sábado, 30 de dezembro de 2017

At 2.1-4 Pentecostes, para que?

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Introdução:

Ao lermos a história da Igreja crista Primitiva, ficamos surpresos com o poder e a autoridade espiritual que estava sobre ela, somos profundamente inquietados com os textos bíblicos e as experiências impactantes ali acontecidas e nos sentimos até envergonhados ao perceber como estamos distanciados da riqueza espiritual que desfrutavam. Não poucas pessoas tem aquele o sentimento do comentarista Loyd no seu livro Holy Spirit in the Acts: “Quando nós observamos estes sinais da presença do Santo Espírito na Igreja Primitiva e seu trabalho na vida dos discípulos, não podemos deixar de perguntar a nós mesmos se não existe alguma coisa errada que não estejamos perdendo na nossa própria experiência”. (Loyd, Philip - Holy Spirit in the Acts, London, A.R. Mowbray & Co. limited, 1952, pg. 8).

O Livro de Atos revela uma Igreja vivendo em todo seu fulgor, irradiando vida e ousadia, uma iggreja submissa e atenta àquilo que o Espírito queria realizar. Vários relatos no livro de Atos são impressionantes, dois destes fatos mexem particularmente com a minha imaginação e minha fé.

Um deles está relatado em At 5.15. A Igreja exalava tanto poder que as pessoas levavam seus enfermos pelas ruas, e as colocavam sobre leitos e macas, para que, quando Pedro passasse, ao menos sua sombra se projetasse sobre eles. O texto mostra que o poder que estava sobre Pedro, podia trazer cura a pessoas sem oração específica, sem unção com óleo, ou qualquer rito, apenas a sombra projetada nos doentes que eram colocados à beira da estrada.
Outro relato impactante é descrito em At 8.39, logo após a evangelização do eunuco da Rainha de Candace, diz-nos o texto que Filipe foi trasladado, isto é, foi levado no seu corpo de um ponto geográfico para outro. Tais experiências estão inseridas num contexto comunitário onde a sobrenaturalidade era absolutamente cotidiana: anjos dialogaram com os apóstolos, pessoas eram curadas, milagres, prodígios e sinais eram corriqueiros da vida daquela igreja.

Um risco ao estudarmos o Pentecoste é o de nos contentarmos apenas com os sintomas, sem considerar seu aspecto essencial. É comum nos perdermos nas manifestações ao invés de aprofundarmos no seu sentido maior.

Dos escritos do missionário Stanley Jones, temos um dos melhores tratados sobre este evento. “O pentecoste salvou os discípulos do trivial, do marginal, do superficial. Desde então eles começaram a ver as questões de importância, ganharam o “senso do que era essencial” (JONES, E. Stanley- O Cristo de todos os caminhos,  São Paulo, Imprensa Metodista, 2a. edição, 1968, pg. 42). “Não vejo nada, absolutamente nada, que possa tirar a Igreja de trás das portas trancadas senão um Pentecoste. Podeis aumentar a beleza de seu ritual; melhorar a qualidade e a quantidade de sua educação religiosa, elevar o padrão e as qualificações do seu ministério ao mais alto grau; despejar dinheiro a manchetes nos seus gazofilácios, dar-lhe, enfim, tudo, tudo menos esta única coisa que o Pentecoste dá, e estareis apenas ornamentando um cadáver. Até que este fato sagrado se dê, a pregação é simples preleção, a oração é mera repetição de fórmula, os cultos deixam de ser culto - tudo não passa de atividade terrena, circunscrita, inadequada, morta”.

Jesus certamente sabia disto ao advertir seus discípulos sobre a grande comissão que tinham pela frente, e o segredo para que tal obra pudesse ser realizada. “Ficai em Jerusalém até que do Alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). O segredo era o  pentecoste. Sem ele, a obra não seria alcançada. Curiosamente, a Igreja de Cristo parece sofrer uma amnésia sobre este fato, tentando fazer missão na base da técnica e da pesquisa, elaborando projetos sem oração e sem unção, querendo alcançar Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra, atendendo ao preceito de Jesus, mas esquecendo-se que a ordem do Mestre de ir a “todos os confins da terra”, a todas as etnias, só poderia ser realizada com o revestimento deste poder capacitador.

As coisas nem sempre foram assim... 

