sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

At 3.11-26 Pela fé no nome de Jesus



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Introdução:

Este é o primeiro milagre que Jesus faz através da sua igreja. Antes disto, seus discípulos o viram realizando muitos milagres e prodígios, mas este é o primeiro milagre feito pela autoridade de Cristo através de seu povo. O primeiro milagre realizado pela fé em seu nome.
Certamente foi um milagre estrondoso. Aquele homem era conhecido de todos. “...e se encheram de admiração e assombro, por isso que lhe acontecera” (At 3.10). Um coxo, incapaz de andar, vê seus pés e tornozelos se firmarem e de um salto se põe em pé, entra com eles no templo, saltando e louvando a Deus (At 3.7-9).
A Bíblia afirma que aquele homem “se apegou” a Pedro e João. Literalmente ele pegou nos braços destes homens com firmeza. As pessoas estavam cheias de comoção, há um senso de sacralidade presente, “eles se encheram de admiração e assombro” (At 3.10). Gosto muito desta palavra, que também é traduzida por espanto. A Igreja primitiva tinha este senso da sobrenaturalidade. “Em cada alma havia temor” (At 2.43). Uma tradução mais antiga afirma que “em cada alma havia espanto.” Quando perdemos este senso de “algo mais”, de uma presença real de Deus, uma dimensão muito importante de nossa fé está se esvaindo. Quando o milagre aconteceu, as pessoas entenderam que algo especial estava acontecendo, e isto os deixou assombrados, no bom sentido da Palavra.
Pedro, então, se dirige ao povo carregado de admiração (At 3.12).

No seu sermão, ele faz duas considerações:
Primeira, Por que vocês estão admirados? “Por que vos maravilhais disto?” (At 3.12). Ele está simplesmente afirmando, que não entendia porque o povo de Deus age de forma miraculosa entre eles. Se existe um Deus real, milagres reais não podem nos deixar surpresos. Afinal, Deus é Deus.
Então, Pedro tenta mostrar-lhes que eles deveriam saber que tipo de Deus é o Deus a quem adoravam. Ele já havia agido tantas vezes na história, de forma sobrenatural que eles deveriam estar conscientes disto.
Este é um dos aspectos que mais me desafia, mesmo depois de tantos anos anunciando o evangelho. Por que nos admiramos quando Deus age de forma tremenda? O sobrenatural deveria ser algo que esperamos sempre. Por que, de alguma forma tão incrédula, nos admiramos tanto quando Deus faz? Acaso o seu braço se encurtou? Deus deixou de ser Deus? Existe alguma coisa demasiadamente difícil para Ele? Nós deveríamos estar conscientes de que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, é o Deus que age, intervém e é Senhor da história?
Lamentavelmente somos um povo que temos dificuldade de crer em um Deus que age na história. Por isto também temos dificuldade em crer que algo sobrenatural aconteça, que Deus se manifeste na nossa vida. Esta atitude é chamada em teologia de “secularismo”. Ele afirma sutilmente que Deus agiu mas não age mais, que Deus se aposentou. Fez mas não faz mais.

Segunda, Por que vocês tiram os olhos de Deus e colocam em nós? “Por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” (At 3.12)

Pedro questiona aqueles homens que como em nossos dias, tem a mania de se esquecerem de Deus e darem glória aos homens, tirando o olhar de Deus e colocando-o nas pessoas.  Pedro observa que eles estavam criando um senso de reverência não a Deus, mas àqueles a quem atribuíam poderes miraculosos, como se tivessem mágicos poderes.

Pedro então prega uma mensagem para os judeus que, como nós, conhecem teologia, tinha acesso ao Antigo Testamento e viram como Deus agiu, sabiam muitas coisas sobre a ação de Deus na história, mas não conseguiam aplicar e vivenciar este Deus em suas vidas, por isto fala-se muito hoje da necessidade de evangelizar novamente a igreja, porque muitos no meio dela, parecem ter perdido a fé viva em um Deus vivo.
Pedro, então, baseado no conhecimento do seu público, prega um sermão memorável. Ele organiza seu sermão em três verdades sobre Deus e os homens:

1.     O pecado precisa ser denunciado - Pedro começa demonstrando a culpa do povo – Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida”. (At 3.14).

