sábado, 30 de janeiro de 2021

Js 4 Construindo memórias e memorial


Construindo memórias e memoriais

Js 4

 

 

Introdução

 

Um povo sem memória, é um povo sem futuro! Um povo que não conhece seu passado, também não preserva sua história. Um povo sem memória é um povo sem história, e um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado. Um povo sem memória não tem como compreender o presente. Quando nos negam o direito de conhecer o passado, nos tiram também a possibilidade futura de transformação e de justiça. Por isto não existe futuro para um povo que não preserva sua memória”, e um povo que não preserva a história fica sem referências.  

 

Muita crítica tem sido feita ao fato de que os brasileiros valorizam tão pouco sua história. Alguns afirmam que o povo brasileiro é desmemoriado. A ausência de história pode impedir a capacidade de análise e a percepção de quem somos.

 

Quando olhamos para este texto do livro de Josué, vemos Deus orientando seu povo a construir memórias e memorial. Quais são os princípios contidos nele? Quais implicações práticas para nosso dia a dia? Por que o povo cristão é sempre convidado a escrever suas experiências e narrar os feitos de Deus?

 

Depois que o povo atravessa a seco o Rio Jordão, entrando finalmente na terra prometida, Deus ordena a Josué que daquele lugar, onde os sacerdotes ficaram parados no meio do rio, eles retirassem doze pedras, representando cada uma das tribos de Israel, e com elas, construíssem um memorial, um monumento, que serviria de sinal para o povo, e que também orientaria as próximas gerações. “Quando vossos filhos, no futuro, perguntarem dizendo: Que vos significam estas pedras? Entoa, lhes direis que as águas do Jordao foram cortadas diante da arca da aliança do Senhor; em passando ela, foram as águas do Jordao cortadas. Estas pedras, serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel” (Js 4.7). Deus não queria que eles apenas contasse a história, relatando-a aos filhos, mas que alguma coisa simbólica, um memorial, fosse construído. Era uma forma didática de ensinar e lembrar às próximas gerações que algo maravilhoso acontecera entre eles.

 

A tarefa não era simples: as pedras não deveriam ser pequenas se quisessem ser visíveis. Isto significava um trabalho pesado e cansativo. Mas Deus, mais do que ninguém sabe da importância de ter memória para solidificar a fé.

 

Por isto quando Deus dá uma vitória prodigiosa ao seu povo, com Moisés orando até que o povo de Deus obtivesse vitória sobre os amalequitas, Deus ordena a Moisés: “Escreve isto para memória num livro!” (Ex 17.14), e depois, ao dar a ordenança ao povo sobre as festas fixas, ele diz a Moisés para escrever: “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras, porque, segundo o teor destas palavras fiz aliança contigo e com Israel” (Ex 34.27).

 

Deus sabe que as pessoas esquecem dos fatos, que a memória social tende a se distanciar trazendo esquecimento. Escrever é uma forma de marcar, registrar, não permitir que os fatos se percam na história. Os profetas Isaias e Ezequiel também receberam ordens de Deus para escrever:. (Is 30.8; Ez 37.16). E apenas no livro de Apocalipse Deus ordena 10 vezes que João escreva: (Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14; 14.13; 19.9; Ap 21.5). Quem se lembra tem mais saúde espiritual. O povo de Deus precisa de memória.

 

Por que Deus ordena este memorial ao povo? Por que Deus insiste tanto em que os relatos sejam escritos? Qual a importância da memória e dos memoriais para nossa fé?

 

  1. Precisamos de memórias porque elas que nos conectam ao passado e dão sonhos para o futuro – Nós nos sustentamos através da memória. Quando Deus dá a palavra a Habacuque ele ordena: “Escreve a visão e torna bem legível sobre tábuas, para que a possa ler quem passa correndo” (Hab 2.2). Escrever era uma forma de guardar e informar o conteúdo.

 

A geração mais nova geralmente considera a história com pouco valor e até mesmo desprezo. Entretanto, a história nos ajuda a evitar erros já conhecidos, e nos orientam quanto aos próximos passos que devem ser tomados. A geração antiga corre o risco de dar muito valor à história, esquecendo-se de que a história não pode ser revivida, ainda que possa ser um instrumento importante para próximas decisões e novos desafios. 