Ao lermos, cuidadosamente, porém, a vida da Igreja antes do Pentecoste, não discernimos o mesmo poder que o livro de Atos exala, pelo contrário, vemos uma Igreja vivendo sua normalidade (ou sub-normalidade) e revelando todo quadro patológico de suas contradições e ambiguidades.

Vejamos algumas características:

Primeiro, Os discípulos tinham dificuldade de entender a Palavra de Deus

Em várias ocasiões vemos o mesmo cenário. Eles demonstram uma incrível dificuldade para assimilar a mensagem mais clara dos ensinamentos de Jesus, não conseguiam assimilar uma parábola tão simples como a da semente. Jesus se surpreende com esta incapacidade dos discípulos (Mc 4.13).

Depois de três anos de convivência, quando Jesus decide falar abertamente sobre sua morte na cruz, Pedro confronta Jesus pela seu discurso. A teologia da cruz, parecia algo irrelevante e desnecessária. Quando Ele anuncia a necessidade de sofrer muitas coisas dos anciãos, ser morto e ressuscitado ao terceiro dia, Pedro o chama à parte e o censura. Jesus então, olha para Pedro e o repreende severamente, por que, por detrás desta cegueira espiritual havia uma ação satânica operando na mente de Pedro, para que ele não assimilasse o único meio pelo qual o homem pode ser salvo: A cruz! (Mt 16.21-23).

Esta mesma incredulidade levou os discípulos a voltarem cabisbaixos e desnorteados para Emaús, achando que nada mais havia a ser feito, mesmo depois de terem ouvido o testemunho das mulheres. Jesus os chama de “néscios e tardos de coração”  por não serem capazes de perceber que o ministério do Messias passaria pela vergonha e desprezo da cruz (Lc 24.25). Esta mesma incredulidade atinge Tomé (Jo 20.24) e os demais discípulos.

Parece que a mensagem de Jesus só se torna de fato clara aos discípulos após sua morte, ressurreição e pentecoste. Até mesmo em At 1.6, ainda vemos traços de um semitismo e nacionalismo marcante quando perguntam se seria este o tempo em que Israel seria restaurado à sua dignidade política e à sua soberania nacional: “Será este o tempo em que restaures o Reino a Israel?” Até este momento da história parece que a Igreja ainda não tinha entendido claramente o projeto da encarnação de Deus em Cristo e sua necessidade de salvar o mundo, todas as etnias.

Segundo, Os discípulos demonstram impotência e falta de autoridade espiritual

A Igreja era espiritualmente frágil. Em Mc 9.17-18 um homem traz seu filho endemoninhado, mas os discípulos não conseguiram libertar o rapaz, que continuou preso por demônios e isto traz uma profunda crise espiritual àquele homem, que confuso, ao ser interrogado por Jesus sobre sua fé, responde dialeticamente: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé”. Ele trouxe seu filho para ser restaurado certamente porque tinha fé, mas agora vive a crise de não saber se tem fé, ou mesmo se pode crer diante do fracasso da igreja.

A única agência que pode destituir e confrontar poderes malignos, demonstra uma incapacidade para lidar com tais forças antagônicas e trazer libertação.

Terceiro, os discípulos estavam preocupados com status, posições e primeiros lugares

Outro fato marcante no meio da comunidade antes do pentecostes era a busca pelos primeiros lugares dentro da hierarquia apostólica. A visão de servo era difícil de ser entendida. Eles queriam a primazia e refletiam estes desejos nas disputas internas a respeito de privilégios e  cargos que queriam assumir.

O texto de Mc 9.33-34 é forte. Mostra a que ponto estava a disputa por primazia. Jesus percebe um certo incômodo e pergunta sobre que assunto discutiam pelo caminho, e eles se silenciaram, porque no caminho estavam falando sobre qual dentre eles era o maior. O caminho do serviço e da vida de servo não foi facilmente assimilado. Ser servo significava considerar os outros superiores, e a natureza carnal encontra dificuldade em se submeter. É mais natural o caminho da glória e da honra pessoal; é bem mais próprio de atitude humana ser servido que servir. Tornar-se servo é algo que deve ser provocado pela ação do Espírito. Só ele pode mover o coração ao caminho do serviço.

