segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

2 Tm 4.6-18 Retrospectiva



Introdução:

O grande atrativo dos programas midiáticos do final de ano é a “retrospectiva”. Revistas, jornais e programas de televisão se concentram em relembrar os episódios mais marcantes do ano. É hora de olhar para trás e considerar aquilo que foi de mais relevante, seja isto dolorido ou não, negativo ou positivo.
Parece que no final desta segunda carta que o apóstolo Paulo escreve a Timóteo, ele está fazendo análise de sua própria existência e relatando suas experiências àquele que foi o seu colega mais próximo, Timóteo. Paulo estava no final de sua carreira e tem consciência disto: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo de minha partida é chegada” (2 Tm 4.6-18). Ao completar 50 anos, John Maxwell pregou o seguinte sermão: “I’m 50, reflecting!” (estou cinquentão, pensando...). Em tempos de transições, em horas de crises, passagens de ano, é muito importante fazer uma retrospectiva.
Na análise de Paulo, ele faz 4 constatações e estrutura sua vida sobre 3 convicções. Constatações são aquelas coisas percebidas por nós, que dependendo das experiências e do temperamento das pessoas podem ser mais graves, depressivas ou mais leves; convicções são os fundamentos e alicerces. Aconteça o que acontecer, nossa vida precisa estar pautada em convicções, e não em sentimentos, pessoas ou circunstâncias, caso contrário, perdemos a própria fé.

Constatações:

1.      Os amigos nem sempre ficam por perto – Principalmente em dias de tribulação. Lutero afirmou: “O momento mais difícil da vida de um homem é a hora de sua morte, porque nenhum amigo poderá atravessar com ele”.

Paulo demonstra isto claramente, ao escrever esta carta de uma prisão. Ele desejava a presença de Timóteo com ele, talvez para conversar, desabafar, orar junto. Por isto diz: “Procura vir ter comigo depressa”(2 Tm 4.9). Já se sentiu assim, com vontade de ter alguém por perto? Caminhando contigo? Você se sente solitário?

No texto ele cita algumas pessoas. Parece que está desapontado com Demas: “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e foi para Tessalônica”(2 Tm 4.10). Por outras razões mais pessoais ou históricas Crescente foi para a Galácia e Tito para a Dalmácia ”(2 Tm 4.10). Pessoas passam por nossas vidas, entram e saem dela. Alguns por motivos corretos, outros por motivos questionáveis, mas o fato é que nem sempre nossos amigos ficam por perto.

Paulo constata ainda que eventualmente somos literalmente desamparados. “Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram, dentre eles cito Fígelo e Hermógenes” (2 Tm 1.15). Percebemos como ele estava precisando de gente do seu lado quando vemos sua alegria no encontro que teve com Onesíforo, “Porque, muitas vezes, me deu ânimo (...) e tendo chegado a Roma, me procurou solicitamente até me encontrar” (2 Tm 1.16-17).
2.       
Nosso corpo precisa de cuidados  – Paulo pede a Timóteo: “quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo” (2 Tm 4.13). A estação fria estava chegando e ele precisava encontrar meios para que não sofresse com o desconforto que o inverno poderia trazer.

Muitas vezes sentimos que é hora de cuidar de nosso corpo. A maioria das pessoas anda no automático, mas chega um momento em que o corpo parece exigir determinada atenção especial e cuidado. Paulo percebe que precisa se cuidar. Ele demonstra preocupação com a condição física também de Timóteo quando diz: “tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4.16). Doutrina se refere ao que ele cria, mas cuidar de si mesmo tem a ver com o bem estar geral do corpo, da mente, das emoções. Faz uma recomendação aparentemente esdrúxula “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estomago e das tuas frequentes enfermidades” (1 Tm 5.23). Tudo isto demonstra como é necessário cuidar do corpo, afinal, um corpo enfermo perde a eficiência e a capacidade de realizar suas tarefas diárias.  


3.       Nossa mente precisa ser exercitada 
Quando vieres, traze a capa (...) bem como os livros, especialmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13). Com o passar dos anos vamos constatando a necessidade de manter a mente ocupada, pensando em coisas boas, pensando nas verdades dos céus, nos princípios de Deus.

Quando a mente fica desocupada, passa a imaginar coisas, ser consumida por ansiedades e preocupações tolas. Paulo recomenda ao próprio Timóteo que se aplique ao estudo. “Até a minha chegada, aplica-te à leitura”(1 Tm 4.13).  Muita depressão e desânimo é um movimento de retroalimentação de pensamentos e ideias errôneas que podem ser corrigidas na medida em que lemos a Palavra, refletimos sobre um bom livro devocional, um bom romance. Nossa mente não pode ficar desocupada, vazia, para não dar espaços às setas que Satanás sempre tem lançado nela para gerar dúvidas, confundir e enganar.


4.       Não consuma sua vida com opositores
 Deixe isto com Deus. Paulo relata que um homem chamado Alexandre, cuja profissão era a de latoeiro, havia lhe causado grandes males. Em geral, situações assim consomem muito vigor e alegria. Qual a resposta que Paulo dá a atitude deste homem? Ele o entrega a Deus. “O Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras”(2 Tm 4.14).

Se pararmos cada vez que encontrarmos problemas e ficarmos remoendo o mal que nos fizeram, não vamos avançar. Recentemente li um comentário de uma menina que foi abusada pelo famoso cineasta Polanski, quando ela tinha 14 anos de idade. Sua declaração me impactou: “Eu o perdoei, não por causa dele, mas para que eu pudesse continuar vivendo”.

Não fique pensando em vingança ou retribuição. Isto não é sua tarefa. Deixe as coisas nas mãos de Deus. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas daí lugar à ira de Deus, porque está escrito, A mim me pertence a vingança, eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19). Vingança é um prato que se come cru. Portanto, não fique se lamentando com o esquecimento, incompreensão, traição, abandono, maldade dos outros. Paulo é realista. “Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhe seja posto em conta!” (2 Tm 4.16). Ele advoga em favor daqueles que o abandonaram, ao invés de se remoer em amargura e ressentimento.


Após estas quatro constatações, ele fala de três convicções que o sustentavam:

Primeiro, Ele se Fortalecia no Senhor!

Paulo sustenta sua vida em Deus. “O Senhor me assistiu e me revestiu de forças”(2 Tm 4.17). Estava preso, sendo acusado, sentindo-se abandonado, faltando amigos, o frio chegando, mas ele sabe onde buscar forças e assim é tratado pelo próprio Deus. Muitas vezes os desafios são enormes, a vida se torna complexa e pesada. Onde encontrar forças? Como não sucumbir às provocações e perdas? Encontra sua força no próprio Deus.

Não sei se sabemos exatamente disto na prática, porque todas as vezes em que nos sentimos sós, buscamos outros caminhos e quase nunca o Senhor. A Bíblia nos fala que quando Davi viu sua casa saqueada por inimigos, e seus filhos sendo levados como reféns, e os próprios amigos o responsabilizando e o acusando pela situação que enfrentavam, ele buscou o Senhor. O texto afirma que “Davi se reanimou no Senhor”(1 Sm 29.6).

Existe um texto na Bíblia que ensina: “A alegria do Senhor é a nossa força”(Ne 8.10). O que significa isto? Deus tem uma alegria capaz de nos fortalecer em tempos de angústias e solidão. Esta alegria é encorajadora e renovadora. E nela, e não em entretenimentos, pessoas ou viagem que encontraremos a graça necessária para viver.