 

As memórias nos conectam ao passado. Lembra-nos de onde vivemos, fala-nos da identidade, nos conectam ao passado. As coisas não se dão num vácuo, mas possuem origens, etiologias, motivos (positivos ou não) que nos levam a tomar esta ou aquela decisão no dia de hoje. As memórias também, nos torna ousados. Foi desta forma que Davi ousou enfrentar Golias. Se Deus já o havia protegido no passado, poderia também protegê-lo no próximo desafio. A vitória do passado o levou a acreditar na vitória do futuro.

 

  1. As memórias dão força para enfrentar as adversidades do momento. As memórias sobre quem Deus é nos sustentam no meio dos desafios e crises que enfrentamos.

 

Quando Davi vai enfrentar Golias como ele conseguiu obter vitória? Ele evocou as experiências anteriores que ele teve com Deus.  Respondeu Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; quando veio um leão ou um urso e tomou um cordeiro do rebanho, eu saí após ele, e o feri, e livrei o cordeiro da sua boca; levantando-se ele contra mim, agarrei-o pela barba, e o feri, e o matei.O teu servo matou tanto o leão como o urso; este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. Disse mais Davi: O Senhor me livrou das garras do leão e das do urso; ele me livrará das mãos deste filisteu. Então, disse Saul a Davi: Vai-te, e o Senhor seja contigo” (1 Sm 17.34-37).


Davi decide enfrentar Golias, baseado na experiência que ele teve ao enfrentar o leão e o urso no passado. Quando temos memória, passado, presente e futuro se constituem num continuum. O passado é uma dimensão permanente da consciência humana quando pode ser preservada pela memória.

 

O mesmo se dá na experiência de Jeremias, ao enfrentar o caos na sua história, com o povo de Deus sendo levado cativo para a Babilônia, deixando para trás a devastação e ruinas, uma terra arrasada. “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.(Lm 3.21-24).

 

Quando enfrentamos crises, se olharmos para fora, veremos o caos e a tragédia; se olharmos para dentro, confusão e angústia; se olharmos para os outros, perplexidade e medo; mas se olharmos para  Deus podemos encontrar segurança e paz. Foi isto que fez Jeremias: “quero trazer a memória o que me pode dar esperança...” Minha memória precisa funcionar. 

 

Por esta razão Deus pediu a este povo que levasse 12 pedras do rio Jordão. Estas pedras foram levadas para bem longe. Mais tarde, quando o povo de Deus se instalou, este memorial ficou de forma permanente em Gilgal, que se tornaria a principal base de operações de Israel na conquista da Terra Prometida. De onde também Josué liderou a campanha contra Jericó e na região sul (Js 4.19,20; 6.11,14; 10.1-43, e onde a primeira Páscoa celebrada em Canaã foi realizada em Gilgal (Js 5.10). Dali também, Josué começou a distribuir os territórios conquistados entre as tribos de Israel (Js 14.6.

 

Este memorial com as 12 pedras esteve ali, todo tempo, lembrando a Deus quem os trouxera do Egito, e como Deus interviu maravilhosamente em toda caminhada do povo. 

 

 

  1. Memórias geram gratidão – Só agradece quem é capaz de lembrar as bênçãos que Deus deu. 

 

Em geral somos pouco agradecidos porque pouco nos recordamos. Existem pessoas que foram uma benção na sua vida, será que você se lembra do que elas fizeram a você, e quão importante foram para sua vida? Se você se lembra disto, você é grato. Se se esqueceu, certamente não haverá nenhuma gratidão. Como ser grato se não há memória?  

 

Um provérbio francês afirma que “gratidão é a memória do coração”. Isto faz enorme sentido...

 

Pensando nisto alguns anos atrás minha esposa resolveu fazer um pote para nele guardar memória das experiências de resposta de oração e de bençãos recebidas. É preciso reconhecer que ela está precisando de um pote maior, porque o que ela escolheu já está superlotado. Não são assim as bençãos de Deus? Mas infelizmente delas não nos recordamos.

 

Pr Jeremias Pereira disse que gosta de escrever no final de sua bíblia, as respostas de orações e bençãos recebidas. Imagino que ele vai ter que colocar muitas páginas extras no final para anotar todas bençãos.

