quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Zc 3.1-10 No tribunal de Deus


Introdução:

Este texto exige do leitor um pouco de imaginação. A cena é a de um tribunal, e nele se encontra o réu, que será apontado como culpado pela promotoria, defendido pelo advogado, e sentenciado pelo juiz. Além destes, o texto relato a presença de outras que estavam ali. Os personagens são: O Sumo sacerdote Josué (3.1); O Anjo do Senhor (3.1); Satanás (3.2); Yahweh – O SENHOR, e as testemunhas “os que estavam diante dele” ((3.4).

Josué encontra-se diante do Anjo do Senhor, mas o papel de Satanás é declarado: Ele estava ali para se opor a Josué. O termo Satanás vem do hebraico, cujo significado é “acusador”. Em Apocalipse 12.10 vemos o céu em festa, porque Satanás, o acusador, havia sido expulso dos céus pela autoridade de Cristo. Curiosamente, o acusado, Josué, não esboça qualquer defesa, nem abre sua boca.

Satanás encontra-se diante do Anjo do Senhor para se opor a Josué. Ele não está dirigindo sua atenção nem está interessado em qualquer outro personagem do texto, sua acusação é contra Josué.

Quem é este Anjo do Senhor?

O termo “Anjo”, especificamente neste texto, aparece com letra maiúscula. Trata-se daquilo que os teólogos chamam de “teofania”, isto é, uma manifestação cristológica. Vemos o anjo do Senhor aparecendo várias vezes no AT. Jesus se manifestando a-temporalmente, já que não havia assumido sua forma humana e revela-se como uma figura angelical.
Temos, portanto, um homem, Satanás, Jesus e Deus – afora as testemunhas. O tribunal do Senhor está montado.
Por que Josué não se pronuncia? Várias razões podem ser apontadas, entre elas:

ð  Ele é réu confesso – Ele está “trajado de vestes sujas” (3.3), ele não tem defesa, seria realmente condenado. Por isto Satanás se opõe à ele e o acusa.

ð  Porque, mesmo que as acusações de Satanás fossem exacerbadas, o fato é, que num nível inconsciente ele se percebia culpado. Não é assim que acontece conosco? Eventualmente nos sentimos injustiçados por certas acusações que nos fazem, e isto nos fere muito, porque em certo nível, todos temos algum grau de culpa;

ð  Porque Deus é sua defesa. Ele não se defende, mas Deus o defende: “Mas o Senhor, disse a Satanás: O Senhor te repreende, ó Satanás” (3.2). Não é isto maravilhoso? Ter Deus julgando a nosso favor? A Bíblia diz todos somos pecadores, e, “Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” )1 Jo 2.1). Por isto, no diz do juízo, nossas defesas são ineficazes e inoperantes, mas a defesa de Cristo é suficiente e eficaz. Portanto, no juízo, certifique-se de que Jesus Cristo, o justo, será seu advogado.

A defesa que Deus faz a favor de Josué, possui alguns elementos:
A.      Sua eleição – Muitas pessoas discutem sobre a questão da eleição na Bíblia, mas esta verdade bíblica é coerente e sistemática, tanto no AT como no NT. A mente de Deus não pode ser equacionada, mas em todos os lugares da Bíblia você encontrará a afirmação da eleição livre e soberana que Deus faz ao seu povo. Este é o primeiro argumento que Deus usa para absolver Josué: “O Senhor, que escolheu a Jerusalém, te repreende” (Zc 3.2).
Deus repreende a Satanás tendo por base sua livre escolha. “O Senhor escolheu”. Eleicao é sempre um processo de Deus, feito pela sua livre vontade e ele não pressupõe virtudes naquele que é eleito - é sempre ato de sua graça e livre vontade. Sua graça é abundante, imerecida e plena.

B.       Deus tem pleno conhecimento da realidade espiritual de Josué – Ele não ignora sua realidade. A aceitação de Deus a favor de seu povo não se dá porque Deus não nos conhece, mas antes, apesar de nos conhecer. “Não é este um tição tirado do fogo?” (Zc 3.2). Deus sabe da biografia de Josué. Sua condição moral e espiritual não era nada boa, ele está trajado de roupas sujas. Apesar de se encontrar diante de Deus e do Anjo do Senhor, sua condição e aparência são horríveis. Deus sabe que ele é “tição”, chamuscado, queimado, torrado, mas ainda assim dispensa sua maravilhosa graça.

