domingo, 30 de dezembro de 2012

Jos 24 Resoluções do Ano-Novo


Introdução:

Quais são seus planos para o próximo ano? Muito provavelmente você está pensando em tomar algumas decisões importantes para o ano que vem: Um melhor planejamento financeiro, gastar mais tempo com a família, investir mais na sua formação acadêmica, ter mais tempo com os amigos, assumir maior compromisso com as coisas de Deus e, muito certamente, perder alguns quilos que tanto o incomodam. Um amigo me disse que está com um sério problema de metabolismo: Mais de “bolismo” que de “meta...
Não quero desestimulá-lo, mas todos já tomamos decisões bem-intencionadas que infelizmente não deram em nada. Nossos padrões de comportamento quanto aos hábitos alimentares, uso do dinheiro, vida espiritual e agenda são geralmente muito arraigados e precisamos de uma dose extra de vontade para superar estas deformações. Um antigo ditado afirma que “Velhos hábitos são difíceis de morrer”. Estatísticas apontam para o fato que 97% das resoluções de Ano-Novo nunca são cumpridas. Conspiram contra nós o fracasso de nossas resoluções, a pusilânimidade de nossas vontades e a inconstância de nossos votos.
Mark Twain, sarcástico humorista americano disse que “O Ano-Novo é uma instituição anual inofensiva, de nenhuma utilidade especial a não ser como desculpa para bêbados desenfreados, abraços bem-intencionados e resoluções bobas”.
Deixando o cinismo e pessimismo de lado, Ano-Novo nos sugere um olhar para a frente e ver o futuro sob um novo ângulo, de sonhar com uma visão maior. Afinal, “o medo de perder nos impede de ganhar”. Eu sei quão pusilânime é a minha vontade e que certamente vou me esquecer e me atrapalhar com estas novas resoluções, mas ainda assim quero continuar sonhando.

1.       Escolha Deus, em primeiro lugar - Js 24.14: “Agora, pois, temei ao Senhor”. Josué deixa claro para o povo de Israel que eles precisavam assumir uma postura, imediata, em relação a Deus.  O coração do homem tem uma chave pelo lado de dentro. “Eis que estou à porta e bato, se alguém abrir a porta, entrarei, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20). Jesus encorajou seus discípulos a buscarem, antes de tudo, o seu reino e sua justiça. Mt 6.33: “Buscai, em primeiro lugar, o reino de Deus e sua justiça, e todas as demais coisas vos serão acrescentadas”.
Esta escolha para o povo de Israel significava ruptura com outros Deuses que estavam ali no meio do povo. Herança do Egito, influência do povo da terra, os cananitas, com os quais tinham que rejeitar. Da mesma forma temos os Deuses de nossa cultura moderna: Internet, TV, lazer. Geração do entretenimento. Nossas horas vagas não levam em conta Deus.
Portanto, não faça nenhum negócio, projeto ou aliança que o distancie do seu crescimento espiritual, da sua igreja. Muitos não servem a nenhum ministério da igreja, porque seu chamado não leva em conta gastar tempo com as coisas de Deus.
Gordon MacDonald, no seu livro “Ponha em ordem seu mundo interior” faz diferença entre pessoas orientadas por tarefas e aquelas que são orientadas por um senso de chamado. O primeiro grupo, apresenta algumas sérias disfunções:
A.     Primeiro sintoma: Stress. Doença seria em nossos dias. Não tem tempo para descansar, conversar, interagir, lazer.
Dr. Thomas Holmes fez uma escala para avaliar quanta pressão uma pessoa de nossa sociedade sofre por ano, mais de 200 pontos significa que a curva de risco foi ultrapassada, trazendo grandes riscos para um ataque cardíaco, stress emocional, pânico e colapso pessoal. Por exemplo, a morte de um cônjuge tem uma escala de 100 pontos, a demissão de um emprego, a chegada de um novo filho, 39 pontos; natal, 12 e férias, 13. Infelizmene não é muito incomum para o homem moderno, ultrapassar o nível de 200, anualmente.
B.      Segundo sintoma: Gratificado somente com conquistas. Sente que é amado e apreciado apenas quando está fazendo algo produtivo. Ela busca mais e mais conquistas para se sentir respeitada e amada. A vida gira em torno de resultados.
Tendem a se tornar altamente competitivos, vendo cada situação como ganhar/perder.
C.      Terceiro sintoma: Preocupação com os símbolos das conquistas: títulos, status, privilégios especiais. Normalmente possui um incontrolável desejo de ter mais, fazer mais, conquistar mais, possuir mais. Seu significado está em ter, possuir, etc.
Neste caso, integridade deixa de ser essencial e passa a ter valor limitado, já que sua preocupação gira em torno de conquistas.
D.      Quarto sintoma: Forte tendência à explosão e ira reprimida.
Pode ou não ser uma violência física, mas pode ser expressa através do desprezo e insultos aos outros, e isto acontece de forma muito comum no ambiente de trabalho e em casa.
MacDonald sugere que mudemos nosso foco de “pessoas dirigidas” a conquistas pessoais para “pessoas chamadas”. Isto acontece quando nos encontramos com a luz de cristo. Isto certamente vai exigir renuncia de coisas que não são necessariamente ruins, mas que se tornaram importantes por razões erradas. Paulo disse ao Senhor, na estrada de Damasco: “Quem és tu senhor?” e a resposta foi: “Eu seu Jesus, a quem tu persegues, mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer” (At 9.5-6). Nossa esperança encontra-se na compreensão de quem é Jesus e na abertura para entender o que ele quer de nós.
Como age a pessoa que escolhe, antes de mais nada a Jesus, e toma esta resolução na sua vida?
a)- Sua força vem de dentro, e não das suas conquistas exteriores – Maria, na sua simplicidade, ao ser informada pelo anjo que seria engravidada pelo Espírito Santo, não questionou, apenas se dispôs: “Aqui está a tua serva, que se cumpra em mim o teu projeto”.
b)- Possuem um claro senso de seu papel como mordomo – Não se sentem donas de nada. Este é o exemplo de João Batista (Jo 3.28-30). “O que tem a noiva é o noivo”. Precisamos entender que a noiva ainda pertence ao noivo, que é Jesus. Eu amo a igreja, mas não podemos “dar em cima da noiva”. Quando Jesus pergunta a Pedro se ele o ama, logo após a confirmação ele declara: “apascenta os meus cordeiros”. Não cabe a nós determinar o que ele quer para sua igreja. Ela é a noiva de cristo. Nossos somos apenas seus “Best man”, um termo que se usa nos Estados Unidos para aquele que é o melhor amigo do noivo.
No meu senso de mordomia, passo a entender,antes de mais nada, que tudo o que possuo é de Jesus. Nossas propriedades, bens, dons espirituais, saúde. Adquiro a percepção de que elas não são minhas, mas pertencem a Jesus. Pessoas orientadas se acham donas, pessoas chamadas se vêem apenas como mordomos. Administrar as coisas de Deus.
c) Sabem exatamente o que são – tem noção de sua identidade. Joao Batista não tinha ilusões sobre sua personalidade: “Eu não sou o Cristo”. Quando não entendemos isto, encontramos dificuldade de discernir nossa identidade: O que eu faço e o que eu sou.
As pessoas perguntavam a ele se ele era o Messias – Ele poderia dizer: “Bem, ainda não pensei muito sobre isto, mas talvez eu seja”. No entanto, ele é categórico: “Eu não sou o Messias”. E afirmava que aquele que viria após ele, não seria capaz de desatar-lhes as correias das sandálias (Jo 1.27). “Eu sou a voz que clamo no deserto, mas ele vos batizará com o Espirito Santo”.
d)- Possuem grande senso de propósito – João estava comprometido a ser “a voz que clama do deserto”, e nada mais. Pessoas assim se comprometem com o reino. “convém que ele cresça, e eu diminua” (Jo 3.30).
Não é muito difícil encontrar pastores e lideres que tem enorme dificuldade em transferir liderança para novas gerações. Por isto, muitos pastores carismáticos querem manter a igreja nas suas mãos, através de filhos, que muitas vezes não tem chamado para a obra, nem compromisso com o reino, para continuarem, de alguma forma, mantendo seu domínio e influencia.
Certo pastor escreveu uma carta a si mesmo, quando tinha apenas 45 anos, para que fosse lida aos 65 anos: “Hoje você está completando 65 anos, e está na hora de transferir sua liderança para alguém mais jovem que você. Portanto, não diga a si mesmo que não há ninguém que possa assumir seu lugar e não acredite na falsa propaganda de auto-gratificação que outras pessoas lhe darão, ao dizerem que você é insubstituível”.
2.     
            Envolva sua família no projeto divino – “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”Js 24.15.
Não faça projetos sem envolver sua família. “eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Muitos pais transferem a tarefa da espiritualidade de casa, deixando eventualmente que os filhos sejam aqueles que os motivam a vir a igreja, só virão se os filhos pedirem para vir a igreja. Ló, um dos personagens da Bíblia, é um bom exemplo de como pode ser arriscado descuidar-se da família. Ele viu uma grande oportunidade de lucro com sua mudança para Sodoma, mas ao tomar a decisão, não considerou outros aspectos. Esta cidade era conhecida por sua maldade. “Ora, os homens de Sodoma eram maus, e grandes pecadores contra o Senhor”. (Gn 13.13). Ló não considerou o ambiente ameaçador para o qual levaria esposa e filhas. Ele considerou apenas o lucro que teria.
O texto afirma que ele “levantou os olhos e viu toda a campina do Jordão” (Gn 13.10). Ele não percebeu o perigo e riscos por detrás dos pastos que ele encontrou para seu rebanho. Poucos anos depois, perderia sua mulher que se tornou uma estatua de sal, não conseguiu superar o glamour e a opulência da cidade; e suas filhas, que influenciadas por uma ética pernicioso se tornariam posteriormente conhecidas como povo de mulheres de moral baixa e duvidosa, garotas de programas, sem valores e princípios. Saíram de Sodoma, mas nunca mais Sodoma sairia de seus corações.

