao
ver as multidões. “Vendo ele as
multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas, como ovelhas
que não tem pastor”(Mt 9.36).
No entanto, Jesus não
se distancia da cidade, pelo contrário, e para ela que se dirige.
Sempre me fascina o
relato de Mc 5 sobre o endemoninhado gadareno. Jesus saiu da Galileia,
atravessou todo o lago de Genesaré, para libertar um homem que vivia
atormentado por espírito malignos, andando nu pelos sepulcros e preso a
correntes. Jesus não conseguiu penetrar naquela sociedade que o repeliu assim
que ele mexeu com o chiqueiro deles. No entanto, Jesus deixou ali uma
testemunha do seu poder e graça libertadores, transformando aquele que antes
era um louco e possesso em alguém são, que será daqui em diante, um
missionário.
5. Esta cidade rica e confusa, apaixonada pela ciência
e pela tecnologia, precisa ser alcançada.
Como igreja, temos o
grande desafio de sermos uma igreja para a cidade. A presença da igreja traz
esperança, cura e acolhimento. Babel se perdeu na sua arrogância como tantas outras
cidades também estão vivendo.
Em At 8.8 há o
registro da chegada do Evangelho a Samaria. Deus usava poderosamente a vida de
Filipe, e muitas pessoas foram libertadas de espíritos malignos e outras foram
curadas. Ao verem a manifestação da presença de Deus, os moradores passaram a
celebrar a graça de Deus, “E houve grande
alegria naquela cidade” (At 8.8). Que grande nota nos é descrita neste
texto. A presença da igreja trouxe grande alegria à cidade.
Babel e Pentecostes
A Bíblia mostra uma
unidade de pensamento. Todas as suas partes estão interligadas. Existe um
texto, no Novo Testamento, que nos fala de um aspecto completamente diferente
de Babel, sua narrativa correlata encontra-se em Atos 2, no evento do Pentecostes.
“Estavam, pois, atônitos e se admiravam
dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que ai estão falando?
E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna”(At 2.8).
Ocorre aqui o inverso de Babel. Pessoas com linguagens diferentes compreendem o
que ouvem. O caos e a confusão são
desfeitos e a comunhão se estabelece.
A ordem começa com
Deus, no derramamento do seu Espírito Santo, (Pentecostes), e não no esforço
humano da supremacia. Babel gera confusão, caos e competição.
No Pentecostes, Deus
reveste os homens de poder, é uma operação que desce “do alto”. A raça humana
não consegue se entender sem Deus. Fala idioma distinto. Temos a mesma língua
mas não sabemos nos comunicar. Se você acha que você se comunica bem, pergunte
à sua esposa. Os lares encontram enormes dificuldades para se entenderem. Só é
possível falar a mesma linguagem que o Espírito Santo gera esta identificação.
Nossa comunicação se
torna confusa por causa da auto exaltação e auto-glorificação. Paulo exorta a
duas irmãs de Filipos que pensem concordemente no Senhor (Fp 4.2); exorta
também a comunidade de Corinto, para que seja inteiramente unida, na mesma
disposição mental e no mesmo parecer. Isto só é possível quando o Espírito
Santo media o diálogo.
Quando buscamos
auto-glorificacão, o investimento será em indústrias e armas bélicas. Nos armamos.
A tentativa de deificação do homem, de alcançar os céus, precipita o homem na confusão
e no desamor.
Babel mostra o homem
perdendo o ponto de referência com o semelhante. No Pentecoste vemos a raça
humana reencontrando a capacidade do diálogo. Se seu casamento, sua igreja, sua
família não fala a mesma linguagem, certamente a luta de poder e controle está
em jogo, e só Deus poderá ajudar a entender o outro. Em Babel vemos divergência,
em Pentecoste, convergência; em Babel confronto, no Pentecoste, encontro.
Conclusão:
Somos sempre exortados
na Palavra de Deus a termos um coração quebrantado. Deus já ensinava através
dos profetas que Deus não se agradava de sacrifícios, mas de um coração
quebrantado, isto é demonstrado claramente no Sl 51.16-17. A religiosidade mecânica
em torno de ritos não é o que Deus deseja de seu povo, e sim um coração
sensível. O caminho passa pela rendição. “ Deus resiste aos soberbos, contudo
aos humildes concede a sua graça”.
Babel é o oposto do
Evangelho. Babel é auto-afirmação, controle, domínio, supremacia, arrogância e
orgulho. Evangelho é rendição, quebrantamento, retorno a Deus, dependência.
Transfiro meus direitos, destrono meu eu.
Certamente não há nada
tão “politicamente errado” quanto isto. Não existe mensagem secular que fale da
gente morrer para o EU, mas Jesus foi enfático ao afirmar: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só;
mas se morrer, produz muitos frutos”.
O modelo de Jesus é
sua entrega a nosso favor. Olhando para Jesus vemos sua humildade, sua
dependência do Pai, e seu desejo de servir. Tudo isto é oposto a Babel.
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