A Igreja primitiva não era diferente de hoje, sem pentecoste continuaram a viver e a se mover em egoisticamente, só a eficiente e poderosa ação do Espírito poderia livrá-los da vida mesquinha, ensimesmada e egocêntrica. Alguns concílios eclesiásticos seriam muito melhor dirigidos se a busca de posições e primeiros lugares fosse substituída pela atitude de servo. A história da Igreja teria novo rumo, se a mente estivesse voltada para o serviço.

“Não há dúvida que o propósito divino é que o Pentecoste fosse o cristianismo normal. Mas nós somos, em grande maioria, subnormais. Quando alguém é fisicamente subnormal, está sujeito a adquirir com mais facilidade os germes mortíferos e tem menos possibilidade de lutar contra eles. Muitas coisas estão nos atacando - trivialidades a respeito de posição e poder e pequenezas na vida da Igreja que arruínam ministros e leigos. Estamos abaixo do normal, espiritualmente, e por isto estas coisas que, normalmente, devíamos vencer, nos perturbam e acabam danificando nossa alma”.  (S. Jones. O p. cit. 1968 pg. 48).

Quarto, os discípulos mostraram uma imensa propensão para o exclusivismo 

Por exclusivismo nos referimos à atitude que não permite que vejamos as coisas além de nós mesmos ou do grupo. Os discípulos encontraram um homem que estava fazendo o ministério em nome de Jesus mas ele não fazia parte do pequeno grupo que andava com Jesus. Por isto os “santos”  homens”, o proibiram de exercer tal ministério (Mc 9.38-41).

Como esta característica é marcante quando estamos aquém do Pentecoste, mesmo em grupos que se auto-intitulam “pentecostais ou que se julgam espiritualmente maduros.

Certa vez perguntei a uma moça como estava a vida espiritual de seu pai, que era líder antigo de uma denominação, e ela me respondeu com tristeza: “Meu pai é mais denominacional que evangélico”. Muitas vezes temos muitos bons pentecostais que não são cristãos, bons batistas que não são evangélicos, bons presbiterianos que não são evangélicos, e a lista vai seguindo infinitamente. 

O exclusivismo nos leva a acreditar que temos a posse do Espírito de Deus. Que somos a única igreja doutrinariamente correta, que somos melhor que outras pessoas, etc. Pergunte a você mesmo: Tenho orado por avivamento na minha Igreja ou para que este avivamento se estenda no meio do povo de Deus, nas famílias e nações que não fazem parte do nosso grupo?. Tenho orado para que os ímpios se convertam ou para que minha igreja cresça?”

Quinto, os discípulos eram pretenciosos e egoístas

Leia com atenção o texto de Mc 10.35-37. Viram a pretensão dos discípulos? Tiago e João, da mesma família, se aproximam de Jesus e descaradamente fazem um inusitado pedido: “Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir... Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e outro à tua esquerda?” (Mc 10.35,37). A cena torna-se até hilária quando percebemos a pretensão latente em seus corações.

Eles pedem nada menos que a primazia de assentarem ao lado do trono de Cristo nos céus. Que absurdo pedido! Entretanto, ao lermos mais adiante vemos uma reação muito forte do grupo. “Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João” (Mc 10.41). Será que podemos inferir a razão de sua ira? Bem, creio que não temos dificuldade em pressupor que isto se deu por ciúme e inveja. Eles também tinham as mesmas pretensões. Por isto Jesus os chama para mostrar como o reino de Deus inverte a lógica do coração humano. “Quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos” (Mc 10.44).

Sexto, os discípulos eram iracundos e violentos e agressivos

O relato de Lc 9.51-56 mostra um grupo irascível e genioso. Eles estavam viajando para Jerusalém e ao passarem por uma aldeia samaritana, não encontraram hospedagem porque os samaritanos tinham uma histórica briga com os judeus. Para o Oriental, não hospedar as pessoas era um gesto de profunda indelicadeza, e os discípulos se sentiram agredidos e não tiveram dúvidas em expressar toda sua ira. “Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?” (Lc 9.54). Veja como é fácil transformar Deus em aliado da maldade.

A reação deles torna-se temperamental e iracunda. Eles demonstram toda sua agressividade e violência. Eles sequer camuflam sua intenção, e nem as justificam. Quem são eles para fazerem isto conosco? “Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espirito sois“ (Lc 9.55).