Conclusão:
Quais são suas resoluções para o Ano-Novo?
Se depois de ter assumindo votos e tomado decisões acertadas, você ainda falhar, precisamos lembrar que existe alguém que sempre cumpre suas resoluções para nossas vidas. “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”(1 Tm 2.13). O texto não está afirmando que Deus permanece infiel à nossa infidelidade, mas que ele nunca deixa fiel acerca de si mesmo e de suas promessas.
Deus tem cumprido seus votos e promessas, “de geração em geração”. Ele cumpriu suas resoluções no ano passado e vai cumprir tudo de novo. Mesmo que eu esqueça meus planos e decisões, seu caráter me dá esperança. Eu posso me esquecer do que prometi e falhar, me atrapalhar, me perder e me desesperar, mas Deus vai continuar sendo fiel.
Talvez minhas resoluções me tornem mais santo, aprofundem alguns valores meio esquecidos, ou me tornem mais cuidadoso e gentil com minha família, ou quem sabe me ajudem no meu humor ou mesmo com relação à dieta que preciso fazer, mas se eu fracassar e tiver que voltar para Deus, posso sempre recomeçar, e terei novamente a chance de ser perdoado, revigorar minha alma e aprender outra vez. Deus é capaz de fazer novas todas as coisas, e restaurar, até mesmo um vale cheio de ossos secos. 

Gn 8.1-12 Corvo ou pomba?


Introdução:

Numa das últimas leituras de toda a Bíblia ao ler novamente este texto de Gênesis deparei com a experiência de Noé precisando sair da arca e enviando os pássaros. Uma coisa muito interessante veio à minha mente: Por que Noé, depois de soltar o corvo, precisou soltar a pomba?
Creio que, Noé, que já sabia bastante de zoologia, homem de vida agro-pastoril, percebeu que não foi uma feliz idéia soltar o corvo. Corvo é animal de rapina, se alimenta de resto de alimentos, de coisas podres, de carcaça. Qualquer ambiente, com o mínimo de condição, digamos, ambiental, seria capaz de dar-lhe a sobrevivência.
Pomba é o oposto de corvo. É animal limpo, se alimenta de grãos, frutas e sementes. O texto diz “A pomba não achou onde repousar o pé” (Gn 8.9). Não viu segurança e condições ideais em nenhum lugar por onde passou. O texto diz, porém, que o corvo “ia e voltava” (Gn 8.7).

A figura da arca:
A arca é comparada na Bíblia a lugar de salvação, lugar da presença de Deus e da vida. Arca é meio de salvação, assim como é lugar de salvação a Igreja onde Jesus nos tem colocado. Arca também é lugar de vida. Fora da arca só existe a morte, assim como fora da verdadeira igreja de Cristo só existe a morte. Embora não seja a igreja que salva, nunca vi um homem cheio do Espírito que estivesse fora de uma comunidade onde seus dons e seu serviço pudessem ser colocados a serviço do Reino de Deus. A arca é comparada à Igreja. Pedro diz que ela é figura do “batismo” (1 Pe 3.21. Passagem para a vida!
Agora atenção: Arca nem sempre é o lugar mais cheiroso e agradável para se viver. Tem animal de tudo quanto é jeito! Elefante, girafa, cabrito, porco (e espírito de porco!), tartaruga. Assim parece-se com a Igreja. Muitas vezes nos cansamos de Igreja, mas sabemos que o pior lugar do mundo é fora dela, porque lá fora ronda a morte. Igreja é agência da pregação da salvação. Milhares de pessoas são salvas pelo fato de que a igreja existe. Por esta razão, o movimento de plantação de igrejas é tão urgente. A Igreja de Cristo é lugar da celebração do Nome de Deus, acolhimento aos que são salvos, espaço para a pregação do Evangelho. É a família de Deus. Ela é agência missionária a serviço do Reino de Deus. Seu propósito de existir é proclamar o nome de Jesus, e tornar conhecida entre as nações o seu nome. E Jesus disse que ela é tão importante que “as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt 16.18).
Igreja é a única estrutura organizacional disposta por Deus para dinamitar as fortalezas do inferno. Nenhuma agência humana conspira de forma intencional contra o inferno e suas estratégias que a igreja de Cristo. Ela é uma verdadeira conspiração contra as trevas.
Isto, contudo, não impede que a igreja tenha problemas. Já na Igreja primitiva vemos pessoas com profundos conflitos espirituais como Ananias e Safira. A Igreja subsistiu aos ataques do diabo e sua própria infidelidade. A Igreja da Idade Média revela mais que nunca as fraquezas do povo de Deus, suas contradições e incoerências, seus pecados e fraquezas.
Parafraseando isto que estou dizendo, minha esposa disse certa vez que a Igreja é um hospital, mas que de vez em quando surge um enfermeiro louco querendo praticar a eutanásia. Contudo, é ainda, o único lugar de vida. É nela que você encontra homens e mulheres salvos pelo sangue do Cordeiro, revestidos do poder do Espírito Santo e que buscam formas cada vez mais intrépidas de proclamar o nome de Jesus.