 

Segundo, Ele não perdia seu foco 

Não é muito difícil nos esquecermos do chamado de Deus para nossas vidas. Paulo recupera seu senso de missão e vocação: “O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida”(2 Tm 4.17). Sublinhei propositalmente o “para que”. Paulo sabia que sua vida era um instrumento de Deus para abençoar outros. Quando esquecemos a natureza de nosso chamado e a razão da própria existência, perdemos o senso de propósito, sentido, missão e vocação.

De vez em quando temos que nos perguntar porque existimos. É comum pessoas mais idosas serem acometidas com o sentimento de que não servem para mais nada, principalmente aquelas que lideraram e labutaram tanto na obra do Senhor. É comum dizerem: “Não sirvo para mais nada, minha saúde anda ruim, não tenho mais disposição”. Nesta hora precisamos recordar que se estamos aqui nesta terra é por uma razão. Quão poderosas são as orações daqueles que estão numa cama e enfermos, mas não param de orar pelas novas gerações, pela liderança de sua igreja, pelo Reino de Deus. Quanto a obra de Deus tem avançado por causa destas pessoas “sem possibilidades”, que estão orando em favor de tantas outras e abençoando tão poderosamente o reino com suas incessantes orações.

 

Terceiro, Ele contava com a proteção de Deus

 O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (2 Tm 4.18). Inúmeras vezes aplico este texto a pessoas acuadas pelo inimigo, ameaçadas na sua integridade espiritual e física pelas obras do diabo. Com este texto ainda cito 1 Jo 4.4: “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós que aquele que está no mundo”. Muitas vezes nos sentimos ameaçados, encurralados, nestas horas precisamos nos lembrar que “Aquele que nasceu de Deus, Deus o guarda e o maligno não lhe toca” (1 Jo 5.19). Eu não me encontro nas mãos das circunstâncias cegas, de um mundo mal, de pessoas malignas, mas nas mãos de um Deus providente e bom, que me ama. Minha esperança está no Senhor. Minha vida está sendo conduzida por Ele.

 Conclusão:

Podemos ter uma retrospectiva de gratidão e celebração, ou de desistência e amargura. A primeira nos leva a louvar a Deus, a segunda nos leva ao desencorajamento, desânimo e morte. Ouvi certa vez uma declaração que expressava o cansaço de um servo do Senhor. Ele dizia que “com o passar dos anos, estava se tornando mais cínico, cético e grosso”. Este é um perigo muito grande que corremos, de nos tornarmos amargos na nossa velhice.


O Sl 23.8 afirma: “Bondade e misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida”. Deus não vai caminhar comigo até a metade. Ele vai continuar me guiando e me abençoando. Crer na soberania de Deus é um das coisas mais confortantes e que trazem grande descanso para as nossas almas, desde que eu não tenhamos a idéia subjacente de um Deus mal. Deus é bom em todo o tempo. Ele dirige a história. “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial”.

1 Tm 6.3-12 Notas de Rodapé


Introdução:

A maioria dos livros possui notas de rodapé que servem para orientar o leitor mais atento e desejoso de aprofundar seu conhecimento sobre determinado assunto, fazer pesquisas posteriores, recomendar textos correlatos e autores que podem ajudar na pesquisa. Ultimamente os livros tem colocado as notas no final, o que certamente não aprecio, porque quando queremos vê-las precisamos de um marcador, ou pachorrentamente, ir atrás das citações.
Ao escrever suas cartas pastorais (Timóteo e Tito), o objetivo do apóstolo Paulo era orientar os jovens pastores naqueles temas que não deviam ser negligenciados, e na medida em que a carta vai se encerrando, temos a impressão de que ele deseja frisar os mesmos para não serem esquecidos.
Neste texto ele dá várias sugestões a Timóteo:

1.      Mantenha-se firme na doutrina – O termo “doutrina” causa reação alérgica em muitas pessoas. Não é raro ouvirmos pessoas dizendo que não gostam destas coisas de doutrinas. No entanto, doutrina é um termo bíblico, e se refere ao conjunto de ensinamentos sobre determinados assuntos, e especialmente aqueles relacionados às coisas de Deus.

Por exemplo, uma das características positivas da Igreja Primitiva é o fato de que ela “perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão” (At 2.42). Várias vezes Paulo exorta Timóteo a se firmar na “boa doutrina”(1 Tm 4.6); no “firme fundamento” (2 Tm 2.19), na “doutrina”(1 Tm 4.16) e na “sã doutrina” (2 Tm 4.3). Se existe a doutrina que é sã, entendemos que existe outra que é doente. Ele faz isto, entre outras razões:

A.     Porque existem “outras doutrinas” (1Tm 6.3)- Paulo afirma na carta aos Gálatas que alguns estavam pregando “outro evangelho”(Gl 1.8). Doutrinas falsas e ensinamentos de demônios surgiam nos dias apostólicos. A quantidade de falsos ensinos e mestres podem ser obervados na advertência que Jesus faz aos “falsos Cristos e falsos profetas”, que Paulo sobre “falsos obreiros” (Fp 3.1-3). Judas e Pedro advertem as igrejas várias vezes. Suas cartas praticamente falam destes homens que sorrateiramente entravam na igreja primitiva ensinando aquilo que não era verdadeiro.

 

B.     Logo após os dias dos apóstolos, centenas de textos falsos e mentirosos foram espalhados no meio da igreja nascente. Eram textos gnósticos, com mensagens espúrias, que traziam grandes crises teológicas para a igreja. Durante toda história, as heresias se espalharam como uma fogueira. Nos tempos dos pais do deserto surgiram heresias como docetismo, gnosticismo, arianismo, etc., nos dias da Reforma era popular a venda de indulgências (perdão de pecados), sinomia (cargos religiosos que eram dados em troca de benefícios políticos) e adoração de relíquias. Os Reformadores do Século XVI tiveram grande dificuldade em estabelecer os sólidos fundamentos da fé baseados apenas na Bíblia;

 

C.     Nos dias atuais, são inúmeras as quantidades de heresias. Recentemente Ricardo Gondim afirmou com todas as letras que não cria na vinda literal de Cristo, da forma como Paulo afirma, e sim na sua volta como um “horizonte utópico”, que a igreja de Cristo mirava e se dirigia nesta direção, como um arco-íris, que a gente vê mas não pode ser encontrado. A vinda de Cristo seria uma forma poética de falar da esperança. Ele mencionou em seu vídeo a teologia da esperança, do filósofo alemão Jurgen Möltmann, que vê a volta de Cristo “como um ânimo, uma força motivadora, para que sejamos os agentes transformadores da história” e que a volta de Cristo é utopia. http://portugues.christianpost.com/news/ricardo-gondim-e-fabrica-de-hereges-vinda-de-jesus-e-utopia-2077/

Outro conhecido pastor, Caio Fábio, em seu web programa Papo de Graça, afirma que há incoerências na Bíblia, que foram criadas a partir do Evangelho, com a conduta e ensinamentos de Jesus, que ao morrer na cruz e estabelecer o tempo da graça, tornou diversos ditos da Bíblia em desuso. Para ele, “Não dá para ser de Jesus e obedecer a Bíblia toda. Quem quiser ser só de Jesus vai ter que esquecer um monte de coisas da Bíblia, que morreram na cruz, pelas quais Jesus morreu. Quem entender, entendeu”. http://noticias.gospelmais.com.br/caio-fabio-nao-jesus-obedecer-biblia-toda-assista-61111.html.