Sétimo, os discípulos tiveram dificuldade de entender a mensagem central de Cristo

Quando Jesus começa a falar mais abertamente sobre sua morte a reação de Pedro revela como a ideia de seu sacrifício estava encoberta para os discípulos. “Pedro o chama à parte e disse: tem compaixão de ti mesmo, isto de modo algum te acontecerá (Mt 16.22).

A obra central de Cristo estava para acontecer e eles ainda estavam pensando em outra dimensão de seu ministério. Jesus estava falando da cruz, da sua morte, do sacrifício necessário para expiar o pecado do mundo, e os discípulos estavam considerando a glória humana, a soberania do povo judeu restabelecida e eles assumindo funções de liderança no novo momento da história de Israel.

Eles não entenderam a proposta de Cristo. E isto se torna mais do que evidente quando, depois de sua ressurreição, o foco dos discípulos ainda se revela absolutamente humano e politico, não espiritual. “Senhor, será este o tempo que restaures o reino a Israel?” (At 1.6).

Oitavo, eram covardes e medrosos, fracos e inconstantes

Mesmo depois da ressurreição, diante do grande evento que eles presenciaram, a Bíblia registra que “estavam todos, com as portas trancadas, com medo dos judeus” (Jo 20.19). Ainda era uma igreja de portas fechadas, acuada, assustada, inibida e tímida. Não tinham coragem para o enfrentamento e missão. Sem o pentecoste, a igreja encontrava-se encolhida e temerosa.

Quando Jesus fala do grande desafio que enfrentariam quando ele fosse preso, Pedro se mostra aparentemente ousado e auto confiante, para, em seguida negar a Jesus sem maiores constrangimentos, apesar da advertência que lhe fora feita (Lc 14.30-31; 66-72).

Faltava à igreja algo que só o Espírito de Deus poderia dar: Ousadia e intrepidez.

Nono, eram incrédulos

Jesus censurou mais os seus discípulos por incredulidade, que por qualquer outra coisa. Em Mc 9.19 ele exclama: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” Esta palavra não se dirige às pessoas fora de seu círculo, mas aos discípulos. Ele diz isto à sua igreja.

No seu encontro com Pedro durante a tempestade do mar, ele diz a Pedro: “Homem de pequena fé, porque duvidaste?” (Mt 14.31). Leia cuidadosamente o Evangelho e veja quantas vezes Jesus censura seus seguidores por aquele que parece ser o maior pecado: A incredulidade. Tim Keller afirma que este é o pecado por detrás dos outros pecados. Os discípulos descriam do seu poder e da sua palavra.

Aplicação:

Quantas vezes olhamos desesperados para nossa pobre realidade espiritual. Como superar as lutas interiores: dúvidas, desânimo, tristeza, medo, ansiedade, insegurança? Como vencer o pecado, quando o prazer do pecado é maior que o prazer de servir a Deus e honrá-lo? Como sermos fervorosos se qualquer coisa parece ser mais atraente e convidativa que a adoração e a devoção?

O que está acontecendo conosco?

Qual é o problema da igreja de Cristo, envolvida em tantos escândalos morais, um povo anêmico, disperso, distraído?

Ao comparar o quadro da igreja primitiva e o nosso, antes do pentecoste, diria: Na verdade nada mudou. Estamos na mesma situação de pobreza e debilidade espiritual. O que nos falta é poder que nos capacite a viver a vida que Deus planejou para nós. Uma vida de vitória e ousadia, de servir e adorar realmente ao Senhor.

Somente o poder do Espírito Santo, derramado no Pentecoste, pode livrar a igreja da letargia, indiferença e pobreza espiritual que temos vivido.

O profeta Isaias ora fervorosamente ao Senhor:
Ah, se rompesses os céus e descesses! Os montes tremeriam diante de ti!
Como quando o fogo acende os gravetos e faz a água ferver, desce, para que os teus inimigos conheçam o teu nome e as nações tremam diante de ti!
Pois, quando fizeste coisas tremendas, coisas que não esperávamos, desceste, e os montes tremeram diante de ti.
Isaías 64.1-3

Não deveria ser este o nosso clamor nestes dias áridos que temos vivido?

Ao nos depararmos com a dura realidade da igreja cristã nos tempos apostólicos, passamos entender porque o Pentecoste é tão necessário.

Isto responde à pergunta proposta: 
Pentecoste para que?

