O Povo judeu sempre viveu em torno da expectativa
messiânica. Todas as vezes que era subjugado, sofria um viés político ou era
escravizado pelos estrangeiros, a esperança messiânica era profundamente
reativada.
Em nenhum momento, a perspectiva do messias
tinha a idéia de uma restauração espiritual, tratava-se antes de alguém com força
política suficiente para sacudir o jugo e a opressão dos inimigos e colocar
Israel no centro das atenções de todos os povos e entre as grandes nações. O
jugo seria quebrado, a opressão desfeita.
Os discípulos, mesmo depois de caminharem por
três anos com Jesus, e terem ouvido exaustivamente o seu projeto, não
conseguiram mudar a visão nos seus corações. Na multiplicação dos pães, houve
um levante para fazê-lo rei e Jesus se retira para o monte a fim de orar (Jo
6.14-15); Logo após sua ressurreição, quando se depararam com sua majestade, o
messianismo aflorou neles: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino
a Israel?” (At 1.6) e Jesus lhes diz que não lhes competia conhecer tempos ou
épocas que o pai reservara para sua exclusiva autoridade, mas que eles
receberiam poder quando descesse sobre eles o Espírito Santo e seriam suas
testemunhas até os confins da terra (At 1.7-8).
No anúncio que o anjo faz a Zacarias, pai de
João Batista, a síntese da missão do messias possui quatro dimensões, e nenhuma
delas corresponde à expectativa que o povo judeu havia construído. Quais são
elas:
- Converter muitos
dos filhos de Israel ao Senhor – (Lc 1.16). Alguns aspectos desta
conversão são aqui descritos:
- O
texto não fala de conversões de pagãos a Deus, mas dos filhos de Deus, a
Deus. Isto deve servir de alerta a todos nós. Há muita necessidade de
conversão do povo de Deus a Deus. Há muita apostasia travestida de
piedade; muita religiosidade ocultando frieza e pecado; muita adoração
apenas de lábios; muito paganismo no meio da igreja e muita aparência
ocultando e encobrindo a ação de Deus entre nós.
- Esta
conversão é obra de Deus, já que o próprio messias nos converteria a Ele.
Não é auto conversão, nem obra da carne e do sangue. Para que a conversão
se torne real em nós, é necessário que haja uma obra do Espírito em nosso
coração para nos transformar.
- Nem
todos serão convertidos, já que o texto nos fala que “muitos”, e não
“todos” filhos de Israel se converteriam. Portanto, há pessoas no meio da
igreja de Cristo que nunca se converterão, como nos descreve o apóstolo
Paulo: “Pois entre estes se encontram os que penetram
sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherinhas sobrecarregadas
de pecados, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais
podem chegar ao conhecimento da verdade. E, do modo por que Janes e
Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem à verdade. São homens
de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé” (2 Tm 3.7-9).
- Converter o coração dos Pais aos Filhos – Numa referência
clara a Mal 4.5-6: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes
que venha o grande e terrível Dia do SENHOR; ele converterá o coração dos
pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que eu não venha
e fira a terra com maldição”.
A conversão evangélica possui uma dimensão
horizontal, tendo que passar necessariamente pelas relações familiares. Filhos
precisam se converter aos pais e os pais aos filhos; afinal, se alguém não tem
cuidado dos seus, especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé e é
pior do que o incrédulo (1 Tm 5.8). Se a mensagem de Deus não atingir a
família, ou você entendeu equivocadamente sua mensagem, ou está enganando a si
próprio.
A salvação possui uma dimensão vertical e
outra horizontal. Por mudar a relação e nos reconciliar com Deus, afeta
diretamente nosso ambiente familiar, criando uma espiritualidade sadia que se
manifesta nos afetos. Portanto, a salvação possui uma dimensão vertical (dos
deuses falsos ao Deus verdadeiro); e uma dimensão horizontal (agindo em nossos
afetos e fazendo de nós pessoas diferentes no trato com nossos familiares.
- Conversão dos
desobedientes à prudência dos justos – (Lc 1.17) A Bíblia nos mostra que
o desobediente, o relativista moral, se distancia de Deus buscando sua
autonomia e independência, para fazer
o que der na cabeça, mas que na verdade seu estilo de vida é imprudente. O
pecador é imprudente!
Ele acha que pode continuar no seu pecado sem
que haja conseqüências, que não haverá juízo para sua vida, que pode
desobedecer que nada lhe acontecerá. As Escrituras nos ensina que este é o
pensamento de gente sem juízo: “O simples passa a frente e sofre a
conseqüência, o prudente vê o mal e se esquiva”.
O Evangelho vem nos livrar da insensatez e
imprudência do pecado. Paulo fala a Timóteo: “A sua insensatez será evidente a
todos, como também aconteceu aos demais” (2 Tm 3.8-9). Ao falar dos encargos do
pastor, Paulo afirma: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a
contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente,
disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes
conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas
também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido
feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (2 Tm 2.24-26).
A obra do messias
inclui esta maravilhosa obra de nos converter da imprudência para a prudência;
da insensatez para a sensatez. Isto acontece com aqueles que crêem em Cristo,
pois nunca, jamais, serão envergonhados ou confundidos, já “o caminho dos
perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam”.
- Habilitar para o
Senhor um povo preparado – (Lc 1.17). Preparado para que? O
desejo de Deus é criar um povo para glorificar o seu nome. “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito
de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu
gratuitamente no Amado” (Ef 1.4-6).
Habilitar tem a ver com capacitação. O Messias
deseja realizar esta obra em nós, para que glorifiquemos e exaltemos o nome de
nosso Deus. Nós somos a matéria bruta que o Senhor deseja lapidar para que seu
nome seja glorificado em n’os.
Para que isto se dê, Ele concede dons à
igreja. “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com
vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da
estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13).
Deus tem feito isto
desde os primórdios, levantando um povo eleito para revelar seu projeto,para
lhes dar culto, para que entre eles surgissem seus profetas a quem transmitia
seus oráculos. Para que este povo fosse levantado, fez alianças e promessas,
deu o culto levítico e nos últimos dias enviou seu único filho para formar um
povo para seu louvor. O apóstolo Pedro afirma: “Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Um povo para anunciar ao mundo os seus poderosos
feitos e a obra de sua redenção.
Conclusão:
O anúncio do
nascimento de João Batista fala deste novo tempo. Ele seria a voz no deserto,
preparando o caminho do Senhor e preparando a chegada do Messias. Este
ministério de conversão não seria executado por João, mas começaria na sua
palavra que anunciava a chegada do Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo.
O anúncio do natal,
em seus primórdios, nos fala desta maravilhosa realidade da ação de Deus em
nossas vidas.
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