Ed René Kivitz faz também afirmações estranhos dizendo que antes acreditava que apenas os cristãos seriam salvos, mas que agora acredita que o Espírito de Deus está em toda a humanidade, que os seres humanos anseiam por Deus e que isso efetivamente vem de Jesus, e que ficaremos surpresos ao chegarmos ao céu e percebermos lá toda a humanidade, isto é,  crentes, incrédulos, pessoas que nunca acreditavam em Cristo, juntas louvando ao Senhor. Segundo o pastor batista as pessoas perguntarão as outras como chegaram ali? E todos dirão, foi Jesus. http://www.cacp.org.br/pr-kivitz-defende-a-heresia-do-universalismo/

Neste texto lido Paulo afirma “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem manias por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas”. (1 Tm 6.3-4). Portanto, firme-se na doutrina, na boa doutrina, na sã doutrina, e tenha cuidado com “outras doutrinas”.

2. Aprenda a viver com contentamento

O texto afirma: “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento” (1 Tm 6.6). Curiosamente, o texto anterior fala de “homens cuja mente é pervertida e, privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro”. Isto é, são homens que acreditam que podem tirar vantagem financeira por serem seguidores de Cristo. Ele diz, que a grande e genuína fonte de lucro que temos com o Evangelho é encontrar prazer em viver um estilo de vida simples, descomplicando nosso jeito louco de viver em nossos dias.
Estamos perdendo nosso contentamento.
Nunca tivemos tanto conforto, privilégio, acesso a bens de consumo, e ao mesmo tempo uma geração tão infeliz. Estamos cada vez mais sofisticados, comemos em restaurantes cada vez mais luxuosos, fazemos viagens maravilhosas e estamos cansados, frustrados, exaustos e descontentes. São mulheres jovens que não conseguem encontrar prazer em coisas simples, em serem mães, em cuidar de sua casa e de seu marido; são maridos que não conseguem mais desfrutar da alegria da casa, da vida comum do lar, ganham salários estratosféricos mas estão vazios no coração, solitários, sem amigos, morrendo no trabalho, sem conseguir desfrutar com prazer suas conquistas. Usando uma linguagem de Wayne Cordeiro, “estão mortos, porém correndo!”
Perdemos a alegria de viver.
Precisamos reencontrar a dimensão do prazer nas coisas simples, numa comida simples, num tempo de conversa ao redor da mesa, em amizades descomplicadas, em relacionamentos não exigentes. Precisamos aprender a voltar a viver. Encontrar alegria em coisas simples, na adoração simples, no serviço simples na casa do Senhor. Que diferença o vazio deste estilo de vida com a recomendação direta do texto que lemos: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”(1 Tm 6.7-8).

3. Coloque o dinheiro no lugar certo

 O que o texto bíblico nos ensina é claro: “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1 Tm 6-9-10). Bob Marley fez esta citação: “Deus fez as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas. Por que usamos as pessoas e amamos as coisas?”. Confúcio afirmou: “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperá-la. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro...
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido”. Este é um exemplo claro de inversão de valores.
Veja o que texto afirma: “Os que querem ficar ricos caem em muitas tentações”. Esta obsessão por ter cada vez mais e acumular, vai abrindo enormes brechas na alma. “O amor do dinheiro é raiz de todos os males”. Não diz que o dinheiro em si, mas o amor, o apego às posses e ao dinheiro é ponto de partida para todos os males. O amor ao dinheiro é cobiça, e leva muitas pessoas “a se desviarem da fé”, e “se atormentarem com muitas dores”.
Quando a Bíblia sugere que adoremos a Deus com nossos bens e dinheiro, penso que Deus está nos dando uma oportunidade de romper com estes vínculos, e fazer a ruptura com a idolatria do dinheiro. Richard Foster afirma que dinheiro na Bíblia é uma entidade, e que Jesus o chamou de “mamom”, de um Deus, e que por isto “a avareza é idolatria”, e que a única forma que temos para não deixar que este Deus nos domine é aprender a doar. Rompe-se com esta idolatria, aprendendo a ironizar deste Deus que tanto nos oprime e exige que lhe construamos altares.

Charles Stanley firmou alguns princípios de administração do dinheiro encontrados na Bíblia:

Ganhe honestamente- Isto implica em não sacrificarmos nossa consciência mantendo um relacionamento com o dinheiro que possa nos afastar do Deus que amamos. Precisamos sim do trabalho, e dos recursos que ganhamos, mas precisamos acima de tudo de Deus. Vive-se sem dinheiro e sem bens, mas não se vive sem Deus. Ganhe honestamente (Ef 4.28).

Aplique sabiamente – Muitas vezes usamos mal os nossos recursos ou não temos critério algum para empregá-lo. O resultado é que quando os dias difíceis chegam, não sabemos o que fazer porque não soubemos administrar corretamente o que tivemos. Gastamos nossos bens sem ponderarmos sobre o nosso futuro.

Dê generosamente – Sendo dinheiro um ídolo, uma entidade, exige de nós adoração. Muitos de nós temos nos curvado diante dele sem percebermos os riscos nossa alma. Dar de nossos bens é uma forma de usarmos nossos recursos para promover a obra de Deus, minimizar o sofrimento dos necessitados, glorificar a Deus e dar um sentido mais profundo ao que temos. Dar é um exercício espiritual, muitas vezes complicado. Temos facilidade de gastar nossos bens com coisas que nem sabemos o que fazer com elas, que vão entulhar ainda mais nossos guardas roupas, mas não temos a mesma facilidade de consumir nossos bens para suprir necessidade da nossa igreja e dos necessitados.

Desfrute profundamente – Não desenvolva uma relação de afeto com teu dinheiro. Ele existe para ser usado! Tolo é o homem que acumula sempre, mas nunca desfruta daquilo que Deus tem colocado em suas mãos. Use-o para seu deleite, para alegria de seu lar, para celebrar a vida que Deus lhe tem dado.

4. Apodere-se da “verdadeira vida” –

Esta frase, curiosamente se encontra no texto adiante, em 1 Tm 6.19: “Acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira vida”. Existe uma vida no presente tempo que quer nos dar a impressão de ser a verdadeira vida, mas não é. Ela é falsa, enganosa, traiçoeira. Existe uma verdadeira vida que pode ser encontrada. Talvez seja sobre isto que Jesus queria afirmar: “Eu vim para que tenham vida e vida em abundância”. Ele fala de outra vida, de outra realidade que talvez você não esteja experimentando. Existe uma vida para além desta vida que tentamos viver.
Por isto vem a exortação: “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas cousas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé o amor, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas” (1 Tm 6.11-12).
Veja o que Thomas R. Kelly escreveu em 1941, no texto Simplificação da Vida.  (De Thomas R. Kelly – A Testament of Devotion – Nova Iorque: Harper and Brother, 1941):Nós ocidentais tendemos a pensar que nossos problemas são externos, ambientais. Não somos experimentados na vida interior, onde estão as verdadeiras raízes do nosso problema. Quero sugerir que a real explicação para a complexidade do nosso programa seja interior e não exterior. As distrações exteriores dos nossos interesses refletem a falta interior de integração das nossas vidas. Queremos ser vários egos ao mesmo tempo, sem que todos esses egos estejam organizados por uma única e soberana Vida dentro de nós. Todos nós temos a tendência de ser, não um único ego, mas todo um comitê de egos. Há o ego cívico, o ego paterno, o ego financeiro, o ego religioso, o ego  profissional, e ego literário. E cada um desses egos, por sua vez é um franco individualista, não cooperando, mas votando aos berros em si mesmo quando chega a hora da votação. Muitas vezes seguimos o método eleitoral para chegar a uma rápida decisão entre as nossas vozes interiores conflitantes. É como se tivéssemos um presidente do comitê, que não integra os muitos egos, mas apenas conta os votos e deixa minorias descontentes. As reclamações de cada ego deixam de ser feitas. Se aceitamos servir na comissão de uma obra social, continuamos sentir remorso por não podermos também ensinar na Igreja. Não somos integrados: somos angustiados. Sentimos o clamor de muitas obrigações e tentamos cumpri-las todas. E, no entanto, somos infelizes, receosos, tensos e oprimidos, com medo de sermos superficiais”.
Estamos perdendo nossa vida, num frenesi incontrolável para viver. Precisamos resgatar a verdadeira vida que facilmente escapa de nós, num mundo de competitividade, metas para atingir, agendas, etc.