 

Deus ordena a Josué que construa um memorial. Igrejas evangélicas, em geral, têm muito medo dos símbolos. Isto certamente tem a ver com o medo que temos de construirmos ídolos e da dificuldade com a iconoclastia, porque muitos grupos religiosos cristãos transformaram imagens e representações em objetos de veneração e adoração. 

 

Alguns anos atrás ouvimos uma palestra de Paulo Solonca, pastor em Florianópolis. Ele diz que estava assentado numas pedras apreciando a natureza, quando veio uma onda maior e o arrastou para o mar. Ele sabia nadar, mas não conseguia se agarrar nas pedras e ainda era arremessado perigosamente nas rochas. A situação dele se tornou bem complicada, quando então um pescador decidiu intervir. Ele tinha uma linha grossa, e jogou em direção ao pastor que fez amarrou a corda ao seu redor, e assim, o pescador e ele, aproveitando as ondas, foram ao pouco conseguindo se agarrar nas rochas, fugindo da violência das ondas e finalmente ser resgatado. 

 

Ele certamente ficou muito grato àquele pescador, e no final pediu que ele lhe desse o anzol que o salvou. O pescador brincou dizendo que além de lhe dar trabalho ainda lhe daria prejuízo, levando sue anzol. Ao chegar em casa, Solonca decidiu fazer uma estante em sua casa para servir de memorial. Todas as pessoas que entravam na sua casa, perguntavam sobre o significado do anzol, e ele então contava como Deus teve misericórdia dele. Naquela prateleira, colocou ainda o exame de sua filha, que havia superado um câncer, e dai por diante começou a fazer um memorial de milagres que ele, sua família, e sua igreja tinham recebido de Deus. 

 

  1. Memoriais se transformam em marcos, que servem para orientar e ensinar os filhos. A memória desperta fé nas gerações futuras. 

 

Estes memoriais, eventualmente se transformam em rotas vivas para as próximas gerações. Servem como roteiro e instrução. Foi isto que Deus disse a Josué: “...cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?” (Js 4.5,6).

 

Aquele monumento com as 12 pedras suscitariam indagações na mente das crianças e dos jovens. “Que significa estas pedras?” (Js 4.6,27). E a resposta seria: “então, lhes direis que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca da Aliança do Senhor; em passando ela, foram as águas do Jordão cortadas. Estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel.” (Js 4.7). Por se tornarem tão importantes, foram levadas para Gilgal (Js 4.20) e posteriormente se tornaria um dos lugares mais sagrados de Israel, lugar de peregrinação e romarias (Am 5.5)

 

ó Como seria possível traduzir este princípio para nossa vida no século XXI?

ó Que memoriais estamos construindo para nossos filhos?

ó Na nossa história vemos intervenções miraculosas de que sejam capazes de manter nossa fé viva, e nossa lembrança aguçada?

ó Que repercussão as experiências de hoje estão causando nas futuras gerações?

 

Conclusão

 

E o que tudo isto tem a ver com a mensagem de Cristo? 

 

Jesus também nos deixou memoriais. Pelo menos dois deles sempre estiveram presentes na liturgia da igreja e permanecem vivas até hoje. Onde houver igreja cristã, estes memoriais estarão presentes. 

 

A igreja reformada chama tais memoriais de sacramentos. Tem um aspecto superior ao memorial ainda que a memória seja fundamental. Um sacramento é definido como “um sinal visível de uma graça invisível”. Dois sacramentos são adotados: O Batismo e a Santa Ceia.

 

No batismo utilizamos a água. Didaticamente a aplicamos. Ela nos faz lembrar que o sangue de Cristo nos purificou, que fomos purificados, e que o Espírito Santo aplica esta salvação na vida da pessoa regenerada. Jesus afirmou que “quem nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.  (Jo 3.5). A água é purificadora! Embora o símbolo não possa ser maior que o simbolizado, torna-se instrumento visível e concreto por meio do qual podemos entender o que aconteceu conosco.

 

O que Jesus faz na Eucaristia: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.” (Lc 22.19). Ele levanta um memorial. Coisas simples e corriqueiras como pão e vinho, tornam-se mensagens poderosas. “Tomai e comei o meu corpo”. O que significa isto? A santa ceia é a mensagem do evangelho dramatizada. Jesus está construindo memórias para facilitar aos seus discípulos a compreensão do evangelho. Memória e memorial. Mas acima de tudo, a Igreja Reformada defende o princípio de que, nos elementos, há uma presença “real e espiritual” 


Conclusão

 

E o que tudo isto tem a ver com a mensagem de Cristo? 