C.      Deus declara sua absolvição – “Eis que tenho feito que passe de tia a tua iniquidade” (3.4). Josué não conquista sua absolvição, mas a recebe livremente do pai. Ele está inadequadamente em pé diante deste tribunal, mas graciosamente recebe a noticia de que sua iniquidade não mais estava sobre seus ombros. Neste tribunal onde todos os segredos são revelados, ele seria totalmente reprovado, se as bases de sua justificação fossem seus atos e suas roupas.

Esta é uma promessa maravilhosa. Não mais condenado, nem à mercê da acusação do diabo, não mais vítima de uma consciência culpada, não mais tendo que se esconder por causa da devastadora culpa, resultado de decisões pecaminosas, mas perdoado. “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou antes, quem ressuscitou, o qual está a direita de Deus e também intercede por vós” (Rm 8.33-34). Percebe quanto regozijo e alegria há nestas declarações de Paulo? Você também tem se apropriado do perdão de Deus através de Cristo, desta forma?
Mas o texto prossegue, após a sua maravilhosa declaração de perdão, absolvendo o Sacerdote maltrapilho, Deus passa a instruir seu servo.

D.      Deus ordena trocar as vestes – “Tomou este a palavra e disse aos que estavam diante dele: Tirai-lhe as vestes sujas” (3.4). No livro de Apocalipse lemos que vestes brancas, são os “atos de justiça dos santos” (Ap 19.8). Tem a ver com nossa atitude, comportamento, ética.
Na parábola do casamento relatada por Jesus, um dos convidados decidiu entrar na festa e ficar nela sem trocou suas roupas sem colocar as “vestes nupciais”, e logo vem o dono da festa e pergunta: “Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?” (Mt 22.12). Estas vestes eram geralmente providenciadas pelo dono da festa, mas aquele homem se recusou a usá-las. Muitos ainda hoje querem participar deste convite amoroso da graça de Jesus, trajando suas antigas e maltrapilhas roupagens, sujas do pecado e da imoralidade.

E.       Deus restaura sua dignidade e autoridade – “Ponham-lhe um turbante limpo sobre a cabeça” (3.5). Roupa limpa e turbante limpo. Estes turbantes eram espécies de mitras sacerdotais, símbolos de autoridade espiritual. Ainda hoje vemos isto em concílios católicos, com os cardeais colocando estas mitras, e em religiões como o monoteísmo com seus talibãs colocando estes símbolos que são sinal de autoridade e geram respeito no povo.
Um detalhe é interessante e não podem ser esquecidos: “E o anjo do Senhor estava ali” (Zc 3.5). Tudo isto é feito na presença de Jesus, tudo isto encontra-se diante do nosso advogado. Restauração plena. “Agora, pois, nenhuma condenação há, para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).

Este sacerdote maltrapilho somos todos nós. Josué fala da natureza daquilo que somos. Diante do tribunal eterno, não ousamos levantar a voz. Que autoridade temos? Nossas roupas estão sujas, nossa autoridade destituída, Satanás, de forma avassaladora denunciando implacavelmente e nos acusando. Graças a Deus por Jesus, que é o nosso advogado. Ele assume nossa condição e se torna propiciação pelos nossos pecados. Ele tira a culpa dos pecados, assumindo-a em nosso lugar, nos deixando limpos.

F.       Deus lhe ordena a viver em santa obediência e temor- (3.7). A obra de Deus é tao maravilhosa que a única resposta que se pode dar é de uma vida de santidade.