Psicólogos modernos afirmam que a pior coisa que podemos fazer quando tentamos ajudar alguém é que se sentam culpados.
Temos uma geração enfrentando um grave problema: Não há culpa, não há responsabilidade. Tudo se explica com uma nova doença, um novo diagnóstico, e as terapias mais mirabolantes tentam tirar a responsabilidade do homem naquilo que ele faz. Existe todo um catálogo de novas doenças, e ninguém mais é responsável por nada.

O que rouba é cleptomaníaco.
O desequilibrado, é borderline,
O mau humorado e grosso é “bipolar?”
A pessoa desatenta e negligente tem déficit de atenção
A preguiça virou depressão.
O depravado sexual é obsessivo-compulsivo
vício é doença

A regra é: Ninguém pode ter culpa.
Eu tenho pavor desta mania moderna de “nomear”. Esta “nomeação”, justifica, explica, mas não transforma o ser humano porque não o confronta nem o chama à responsabilidade.
A realidade, porém, é que temos culpa real e precisamos de arrependimento e perdão real. Ninguém cresce se justificando e se explicando, crescemos quando reconhecemos a necessidade de mudança, confessamos e nos arrependemos. Crescemos quando entramos em contato direto com o nosso mal e o admitimos.

Pedro afirma sem hesitação que eles eram culpados pelas coisas que aconteceram. “O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas”(At  3.13-15).

Pedro coloca os fatos na mesa. O cristianismo sempre se sustenta sobre fatos. Observe os contrastes entre os atos de Deus e os atos dos homens:

a.     Deus glorificou seu servo Jesus, mas vocês o entregaram para ser crucificado;

b.     Vocês que conhecem a Deus, entregaram Jesus nas mãos de um governador pagão, Pilatos, que apesar de nada conhecer de Deus, o inocentou, e ainda assim, vocês que conhecem as profecias e as promessas feitas por Deus através dos profetas, o negaram;

c.     Vocês negaram o Santo e Justo, e preferiram soltar um homicida. Mataram o “Autor da vida”, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos.
Todos estes fatos, diz Pedro, são atestados por testemunhas. “Nós somos testemunhas” (vs 15).
A fé cristã está sempre fundamentada em fatos. Não é uma religião de ideias, ou esperança sentimentalista, mas de fatos que podem ser atestados pelas testemunhas como as provas documentais diante da lei. É assim que a justiça trabalha, sobre fatos. Pedro afirma que a ressurreição de Cristo era incontestável, ninguém poderia negá-la.
Na verdade, o primeiro argumento de toda mensagem cristã é confrontar a mentira, ilusão e fantasia que o homem tem sobre os fatos, o evangelho tem que nos trazer de volta a realidade. A verdade, muitas vezes é dura porque confronta mentiras que criamos sobre os fatos e sobre nós mesmos. O nosso mundo tem sido governado por ilusões. O carnaval atesta isto muito bem. A falsa liberdade e falsos conceitos que governam nossa cultura revelam a mentira que os homens querem criar sobre a vida e sobre si mesmos. por isto Jesus inicia seu ministério dizendo: "Arrependei-vos e crede no Evangelho". 
Naturalmente a culpa é uma força destrutiva nos seres humanos, e ninguém pode viver dominado pela culpa, mas a característica fundamental da humanidade é o senso de culpa, que gera perturbação, infelicidade, e que nos leva imediatamente a procurar novas emoções. Culpa produz medo e nos leva a esconder, como uma criança descoberta num erro pelo pai, ou como Adão fez diante de Deus.
A culpa pode nos mover em duas direções:
A.    Escapismo – O homem foge e tenta se esconder. O escapismo logo se torna desespero, porque se você se esconde da vida, ela se torna sem sabor e sem cor. Fugir da "inevitabilidade terrível de tudo". Por causa da culpa não trabalhada, uma geração inteira tem tentado se esconder por meio das drogas, sexo, e outros canais possíveis como o excesso de trabalho e o entretenimento. O apego ao celular, certamente revela esta necessidade de se esconder. Afinal, “depois do celular, ninguém está mais inteiro em lugar nenhum”. O resultado disto é o desespero que se torna uma força destrutiva da humanidade. Busca-se o desligamento afetivo, que gera auto destruição.