Pombo e corvo revelam facetas de caráter, falam da alma humana, são metáforas dos distintos habitantes da arca, falam de realidades que facilmente são identificadas na Igreja, onde há pombo e corvo…Assim como na arca. Como está a sua vida?
Corvo se ajusta a qualquer ambiente de podridão e carniça. Muitos saem da arca e vivem assim. O texto diz que o “corvo ia e voltava” (Gn 8.7). Corvo, mesmo se adaptando fácil ao contexto de restos, não consegue viver totalmente lá: “vai e volta”, tenta conviver com os dois ambientes, de vez em quando tem algumas crises aqui e acolá, volta, dá uma passeada na arca, revê os amigos que lá deixou, mas se adapta facilmente, a qualquer contexto. Ele não tem a crise do pombo. Pombo vai, vê que o ambiente não é propício e volta. Noé percebe isto por isto manda a pomba!
Corvo se satisfaz com coisas ruins, com os restos, com a carniça. A pomba, o contrário, sempre procura ambiente limpo. O corvo vai e volta, vai e volta. A pomba só fica quando a terra está firme (Gn 8.12). Mesmo quando ela encontra broto de oliveira (sinal de vida), aquilo ainda não é suficiente para ela. Volta para a arca pois ainda não encontrou terra firme! Se as circunstâncias são dúbias, duvidosas, se o ambiente é movediço, arenoso, ela não fica. Precisa de ambiente limpo, foge da lama, do cheiro de morte. Pomba busca vida, não carniça.
Suspeite de sua natureza pecaminosa, ela pode te conduzir à morte – Noé percebe que o corvo não pode ser sua referência.
A pomba é a referência de saúde, de vida. Oposto a isto, existem pessoas que vivem na arca, mas são capazes de enganar quem pensa que pode sair com ele. Pomba é  um animal limpo. Só fica se o ambiente estiver bom. Corvo não se importa tanto - tá tudo ok! Ajusta-se facilmente, relativiza tudo. São pessoas que se escamoteiam de acordo com o ambiente, por isto se enlameiam com facilidade, tem a ver com sua natureza intrínseca. O seu caráter, seu instinto. Seu jeito de ser é assim, tem a ver com a natureza intrínseca. Na verdade, mesmo quando voa, quando dá vôos ornamentais e está nas nuvens, tem seu faro, seu olfato, seus olhos e sua atenção voltados para coisas podres. Olhos fitos em cadáveres. Fareja e se ajunta aos cadáveres. Corvo vive assim!

Aplicação
Vejo pessoas assim: adaptam-se facilmente. O ambiente pode ser pesado, a situação é constrangedora, mas facilmente se ajeita no meio de lama. Jovens que se adaptam em ambientes podres! Por outro lado, vejo pessoas que até tentam, mas dizem: pastor, ali não é meu lugar. Fui e não gostei. Fui mas não achei firmeza! Retornam logo, vê que não dá prá ficar. Questão de caráter, de natureza. No entanto, existem outros que piam como corvos, andam como corvos, se alimentam das comidas dos corvos.
Uma ilustração pode explicar isto. Conta-se que certo dia, depois de uma grande chuva, o rio estava cheio e o escorpião queria atravessar o rio mas sabia que seria impossível. O sapo, seu velho conhecido, porém estava ali por perto, e era exímio nadador. Então o escorpião lhe pediu que lhe desse uma carona e o levasse para o outro lado. O sapo reagiu dizendo que não, afinal, conhecia a natureza agressiva do escorpião e não queria correr riscos. O escorpião, com seu jeito malandro, porém, o convenceu. E quando estavam no meio do rio, o escorpião olhou para as costas do sapo, e não resistiu dando-lhe uma ferroada. O sapo, amortecido pelo veneno, começou a afundar, mas ainda disse. “Agora vamos morrer os dois”. E o escorpião, resignado afirmou já arrependido: “Eu sei, eu sei; mas não pude resistir, faz parte de minha natureza”.

Conclusão:
1.     Deus nos tem chamado para sermos pombas, não corvos - Deus nos deu nova natureza, nova genética. Ele mudou nosso caráter. Paulo pergunta: “Como viveremos no pecado, nós os que para ele morremos?”
Þ   “Irmãos, reparai na vossa vocação”. Pedro afirma: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância” (1 Pe 1.14).
Þ   José, sendo tentado. “Como poderia pecar contra o meu Senhor e meu Deus?”
Natureza determina conduta – “Questão de natureza”. Corvo se alimenta de coisas odes, é ave de rapina. Pomba, pelo contrário se alimenta de grãos, de sementes, não sobrevive sobre carniças e carcaças. Não sou pecador porque peco, mas peco porque sou pecador. Ficamos preocupados com ética, Deus se preocupa com algo bem mais profundo, a natureza intrínseca, o caráter. Nosso problema não é assentimento intelectual, certamente concordamos com a mensagem do Evangelho, o nosso problema é que não temos força para fazer o que Deus deseja de nós, a menos que o seu Evangelho, em si mesmo, nos capacite.

2.     Tome cuidado com a atitude de corvo - “ia e voltava” (Gn 8.7).  Esta instabilidade é destrutiva.
Þ   Gordo que emagrece e engorda… efeito sanfona. Pé no inferno e outro na igreja.
Þ   Elias: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos?” Claudicante, dividido, esquizofrenizado.
Þ   Laodicéia: “Quisera fosses frio ou quente…”
Þ   A Bíblia diz: “Fugi da impureza!” I Co. 6:19 e “fugi das paixões carnais…”
Somente a vida renovada, pode ser referência segura – 8.11 O grande sinal para Noé será um “broto”(renovo de vida), que a pomba traz no bico. Noé não se sente seguro apenas com as pistas que o corvo lhe dá. O fato dele voltar não significa que as coisas estão bem (infelizmente sua natureza se adapta sobre a morte, sobre aquilo que é podre). O que ele sinaliza não é definitivo. Quais são as nossas referências? “As más conversações corrompem os bons costumes”. (1 Co 15.33)

3.     Não se alimente de podridão - Corvo está feliz com a carcaça. Você está feliz com o pecado? Tive uma ovelha recém convertida, que um dia me procurou para conversar sua situação. Ela estava vivendo uma vida de dubiedade, indo à igreja sem se afastar do mundo que me disse aos prantos: Não estou feliz! 
Creio que é exatamente assim que uma pessoa que já teve sua natureza transformada pelo Espírito de Deus deve viver. Ela não pode ficar contente com o pecado. Gente lavada pelo sangue do Cordeiro, e cujo corpo é o templo do Espírito Santo, não consegue conviver com a podridão. Um antropólogo decidiu viver alguns dias como mendigo, e depois, ao relator suas impressões declarou que o maior problema encontrado nos primeiros dias não fora a fome, nem o frio ou a violência, mas o cheiro. Ele tinha que passar muito tempo ao lado de um esgoto, mas como o passar do tempo, foi também se acostumando com a realidade.