Conclusão:
Notas de rodapé são lembretes, formas de manter vivo em nossa memória coisas que não devem ser esquecidas.
Certo autor existencialista afirmou: “Onde está a vida que perdi tentando encontrá-la?”. Talvez seja esta a atitude de pessoas que estão se realizando no mercado de trabalho, vivendo estilo de vida glamouroso, mas que estão se perdendo no meio de tudo isto.


Não perca sua alma, seu coração, sua família, seu Deus, no meio das propostas e presentes cantos de sereia. É fundamental manter a verdadeira vida no foco, e celebrar Deus e a vida no meio desta geração perdida e cansada.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Lc 1.37 Para Deus, não haverá impossíveis!



 Introdução:

Um dos clássicos da literatura evangélica mundial foi escrito pelo inglês J. B. Philips, cujo titulo é “O seu Deus é muito pequeno”.  Ele afirma que temos um inadequado conceito de Deus, e que muitos pensam em Deus como um “bondoso papai noel cósmico”. Poucos possuem um conceito da grandeza, poder e majestade de Deus.
Se apenas considerarmos a grandeza de Deus no cosmos, veremos que podemos contar a olho nu cerca de 2000 mil estrelas, mas se usarmos o telescópio veremos milhões de outras estrelas. O sistema solar mais próximo da nossa galáxia é Centauro, que se encontra a 4.22  anos luz de distância, isto significaria algo em torno de 81.000 anos na terra para a alcançarmos, se utilizarmos o meio de transporte mais rápido que hoje conhecemos. O Salmo 33.6-9 afirma: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus e todo o exército deles pelo espírito de sua boca. Ele ajunta as águas do mar como um montão; põe os abismos em depósitos. Tema toda a terra ao Senhor; temam-no todos os moradores do mundo, porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu”.
Deus é Onisciente (conhece todas as coisas); Onipresente (tem todo poder); e onipresente (está em todo lugar). Infelizmente, como descuidados adoradores, nos esquecemos das verdades sobre sua natureza. Nos tornamos vítimas das circunstâncias, preocupados e angustiados, tentando controlar as coisas e manipular as pessoas, porque se não fizermos, achamos que Deus não fará.
Este texto afirma: “Para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37). Isto nos ensina algumas lições:

  1. Deus não se limita aos diagnósticos humanos – Todas as vezes que Deus desafiou seus discípulos a crerem de forma irrestrita, eles fizeram levantamento racional e elaboraram um diagnóstico para tentar entender “como” Deus tais promessas se tornariam possíveis. Deixe-me falar de 4 destas situações:
    1. Moisés – O povo murmurou contra Deus e Deus então lhe fez uma promessa para lá de estranha: Diga ao povo: Consagrem-se para amanhã, pois vocês comerão carne. O Senhor os ouviu quando se queixaram a ele, dizendo: ´Ah, se tivéssemos carne para comer! Estávamos melhor no Egito?` Agora o Senhor lhes dará carne, e vocês a comerão. Vocês não comerão carne apenas um dia, ou dois, ou cinco, ou dez, ou vinte, mas um mês inteiro, até que lhes saia carne pelo nariz e vocês tenham nojo dela, porque rejeitaram o Senhor, que está no meio de vocês, e se queixaram a ele, dizendo: “Por que saímos do Egito? Disse, porém, Moisés: “Aqui estou no meio de seiscentos mil homens de pé, e dizes: ´Darei a eles carne para comerem durante um mês inteiro! Será que haveria o suficiente para eles se todos os rebanhos fossem abatidos? Será que haveria o suficiente para eles, se todos os peixes do mar fossem apanhados?` O Senhor respondeu a Moisés: ´Estará limitado o poder do Senhor? Agora verá se a minha palavra se cumprirá ou não” (Nm 11.18-23).
O diagnóstico de Moisés é preciso, lógico. A afirmação de Deus fugia do padrão convencional das possibilidades, e não era algo simples de acontecer. Ao analisar a situação e fazer um diagnóstico Moisés percebeu que não era exeqüível. Deus o repreende pela incredulidade. A questão não estava no tamanho do problema, mas nas possibilidades de Deus. Ele é grande o suficiente ou não para aquilo que ele prometeu fazer?

    1. Zacarias – Durante muitos anos havia orado para Deus lhe dar um filho, agora, quando se encontra idoso, Deus lhe enviando Gabriel e promete que Isabel, sua esposa engravidaria. Sua pergunta é própria do diagnóstico humano:
Como saberei isto? Pois sou velho e minha mulher, avançada em dias?” (Lc 1.18). A resposta do anjo é maravilhosa: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te estas boas novas!” (Lc 1.19). Ele não tenta explicar o “como”, o processo, nem a metodologia. Ele apenas apresenta suas credenciais e a daquele que o enviou, como se dissesse: “Isto basta?”. Ele está dizendo que não interessava o processo, mas quem havia feito a promessa.

    1. Maria – Ao receber a visita do anjo, Maria tem uma crise de diagnóstico. “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?”. Sua análise é coerente: virgem, sem sexo, sem bebê de proveta, sem fertilização em vitro... Maria sabia que biologicamente uma criança só nasce do encontro de um óvulo com espermatozóide.
O que o anjo responde? “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá” (Lc 1.35). O que ele diz é absolutamente distinto do cotidiano e natural. Maria não entenderia isto. No entanto ela se dispõe humildemente: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforte a tua palavra” (Lc 1.38). Ela era uma mulher comum, mas extraordinária na sua fé e confiança no Deus que não se limita aos diagnósticos humanos.

    1. Felipe – O outro texto que queremos considerar encontra-se na narrativa da multiplicação dos pães. Felipe e os demais discípulos encontram-se ao lado de Jesus, preocupado por ver tanta gente que, sem alimentos, passaria fome. Preocupação legitima. Então, Jesus faz tipicamente a pergunta que gostamos de fazer: “Onde compraremos pães para lhes dar a comer?” (Jo 6.5). A Bíblia diz que Jesus fez isto para os experimentar.
Neste caso, Jesus se antecipa às típicas perguntas de diagnostico que sempre fazemos: “Onde, como, quando, quem, o que, porquê?”. Jesus não se limita às possibilidades, diagnósticos e prognósticos que fazemos. Ele é Deus! Todas as coisas lhe obedecem. O mar e o vento lhe obedecem. Os elementos, as substâncias, os átomos, o cosmos, tudo lhe está sujeito!