B.    Hostilidade – Este é o outro caminho: ressentimento, amargura e ira. Ressentimento produz hostilidade, por isto esta geração é tão violenta e destrutiva. O resultado é sempre o mesmo: profundo senso de culpa e medo, trazendo destruição de uma forma ou de outra.
Assumir a responsabilidade pelo pecado, confessar e arrepender, porém, é apenas o primeiro lado. Se pararmos no pecado, não encontramos libertação nem cura.

2.     A resposta de Deus à culpa humana - E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” (At 3.16).

Depois de denunciar a culpa, Pedro fala do perdão. Apenas o cristianismo reconhece a culpa real, e somente ele fala do perdão real. Só quem pecou pode ser perdoado. Negar a culpa traz um sentimento difuso e confuso na alma. Experimentar profundamente o perdão é a única resposta possível à culpa humana. Pedro fala da resposta que Deus dá à culpa humana.
Este paralítico faz parte da humanidade culpada, não porque tivesse feito algo que tivesse causado a paralisia, e sim porque sofria o efeito da doença. O que Deus fez? Deus o fortaleceu, e lhe deu, perfeita saúde. É desta forma que Deus demonstra seu perdão e reage ao pecado e à culpa humana. Ele reage em graça e amor, restaurando, restituindo a integridade física, pelo nome de Cristo. Pela fé em Cristo, podemos ser curados. Olhe para ele. Aquele homem olhava para os apóstolos, mas Pedro afirma que sua cura viria no nome de Jesus. Apenas o poder e a autoridade de Cristo podem restaurar a vida de um homem incapaz de andar.

E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes. Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio” (At 3.17-21).

Deus vê a atitude humana como um ato de ignorância e cegueira – “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância”.

Esta é a visão que Deus tem da raça humana caída. Foi isto que Jesus declarou na cruz: “Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). Talvez em nenhum lugar da Bíblia veremos uma afirmação que demonstre tanto como Deus vê os seres humanos: ignorantes, cegos, andando nas trevas, sem saber o que fazer.
O ser humano se equivoca, toma rotas erradas, nega a Deus, ignora os sinais, faz confusão na sua vida, como declara Eclesiastes: “Eis o que tão somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29). Quantas vezes já ouvi pessoas dizendo: “eu não sabia o que estava fazendo!”
A verdade é que nossos esforços sinceros e boa vontade não são suficientes para que nossa vida seja dirigida com sabedoria. Longe de Deus estamos sempre causando desordem. Mas quando enxergamos isto de forma clara, significa que nosso orgulho caiu por terra, e que não mais ignoramos nossas fraquezas. É exatamente nestas horas que Deus começa a agir de forma poderosa. Quando nos deparamos com nosso fracasso e o admitimos. A tristeza segundo Deus, produz arrependimento e vida.

Aqui nos deparamos com a mensagem central das Escrituras: A graça de Deus.
Em Jesus acontece o cumprimento profético: “mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer” (At 3.19). A realidade da raça humana, ignorante e cega, não surpreende Deus. Jesus veio exatamente para isto, para morrer pelos nossos pecados.

3.     A necessidade de arrependimento – Agora Pedro anuncia a importância de responder à graça de Deus que nos foi manifestada em Cristo. “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor“ (At 3.19).

O Arrependimento desemboca em três grandes bênçãos:

a)- Pecados perdoados – “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados”.

Esta é a primeira promessa. Toda vez que houver verdadeiro arrependimento da verdadeira culpa, haverá verdadeiro perdão, pelo sangue de Jesus.

Esta é uma das maiores promessas do evangelho, e uma das mais difíceis de crer. Satanás não quer que você creia nesta verdade, que seus pecados são perdoados através de Cristo. Muitas pessoas ainda estão tentando fazer algo para serem perdoadas, talvez se auto condenando, acusando outros, se justificando, mas o que nos torna aceitáveis e limpos diante de Deus é o sangue do Cordeiro. A fé no nome de Jesus nos dá saúde perfeita.  A solução está na fé em Cristo.

b)- Tempos de refrigério- “...e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor”.