4.     Espere a terra ficar secar - Não saia sem segurança! Noé soltou a pomba 3 vezes. Só na terceira vez ela não volta a ele. Não atropele processos históricos da sua vida. Quem tem pressa come cru. Não antecipe o tempo de Deus. Não busque atalhos para a benção, como fizeram Sara e Abraão resolvendo a questão da promessa de Deus que não se cumpria através da serva Hagar.
A Bíblia nos ensina que “para todo propósito há tempo e modo”. Nem o broto da oliveira, ou qualquer outro broto pode nos impedir de voltar para o local de segurança criado por Deus.  Existem muitos que se perdem por causa de um brotinho que aparece na frente!. É necessário encontrar alimento, segurança, lugar para acasalar, fazer ninho. Muitos se aventuram sem qualquer estrutura, e passam miséria e sofrimento desnecessário.
Só saia da arca com plena segurança, foi isto que fez a pomba (Gn 8.12. Quando encontrou segurança e vida, saiu para não voltar. Nem mesmo um “broto” no seu bico lhe dá segurança para sair de forma definitiva. Quanto a Noé, só sairá de forma definitiva 7 dias depois, quer ter certeza de que não vai cometer equívocos.
Suspeite de sua natureza pecaminosa, ela pode te conduzir à morte – Noé percebe que o corvo não pode ser sua referência.
O maior perigo é viver vida de corvo, assumir sua natureza, criar penas, piar como corvo.

5.     Nunca se esqueça: Sem a ação do Espírito Santo, sua natureza é de corvo. Pecado, nas Escrituras, não é algo acidental na sua vida. Faz parte da sua essência. Por isto você precisa estar sempre apresentando sua vida a Deus e pedindo a sua misericórdia. Queremos fazer as coisas santas, mas sem a mudança de nossa natureza, sem regeneração, nada vai mudar. Você vai continuar vivendo no seu pecado.
Por isto a Bíblia nos diz: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Precisamos de outra natureza. “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Você não precisa de melhor ética, você precisa de outra natureza, que só Deus lhe pode conceder. Então, peça a Deus que lhe dê uma nova natureza, transformada. Um caráter parecido com o caráter de seu Filho. O homem entregue à sua natureza vai de mal a pior.

Reações ao texto:
1.       Quais os perigos mais comuns que enfrentamos ao viver estilo de vida de corvo?
2.       E se minha natureza ainda é de ave de rapina? Se eu “gosto, aprecio” carcaças, carniça, existe ainda possibilidade de mudança, como seria possível?
O que fazer quando pombas agem como aves de rapina?
Corvo está feliz com a carcaça. Você está feliz com o pecado?

Gn 6.9 Eis a história de Noé




Introdução:
A vida de Noé é excepcional. Seu chamado, naquela situação especifica é inspiradora. Ao reler esta história, me deparei com o texto que diz: “Eis a historia de Noé”, e fiquei me perguntando se Deus fosse contar para as futuras gerações a minha história, como seria?
O que diferencia a história de um homem no meio de tantos outros homens? O que o torna especial aos olhos de Deus?

  1. Ser o contraponto no ambiente em que vive – o texto de Gn 6 descreve a derrocada e a decadência da raça humana.
Tudo começou na insistência dos filhos de Deus de construírem sua história sem considerar Deus. O texto é enigmático pela sua linguagem. Um escritor chamado Van Daniken, ficcionista e apaixonado por discos voadores afirmou que este texto fazia referência aos ETs. Na verdade, o que o texto da Palavra de Deus nos ensina é que os filhos de Deus se imiscuíram nos relacionamentos com pessoas distanciadas de Deus, e o resultado foi o desvio do compromisso com Deus.
O texto mostra que a decadência foi penetrando no coração do ser humano até que tornou-se “continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5) e isto levou Deus a uma profunda tristeza. “Deus se arrependeu de ter feito o homem na terra e isto lhe pesou no coação (Gn 6.6). Arrependimento divino é a dor de um animal ferido.
O que diferencia a vida de Noé é conseguir permanecer “Justo e integro entre os seus contemporâneos” (Gn 6.9).
Este não é um desafio fácil. Gostamos de popularidade e para isto facilmente negociamos o caráter e barganhamos nossa fé. Considere por exemplo um profissional cristão no meio de uma geração acostumada com subornos e que institucionalizou a corrupção. Isto não seria um grande problema para nós se não ativéssemos tanto desejo de enriquecimento rápido e de sermos aceitos. Noé, contudo, permaneceu justo e integro em suas convicções e atitudes.
Pense num jovem que vive numa sociedade que relativiza a ética, onde todos seus colegas tem sexo antes do casamento e ele, para agradar a Deus, resolve viver uma vida diferenciada?

  1. Noé andava com Deus - (Gn 6.9) - Queremos ser íntegros sem entender que o relacionamento com Deus é o único fator que pode nos manter firmes numa geração corrompida. Na verdade, a razão de Noé viver desta forma diferenciada, o segredo de sua vida estava no seu relacionamento com Deus.
Numa entrevista com 243 líderes cristãos que caíram moralmente, dois pontos foram marcantes:
a)- Achavam que isto nunca aconteceria com eles;
b)- Achavam-se desprotegidos espiritualmente - Não liam mais a Bíblia devocionalmente, não oravam mais com constância, deixado as reuniões de oração, perdido o interesse pela sua liderança espiritual e desejo de buscar a Deus – e caíram.

A Bíblia diz que “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Sabedoria (Hokma) é uma palavra que tem a ver com a prática, capacidade de fazer escolhas. O que nos livra da queda e da corrupção moral não são nossas decisões, mas a presença do Espírito Santo que livra nossos pés da queda, dá-nos autoridade e vigor espiritual. A fonte de nosso vigor é a comunhão com Deus, de onde saem as fontes de água viva. “Noé andava com Deus”, e isto fazia toda diferença.
Em Mc 3 lemos que Jesus antes de escolher seus 12 apóstolos, subiu ao monte para orar e passou a noite inteira conversando com o Pai. “Então, designou 12 para estarem com ele” (Mc 3.14). Antes de dar-lhes qualquer função, ou a tarefa de pregar, curar, expelir demônios, convidou-os para estarem com ele.
Aqui reside o segredo da vitalidade cristã: Estar em comunhão com Jesus. “Sem mim, nada podeis fazer”. É o andar com Deus que pode nos diferenciar e fez diferença entre Noé e seus contemporâneos.
Noé andava com Deus. A caminhada com Deus fez algumas coisas excepcionais na vida de Noé.

  1. Noé achou graça diante do Senhor ((Gn 6.8). Noé experimentou uma das coisas mais fantásticas que um homem pode ter aos olhos de Deus: Graça!
Assim foi com:
                ABEL: “Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta”.
                MOISÉS: Era amigo de Deus
                DAVI: Um homem segundo o coração do pai.
                MARIA: “alegra-te muito favorecida, o Senhor é contigo!”
                NOÉ: “Achou graça diante do Senhor!”
Por isto, Josué e Calebe, quando se viram diante do grande desafio de entrar na terra prometida, expressaram: “Se o Senhor se agradar de nós”.
A Bíblia fala de muitos homens de quem Deus se agradou. Mas fala de muitos de quem Deus se desagradou:
                O POVO DE ISRAEL que havia saído do Egito, e que não expressou nenhuma gratidão, mas vivia murmurando – “Não entrarão no meu descanso” (Hb 4.3; Sl 95.11).
                ESAÚ – Impuro e profano, “que posteriormente querendo herdar a benção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lagrimas, o tivesse buscado” (Hb 12.16,17).
                SAUL – “Visto que rejeitaste a Palavra do Senhor, já ele te rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel” (1 Sm 15.26).
Agora, uma coisa maravilhosa é que Deus sempre faz coisas novas. Uma das grandes afirmações da Bíblia é que um coração quebrantado e compungido não será desprezado por Deus.
Que coisa maravilhosa é achar favor aos olhos de Deus. Que coisa triste sermos rejeitados por causa de nossa impureza, estilo de vida pecaminoso, profanação, endurecimento e incredulidade...