  1. Deus não se limita aos recursos humanos – Não haverá impossível a Deus para realizar a obra que ele deseja realizar.
Muitas vezes limitamos nossos projetos aos recursos, ao invés de avançarmos com fé. Igrejas vivas não se limitam aos seus parcos recursos para fazer missão, evangelizar, abrir novas igrejas, realizar sonhos. Os recursos sempre aparecem para aqueles que querem glorificar a Deus.
Meu sogro, Rev. Samuel José de Paula, era pastor da cidade de Registro-SP, e financeiramente as coisas eram muito difíceis. Estavam construindo um novo templo, porque a igreja havia crescido e chegaram a um momento em que precisavam colocar as portas do prédio. Durante a noite, marginais entravam na construção e dormiam no templo que só estava no piso. Precisavam comprá-las, mas a igreja nunca tinha os recursos. Então o conselho resolveu orar e as comprou. No dia do pagamento, o dinheiro ainda não havia chegado. Então, uma distinta senhora, D. Cotinha, mãe de um homem que se tornaria um querido presbítero de nossa igreja na Gávea, durante o meu pastorado no Rio de Janeiro, Wilson de Souza, estava numa viagem de São Paulo para Curitiba e resolveu parar ali em Registro, para visitar meus sogros e tomar um café com eles. Pediu ao seu motorista para entrar na cidade, ficou ali um tempo, e sem que meu sogro dissesse uma palavra sequer sobre a obra, resolveu deixar uma oferta que cobria exatamente a despesa que tinham que pagar naquele dia.
Deus é o dono do ouro e da prata. Ele não se limita aos recursos humanos. Para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas.
No ano que chegamos a Cambridge, o belíssimo templo no qual a nossa igreja restaurou, na 99, Prospect St., havia sido recentemente comprado. Era uma belíssima catedral de 1870, com vitrais padrão Tiffany´s house. Mal sabíamos o quão caro seria o projeto de restauração de um templo que ficou fechado por 25 anos. Tudo estava desmoronando. Apenas a restauração das 16 janelas ficava em 6 mil dólares cada uma. De forma supreendente, Deus nos enviou um homem fiel, que estava com um câncer terminal e foi para aquela cidade, em busca de tratamento. Ele vinha de Nova York, e surgiu em nossa igreja, debilitado, num domingo de manhã. Após o culto, ele colocou no bolso do Pr. Terry Gyger, meu colega de pastorado por 4 anos, um cheque de 50 mil dólares para ajudar na construção. Até a sua morte, passou a contribuir regularmente com a igreja, e no final de 1 ½ ano, até a sua morte, contribuiu com U$ 182 mil dólares para aquele projeto. Jamais seríamos capazes de realizar os reparos sem estes abençoados recursos.
A questão fundamental de qualquer projeto é saber: Deus está neste negócio? Isto tem a ver com o coração do Pai? Quando compramos o terreno de 7.500 m2 em Anápolis, a 50 mts da principal via de acesso da cidade, para a construção do futuro templo, com capacidade para 1800 lugares que pretendemos construir, esta foi a única preocupação do nosso conselho: Deus está nisto? Isto vem de Deus?
Quando Moisés viu dificuldades, Deus lhe indagou: “Por acaso o meu braço encurtou?”
Quando Maria fez as perguntas de diagnóstico, o anjo lhe falou: “Para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”.
Álvaro Sólon de França, economista e presbítero em Goiânia, costumava perguntar em nossas reuniões, todas as vezes que íamos avançar para um projeto mais ousado: “Você quer que eu fale como economista ou como homem de Deus?”

  1. Todas as potencialidades de Deus, que não se limitam aos diagnósticos e recursos  humanos, se subordinam às suas promessas –
O texto não diz que Deus vai fazer qualquer coisa, porque eu orei, porque eu desejo, porque eu quero, mas sim, “Não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37).
Por acreditarmos que, sendo Deus Todo Poderoso, vai fazer qualquer coisa, não raramente surtamos, ficamos tristes e zangados com Deus. Deus sempre pode mas nem sempre vai fazer, porque ele tem propósitos e agenda para cumprir seus projetos para minha vida e para o seu reino. Deus vai levar a termo tudo quanto deseja para que seus decretos e planos sejam executados. “Deus usa até o ímpio para o dia da calamidade”.
Deus pode livrar qualquer pessoa de qualquer ameaça. Ele pode!
Deus pode curar qualquer pessoa de qualquer enfermidade. Ele pode!
Isto não implica que ele sempre o fará. O texto diz: “Não haverá impossíveis naquilo que ele prometeu” (Lc 1.37), ou seja, naquilo que ele prometeu.
O mesmo equívoco de interpretação podemos cometer no texto de Fp 4.19: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades”. Muitas vezes ao lermos este texto achamos que Deus vai suprir cada um de nossos “desejos”, ou “sonhos pessoais”. Não! Deus vai suprir em Jesus, cada uma de nossas “necessidades”. Necessidades são diferentes de desejos. Aquilo que eu preciso para minha vida, Deus vai dar. Deus não tem compromisso com meus desejos, embora ele possa nos dar alguns mimos na vida.
Sl 37.5 diz: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do vosso coração”. Creio que este texto nos fala que Deus, por ser um Pai amoroso, nos surpreende dando-nos coisas que nunca imaginávamos ter um dia. Ele nos surpreende amorosamente. Mas ele não tem compromisso com meus desejos, e sim com minhas necessidades.
Outra observação necessária: Muitas vezes pensamos em necessidades em termos de “bens materiais”, mas sua promessa vai muito além. Temos necessidades de alma, de descanso existencial, de paz interior, de confiança espiritual – Em Cristo Jesus somos supridos em necessidades que sequer julgávamos que seriam tão importantes para nossa vida. Estas necessidades, quando supridas, satisfazem o nosso coração.

Conclusão:

O texto não diz que não houve, ou que não há, mas fala do futuro. Não haverá! Coloca as coisas em perspectivas de promessas, de coisas que ainda virão.
Facilmente nos tornamos vítimas das circunstâncias, presos pela ansiedade e preocupados. Alguém disse que preocupação é como uma cadeira de balanço, você se movimenta muito, mas ela não te leva a lugar algum. Um velho hino afirma: “Oh que paz perdemos sempre, oh que dor no coração. Só porque nós não levamos, tudo a ele em oração”.
Deus não está limitado ao que dizem nossos recursos humanos. Ele também não se limita aos diagnósticos que fazemos de determinadas situações, e nem tem compromisso e fazer aquilo que ele não prometeu fazer, ou aquilo que sai de sua agenda e propósito.

Para Deus não haverá impossíveis! “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1.37). Nem as circunstâncias adversas, ou os poderes do presente, nem do porvir, nem os poderosos ou mesmo Satanás, poderão impedir aquilo que Deus intentou para aqueles a quem ele ama, e para realizar e cumprir seus eternos decretos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

1 Ts 2.1-8 Ministério Aprovado


Introdução:

Na medida que envelheço, vou criando uma percepção que espero seja equivocada, de que se torna cada vez mais difícil ser pastor. Existem três classes que são odiadas pelos meios de comunicação e eventos populares: Políticos, polícia e pastores. Todos começam com a letra “P”.  Em algumas instituições de crédito, o desprestígio dos pastores é tão grande que não se concede aos mesmos a possibilidade de uma linha de crédito. Fala-se muito contra a discriminação de determinados grupos sociais, e eu estou convencido de que precisamos criar um sindicato para defesa e lobbies em defesa dos pastores... obviamente estou brincando...
Além das pressões externas, ainda enfrentamos crises internas. Uma realidade assustadora são as heresias e desvios teológicos, na verdade nada disto é novo, o apóstolo Paulo já exortava a igreja neste sentido: "acautelai-vos dos maus obreiros" (Fp 3.1). Lidamos ainda com a vaidade pastoral: Jesus era tão humano que era difícil vê-lo como Deus, muitos são tão divinos que é difícil vê-los como humanos. Muitos pastores se olham no espelho e cantam: "Quão grande és tu!".