 

Jesus também nos deixou memoriais. Pelo menos dois deles sempre estiveram presentes na liturgia da igreja e permanecem vivas até hoje. Onde houver igreja cristã, estes memoriais estarão presentes. 

 

A igreja reformada chama tais memoriais de sacramentos. Tem um aspecto superior ao memorial ainda que a memória seja fundamental. Um sacramento é definido como “um sinal visível de uma graça invisível”. Dois sacramentos são adotados: O Batismo e a Santa Ceia.

 

No batismo utilizamos a água. Didaticamente a aplicamos. Ela nos faz lembrar que o sangue de Cristo nos purificou, que fomos purificados, e que o Espírito Santo aplica esta salvação na vida da pessoa regenerada. Jesus afirmou que “quem nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.  (Jo 3.5). A água é purificadora! Embora o símbolo não possa ser maior que o simbolizado, torna-se instrumento visível e concreto por meio do qual podemos entender o que aconteceu conosco.

 

O que Jesus faz na Eucaristia: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.” (Lc 22.19). Ele levanta um memorial. Coisas simples e corriqueiras como pão e vinho, tornam-se mensagens poderosas. “Tomai e comei o meu corpo”. O que significa isto? A santa ceia é a mensagem do evangelho dramatizada. Jesus está construindo memórias para facilitar aos seus discípulos a compreensão do evangelho. Memória e memorial. Mas acima de tudo, a Igreja Reformada defende o princípio de que, nos elementos, há uma presença “real e espiritual” de Cristo. o símbolo traz consigo bênçãos, por isto os elementos concretos tornam-se em “meios de graça” para todos os que dele participam. 

 

Quero encerrar dizendo que tudo isto se constitui neste dia, num aspecto muito importante para minha vida. Hoje minha filha Priscila, e seu esposo, Victor Scherrer trazem o Gabriel para ser batizado. Ele fez um ano no dia 29 de Janeiro, no mesmo dia em que eu e Sara celebramos nosso casamento. Mas no ano passado, não pudemos comemorar. Minha filha corria risco de eclampse e o parto teve que ser feito às pressas, com minha esposa indo também, apressadamente, para os Estados Unidos. Não sabíamos se ele nasceria vivo, e nem se continuaria vivo, e foi colocado numa estufa por 15 dias, todo cheio de fios, alimentação intravenosa, e minha esposa não podia ver o netinho por causa da delicada situação de saúde. Priscila e Victor o visitavam uma vez por dia, e podia colocar sua mão na incubadora, cuidadosamente higienizada, para não levar bactérias.


Graças a Deus Gabriel está hoje saudável, crescimento normal, alegre, dando já seus primeiros passinhos. portanto, trata-se de um tempo muito importante par construir um memorial, e seu batismo está sendo feito exatamente hoje, porque precisamos lembrar que ele pertence a Deus antes de nos pertencer, e que Deus precisa ser celebrado em tudo isto.



 















segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Identificando elementos rurais na eclesiologia urbana


 


 

“Temos vivido na cidade, com sociologia e ferramentas urbanas, mas com teologia rural. Precisamos de uma teologia tão grande quanto a nossa cidade, tão urbana quanto nossa sociologia e missiologia”.

(Ray Bakke)

 

Por diversas vezes já introduzi este assunto nas salas de aula, discutindo o modelo urbano de pastorear e ser igreja, em relação ao modelo rural de pastorear e cuidar da igreja de Cristo. Dentre as respostas dadas, eis algumas mais interessantes:

 