  1. Deus faz aliança com Noé e seus filhos – (Gn 6.18). Faço questão de considerar a natureza da aliança que Deus faz conosco. Deus disse para Noé entrar na arca com sua esposa, filhos e noras. O apóstolo Pedro afirma que a arca prefigura a igreja (1 Pe 3.20,21).
Deus insere a família de Noé neste pacto.
Fico feliz em pensar que todos os pactos de Deus que existem nas Escrituras são inclusivos, isto é, produzem implicações para as gerações que virão depois de nós. Meu envolvimento com Deus gera vida nos meus filhos. Corremos o risco de nos esquecermos disto.
Tenho visto pais que por causa de sue frágil compromisso com a fé cristã, estão vendo que a fé que possuem, está morrendo neles mesmo. Filhos e netos nada saberão de substancial sobre a o amor de Cristo por eles.
Uma forma de você avaliar isto é perguntando a si mesmo. Minha fé exige algum sacrifício de vida, consagração, envolvimento. Fé que não custa nada não vale nada!
Eu vi isto acontecer nos EUA, o templo que compramos próximo a Harvard, ficou fechado por 25 anos sem adoradores. Os filhos simplesmente deixaram de freqüentar a igreja e perderam o interesse pela fé cristã.
Sua fé é do tipo que avança para as próximas gerações ou vai morrer em você? Você olha para seus filhos desejando que a fé se prolongue neles? Seus filhos são capazes de continuar mantendo o bastão do chamado que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó lhe tem feito através de Cristo, ou morre em você?.
Deus disse a Noé: “Entra na arca, tu e toda a tua casa” (Gn 7.1). Este é o mesmo convite que Deus está nos fazendo hoje, para virmos com toda nossa família e andarmos por obediência e fé em nossa casa.

  1. Deus lhe dá senso de Missão – Deus tem projetos para aqueles que caminham com ele. Assim se deu aos discípulos de Cristo: “E lhes designou para estarem com ele, e a exercer autoridade sobre espíritos malignos” (Mc 3.13-14)
Noé recebe a missão que possui implicações com toda raça humana e até com a própria natureza. Deus dá àqueles que se relacionam com ele, missões que podem transformar toda uma cultura, e que possui implicações ecológicas, ligadas ao mandato cultural.
O senso de missão significa perceber que sua vida vai para além de si mesmo. Deus não nos dá vida apenas para alcançar nossos projetos pessoais. Gente que anda com Deus deixa-se consumir em sonhos que nascem no coração do Pai.
Na maioria das vezes nossa vida é um fim em si mesma, isto é, falta-nos um senso de missão, que nos transcenda. Deus não me chama apenas para manter-me física e existencialmente, mas para olhar para fora e além de mim mesmo.
Só encontra missão quem percebe sua vida em movimento com o agir de Deus na história, e assim, mesmo fragilmente e com limitações se vem como agente de Deus na historia, com um senso de direção para coisas que vão além de sua própria subsistência.
Deus chama Noé para um projeto absolutamente excêntrico: construir uma arca numa terra seca. Trazer animais diferentes para ela. Os amigos riram, zombaram, mas ele tinha uma percepção clara de Deus por causa do senso de missão que estava presente em seu coração.
Qual é o projeto de sua vida que transcende você? Não estou falando do seu projeto individual de passar no vestibular, abrir sua empresa, ganhar dinheiro, passar no concurso, comprar uma casa, criar filhos e viajar. Tudo isto é bom – mas qual é o senso de missão que permeia sua mente e coração?

  1. O terceiro elemento que diferencia a história de Noé é sua obediência radical. “Assim fez Noé, consoante a todo o que Deus lhe ordenara”(Gn 6.22). “E tudo fez Noé, segundo o Senhor lhe ordenara” (7.5). “como Deus lhe havia ordenado”(7.16). Noé se recusa a fazer de forma diferente daquela ordenada por Deus.
Como Deus ordena. Não inventa regras novas, nem faz uma constituição de acordo com seus pressupostos. Apenas obedece.
Não foi assim com Maria quando ouviu a mensagem do anjo dizendo que ela ficaria grávida do Espírito Santo? “Aqui está a tua serva, que se cumpra em mim conforme a tua palavra”(Lc 1.38). Não se sentiu ameaçada ou deu justificativas, simplesmente obedeceu.
O grande problema de nossa vida é que estamos sempre querendo fazer as coisas do nosso jeito ao invés de fazermos o que Deus manda fazer. Se estivéssemos no lugar de Noé, talvez fizéssemos uma lista mais ou menos assim:
Þ      “Deus, não dá para ficar sem o elefante? É grande demais e come muito”...
Þ      “Deus, deixa de fora o porco – faz muita sujeita e cheira mal”....
Þ      “Senhor, vamos negociar o porco-espinho? Ele é muito agressivo”...
Noé simples fez tudo, segundo o Senhor lhe ordenara.
Exata é a história de Noé.

Conclusão:
Nós acabamos de ouvir a história de Noé. Qual seria a nossa história se fosse contada por Deus? Se Ele resolvesse fazer uma síntese nossa, quais capítulos seriam escritos? Quais tópicos marcariam nossa biografia? Seria permeada por nossas momentâneas instabilidades e inconstâncias?
Gosto muito de considerar também o fato de que Noé encontrou graça diante de Deus. Adiante vamos entender melhor esta questão.
Graça é um elemento fundamental em nossa historia. Significa que Deus ainda assim nos ama. Se você continuar lendo a história de Noé, verá posteriormente que ele exagera nas suas atitudes. Toma um porre, é envergonhado por sua atitude ao ficar nu diante de seus filhos (Gn 9.21). Noé não figura na lista de homens da bíblia por ser perfeito, mas por experimentar a graça de Deus em sua vida.
Esta é a nossa história diante de Deus.
Em Ef 2.8-9 lemos que não somos salvos por causa de nossa impecável performance, mas pela incomensurável graça de Deus ao nos substituir na cruz, levando sobre si nossa nudez e vergonha, assumindo nosso lugar.
Deus tomou minha vergonha, meu fracasso e levou sobre si todas as minhas dores.
A coisa mais fantástica da vida é “acharmos graça diante de Deus”.
Esta é a história de Noé – Um homem justo e integro entre seus contemporâneos. Noé andava com Deus. Achou graça diante do Senhor (Gn 6.8-9).

Qual é a sua história?

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Lc 2.15 Vamos Até Belém!




Introdução:

Esta foi a declaração que os pastores fizeram, logo após a revelação angelical que tiveram no deserto da Judéia. “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que se deram entre nós”. O que aconteceu em Belém não é algo que podemos ouvir e esquecer, mas precisamos considerar a possibilidade de estar ali, e ver o que aconteceu.
O problema nosso é que queremos ir para o Shopping, nos distraímos com os panettones, com as bebidas e convidados. Esquecemos que em Belém é o lugar para onde devemos ir. No Natal não podemos deixar de ir a Belém, e ver as coisas que entre nós se deram. Naturalmente Belém é mais que um espaço físico ou uma geografia. Este é o lugar onde podemos encontrar Jesus.