Não é possível ter descanso e refrigério na alma, quando estamos sobrecarregados pela culpa e auto-condenação. Por isto Jesus, surpreendentemente ao ver o paralítico que desceu do eirado até o lugar onde eles estava, olhando para ele lhe disse: “Perdoados estão os seus pecados!” Os homens se admiraram, eles devem ter dito: “Não o trouxemos para isto, e sim para ser curado fisicamente”, mas Jesus, que conhece a natureza humana, deve ter olhado para aquele homem e visto o quanto ele estava sobrecarregado com o senso de culpa, rejeição e condenação que sentia por não poder andar como os outros homens.
O perdão de pecados, o sentimento de que somos perdoados por Deus e aceitos diante dele, nos traz tempos de refrigério. Deus me perdoou, não sou mais culpado. Que noticia pode ser melhor que esta? Por isto, depois do perdão vem o tempo de paz e prosperidade, quando a alegria de Deus se manifesta em nós. Isto acontece quando pessoas se voltam para Deus, em arrependimento, e descobrem que seus pecados foram “cancelados”. A Bíblia não diz que você não tem pecado, mas que eles foram pagos. “Tudo está pago!”, foi esta a afirmação de Jesus ao Pai. Não há mais culpa, não há mais condenação. “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.1)

c)- A manifestação escatológica e final de Cristo -  E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio”(At 3.20-21).

Pedro está olhando para o curso de toda história da humanidade até a sua consumação. Deus está preparando um grande evento escatológico. A volta de Cristo! Isto acontecerá, quando Deus enviar novamente Jesus, para restaurar todas as coisas. O perdão de pecados, inicia este novo tempo, de restauração, de saúde perfeita, como Deus fez neste grande sinal operado na vida do paralitico. Este milagre é o sinal que aponta para algo muito maior: a restauração final de todas as coisas em Cristo Jesus.


Conclusão

O mundo se encontra em desespero, culpa e medo. O arrependimento é o caminho pelo qual Deus deseja iniciar um novo tempo na história individual e coletiva. Pedro argumenta com os judeus dizendo: “vocês conhecem as profecias, e ao ressuscitar Jesus, Deus deseja abençoar a humanidade e nos apartar da iniquidade" (At 3.26). A obra de Deus em Cristo tem o propósito de nos livrar do peso da condenação, do pecado, da culpa e da iniquidade.

A obra de Deus em nós não se inicia perifericamente, na resolução dos problemas que estão na superfície, no nosso senso de culpa e inadequação, mas o propósito de Deus é perdoar, trazer tempo de refrigério para a alma inquieta e perturbada, e nos apartar da iniquidade, que nos tem dirigido tantas vezes.
Tudo isto só pode ser feito em nome de Jesus, e pela fé em Cristo.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Nm 11.4 O populacho estava no meio deles


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Introdução:

Quando o povo de Deus sai do Egito, a bíblia registra que eram cerca de seiscentos mil a pé, somente homens, sem contar mulheres e crianças (Ex 12.37), portanto, estima-se cerca de 2 milhões de pessoas. Ao olharmos atentamente o texto, vemos ainda uma informação, quase como nota de rodapé que diz: “subiu também com eles, um misto de gente, ovelhas, gado, muitíssimos animais” (Ex 12.38). No livro de Números, diz ainda: “E o populacho que estava no meio deles, veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios” (Nm 11.4).

Quem é este “populacho”, ou “misto de gente”? Podemos pensar em várias categorias.

Provavelmente havia um grupo de egípcios convertido e temente agora ao Deus de Israel, que assumiu a fé judaica e cria nas promessas dadas a Abraão e que decidiu acompanhar o povo de Deus. Outro grupo, certamente era dos aparentados. É de se supor que muitos casamentos mistos tivessem acontecido entre o povo de Israel e os filhos do Egito. A fé judaica ainda não havia sido instituída e muitos judeus, estavam completamente imergidos na cultura egípcia. Podemos imaginar também o contrário, que muitos judeus ficaram para trás por causa de laços familiares. Os judeus já estavam no Egito a mais de 400 anos. É muito tempo para que o sincretismo cultural e religioso, por mais fechado que fosse o grupo, tivesse acontecido.
No meio deste populacho, estavam os curiosos, intrigados com os últimos acontecimentos e os aventureiros que queriam novas oportunidades e decidiram sair de casa e rodar pelo mundo afora com um bando de ciganos e saltimbancos.
O problema, em todos estes casos, é que este misto de gente, tinha valores relativos, com pouco ou nenhum conhecimento do Deus de Israel, sem claras convicções espirituais, mas que, de alguma forma, por alguma conveniência, decidiu andar com o povo de Deus e se imiscuir no processo de saída do Egito.