  1. A mentalidade rural de igreja tende a construir uma visão de distanciamento e isolamento, como se fosse um tipo de colônia, que se sente ameaçada quando chega um ”estranho”, que se torna imediatamente “suspeito”.
  2. Saímos das igrejas com modelo fechado e o seminário reforça esta eclesiologia.
  3. Os modelos departamentais não se adequam às cidades. Os programas não são adaptáveis à vida urbana – horários, métodos. Sociedades internas precisam se adequar.
  4. Os temas das mensagens precisam ser mais contemporâneos, atingindo o ser humano na cidade atual. Considerando que a sociedade tende a ser excludente e distante, seria melhor se a igreja fosse construída em torno de grupos pequenos, e que o pastoreio fosse realizado desta forma
  5. Por trazermos uma mentalidade rural, confundimos histórico com revelado e temporal com o eterno. Uma igreja é fiel não por causa de sua estrutura antiga, mas por causa de sua teologia bíblica. Quando a igreja acredita que sua cultura religiosa precisa ser preservada e que as pessoas se adaptem, ela pode perder sua relevância e contemporaneidade. O objetivo não será necessariamente o de que extinguir estruturas e sociedades internas, mas “reinterpretá-las”, “reinventá-las” à luz de uma nova realidade sociológica.
  6. O sistema fechado e inflexível, pode impedir o avanço. Os métodos podem ser mudados tantas vezes quanto for necessário. Só não podemos negociar os fundamentos nem a base de nossa teologia que é a Palavra de Deus.
  7. A Igreja pode construir uma mentalidade de Gueto, olhando para as pessoas de fora como oponentes e não como pessoas a serem amadas e cuidadas. Na zona rural somos pastores de um determinado segmento estratificado, mas na cidade, somos pastores de pessoas secularizadas com mentalidade plural e alternativa.
  8. A igreja da zona rural não sofre grandes transformações, por isto as mudanças raramente precisam ocorrer. No contexto urbano, a sociedade encontra-se em constante mudança. Quando a igreja chega no contexto urbano com dificuldade em repensar seus modelos, corre o risco de se tornar inadequada e irrelevante. O problema é que o “novo em teologia é quase sempre a negação do velho”, e as pessoas confundem formas com conteúdo. As decisões na igreja eventualmente assustam porque passam não só pela estética, mas até mesmo pelas formas e métodos.
  9. A igreja da cidade sofre com excesso de programas e alternativas ao entretenimento, enquanto na zona rural, o programa da igreja é muitas vezes o evento da semana. Como se adaptar num contexto de tantas exigências quanto ao tempo? Muitos programas eclesiásticos servem apenas “para ocupar o tempo” sem objetividade e qualidade. Precisamos refletir como podemos fazer menos com mais qualidade.
  10. Quanto à didática, as novidades demoram mais a chegar às periferias e zonas rurais, em contrapartida, nos modelos pedagógicos atuais, a igreja é pressionada a encontrar formas mais contemporâneas e atraentes para comunicar o conteúdo de forma eficiente às próximas gerações. As futuras gerações estão assimilando o conteúdo com os métodos que aplicamos?
  11. O modelo representativo pode ser moroso, burocrático e pouco participativo. Seria possível repensar o modelo? Qual o risco de eliminar os paradigmas atuais e adotarmos um novo modelo. Não nos assusta pensar que podemos desconstruir o que se conhece e não ser relevante o modelo alternativo. Como lidar com esta dialética? Se mudarmos o modelo representativo, podemos ser chamados de presbiterianos? Se em igrejas congregacionais adota-se o sistema de governo com a criação de um conselho e liderança dos presbíteros tal igreja não perderia sua identidade?

 

Identificando os elementos rurais nas igrejas urbanas

 

Diante de tantas possibilidades e questionamentos, consideramos os seguintes elementos para objeto de discussão e reflexão. É uma tentativa de identificar os elementos rurais nas igrejas históricas em contextos urbanos. O problema não é tão evidente em igrejas que possuem seu DNA de grandes cidades. Muitas igrejas neo-pentecostais modernas, nunca tiveram esta transição por já nascerem num contexto urbano. Sua mentalidade é perfeitamente adaptada à realidades da cidade.

 

1º. Elemento– Inflexibilidade no horário dos programas

 

Na cidade, as pessoas têm menos tempo que na zona rural, sem considerar ainda o fato de que seus horários são mais alternativos. Na zona rural os horários são determinados pelo ciclo da natureza. As pessoas dormem cedo e também acordam de madrugada. Nas grandes cidades, muitos dormem pouco e dependendo do turno de trabalho, seus horários podem ser imprevisíveis e eventualmente as atividades semanais entre o trânsito, o trabalho, os cursos de aperfeiçoamento, podem exceder facilmente 80 horas semanais.

Não deveria este fator ser considerado nas programações da igreja na cidade? Poucas igrejas repensam seus horários, trazendo sempre a mesma dinâmica das comunidades que se reuniam em contextos completamente distintos dos atuais. Seria possível flexibilizar os horários?