Por que Belém é tão importante?
  1. Para esta pequena cidade de Judá convergem todas as atenções do cosmos. Todo o plano da redenção cuidadosamente elaborado antes da fundação do mundo pela Trindade começa a se historicizar em Belém. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, Jesus, nascido de mulher” (Gl 4.4). O Deus inteiramente outro, se torna inteiramente nosso irmão. O Transcendente se torna imanente. O Eterno se faz história.
O Nascimento de Jesus não é algo circunstancial, mas faz parte de uma estratégia de Deus. A idéia é tão revolucionaria que surpreende os judeus (que aguardam a vinda do Messias); surpreende os próprios profetas que indagavam, inquiriam e investigavam, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, sobre os sofrimentos referentes à Cristo e sobre as glórias que os seguiriam (1 Pe 1.10-11).  Por fim, surpreende os demônios, que reagem: “Vieste perder-nos antes do tempo? Bem sei quem és, o Santo de Israel”. O dragão, a antiga serpente, montou toda uma estratégia de oposição para destruir a criança conforme a descrição de Apocalipse 12, lançando mão dos poderes políticos representados por Herodes. A luta do dragão caminha na direção do extermínio da criança que vai nascer. Ele deseja devorá-la logo após o parto. Satanás vai fazer de tudo para destruir a criança que um dia há de destruí-lo. A antiga serpente precisa impedir completamente a encarnação, o nascimento desta criança.
Por o Reino de Satanás demonstra tanta oposição ao nascimento desta criança? 
A encarnação de Cristo, sua historicidade e humanidade, ocupam um lugar central no plano da redenção estabelecido por Deus. Todas as Escrituras apontam para este grande evento. O nascimento deste menino tem espaço central na expectativa judaica. Seu nascimento é um turning point na história da humanidade e nos propósitos eternos de Deus. Por esta razão, o projeto de Deus é mantido em secreto. Paulo fala de Jesus como o mistério de Deus “desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas” (Ef 3.8-9).
Assim como existe uma santa expectativa entre o povo de Deus e entre os anjos (I Pd.1:10-11) Existe também grande apreensão e temor no inferno. Tão logo este projeto se é anunciado, Satanás persegue violentamente o menino. Ele sabe que esta criança é sua grande ameaça. A grande oposição do diabo à criança demonstra como a encarnação é um fato dramático para o inferno, por isto seu nascimento é cercado de um “segredo”, ou de “grande mistério” não revelado inteiramente aos profetas: Deus haveria de vir ao mundo, não apenas através de seus mensageiros (os anjos), nem daqueles que falavam suas verdades (os profetas), mas através dele mesmo tornando-se gente e habitando entre nós.
A teologia cristã começa em Belém. Dali surge toda uma nova concepção e reflexão sobre o interesse e amor de Deus, não apenas por uma nação, mas por todo o mundo. Cristo não veio nos dar um evangelho para ser pregado, mas veio para que houvesse um evangelho para ser pregado. E em Belém começam as boas novas. “Eis que vos trago boas novas de grande alegria, que será para todo povo: é Que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo,  o Senhor”.
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  1. Para Belém se move a história humana – O Calendário gregoriano nos diz que estamos no ano 2012. O Ano zero acontece com o nascimento de Jesus. Para o mundo ocidental, o nascimento do Filho de Deus desencadeia um novo cronograma na história. Embora saibamos que a cristandade nem sempre traduziu a mensagem de Cristo, distanciando-se tantas vezes de seu projeto.
Na perspectiva da Trindade todo o projeto de Deus toma corpo e se manifesta em Belém. Paulo fala que no nascimento de Cristo, se dá “a plenitude do tempo”. A vinda de Jesus está dentro de um tempo de Deus: “Vindo a plenitude do tempo” (Kairos). No grego existem duas palavras para tempo: Kronos, um tempo cronológico e Kairos, um tempo especial. O texto de Gálatas nos fala da soberania de Deus sobre os eventos da história. Todo o cosmo e todos os poderes históricos constituídos, sejam impérios, soberanias e grandes nações estão debaixo de uma orientação divina, e Deus faz convergir a história toda, para o nascimento de Cristo. Dentro dos planos de Deus, a plenitude dos tempos se cumpre no nascimento de Cristo.
A vinda de Jesus faz parte de um projeto universal de Deus (pleroma) que se inicia neste evento de Belém, no singelo e ordinário nascimento de uma criança pobre.
Por isto, para Belém afluem os magos trazendo seus ricos presentes. Os escribas de Jerusalém não ignoram as profecias, embora desprezem os sinais que lhes são dados. Belém também atrai oposição e ira, reveladas em Herodes na matança dos inocentes. Naquela criança reside toda plenitude de Deus. Belém é o epicentro da revelação, das profecias e da história de Deus.

  1. Em Belém, nossa alma encontra esperança – Voltaram os pastores glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado” (Lc 2.20).
Por Deus ter enviado seu Filho, nascido de mulher entendemos que algo muito especial acontece em Cristo. Deus está anunciando esperança e sonhos, através de sua encarnação. “Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, porque os meus olhos já viram a salvação”. Esta é a oração do piedoso Simeão. Ana, outra piedosa mulher, olha com encanto para este menino, que será alvo de contradição, mas também salvação de muitos.
Belém nos aponta para um projeto universal de Deus, de uma promessa... Se existe esperança para nossa história, ela se inicia em Belém. “Vamos até Belém ver os acontecimentos que entre nós se deram”. Belém é este ponto inicial, de onde flui a graça.
Os magos vão até Belém: “Vimos sua estrela no oriente e viemos para adorá-lo”. “Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram suas ofertas: Ouro, incenso e mirra” (Mt 2.12). Todos os que vão a Belém e entendem o que aconteceu ali, naquele dia especial, voltam renovados, cheios de esperança e alegria.
Para lá não vai Herodes... Ele envia sua tropa de choque para exterminar e matar...
Para lá não seguem os escribas... que sabem tanto das profecias, mas ligam tão pouco para sua transformadora e renovadora experiência.
Para lá se dirigem aqueles que são chamados por Deus para um encontro com ele mesmo. Nenhum de nós, por mais estranha que seja nossa cosmovisão e teologia,  como era a dos místicos magos; por mais monótona que seja nossa existência, como a dos pastores no campo; por mais idosos que sejamos, como Ana e Simeão, vai deixar de experimentar a alegria e esperança que este menino traz àqueles que dEle se aproximam.