Por que isto é tão importante?
Porque Deus quer que ele tenha autoridade para fazer sua obra e ter “livre acesso entre os que ali se encontram” (3.7). Quem são estes que se encontram neste tribunal?

i.                     As testemunhas – O texto sugere que outros personagens acompanhavam com interesse o desenrolar deste julgamento. A estes foi ordenado que lhe tirassem a roupa suja e lhe restituíssem a dignidade (3.4), e é diante destes que Deus deseja que Josué permaneça. Não mais uma vida de fuga e medo, mas uma vida de pessoas redimidas e tratadas.

ii.                   Satanás – Uma vida de obediência e perdão, habilita o seu povo a não ficar constrangido diante das acusações do diabo, afinal, ele sabe tudo sobre nosso pássaro, e nos precisamos saber tudo o que Deus nos fez. “Sou grato a Deus que me confiou o ministério, a mim que antes era blasfemo e insolente” (1 Tm 1.12). Satanás não tem poder de me acusar, naquilo que Deus teve prazer em perdoar.

iii.                 O Anjo do Senhor – É uma benção estar diante de Cristo, pecador sim, mas redimido e restaurado. Sinto-me amado,  aceito, adotado, herdeiro das infindáveis graças de Deus.

G.      Deus promete a vinda do Messias – “Eis que farei vir o meu servo, o Renovo” (3.8). Este texto é profético e messiânico, escrito cerca de 600 anos antes da vinda de Cristo. “Tirarei a iniquidade desta terra, num só dia” (3.9). A obra que Deus realizaria pelo sacrifício de Cristo seria completo, cabal e único. Com o sangue de seu filho, toda justiça de Deus foi satisfeita. “Tudo está pago!”. Jesus morreu, uma vez só, pelos pecadores, e naquele ato tirou toda culpa.

Este texto, desconstrói-se uma serie de pressupostos religiosos apregoados e defendidos em diferentes religiões:

a)- O conceito do purgatório – A expiação humana não se dá por um longo e complexo processo de sofrimento e pagamento de contas. Jesus, num único dia, fez a obra que séculos não fariam.

b)- O conceito de reencarnação – Mediante o qual, precisamos de várias vidas para sermos aperfeiçoados, até conseguirmos aperfeiçoar nossa natureza moral e espiritual e nos tornamos espirito de luz, e não precisamos mais nos encarnarmos.

c)- Auto flagelação – A ideia de que, através do sofrimento, mutilação, cilícios e auto punição seremos capazes de nos purificarmos. A obra do Servo de Deus, realizaria tudo isto num “único dia”.

d)- Moralismo – A iniquidade também não é retirada, nem somos absolvidos, porque vivemos um padrão moral que nos impressiona, mas pelo sacrifício único, pleno, eficaz do Cordeiro de Deus.

H. Deus promete uma experiência de vida comunitária e compartilhada – “Cada um de vós, convidará o seu próximo para debaixo da vide e debaixo da figueira” (Zc 3.10).

Deus não nos chama para um projeto de solidão, mas de amizades duradouras e longas. Ele afirma que teremos a alegria de assentarmos debaixo de um pé de manga e tocar modas de viola, assentarmos com os amigos para comer um gostoso feijão com arroz. Vida compartilhada, sem solidão e abandono.

Isto tem feito um sentido cada dia maior para mim. Quanto mais envelheço, mais sinto necessidade de amigos e pessoas para compartilhar minha história, para conversar e contar “causos”. Deus deseja que experimentemos esta maravilhosa restauração, compartilhando a sombra do dia e comendo juntos. Deus fala do seu povo vivendo em comunidade e comunhão.

Conclusão:

Que benção estar diante do tribunal de Cristo, tendo ao nosso lado o Anjo do Senhor. As acusações estão presentes, mas aquele que nos restaura e purifica, traz sua graça e misericórdia para experimentar tão grandes benefícios como os que foram mencionados nesta passagem das Escrituras Sagradas.
Neste tribunal, tão temido, podemos experimentar não a condenação, mas a restauração da dignidade e da honra que Deus deseja dar àqueles que são renovados pela maravilhosa expiação e graça que pode ser encontrada na cruz de Cristo.