Qual foi o resultado deste sincretismo?
Em Nm 11.4 lemos: : “E o populacho que estava no meio deles, veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios, pelo que, os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer?
A influência deste “misto de gente” e do “populacho” no meio do povo de Deus, desencadeia uma grave crise. A murmuração contagia, e sua incitação e rebeldia, atinge os judeus em cheio.  

O que podemos aprender disto?
Primeiro, no meio do povo de Deus vamos sempre encontrar o povo sem Deus, que gosta do Egito, tem atração pelo mundo, saiu geograficamente do Egito mas o Egito não saiu deles. O coração, os desejos, as aspirações e disposições ainda são mundanas. Isto pode ser exemplificado pelo jovem da igreja que tem disposições mundanas, seu coração não é convertido e por isto tem atração pelo pecado, faz provisão e nutre sua carne, não anda no Espírito Santo, não possui desejo de santidade, porque não possui um coração regenerado, mas que ainda está frequentando socialmente a igreja. Sua alma não se inclina para as coisas de Deus, como afirmou Paulo: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Jesus afirmou: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito, é Espírito”.
Apples and Oranges” é uma comparação na língua inglesa que ocorre quando duas coisas na prática, não possuem qualquer correlação por serem absolutamente incompatíveis. “Maças e laranjas”, portanto, refere-se a aparentes diferenças que são incomparáveis ou inegociáveis.  Assim é a pessoa nascida de novo que é controlada pelo Espírito e aquela que ainda é dominada pela sua carne.
O populacho é o povo sem Deus, andando com o povo de Deus. Caminhando com aqueles que aspiram a terra prometida, a Canaã Celestial, mas que nunca quiseram, de fato, romper com o Egito e sair do domínio de Faraó.

Segundo, o povo sem Deus influencia negativamente o povo de Deus. O texto de números revela de forma clara que “o populacho veio a ter grande desejo das comidas dos Egípcios, pelo que, os filhos de Israel, tornaram a chorar, e também disseram”.
O que vemos aqui?
Uma parte significativa do povo de Deus já tinha certa predisposição de retroceder, e agora, influenciados pelo misto de gente, também desejaram o Egito. O populacho influenciou negativamente o povo. Não é isto mesmo que nos ensina as Escrituras: “Não sabeis que um pouco de fermento levada a massa toda?” (1 Co 5.6). E ainda, “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). Sugestões malignas podem fazer um grande estrago na alma do povo de Deus.
Quantas casais enfrentando crises, ouvem conselho deste misto de gente que anda no meio da igreja? Quantas famílias, por darem ouvido, se distanciaram do Senhor e tiveram sua fé contaminada? Sugestões malignas podem vir de pessoas dentro da igreja, incitando-nos a hesitar na caminhada de fé e a desejarmos voltar para o Egito, a terra da servidão.
É a influência do populacho, do misto de gente que sobe do Egito com o povo de Deus.

Terceiro, nem todos que caminham conosco, defendem a mesma fé e aspirações espirituais.
O apóstolo Judas escreveu na sua carta: “O Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o do Egito, destruiu, depois, os que não creram” (Jd 1.5). Este texto nos revela que haviam não poucos descrentes no meio do povo, apesar de todos os sinais e maravilhas que viram. Judas continua: “estes são... como rochas submersas em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos, sem qualquer recato...os tais são murmuradores, descontentes, andando segundo as suas paixões” (Jd 1.12,16).
Viram o tamanho do problema?
Não creem, mas andam conosco, vão para as festas da igreja, encontro de casais, participam de acampamentos, de cultos, comem churrasco conosco, e, lamentavelmente, até se tornam líderes e...pastores. Estas pessoas estão andando conosco, sem qualquer recato. É o populacho, a força do sincretismo, gente que deveria estar no Egito, assumindo sua identificação com as trevas e com o mundo, mas caminha com o povo de Deus, recebendo status de crente, cacuete de crente e jeito de crente, mas ainda assim, pagão.
Num nível ainda mais trágico, muitos deles se tornam mestres, assumindo posição de liderança, influenciando toda a vida da igreja. “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos, repentina destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade” (2 Pe 2.1-2).
O populacho está plenamente identificado com o povo de Deus, veste as mesmas roupas, frequenta os mesmos lugares, ainda que espiritualmente seu coração esteja longe, permeado pela influência do mundo. Por alguma conveniência ele até gosta do ambiente da igreja, mas não é regenerado, não nasceu de novo, não deixou o mundo. As fantasias e obsessões do Egito ainda norteiam seus desejos.