Conclusão:
É para Belém que devemos ir: Ali devemos começar toda nossa reflexão sobre a vinda do Menino-Deus.
É para Belém que devemos ir: Ali, prostrados e maravilhados, entregamos nossas oferendas e presentes e glorificamos a Deus.
Para Belém convergem o anjo que anuncia as grandes novas e o coral de anjos que anuncia: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra aos homens, a quem ele quer bem”.
Para Belém convergem as profecias minuciosamente entregues por Isaías “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o seu nome será: Maravilhoso conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6). O Brado de Miquéias também se concretiza naquela manjedoura: “E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo entre milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. (Mq 5.2).
É para lá que convergem os magos do Oriente, trazendo ouro, incenso e mirra. Ali, diante da manjedoura se ajoelharam e entregaram suas vidas e dádivas. É para Belém que devemos ir.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lc 1.5-23 A obra do Messias



O Povo judeu sempre viveu em torno da expectativa messiânica. Todas as vezes que era subjugado, sofria um viés político ou era escravizado pelos estrangeiros, a esperança messiânica era profundamente reativada.
Em nenhum momento, a perspectiva do messias tinha a idéia de uma restauração espiritual, tratava-se antes de alguém com força política suficiente para sacudir o jugo e a opressão dos inimigos e colocar Israel no centro das atenções de todos os povos e entre as grandes nações. O jugo seria quebrado, a opressão desfeita.
Os discípulos, mesmo depois de caminharem por três anos com Jesus, e terem ouvido exaustivamente o seu projeto, não conseguiram mudar a visão nos seus corações. Na multiplicação dos pães, houve um levante para fazê-lo rei e Jesus se retira para o monte a fim de orar (Jo 6.14-15); Logo após sua ressurreição, quando se depararam com sua majestade, o messianismo aflorou neles: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1.6) e Jesus lhes diz que não lhes competia conhecer tempos ou épocas que o pai reservara para sua exclusiva autoridade, mas que eles receberiam poder quando descesse sobre eles o Espírito Santo e seriam suas testemunhas até os confins da terra (At 1.7-8).
No anúncio que o anjo faz a Zacarias, pai de João Batista, a síntese da missão do messias possui quatro dimensões, e nenhuma delas corresponde à expectativa que o povo judeu havia construído. Quais são elas:

  1. Converter muitos dos filhos de Israel ao Senhor – (Lc 1.16). Alguns aspectos desta conversão são aqui descritos:
    1. O texto não fala de conversões de pagãos a Deus, mas dos filhos de Deus, a Deus. Isto deve servir de alerta a todos nós. Há muita necessidade de conversão do povo de Deus a Deus. Há muita apostasia travestida de piedade; muita religiosidade ocultando frieza e pecado; muita adoração apenas de lábios; muito paganismo no meio da igreja e muita aparência ocultando e encobrindo a ação de Deus entre nós.
    2. Esta conversão é obra de Deus, já que o próprio messias nos converteria a Ele. Não é auto conversão, nem obra da carne e do sangue. Para que a conversão se torne real em nós, é necessário que haja uma obra do Espírito em nosso coração para nos transformar.
    3. Nem todos serão convertidos, já que o texto nos fala que “muitos”, e não “todos” filhos de Israel se converteriam. Portanto, há pessoas no meio da igreja de Cristo que nunca se converterão, como nos descreve o apóstolo Paulo: “Pois entre estes se encontram os que penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé” (2 Tm 3.7-9).

  1. Converter o coração dos Pais aos Filhos – Numa referência clara a Mal 4.5-6: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR; ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha e fira a terra com maldição”.
A conversão evangélica possui uma dimensão horizontal, tendo que passar necessariamente pelas relações familiares. Filhos precisam se converter aos pais e os pais aos filhos; afinal, se alguém não tem cuidado dos seus, especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé e é pior do que o incrédulo (1 Tm 5.8). Se a mensagem de Deus não atingir a família, ou você entendeu equivocadamente sua mensagem, ou está enganando a si próprio.
A salvação possui uma dimensão vertical e outra horizontal. Por mudar a relação e nos reconciliar com Deus, afeta diretamente nosso ambiente familiar, criando uma espiritualidade sadia que se manifesta nos afetos. Portanto, a salvação possui uma dimensão vertical (dos deuses falsos ao Deus verdadeiro); e uma dimensão horizontal (agindo em nossos afetos e fazendo de nós pessoas diferentes no trato com nossos familiares.

  1. Conversão dos desobedientes à prudência dos justos – (Lc 1.17) A Bíblia nos mostra que o desobediente, o relativista moral, se distancia de Deus buscando sua autonomia e  independência, para fazer o que der na cabeça, mas que na verdade seu estilo de vida é imprudente. O pecador é imprudente!
Ele acha que pode continuar no seu pecado sem que haja conseqüências, que não haverá juízo para sua vida, que pode desobedecer que nada lhe acontecerá. As Escrituras nos ensina que este é o pensamento de gente sem juízo: “O simples passa a frente e sofre a conseqüência, o prudente vê o mal e se esquiva”.
O Evangelho vem nos livrar da insensatez e imprudência do pecado. Paulo fala a Timóteo: “A sua insensatez será evidente a todos, como também aconteceu aos demais” (2 Tm 3.8-9). Ao falar dos encargos do pastor, Paulo afirma: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Tm 2.24-26).
A obra do messias inclui esta maravilhosa obra de nos converter da imprudência para a prudência; da insensatez para a sensatez. Isto acontece com aqueles que crêem em Cristo, pois nunca, jamais, serão envergonhados ou confundidos, já “o caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam”.

  1. Habilitar para o Senhor um povo preparado – (Lc 1.17). Preparado para que? O desejo de Deus é criar um povo para glorificar o seu nome. “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1.4-6).
Habilitar tem a ver com capacitação. O Messias deseja realizar esta obra em nós, para que glorifiquemos e exaltemos o nome de nosso Deus. Nós somos a matéria bruta que o Senhor deseja lapidar para que seu nome seja glorificado em n’os.
Para que isto se dê, Ele concede dons à igreja. “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13).
Deus tem feito isto desde os primórdios, levantando um povo eleito para revelar seu projeto,para lhes dar culto, para que entre eles surgissem seus profetas a quem transmitia seus oráculos. Para que este povo fosse levantado, fez alianças e promessas, deu o culto levítico e nos últimos dias enviou seu único filho para formar um povo para seu louvor. O apóstolo Pedro afirma: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Um povo para anunciar ao mundo os seus poderosos feitos e a obra de sua redenção.
Conclusão:
O anúncio do nascimento de João Batista fala deste novo tempo. Ele seria a voz no deserto, preparando o caminho do Senhor e preparando a chegada do Messias. Este ministério de conversão não seria executado por João, mas começaria na sua palavra que anunciava a chegada do Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo.
O anúncio do natal, em seus primórdios, nos fala desta maravilhosa realidade da ação de Deus em nossas vidas.

Lc 2.8-20 A Subversão do Natal






Introdução:

O Natal é subversivo na sua natureza.

A. O cântico de Maria: Lc 1.52-53
Maria anelava por mudanças. Ao receber o anúncio trazido por Gabriel, ela soube que o ente gerado em seu ventre era a resposta aos seus anelos. Maria afirma que Deus havia deposto os poderosos do trono, e elevado os humildes. Ela fala como alguém que vivia além do seu próprio tempo. Por isto, os fatos não eram escatológicos, mas já teriam acontecido. Deus já teria enchido de bens os famintos, e despedido vazios os ricos. Maria não está falando de coisas que abrangendo a realidade sócio-econômica de seu país. O nascimento de Jesus anuncia que o tempo fora subvertido, e o futuro invadira o presente. O Alfa e o Ômega agora vive em nosso meio. A ordem predominante teria que ser colapsada para dar vazão ao Reino de Deus.

B. O cântico de Simeão: Este piedoso homem, que esperava a consolação de Israel e aguardava ansiosamente a vinda do Messias, ao se encontrar com Maria e Jesus no templo, profetizou também: “este menino está destinado para ruína e para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição” (Lc 2.34). Natal não era para acomodar o establishment, mas para ameaçá-lo. José teve que exilar-se com seu filho e Maria para o Egito, um ambiente que não era seu, numa cultura e língua distintas. A presença do Messias ameaça. José e sua família viveram na clandestinidade até o momento designado por Deus.