Que Deus nos abençoe!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Desmascarando os Ídolos

Leitura Bíblica: Ez 14.1-8

Introdução:

Quando falamos de ídolos, geralmente pensamos nas figuras caricaturais de pagãos elevando suas preces a esculturas bizarras e representações de animais ou pessoas de sua devoção (Is 44.16-17). Uma definição simples de ídolo, porém, é tudo aquilo que ocupa nosso coração ao invés de Deus. Precisamos reconhecer a tendência que temos em nosso coração em não crer em Deus e criar substitutos em nossa vida.
O profeta Ezequiel fala de “Ídolos do coração”. Representações divinas que construímos na nossa alma e que se tornam substitutos de Deus.
q  “Um ídolo é algo dentro da criação que é colocado de forma inflacionada a assumir o lugar de Deus. Todas as coisas podem se tornar potencialmente em ídolos. Um ídolo pode ser um objeto físico, uma propriedade ou uma pessoa, uma atividade, uma regra, uma instituição, uma esperança, um prazer, um herói…Sendo isto verdade, como poderemos determinar quando alguma coisa é …um ídolo?” Richard Keyes The Idol factory in No God, but God.

A Questão essencial:
"Há alguma coisa ou alguém, além de Jesus Cristo que tem assumido no nosso coração uma função de confiança, preocupação, lealdade, serviço, medo ou prazer?” Existe alguém ou algo que temo, amo, confio ou desejo - Mais que a Deus?

Êxodo 32.1-4,19-24 Facilmente o povo abandona a Deus e se curva diante de deuses falsos. Tão logo Moisés desapareceu por 40 dias, seu irmão Arão, resolve fazer um deus, um ídolo. (Ex. 32) Arão dá uma desculpa esfarrapada e joga a culpa no povo. “Tu sabes que o povo é propenso para o mal” (vs.22) e justifica-se: “eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro” (Vs. 24).
Para Lutero, idolatria é o pecado detrás de todos os pecados.

Por que a grande tentação do Antigo Testamento é sempre a idolatria?


  1. O grande problema da vida é a dificuldade de dar a Deus a centralidade de tudo que fazemos (Rm 1.18-23). Num nível motivacional nós não queremos dar a honra que Deus é merecedor, por isso criamos ídolos, ou melhor, estabelecemos coisas como deuses para nossas vidas. Para negarmos o controle de Deus sobre nossas vidas, nós escolhemos outras coisas que possam ser substitutos de Deus. “Eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25). Por isso, distorcemos a vida e seguimos a mentira.
ü  Tim Keller. “Na base de nossas escolhas, nossa estrutura emocional, nossa personalidade é um falso sistema de fé centralizado em um ídolo". Os homens “mudaram a glória de Deus” (Rm 1.23). Por esta razão, todo ser humano torna-se escravo. Ninguém de fato é livre porque para quem damos a vida, somos obrigados a servir. Os homens “Adoraram e serviram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25), isto é, quando passaram a adorar, passaram também a servir.
ü  Mesmo após nossa conversão, facilmente somos distraídos pelos “ídolos de nosso coração”. Os homens “Levantaram ídolos dentro do seu coração” (Ez 14.3). Ídolo tem a ver com nosso coração. Deus revela aqui não que estas pessoas adoravam determinados ídolos feitos em barro, mas que os ídolos estavam arraigados nos seus corações.

ü  Ídolos controlam o coração. Por isto o profeta Ezequiel se refere aos ídolos do coração, eles habitam o interior, a nossa alma, afetam o coração e passam a exercer o controle. Ídolos são forjados nos corações (Ez 14.4).

  1. O ídolo, também, nos faz pensar que é impossível ser feliz sem sua presença
ü  Glotunaria - transforma a comida em obsessão.
ü  Ambição - Torna-nos escravos do sucesso.
ü  Luxúria - Nos faz depender de sexo e pornografia.
ü  Ganância– Nos faz viver em torno do lucro.
ü  Vaidade – nos torna prisioneiro da estética.
ü  Os ídolos nos fazem crer que se não tivermos estas coisas não podemos ser felizes.
ü  Karl Meninger – Livro: Pecados de nossa época, fala de um homem rico e avarento: “Eu não posso imaginar tocando nos meus bens, eu morreria se desse mesmo uma pequena parte dele”.  