Neste texto, a Palavra de Deus nos fala do perfil do pastor aprovado. Esta lista é inconfundível e precisa ser considerada.

Perfil Pastoral Aprovado:

1.       Caracterizado por frutos – "Nossa estada entre vós, nao se tornou infrutífera"(1 Ts 2.1)

O ministério frutífero se caracteriza por duas coisas: Uma subjetiva, outra objetiva. A primeira se refere à vidas transformadas, a corações que são tocados, famílias restauradas, conversões. Muitas vezes os resultados subjetivos são impossíveis de serem mensurados. O fator objetivo é bem mais fácil de perceber: São os frutos que se evidenciam em pessoas batizadas, conversões perceptíveis e o crescimento da igreja.
Meu colega de ministério nos Estados Unidos, Pr. Terry Giger, certo dia encontrou-se com um pastor Luterano em Cambridge, cuja comunidade ficava a poucos metros de onde estávamos, e ele, com lagrimas, relatou que estava naquela igreja por 12 anos, sem nunca ver um fruto, sem nunca batizar alguém. Pensei no meu coração que isto para mim seria algo tão dolorido que não sei se continuaria no pastorado.
Quando lemos o Novo Testamento, vemos que a Igreja primitiva não era numerólatra, isto é, não idolatrava números, mas ao mesmo tempo constatamos que também não era numerófoba, por várias vezes vemos no Atos dos Apóstolos registros de crescimento da igreja, o número de pessoas que se reunia e de gente que era batizada. O chamado pastoral implica em frutos (Jo 15.2,8). Precisamos orar para que vidas se convertam, pessoas sejam atraídas ao evangelho, que a nossa igreja cresça, que o Reino de Deus se expanda. Em 2005, fiz uma oração bem específica a Deus, pedindo para que nos abençoasse dando-nos frutos sazonados. Deus tem nos surpreendido de forma maravilhosa com o crescimento de nossa igreja.
Obviamente resultados não são indicadores verdadeiros de aprovação de Deus: Jonas foi um fracasso, apesar do seu sucesso. Jesus, depois de 3 anos de ministério, tinha ainda um grupo muito pequeno, gente frágil, instável e dúbia, mas apesar do seu fracasso, foi bem sucedido. Por outro lado, resultados apontam para saúde. Igreja, assim como um organismo vivo reproduz, nutre e cresce, quando possui saúde. Para Paulo, resultados revelavam aprovação: Paulo reivindica seus frutos para confirmar sua aprovação ministerial (1 Ts 2.19); Certa vez foi questionado sobre seu apostolado e respondeu que suas credenciais eram as vidas que foram transformadas pelo seu ministério. Neste texto lido, ele faz questão de demonstrar a autenticidade através dos frutos. Existe aqui um princípio ambíguo: Resultados não são indicadores verdadeiros de aprovação de Deus, mas ao mesmo tempo, resultados revelam aprovação do ministério como vimos no texto.

2.       Foco em agradar a Deus (1 Ts 2.2). "Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo, pelo contrário, visto que fomos aprovados por deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração" (1 Ts 2.3-4)
Por causa da necessidade que temos de aceitação e aclamação pública, podemos correr o risco de nos tornarmos “politicamente corretos”, pregando para satisfazer o narcisismo e egoísmo da vaidade pessoal dos pecadores. Contudo, o foco de nosso ministério, não pode ser glória pessoal, promoção humana, nem burocracia eclesiástica, mas a pregação da mensagem transformadora do Evangelho e a glória de Deus.
No ministério, existe sempre o perigo da distração. Paulo cita o termo Evangelho, quatro vezes aqui nestes versos (2,4,8,9). Quem tem foco na glória de Deus, não deixa de anunciar a mensagem autêntica, não mercadeja a palavra. Noutro texto afirma que é grato pelo privilégio de pregar "as insondáveis riquezas de Cristo". Que honra! Sua função não era entreter as pessoas, mas anunciar as verdades de Deus.
Pregadores correm grave risco, de viverem em torno de aprovação e aplausos humanos. Todos precisamos de apreciação, mas não podemos depender disto. Um dos maiores pecados pastorais é a bajulação. Quem tem foco em Deus não depende de reconhecimento humano, Pessoas querem ser bajuladas. Cazuza na sua música Maior Abandonado registra como a carência afetiva nos torna ridículos: “Migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos me interessam. Pequenas porções de ilusão Mentiras sinceras me interessam”. Quando pastores dependem da aprovação popular, passam a pregar apenas o que as pessoas querem ouvir.
Ministros do Evangelho são aprovados quando servem a Deus e querem agradá-lo, e não se enrosca nas armadilhas da aprovação humana. Seu foco está em Deus.

3.       Marca da autenticidade - "Pois a nossa exortação não tem origem no erro, nem em motivos impuros, nem temos a intenção de enganá-los; pelo contrário, como homens aprovados por Deus, a ponto de nos ter sido confiado por ele o evangelho, não falamos para agradar a pessoas, mas a Deus, que prova os nossos corações" (1 Ts 2.3). Talvez integridade seja uma palavra que sintetize estes versículos.
Integridade não é um acessório, mas a essência da vida cristã. Quando ele diz "fomos aprovados por Deus" (1 Ts 2.4), está sugerindo que já recebemos a maior distinção possível, nada pode se comparar a ela. Quando desejamos ser sempre apreciado pelos homens, perdemos nossa integridade. Paulo afirma que não usava linguagem de bajulação (2.5); não possuía intuitos gananciosos (2.5), e que sua glória estava na cruz (1 Ts 2.6).
Autenticidade surge quando estamos certos de que Já fomos aprovados por Deus, ele já nos aceitou. Este é o princípio da autenticidade: O que determina não é o que eu faço, mas o que eu sou!

4.       Marca da afetividade – (1 Ts 2.11) Aqui surge uma dialética complexa na vida pastoral. Precisa ser autêntico, ser firme na Palavra, e precisa ser afetivo com todos, "Pois vocês sabem que tratamos cada um como um pai trata seus filhos" (1 Ts 2.11) "como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7). Precisamos ser firmes, mas gentis, verdadeiros mas amáveis. A tendência é polarizar: Ou nos tornamos pastores bajuladores que não dizem a verdade; ou pastores ortodoxos, que não sabem amar, secos nos seus relacionamentos e desamorosos na comunicação da verdade. Paulo não era bajulador, mas era afetivo. Afetividade é sua palavra de ordem. Não é um pastor “mau humorado”, chato. Ele usa uma linguagem paterna:
o       “como uma mãe que acaricia seus filhos”
o       “Como pais”(2.11)
Este é o princípio do enternuramento que deve nortear a alma de um pastor, porque "se não tiver amor, será como bronze que são , ou como o sino que retine!".

5.       Espírito Sacrificial – “Embora como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos" (1 Ts 2.7).Paulo afirma que estava pronto a “oferecer a própria vida” (2 Ts 2.8); que seu ministério era marcado por “labor e fadiga”. Infelizmente não são raros os exemplos de pastores desencorajados, desfocados, desanimados e deprimidos. E que se tornam profissionais em sua abordagem. Paulo afirma que abriu mão do seu salário – (2 Ts 2.7). Será que conseguiríamos agir assim?
Vivemos dias em que, se todas as condições salariais não forem estabelecidas, se o pacote não estiver pronto, não faremos ministério, neste caso, sem que as condições financeiras estejam estabelecidas, não há ministério.
A Igreja Presbiteriana remunera bem seus pastores, por isto certo colega Paulo Elias ainda no seminário me disse: “Tenho medo da estabilidade que a igreja dá, isto me faz depender pouco de Deus".
É certo que muitas igrejas não querem pastor humilde, mas pastor humilhado. Paulo ao escrever aos Filipenses disse que nenhuma igreja havia partilhado de seu sustento, exceto os irmãos de Filipos. Ele fora enviado por outra igreja ao campo missionário. Eu teria ficado envergonhado, se fosse de uma igreja e outras comunidades tivessem que sustentar o salário do meu pastor.