Sem Pentecoste não há vida plena. Vive-se aquém da vida de Cristo. Nada é tão urgente em nossos dias que um derramar pleno do Espírito Santo sobre nossas vidas, quer seja no plano pessoal, no plano comunitário: a igreja da qual fazemos parte, e no plano secular: Na sociedade secularizada e distante de Deus. Em todas estas situações ficamos com o clamor do profeta Isaias Ah, se rompesses os céus e descesses!”.

As coisas não precisam ser como são. Há uma vida de fonte incontável de poder, este lugar onde jorra a vida plena de Deus. Oh Deus, ajuda-nos a encontrar este lugar e saciar a sede mais profunda de nossa alma, por sentido e valor!

A Bíblia demonstra que Pentecoste é a maior força do mundo!

Como observamos, antes do derramamento do Espírito, a realidade da Igreja Primitiva também não era tão positiva. Uma série de fraquezas estavam estampadas na vida dos apóstolos, era visível o exclusivismo, o egocentrismo, o segregacionismo, a falta de coragem e de fé. Para que uma mudança radical acontecesse, só mesmo uma obra excepcional. O que aconteceu com a vida destes homens que alterou seu modo de viver? Nada menos que a experiência do Pentecoste. Ali encontramos o marco diferencial da vida cristã. Existe uma Igreja antes e outra depois do Pentecoste. 

Vejamos algumas destas marcas:

1.     Entenderam claramente a mensagem – A realidade da morte de cristo, sua pessoa, seu papel e sua missão, só foram clarificados na mente dos discípulos depois do pentecoste. É assim que vemos agora um ousado Pedro se levantando, diante de uma multidão, para explicar aquilo que teólogos atuais gastam compêndios para dizer. Pedro descreve agora quem era este Jesus. Mostra sua singularidade. Um homem que viveu como nenhum outro homem viveu, morreu como nenhum outro homem morreu, ressuscitou como nenhum outro ressuscitou e tem poder, acima de outros nomes. (At 2.22-36). Pedro faz um tratado teológico sobre a pessoa de Cristo.

Como isto se tornou possível?

Uma nova realidade espiritual a partir da obra do Espírito Santo, clarifica sua mente, todas a dúvidas que anteriormente possuía sobre aquilo que ele mesmo havia professado: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

 2.     Passaram a exercer autoridade espiritual – Aqueles discípulos frágeis, acuados, enfrentam tribunais que tinham o poder de tirar suas vidas. O poder na vida destes homens torna-se manifesto nos sinais e curas. Uma olhada superficial nos revela como o poder de Deus estava sobre estes homens. Eles tem autoridade sobre demônios e sobre enfermidades. Milagres e prodígios eram feitos pelas mãos dos apóstolos. Realidades excepcionais aconteceram por meio deles e a despeito deles.

Há uma nova disposição e uma nova autoridade sobre estes homens anteriormente frágeis. Pedro ordena a um coxo para que se levante em nome de Jesus em Atos 3, e a leitura de Atos será inteiramente marcada por uma igreja orientada pelo Espírito de Deus (At 5.16; 16.18; 19.12; 26.18).

3.     Aprenderam a servir – Se antes vemos uma igreja em busca de posição social, reconhecimento humano, agora vemos uma igreja com disposição de servir. Antes queriam tudo e não tinham nada, agora nada buscam e tudo possuem.

Temos agora uma comunidade de serviço, abnegada e solidária. A fraternidade chega a um ponto que pessoas se sentem motivadas a vender suas propriedades e entregar tudo para a obra do Senhor. Todas os bens tornam-se comunitários, sem competição, luta pelo poder, marcada pela generosidade e doação (At 4.32). Quando surge murmuração, decidem da forma mais radical possível, eleger sete diáconos dentre o grupo reclamante. Como a reclamação vinha da comunidade helênica, eles resolvem eleger sete diáconos e todos curiosamente gregos. Nesta comunidade não há lugar para uma agenda suspeita.

4.     Tornaram-se receptivos aos diferentes e excluídos -  Antes encontramos um grupo de discípulo se sentindo ameaçado e formando um clubinho exclusivista, mas o Espírito Santo capacita esta igreja a uma visão que vai muito além de si mesma. Os samaritanos, até então odiados pelos judeus, são agora inseridos e aceitos na comunidade cristã. A Igreja chega até mesmo convocar um concílio para tratar do assunto (At 15.7-9).