Quarto aspecto a ser considerado, também assustador. Quase nada pode ser feito. Esta é a armadilha do sincretismo.  As aparências confundem e se fundem.

Jesus contou a parábola do joio e do trigo para exemplificar isto.” O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do maligno; o inimigo que semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, os ceifeiros são os anjos” (Mt 13.38-39).

Ele afirma que a semeadura dos filhos das trevas foi feito, à noite, pelo inimigo, e os servos quando viram que algo estava estranho com a lavoura, perguntaram ao seu senhor: “Queres que vamos e arranquemos o joio?”. A pergunta possui um pragmatismo explícito. A impaciência e o desejo de extirpar o joio é um perigo! Por isto Jesus diz: “Não! Para que ao separar o joio, não arranqueis também, com ele, o trigo” (Mt 13.29). comunidades que se acham zelosas demais, correm o risco de, inconscientemente, destruir preciosa colheita do trigo.
O joio é similar, suas folhas são parecidas, por isto ele é tão devastador no meio da colheita, porque despontencializa a terra, levando preciosos nutrientes e enfraquecendo as raízes do trigo, mas quase nada pode ser feito.

Quero destacar duas verdades nesta parábola:

A.     A semeadura do joio é eficiente. Jesus fala de feixes. Não é apenas de uma semente isolada. Há muito joio no meio do trigo, em número suficiente para fazer uma boa fogueira;

B.     O resultado destas duas sementes é absolutamente oposto, por isto, na hora da colheita se torna fácil saber quem é quem. “No tempo da colheita, direi aos ceifeiros”. Quem dará ordem na colheita é o próprio Senhor Jesus. Ele dirá! A ordem e o julgamento virá de Jesus. Portanto, deixe Deus julgar!


O risco do Legalismo

Se é certo analisarmos os perigos que o joio representa para a igreja, precisamos entender que muitas achamos que os problemas estão fora de nós, e que não nos dizem respeito. O resultado disto é a atitude de julgamento, farisaísmo e legalismo. A Bíblia nos convida a olharmos para nós mesmos. "Vê se há em mim algum caminho mal e guia-me pelo caminho da justiça". 
Não é muito difícil encontrar o pecado do outro, mas olhar para dentro de nós mesmos e depararmos com a realidade bruta de nosso pecado nunca é fácil.
Paulo afirma em Romanos 11.17-22 que nós somos o populacho, a "oliveira brava" que foi enxertada na santa semente. Nós somos os gentios, aqueles que não são o Israel de sangue, geneticamente dizendo. Apesar disto, por meio do sangue de Cristo, Deus nos adotou e nos inseriu no Israel de Deus (Gl 6.16). "Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura" (Gl 6.15). O que nos diferencia é a regeneração, operada em nós pelo Espírito Santo.
Portanto, nós somos o populacho, o misto de gente. admitido agora com plenos direitos na Nova Aliança. Jesus nos fez participar desta santa oliveira.
"Não te glories contra os ramos" (Rm 11.18), porque os ramos originais foram quebrados pela incredulidade, portanto "Não te ensoberbeças, mas teme. Porque se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará" (Rm 11.20b;21). Viva com santo temor e gratidão, por ter sido aceito por Deus e acolhido no meio do seu povo.

Conclusão:

O populacho e o “misto de gente”, encontra-se aí, confundindo-se, imiscuindo-se, envolvidos, andando no meio do povo, dando a impressão de que sonham com a Terra prometida, mas o coração deles é do Egito, ainda são controlados pelos desejos de Faraó.

Muita murmuração e contenda surge no meio do povo de Deus, por causa deste emaranhado de gente, que caminha no meio da igreja. Apesar do desejo nosso de fazer a colheita antecipadamente do joio, Deus não nos autoriza.

No dia certo,
na hora certa,

Jesus dirá aos ceifeiros o que deverá ser feito.