Os judeus não conseguiram entender esta coisa de Deus se tornar homem. Por isto Paulo afirma que a cruz era “escândalo para os judeus” e “loucura para os gentios”. O Deus Todo-Poderoso visitando a humanidade e partilhando da canseira dos mortais não fazia muito sentido nem para a mente daqueles dias, nem para nossa mente secularizada de hoje.

C. O cântico de Zacarias – Este velho sacerdote vai falar da vinda do “sol nascente nas alturas”, que viria para “alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lc 1.78-79). A vinda do Messias inquietaria o inferno e todo o seu séquito, traria esperança e graça para quem vivia no desespero e na desgraça. A vinda do Messias é subversiva no sentido de que destrói estruturas e sistemas do mal, e abre perspectiva para um novo tempo e para uma nova realidade.

“Eis que vos trago boas novas de grande alegria, é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Que grande revolução esta idéia de um Deus andando entre homens. Imaginem a Presidenta Dilma assentando-se num restaurante de um canteiro de obras de peões, no calor do meio dia... Não seria notícia? Não seria causa de espanto? No entanto, não estamos falando de alguém com domínio político de uma região ou país, estamos falando da realidade dos céus visitando a terra.

Neste texto existem três elementos que demonstram esta revolução na vida dos pastores:

  1. O Natal substitui prepotência por humildade – “Encontrarás o menino envolto em panos e deitado em manjedoura” (Lc 2.12).
Que coisa mais impotente pode existir que uma criança? Isto, por si só, já é subversivo. Um bebê só sabe chorar e sujar fraldas, exige cuidado constante, é dependente e frágil. Algumas jovens mães se sentem absolutamente amedrontadas quando precisam dar banho num recém nascido, tamanha fragilidade...
O menino Jesus nasce num curral. Que contraste com a luxúria e o glamour do palácio... do nascimento de crianças em berços de pessoas ricas e nobres. O Rei dos reis se esvazia de sua glória, e é colocado ao lado de animais.
Os magos indagam: “Onde está o recém nascido rei dos judeus?” Quem poderia imaginar que naquela criança se encontra o Grande Eu-Sou, o rei do universo?
O nascimento de Jesus ironiza dos pressupostos que sustentam nossa sociedade capitalista e consumista. “Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1.52).

  1. Natal transforma o medo em alegria – Os pastores ficaram assustados, mas o anjo lhes disse: Não tenham medo” (Lc 2.10).
Os fatos presenciados pelos pastores os deixaram atônitos. Eles estão com medo, mas o anjo diz: “Não temais!”
Um casal de amigos passava por um tempo de muita dificuldade, os sonhos e a realidade deles fora radicalmente mudada com a falência da empresa. Num momento eram ricos, noutro; noutro, já não sabiam mais como manter sua casa. Num destes dias, nas vésperas do natal, angustiados e perplexos, voltavam para sua casa e o ambiente parecia ser de velório. Então ele disse a sua esposa: “Coloca um pouco de música de natal pra gente ouvir, pra ver se o ambiente modifica um pouco” e seguiram a viagem, ouvindo as antigas letras e canções que agora, no meio do sofrimento, tentavam encontrar um significado maior no meio da dor e caos.

O natal é um convite à esperança:
Eis que vos trago novas de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo o Senhor” (Lc 2.10,11).
Talvez precisemos dizer: “Senhor, não me deixe ficar assustado, nem atemorizado com as ameaças. Me ajude a lembrar que o teu Filho deixou a sua glória para nos trazer fé e esperança. Eu recuso a crer que estou à mercê das circunstâncias ou dos homens – me ajude a lembrar que estou em tuas mãos”.
A Bíblia afirma que Jesus é a pedra de esquina, a rocha sólida, em quem podemos nos apoiar. Se perdermos tudo, e mantermos nossa integridade e continuarmos firmes em Jesus, poderemos recomeçar tudo novamente. Precisamos pedir a Deus que transforme o nosso pranto em alegria, e que nos dê vestes de alegria ao invés de espírito angustiado.

  1. O anúncio do natal substitui monotonia por revelação – Como era a vida dos pastores? Glamourosa ou entediante? Sabemos que tinham que enfrentar perigos e frio à noite, e um calor insuportável de dia; Lobos e leões vorazes ameaçando constantemente o rebanho. Certamente não tinham o emprego dos sonhos. Ficar eventualmente muitos dias longe de casa, conduzindo e vigiando as ovelhas. Um dos grandes problemas da vida moderna é o tédio. A vida sem novidades, mera repetição diária: Emprego, escola, buscar meninos no colégio, receber salário, pagar contas...
Certo motorista de ônibus circular teve um surto de estresse e foi encontrado a 600 km distante do seu circuito, com todos desesperados tentando descobrir o que lhe havia acontecido. Quando o pegaram, ele resignadamente afirmou que só estava tentando fazer alguma coisa diferente...A empresa, ao invés de puni-lo, resolveu tratar de sua saúde, e centenas de carta de apoio foram escritas, de pessoas que tinham o mesmo sentimento de tédio nas suas vidas.
O natal nos lembra que sua história está sendo dirigida por Deus. Deus tem um propósito e precisamos descobrir, seja qual for o momento e as condições de nossa vida, onde está o movimento de Deus.
Leslie Newbigin defende a idéia de sermos uma igreja missional. Uma comunidade que aprende a distinguir o mover de Deus no dia a dia e segue este impulso do Espírito. Rick Warren traduziu esta idéia dizendo: “Não somos chamados para fazer ondas, mas surfar nas ondas de Deus”.
O Natal nos aponta para o novo de Deus. Rick Warren: “Veja a realidade não como ela é, mas como ela pode ser”.
Quer uma vida de aventura? Siga o Senhor. Deus pode surpreender você. Não fique assustado com os ventos contrários de hoje, nem com a tempestade que o assusta no momento. Tente descobrir o Senhor nos movimentos diários de sua vida. É interessante que nos eventos do natal, os animais e intervenções se sucedem no cotidiano das pessoas, nos eventos do dia a dia.
Zacarias – Estava na igreja, fazendo seu trabalho de sacerdote, quando o Senhor o visitou.
Maria – Estava na sua labuta doméstica como adolescente na casa de seus pais.
Pastores – Estavam no campo, trabalhando, sustentando sua casa.
E a vida de Deus se manifesta e acontece no meio destas pessoas simples, Deus surpreende a história humana, invadindo a história, e fazendo novas todas as coisas.

Conclusão:
No natal, tudo pode acontecer.
O mundo é renovado, tudo é colocado de cabeça para baixo. Deus resolve visitar a humanidade.
Ele viu nossas contradições e medos, nossa angústia e solidão, e resolveu estar conosco. Caminhou no meio do pobre nordestino, dos becos, periferias e favelas de nossa cidade, para nos amar. Viu nossas Candelárias, Carandirús, Sowetos, Biafras e auschwitz. Viu o grito dos indefesos sem que ninguém os pudesse socorrer. A exploração indevida de nossas florestas, os rios poluídos das grandes cidades, a dor dos injustiçados e o grito dos mártires, o clamor dos inocentes.
Viu o vazio de nossas casas, com tanta fartura e tanta solidão e insensibilidade, viu a indiferença e dor e resolveu fazer uma tenda entre nós.
Nosso planeta foi visitado por Deus.
Isto é natal! Celebremos, portanto, a presença de Deus entre nós!