O mesmo acontece com aqueles que não eram judeus, a saber, os gentios. Desce dos céus o lençol das mudanças. O muro da inimizade foi desfeito. Não há mais distinção entre gregos e judeus, entre mulheres e homens. Os gentios também passam a fazer parte formalmente da igreja recém instalada (At 19.1-9). A igreja trata a questão da inserção comunitária de forma madura e amorosa. Existem outras ovelhas, não deste aprisco, que precisam ser alcançadas pela graça de Deus.

5.     Passaram a doar, ao invés de fazerem exigências pessoais – De uma igreja que buscava posição, vemos agora uma igreja disposta a doar. É assim que em At 2.42. “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum”.

A igreja vive a dimensão de uma comunidade solidária. Antes estavam interessados em saber qual posição assumiriam na glória de Cristo, agora, estão dispondo seus bens e suas vidas para que Deus use como desejar. Não eram mais os mesmos homens. Suas prioridades, focos, projetos, deixaram de ser para auto promoção e passaram a existir para a glória do Senhor e serviço.

Os cristãos entregam tudo que possuem “...porquanto, os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes” (At 4.34). Eles não precisavam vender suas propriedades, contudo, decidem vendê-las para doarem. Esta norma não era requerida do discípulo de Cristo e nem foi requerida em nenhuma outra época da história, mas tal atitude demonstra o desapego individual e o desejo de colocar seus bens a serviço do reino de Deus. Só o Pentecoste seria capaz de gerar tal sentimento no coração daqueles homens que se mostraram tão individualistas e vaidosos.

Eles se tornam fraternos e solidários. Tinham tudo em comum. “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía, porem, lhes era comum”  (At 4.32).  

6. Assumiram corajosamente o desafio de seguir a Jesus – Logo após a cura do coxo de nascença à porta do templo de Jerusalém, a situação dos discípulos assume alto risco. Enquanto pregavam, a liderança religiosa judaica envia os soldados para prendê-los. Pedro e João são arrestados. No outro dia, diante do Sinédrio judaico são arguidos, ameaçados e soltos, recebendo ordens de não mais falarem de Jesus (At 4.5-22).

O que fazem diante das ameaças? Antes de mais nada, se reúnem e oram. O conteúdo da oração é surpreendente, porque em nenhum momento pedem para as tribulações e perseguições acabem, nem para que houvesse livramento, mas o que eles pedem é que Deus lhes dê intrepidez para pregar a mensagem da ressurreição de Cristo, e continuar manifestando seu poder na história. Eles não estão preocupados com suas próprias vidas, antes anseiam que a glória de Deus e a mensagem seja propagada. Não é de admirar que, depois disto, o lugar onde estavam reunidos tremeu. Com orações como esta a terra treme. (At 5.23-31).

Aqueles homens não temem pelas suas próprias vidas. O que estava em jogo não era se continuariam vivendo ou não, mas que a mensagem do Evangelho pudesse ser conhecida à nação judaica e aos confins da terra. Eles assumem este projeto até à morte. E logo em Atos 7, teremos a morte do primeiro mártir cristão. Estevão é julgado e apedrejado, mas em nenhum momento retrocedeu nas suas convicções. Esta seria a marca da igreja primitiva.  A igreja se torna corajosa e ousada.   

7. Tornaram-se profundamente convencidos de sua fé – Esta convicção interior lhes dá a intrepidez necessária para continuar pregando a mensagem de salvação.

No dia do Pentecostes Pedro prega a uma multidão de três mil pessoas, isto se deu 50 dias depois da morte de Jesus (At 2.14), Sua convicção foi tão tremenda que 3.000 pessoas aceitaram a fé. Pedro prega um sermão e três mil se convertem, enquanto nós pregamos 3000 sermões e nenhuma alma se rende a Cristo. As pessoas são convencidas quando também estamos convencidos e apaixonados pela mensagem que pregamos e o fazemos debaixo do poder do Espírito de Deus.