Conclusão:

Pastores não são super-heróis, nem semi-deuses, nem super-humanos. João batista era excêntrico (roupas de pele de camelo e dieta de mel e gafanhoto silvestre); Paulo pregava longos sermões e a igreja reclamava (2 Co 10.10), certa vez um rapazinho adormeceu no meio de seu sermão e tiveram um grave acidente. Ezequiel era propenso a visões e via anjos na igreja; Tiago era explosivo.
No entanto, Deus nunca chamou os habilitados, mas sempre habilitou os chamados.

As marcas dos frutos, do foco em agradar a Deus, do sacrifício, da afetividade e da autenticidade, nos falam de um ministério aprovado.

Lc 1.8-23 Expectativa





Introdução:

Recentemente conversei com uma pessoa que me relatou que andava visitando igrejas, buscando uma comunidade onde poderia servir ao Senhor, e no final, desanimada afirmou que estava freqüentando uma igreja, mas disse que “ia sem expectativa!”. Fiquei pensando na situação desta mulher. Não seria este um problema mais comum que imaginamos?

Existem dois graves riscos em nossa vida no tocante à área espiritual. O primeiro é a incredulidade. O segundo, O ateísmo prático.

No primeiro, vive-se distanciado das realidades de Deus. O apóstolo Paulo lembrava os cristãos que eles não mais viviam como os pagãos, “na vaidade de seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância (espiritual) em que vivem, pela dureza de seus corações” (Ef 4.17-18). Paulo afirma que os ímpios vivem “alheios à vida de Deus”, isto é, “naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2.12). São pessoas que vivem sem Deus. “Diz o néscio no seu coração, não há Deus!” (Sl 14.1).

No segundo, trata-se de pessoas que professam ter fé, mas vivem como se Deus não existisse, ou de pessoas que creem, mas Deus se parece muito distante para se interessar por suas vidas ou se importar com elas. Deus é algo como um amuleto, que se usa em determinados momentos, mas é algo mitológico, como dragões, anjos, duendes, sereias, que podem ser reais ou não. 98% da população brasileira afirma crer em um Deus, mas apenas 37% delas creem no poder da oração.

Certo dia Jesus estava se dirigindo à casa de um homem chamado Jairo, cuja filha estava num estado terminal, na caminhada apressada que fazia, parou e perguntou: “Quem me tocou?”. A pergunta soou um tanto estranha aos discípulos, que responderam: “Não vês que a multidão te aperta? Como dizes tu, quem me tocou”, e Jesus respondeu: “Alguém me tocou, porque de mim saiu poder”. Está claro que apenas uma pessoa, tocava em Jesus com intencionalidade e expectativa, e era a mulher hemorrágica, que havia sido curada naquele momento de uma terrível enfermidade que a afligia por 12 anos. As demais pessoas caminhavam ao lado de Cristo, mas aquela tinha expectativa de Deus. Muitos exerciam crendices, mas aquela mulher, de fato cria na possibilidade de uma cura.

O autor aos hebreus adverte os cristãos: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hb 3.12). Ele exorta aos cristãos, quanto ao risco de viverem com o coração incrédulo. A maior censura de Jesus aos seus discípulos se deu nesta área. Ele sempre os repreendia por causa da falta de fé ou da incredulidade. “Como sois assim, homens de pequena fé... Não temas, crê somente!”. A palavra chave para fé, nestes casos, é expectativa. Mantenha a expectativa de algo que Deus vai fazer. Isto significa manter-se nas pontas dos pés, olhando cuidadosamente para a intervenção que Deus fará.
Podemos ir à igreja, ler a palavra, orar, e ainda assim termos um coração incrédulo, sem qualquer expectativa. Peter Wagner afirma que “algumas pessoas quando oram, crêem que Deus as ouve, outras quando oram realmente crêem que Deus as ouve”. O grande problema no coração da maioria dos cristãos é a falta de expectativa. Muitos oram, sem expectativa. Muitos pregam o evangelho, sem expectativa, muitos vão à igreja, sem expectativa...

Neste texto vemos a narrativa bíblica de um homem de Deus, Zacarias, que é surpreendido por uma intervenção sobrenatural de Deus quando realiza seu ofício sacerdotal. O texto bíblico parece apontar para a realidade da alma deste pastor, que vê seu cotidiano sendo “invadido” pelo sobrenatural, e a partir deste momento, sua vida nunca mais foi a mesma.

Percebemos que a espiritualidade torna-se sem expectativa, quando a vida passa a viver no automático – observe bem a narrativa bíblica acerca da atividade de Zacarias: “Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem do seu turno, coube-lhe por sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor, para queimar o incenso” (Lc 1.8-9). Ele não está ali porque tem expectativa da intervenção sobrenatural de Deus, assim como centenas de vezes vamos ao culto, tendo expectativa de um mover de Deus. Ele encontra-se ali por causa da “ordem do seu turno”, ele está escalado, e precisa ir. Se você é pastor, pense nisto: Quantas vezes você já foi “escalado” para conduzir o culto, sem que em seu coração tivesse nada além da compreensão de que isto é sua tarefa? Ou o ministro de música que conduz o louvor, porque hoje o seu grupo vai cantar? Ou o professor de Escola Dominical ou o líder de um pequeno grupo.

Nestes casos, a descrição da atividade de Zacarias, e a razão que o leva ao culto é bem significativa. “Coube-lhe por sorte”. Aquele dia ele tinha que exercer sua função de queimar o incenso. Muitas vezes a tarefa sacerdotal era longa, demorada e cansativa. Todos os rituais que deveriam ser praticados. Observe ainda outra frase “segundo o costume sacerdotal”. As coisas são feitas por sorteio, por causa de uma prática pastoral. Zacarias está exercendo seu papel, se Deus está presente ou não, se vai ou não manifestar-se de maneira especial naquele dia, não lhe parece ser alguma coisa tão relevante.

Fico me perguntando o que aconteceria se não tivéssemos mais os programas da igreja que desenvolvemos. Certamente isto faria muito diferença, não faria? Existem determinados comportamentos religiosos ou sociais que nos fazem falta. Quando eu não vou à igreja no domingo, sinto falta disto. Outra pergunta, porém, me vem à mente: E se Deus não estivesse presente naquele lugar, e se as orações e atos litúrgicos que desenvolvemos não tivessem de fato, conexão alguma com o Eterno, que diferença isto faria?
Eu louvo a Deus quando leio o verso seguinte: “E, durante este tempo, toda a multidão do povo, permanecia da parte de fora, orando” (Lc 1.10). Eu agradeço a Deus, porque muitas vezes não é o pastor que está com expectativa, mas a fé autentica surge da comunidade. Muitas vezes não é o “homem de fé”, que está “cheio de fé”, mas os adoradores que se aproximam do altar de Deus e permanecem zelosamente orando. Muitas vezes milagres se dão não por causa do líder, mas por causa dos corações sedentos e desejosos daqueles que se reúnem para glorificar a Deus.

Por que o estado espiritual de Zacarias se encontra assim?