  1. Ídolo é um sempre um substituto de Deus - O pecado nos predispõe a querer viver de forma independente de Deus. “Adoraram a criatura em lugar do criador” (Rm 1.25).
ü  Trabalho - pode se tornar um ídolo se o perseguimos de uma forma que ignoramos as responsabilidades espirituais;
ü  Família – Mesmo sendo uma instituição divina, pode se tornar um ídolo;
ü  Bem-estar - um desejo legítimo torna-se um ídolo quando não nos desestabilizarmos por causa de nosso conforto.

O que tem ocupado o meu coração? Alguma coisa ou alguém está tomando o lugar de Deus em minha vida? O que tem ocupado minha mente?

  1. Ídolos criam falsa sensação de controle, temos a impressão de que temos poder, mas na verdade, é ele que nos controla.
ü  Ilustração ratinho experimental: Existe uma charge em Psicologia experimental de certa pessoa estava estudando o comportamento de pequenos ratos que precisavam encontrar sua comida dentro da gaiola. Lá pelas tantas, um ratinho olhou para o outro e disse: “acho que esta pessoa está condicionada, porque todas as vezes que eu aberto esta barra ele me dá comida”.
É isto que o ídolo faz conosco. Criamos deuses à nossa imagem e semelhança e pensamos que podemos controla-los, mas não percebemos, na verdade, que são eles quem nos dominam. Os ídolos criam falsas leis, falsas definições de sucesso e fracasso, de valor e estigma. Ídolos fazem promessa de benção e maldição para aqueles que seguem suas leis ou a desobedecem. Por exemplo: “Se fizer bastante dinheiro, estarei seguro”, ou, "Minha vida será bem sucedida se"…ou, "as pessoas me respeitarão e vão gostar de mim, se"…

O resultado, segundo Oden, é que nos tornamos escravos destes ídolos.
  • Torno-me ansioso na medida em que idolatro valores finitos.
    • Exemplo: Idolatria do corpo - Torno-me frágil e ansioso quando percebo que as rugas aparecem e ele não tem mais aquela estrutura bonita.
    • Idolatria do sucesso - Me desespero quando não estou em evidência.
    • Idolatria do dinheiro - Não consigo pensar na idéia de viver sem ele;
  • Sinto-me inseguro quando tais ídolos não estou em evidencia.
  • Experimento vazio e falta de sentido. Alguns chamam isto de desespero, e as formas mais brandas são o desapontamento, desilusão e cinismo.[1]



Conclusão:
Desmascarando os ídolos

É necessário tirar dos ídolos o status que lhe atribuímos de imprescindíveis, insubstituíveis e necessários. Este é o primeiro caminho. Quando Moisés chegou ao arraial, depois de receber, ele quebrou os ídolos (Ex 32.1-24). Isto demostrou como é fragilidade daquele bezerro de ouro em quem o povo de Israel colocou a confiança. Ídolos precisam ser denunciados, desmascarados, porque criam um campo de ilusão acerca deles.
Quando confrontamos falsos ídolos, que criam ilusória percepção de segurança, veremos não apenas como eram frágeis, mas surgirá no coração um grande sentimento de liberdade.
Para lutar contra um inimigo tão astuto, precisamos construir uma liturgia de vida para que possamos consagrar nossos afetos a Deus, o único merecedor de nossa adoração.

  1. Não trazer outros ídolos diante do Senhor –Então falou o Senhor todas estas palavras: eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3).
É estranho pensar que podemos “trazer outros deuses diante de Deus”, mas não é isto que fazemos? Muitas vezes oramos para que Deus nos dê algo, e Deus está olhando para nós e dizendo. “Você não precisa disto! Eu não devo lhe dar isto! Sua necessidade é falsa. Eu quero que você queira a mim, e não isto que você está pedindo!”

  1. Regozijar-se na graça e obra de JesusPrecisamos admitir que temos buscado segurança em nos esquemas e na justiça própria, mas a grande mensagem do Evangelho é que nós somos aceitos em Cristo.  Todos os problemas surgem porque nos esquecemos quão amados somos por Jesus, quão honrados, quão bonitos, quão seguros, quão ricos, quão respeitados e livres somos em Deus. Todas as outras formas de encontrar sentido e prestígio são vãs. Precisamos confiar somente em Jesus.