Em Atos 3, Pedro prega na entrada do templo, e em seguida um paralítico é curado. Ele não fez campanha de cura, nem perguntou se o homem tinha fé. Simplesmente ordenou e ele se levanta imediatamente, os pés e tornozelos se firmam e com salto se põe de pé, começa a andar e entra no templo saltando e louvando a Deus. Em Atos 4, Pedro defende sua fé diante do Sinédrio, e o faz sem titubear. Em Atos 7 Estevão faz a defesa de sua fé com autoridade, anunciando Jesus até sua morte por apedrejamento. Em Atos 8 com a chegada da perseguição mais sistemática ocorre a dispersão, mas eles pregam em todos os lugares.

A Palavra de Deus estava muito clara na mente deles. Sua forte convicção os levava a uma vida de pregação e testemunho.

Conclusão:
Ao considerarmos estas coisas, compreendemos que temos diante de nós a realidade de uma igreja antes e depois. O que fez a grande diferença? Este poder que vem do Alto, como Jesus anunciou que aconteceria.

Há uma grande diferença entre viver a vida cristã sob o impacto do Espírito e viver sem este batismo de poder e fogo.

Vazio nao prego, não...
Tive a alegria de conhecer um homem rude, que fora maquinista da Vale do Rio Doce, que transporta minério de ferro de Minas Gerais até Vitória. Ele se aposentou cedo e se mudou para a cidade de Gurupi-TO, vindo a se tornar um grande amigo de meu pai. Ele amava a Deus e era fiel à Palavra. Anos depois de sua morte, ouvi o relato de um episódio de sua vida como crente novo na fé. Ele aceitou o evangelho com grande alegria, e logo queria estar pregando a palavra, e pediu ao pastor para que o deixasse pregar. O pastor, prudente e cautelosamente, permitiu que ele pregasse num dos cultos familiares na cidade de Governador Valadares onde morava. Ele começou a pregar, usando a analogia do seu trabalho, afirmando que “todo crente deveria ser como um trem, andando na linha”, sem grande capacidade de oratória, saltou imediatamente para uma segunda ilustração afirmando que o crente deveria ser como a hortaliça que recebe a seiva da terra e cresce sendo nutrida com o adubo e regada com a água. Depois disto ele olhou para um lado e para o outro, sem saber mais o que dizer, e decepcionado consigo mesmo disse timidamente: “vazio eu não prego, não!”

Embora seja um episódio simples e até engraçado, o fato é que muitos de nós queremos continuar nossa vida cristã sem a ação do Espírito, e o resultado é fracasso. Vazio não dá prá continuar.

Parla, parla!!!
Outro exemplo conhecido da história.
David é uma das esculturas mais famosas do renascentista MichelAngelo Buonarotti. É a estátua de um homem jovem, em pé, feita de mármore da carrara branco, corpo bem definido, despido e com cabelos encaracolados. O trabalho retrata o herói bíblico com realismo anatómico impressionante. A escultura encontra-se em Florença, Itália. MichelAngelo levou 3 anos para conclui-la (1501-1504). Conta-se que depois de terminar seu trabalho, o artista extasiado teria batido nela com o martelo e gritado: “Parla, parla!”(fala, fala!), no entanto, a escultura permaneceu muda, porque nela não havia vida. (Obs. Este relato é atribuído por muitos na internet, à conclusão da obra “Moisés”, feita pelo mesmo artista. Provavelmente nunca saberemos ao certo se a história é autêntica, e com qual obra isto teria acontecido).

Qual o problema daquela escultura? Por mais perfeita que fosse, faltava-lhe a essência. Faltava-lhe vida. A Igreja Primitiva tinha conhecimento de que algo maravilhoso, a ressurreição, havia acontecido, mas nem este portentoso evento foi capaz de tirá-la da timidez e do medo, por isto se esconderam, e trancaram as portas da casa onde estavam, com medo dos judeus (Jo 20.19). Tinham as informações, mas não tinham o poder. Esta é exatamente a situação de nossa vida ainda hoje. Conhecemos as verdades, sabemos quem Cristo é, mas isto não nos transforma em pessoas despojadas e corajosas. Falta o poder do Alto.

A grande constatação que fazemos é que, “Não são as nossas promessas a Deus, mas sim as promessas de Deus a nós, que podem mudar as nossas vidas, portanto, prometa mais e entregue mais, pois a confiança é proporcionalmente medida pela entrega” (Autor desconhecido).


Christ the King Presbyterian Church

Boston, 8 de Maio/96
refeito, Dezembro 2017