Gostaria de levantar três hipóteses:

Uma questão pessoal

O texto nos diz que ele e Isabel já eram idosos (vs 18). Ela era estéril. Por muitos anos oraram desejosos por um milagre. Quantas vezes clamaram por uma intervenção de Deus. Eles queriam tanto um filho, isto era um desejo legítimo – mas Deus se calou e não lhes concedeu este favor.

Não é assim que acontece conosco? Oramos para Deus agir, e quando ele não faz, passamos a desenvolver uma espécie de dúvida sutil em nosso coração? Se Deus não ouviu antes, porque devemos esperar que ele agirá agora? O que acontece conosco quando pedimos uma benção a Deus, rogamos um milagre e ele não se dá?
Jym Cymbala, autor de fresh Wind, fresh fire, narra sua luta como pastor, indo pregar aos domingos, depois de uma semana de lutas com sua filha que se enveredara pelas drogas, e estava morando com um traficante, cheia de piercing, afastada de Deus e da família. Ele afirma que muitas vezes dirigia para sua igreja, para pregar o sermão dominical, sentindo-se absolutamente impotente para falar de milagres e da obra de Deus, vendo sua filha morrendo aos poucos. Como pregar as maravilhas de Deus em tais situações? Como inspirar fé? Como falar de um Deus de milagres se ele não opera na minha própria vida?

Muitas pessoas enfrentando grandes lutas, no meio de suas crises familiares, deprimidas, continuam fiéis, mas podem desenvolver sutilmente uma incredulidade que os afaste do Deus vivo, como procede a exortação do texto de Hebreus que anteriormente citamos. Crises pessoais podem dificultar nossas convicções e destruir nossas expectativas.

Uma questão profissional

Zacarias era sacerdote, cujo papel, descontadas as diferenças religiosas do judaísmo com o cristianismo refere-se a função de um padre ou pastor em nossos dias. Atividades religiosas, gestos litúrgicos, repetições de ritos. Com o passar do tempo, estas questões se tornam repetitivas, e a monotonia tira a inspiração. Freud afirmava que a “religião é uma neurose obsessiva compulsiva”, e do ponto de vista psicológico, ele tem toda razão. Se você não considerar a existência de um Deus que aceita seus sacrifícios, orações e ritos, o ato religioso ele é obsessivo, porque fazemos sem encontrar qualquer elemento racional no gesto. Quando imbuído de uma compreensão sobrenatural, orar, cantar, tornam-se gestos maravilhosos, mas na perspectiva atéia de Freud, ele estava certo.

É possível se tornar um religioso, e continuar realizando todos os ritos por mera formalidade.  Wayne Cordeiro relata sua experiência de um dia, fazendo jogging, perceber que seu corpo estava pifando. Teve que ser levado com urgência a um hospital e diagnosticado com um colapso emocional. Ele diz que como atleta, crê que muitos líderes espirituais ainda estão “correndo, porém mortos”, são os “walking deads” espirituais. Oram, cantam, vão à igreja, mas estão mortos espiritualmente.

Zacarias provavelmente sofre de uma doença comum entre pastores, missionários e seminaristas que é a “dessacralização do Sagrado”. Por constantemente lidar com coisas espirituais, o sobrenatural se torna natural e o milagre se torna normal. Perde-se a dimensão do Sagrado. Vê os atos litúrgicos como gestos repetitivos, lê a bíblia para preparar sermão, e assim vai seguindo sua vida no automático. Zacarias vai ao templo, “segundo o costume”, por causa de sua escala de trabalho, e não porque espera encontrar Deus. Pelo contrário, a manifestação do Sagrado lhe desestabilizou profundamente: “Vendo-o, Zacarias turbou-se, e apoderou-se dele o temor” (Lc 1.12). O Sagrado é invasivo, quebra nossa rotina, manifesta-se e desestabiliza a ordem dos rituais, e isto nos assusta grandemente.

Um fator histórico

Creio que o terceiro elemento que levou Zacarias a perder a expectativa, tem a ver com o momento histórico em que ele vive. Em determinados momentos da história do povo de Deus, vemos muitas manifestações angelicais, sonhos, visões, milagres, intervenções divinas, mas em outros momentos Deus se parece estranho e alheio. Nos dias de Samuel, a palavra de Deus afirma que “naqueles dias, a palavra de Deus era mui rara; as visões não eram frequentes” (1 Sm 3.1). Sem dúvida, Zacarias estava vivendo num destes tempos de escassez dos eventos de Deus.

Aqueles dias eram raras as manifestações de milagres. Não apenas Deus deixou de responder sua oração familiar, mas não fala mais a seu povo. Estes dias são conhecidos na história eclesiástica como “período inter testamentário”, ou período do silêncio de Deus. Não há registro de nenhum livro canônico neste período ou de manifestações proféticas. Não há mais revelação... Deus se silenciou... Longos e áridos 430 anos. Para se ter uma ideia, a Lei Áurea foi promulgada em 1888 (127 anos atrás), e a Proclamação da República em 1889 (128 anos atrás), e estes eventos estão muito longe de nossos tempos.

Nos dias de Zacarias, todos os eventos aconteciam no templo, os sacrifícios eram oferecidos, os cânticos eram feitos, as ofertas eram trazidas, as atividades religiosas estavam seguindo seu curso normal, mas Deus está silencioso. Zacarias é o primeiro homem, depois de 430 anos de silêncio, a quem Deus dirige uma palavra cujo objetivo tem a ver com o seu plano para a nação judaica e o mundo. Ele recebe a palavra antes mesmo de Maria e José.

Conclusão

Para encerrar nossa reflexão, gostaria de propor três aplicações praticas:


1.       Nunca se afaste de Deus, mesmo quando lhe parecer muito distante – Apesar de todo silêncio, Deus é um Deus presente. Estar perto de Deus significa sempre a possibilidade de experimentar um milagre. Mesmo em dias quando parece estar fazendo no automático da fé, ore para que Deus encharque seu coração com fogo e que a chama e paixão espiritual não morram em seu coração,. Suplique a Deus a misericórdia para sua vida, mas não se afaste das coisas de Deus. Como no caso de Zacarias Deus pode surpreendê-lo. Estar ao lado de Deus é “sempre um risco”. Ore para que Deus se manifeste em seu tempo e crie expectativas em seu coração.

2.       Este texto nos fala de um Deus se revelando a pessoas que não esperam mais revelação de Deus. Se este é o seu caso, lembre-se disto. Deus pode surpreendê-lo novamente. A Bíblia afirma que “tendo Deus, outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos nossos pais pelos profetas, no últimos dias, nos fala por seu filho” (Hb 1.1-4), e que “Deus, nunca deixou de dar testemunho de si mesmo” (At 14.17). Natal é Emanuel, Deus conosco! Ele continua agindo, mesmo que muitas vezes se pareça estranhamento silencioso em situações provocativas.

3.       Tome cuidado com uma existência sem expectativa – Mesmo diante da explicita manifestação de Deus na sua história, Zacarias tem dificuldade em crer (Lc 1.20). O autor aos hebreus afirma que “é necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que ele existe, e que é galardoador daqueles que o buscam”. (Hb 11-3,6). A fé sem expectativa, não aguarda nada, não espera nada, e não recebe nada, por causa da incredulidade. Sempre há um risco de termos uma geração de “crentes com coração incrédulo”.


Apesar do evento monótono e repetitivo de sua função sacerdotal, Zacarias estava ali no templo, adorando, servindo. Ele não se afasta dos eventos sagrados. Precisamos orar para que Deus mantenha em nós a sua chama acesa, para que nosso coração nunca perca a expectativa do Sagrado.