3.       Guardar-se dos ídolos – Nosso coração precisa estar atento às sofisticadas formas de se revelar em nossas vidas. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (I Jo 5.21). 

Deixe-me dar uma lista de exemplos de idolatrias sutis, voltando à pergunta que fizemos assim:
a.       Medo – A quem ou o que tememos?
b.       Confiança – Em que ou em quem colocamos nossa confiança?
c.        Desejo – O que tem se tornado o objeto de meu desejo?
d.       Amor – O que eu amo, acima de Deus?
Alguns exemplos:
i.                     Um medo obsessivo de que meu filho não saia bem na vida pode me governar e me dominar completamente, de tal maneira que posso viver constante manipulando-o, controlando-o, preocupado e até mesmo irado. Eu não o confio a Deus, mas passo a ser mentalmente dominado por este medo que passa a exercer o controle minha vida.

ii.                   A vida dos filhos - Quando estávamos nos mudando dos Estados Unidos para o Brasil, no final de 2002, minha esposa, foi tomada de uma grande aflição, quando minha filha Priscila nos pediu para ficar até que ela terminasse o High School. No meio da ansiedade Deus lhe trouxe uma compreensão clara ao coração: "Eu sempre cuidei dela, pode ser que você esteja pensando que a responsabilidade era sua, mas eu apenas a dei a você, para que você estivesse com ela estes anos, mas quem sempre cuidou dela fui eu". Isto acalmou seu coração. Compreendeu que existia um Deus acima, e assim pode colocar sua confiança não mais nos seus recursos, nem no seu domínio, nem naquilo que julgava ser sua responsabilidade, mas em Deus.

iii.                 Desejo por segurança e estabilidade financeira pode se transformar num ídolo. Queremos tanto ter uma vida tranquila, sossegada, recursos financeiros disponíveis, que passamos a colocar nosso coração nisto, e se algo ameaça este ídolo, nos desesperamos, perdemos o controle, porque achamos que a segurança financeira pode controlar a vida. Por isto não somos capazes de ser liberal com meus recursos. Não trago o dízimo à igreja, não contribuo para a obra de Deus porque internamente tenho medo de ficar sem dinheiro. Por isto a Palavra nos ensina que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”, e “a avareza é idolatria”.

Uma senhora idosa, aos 90 anos de idade andava muito preocupada, e seu filho procurou saber o que estava acontecendo. Ela respondeu: “Tenho medo de que meu dinheiro não seja suficiente até o final da vida”. Como ela tinha muitos bens e uma situação financeira tranquila, o filho colocou no papel tudo o que ela possuía e disse: “mamãe, a senhora pode viver neste estilo de vida, por mais 15 anos, sem faltar absolutamente nada para a senhora”. E ela respondeu: “E depois dos 15 anos?”.
Que medo domina sua vida? Quando confiamos em sistemas ou métodos e não em Deus isto é sinal de idolatria. Quem você pensa que controla sua vida? Os ídolos nos fazem crer que circunstâncias, controles externos é que fazem isto, e tiramos assim os olhos de Deus.

É bom entender que tais categorias não são estáticas, mas dinâmicas. Por exemplo, temer que o dinheiro vá faltar e ficar dominado pelo pensamento de que não terá no futuro para as suas necessidades, faz você pôr seu coração e sua confiança nos bens. Confiar no dinheiro e em posses para sua paz pode revelar onde está o seu coração. Dinheiro pode se tornar um ídolo ao qual passamos a servir e obedecer. Jesus afirmou que o dinheiro é uma entidade espiritual, um ser com vida própria, chamou-o de Mamom (Mt 6.24). O termo que é traduzido para riquezas vem do grego e era uma referência de Jesus a um ser espiritual, e pela sua natureza exigirá adoração.
Considere os tipos de comportamentos ou pecados de superfície que podem virar ídolos nos corações. Pense nos pontos acima: A quem eu amo, temo, confio e desejo mais que a Deus?
Considere novamente a avareza, que é idolatria. Um dos ídolos de nossa cultura e de nossa geração. Como você pode saber que isto é um ídolo em sua vida? Como funciona seu desejo, confiança e medo em relação a ele?

As quatro categorias – medo, confiança, amor e desejo – são exemplos de como as coisas podem reger nossas vidas. Considere os tipos de comportamento ou pecados de superfície que podem ser proveniente destes ídolos:

Eu temo:
__ Rejeição das pessoas, ataques ou controle                                            __ Perda do controle
__ Perder, ou não ganhar reputação                                                             __ Falta de dinheiro
__ Ser demitido ou ver meu chefe irado comigo                                       __ Ficar doido
__ Mau comportamento de meus filhos.                                                     __ Meia Idade
__ Meu passado ou meu pecado sendo exposto        .                               __ O futuro
__ Rejeição de minha esposa ou amigos                                                     __ Doenças
__ Perda de uma herança                                                                                __ Velhice
__ acusações de amigos ou esposa (o)                                                         __ Morte
__ Punição                                                                                                         __ Falência.

Eu confio
__ Bebida/jogo (escapismo de frustrações e tédio).                                   __ Meus próprios recursos
__ Sexo/Pornografia (Prazer, alivio).                                                            __ Segurança/ Paz
__ Comida (alivio da monotonia, saúde, prazer, paz).                              __ Meus dons e habilidades.
__ Alguma figura idealizada (atleta, pastor, músico)                                __ Controle/Ordem.
__ Herança, seguros, posses (para manter minha segurança).                  __ Luxúria.
__ Saúde (meu estilo de vida, minha ginástica...)                                      __ Status.
__ Meu trabalho (segurança, status, ganho financeiro)                            __ Dinheiro.
__ Meus filhos, trabalho, casamento (para alegria)
__ Prazer (comida, bebida, drogas, sexo, diversão)
__ Aparência física (ginástica, moda, beleza)

Eu desejo
__ Me sentir bem (comer, beber, drogas, sexo).                                          __ Prazer/conforto
__ Libertação de limitações financeiras                                                      __ Paz em minha casa
__ Adoração/reconhecimento/sucesso                                                        __ Amor dos outros
__ Que meus filhos sejam responsáveis                                                      __ Bens materiais
__ Bênçãos de Deus                                                                                        __ A casa boa
__ Que meu esposo (a)/amigo me ame                                                         __ Conhecimento
__ Circunstâncias sejam mudadas                                                                 __ Aprovação
__ Competência e afirmação                                                                          __ Saúde

Fonte: Apostila Gospel Transformation (Sonship).

Conclusão:
Mais sutil do que tudo ainda, não somente confiamos em outras coisas para nos abençoar, mas também confiamos em nós mesmos. Em outras palavras, podemos nos colocar no trono, e nos transformar em nossos próprios deuses. Assim, o orgulho, a independência e a altivez, passam a nos dominar. Não mais nos curvamos diante de Deus, porque não dependemos dele na vida. Acreditamos que somos senhores do destino, e que somos nós que fazemos a história. Não precisamos de Deus.
Não é esta a sugestão luciférica desde o paraíso? Vocês podem se tornar como Deus! Deus governa o universo em cima de pressupostos mentirosos, ele mente! Você pode se libertar dele e se colocar no mesmo nível espiritual.





Perguntas para discussão:


1. O conceito de Idolatria ficou claro para você?
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2. Onde está o teu coração? O que poderia ser tirado de você sem o qual não conseguiria viver? Até que ponto este medo não revela um ídolo de seu coração?
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3. O que realmente deseja acima de tudo?
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4. Em que você tem consumido sua vida? Onde você tem colocado seus talentos, dons e recursos, além de Deus? Como isto afeta sua espiritualidade?
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5. Você não gostaria de quebrar este ídolo do seu coração? Que sentimento você tem quando você pensa em abandonar este ídolo?
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Samuel Vieira





[1] . Oden, Thomas C., Two worlds: Notes on the death of modernity in America and Russia, chap. 6