O que você pensaria de um culto dominical que começasse às 13:00 hs e encerrasse as atividades às 16 hs, incluindo a Escola Dominical, sem programação pela manhã ou à noite?

Encontrei este horário de culto numa grande igreja de zona rural, na região da zona da mata em Minas Gerais, conhecida como São João da Cristina. As pessoas eram camponesas e todas elas criavam animais e o horário mais conveniente para adorar a Deus foi este. Curiosamente esta igreja do interior, foi mais ousada em sua adaptação que muitas igrejas de regiões urbanas.

Nas cidades pequenas ou no interior os cultos iniciam de forma padronizada as 9:00 hs. Será que este formato é o mais adequado para as cidades maiores? E se arriscássemos levando o culto para as 11.30 hs? Qual seria o horário mais pertinente considerando o contexto urbano e as longas distâncias?

E quanto aos programas do meio de semana? As reuniões departamentais das mulheres de zonas rurais acontecem normalmente às tardes e no meio da semana. Seria este o horário mais adequado para as grandes cidades?

As reuniões do Conselho e liderança, em algumas regiões acontecem no sábado de manhã ou sábado à noite. Considerando as extensas agendas dos membros das igrejas nas cidades, será que não deveríamos refletir sobre o valor do lazer, do descanso e do tempo da família para os nossos membros reservando o sábado para este fim? Quais seriam os horários mais efetivos para as reuniões?

 

2º Elemento – Inadequação dos modelos eclesiásticos e pastorais

 

As estruturas eclesiásticas foram montadas tendo em vista a realidade rural – seria este o melhor modelo a ser transposto, sem nenhuma analise crítica para aplicar à cidade?

O bom pastor na fazenda era o pastor visitador, que tomava café de casa em casa. Seria este o modelo adequado do pastor urbano? Se não, o que poderia ser mais eficaz? Qual abordagem deveria ser adotada? Não seria mais eficiente se considerássemos a possibilidade de visitar os membros da igreja nos seus escritórios e empresas? Isto seria viável ou não?

É conhecido o fato de que pastores neo-pentecostais quase não visitam suas ovelhas e a despeito disto elas crescem mais que as tradicionais. Será que este paradigma poderia ser aplicado a uma igreja mais tradicional?

Característica pentecostal: Impessoalidade.

            Riscos _______________________________________________

            Benefícios ____________________________________________

 

3º. Elemento – Inadequação do conteúdo da mensagem

 

Será que os dilemas enfrentados pelos membros da igreja deveriam ser considerados na preparação da mensagem? Será que não deveríamos traduzir a mensagem com uma aplicação contemporânea, levando em conta as condições atuais dos ouvintes? Ao prepararmos o programa dos pequenos grupos, da Escola Dominical e dos sermões, não deveríamos refletir sobre as dores e questionamentos que o homem da cidade enfrenta? O homem é o mesmo, mas os desafios e a as formas de comunicação não deveriam ser adequadas e adaptadas?

Como tratar as relações estáveis x relações transitórias? A questão da mobilidade? Da impessoalidade? Da educação de filhos num contexto subjetivista, relativista e plural? Das tarefas domésticas, comuns ao ambiente da família que vive na cidade na qual homem e mulher estão no mercado do trabalho. Como comunicar novos ideais a partir de um antigo texto sagrado que precisa ser aplicado a este homem numa nova realidade?

Dois modelos bíblicos podem nos orientar:

  1. A estratégica abordagem de Jesus - “E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra, conforme o permitia a capacidade dos ouvintes” (Mc 4.33).
  2. A estratégica abordagem de Paulo – “Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei” (1 Co 9.20-21).

 

Como estes princípios podem ser aplicados à nossa realidade quando falamos de igreja urbana em relação à igreja rural.

 

 

4o. Elemento – Desconsideração com a cultura e cosmovisão da cidade.

 

A forma de um homem citadino enxergar e traduzir o mundo é completamente distinta daquele que procede de um ambiente provinciano. A visão distinta vai desde a forma de lidar com a vida, até em organizar o universo simbólico e as relações familiares, negócios ou administração do tempo. Isto é chamado de cosmovisão. Ela muda de acordo com o ambiente porque os pontos de referência são diferentes.

A cultura de um homem é construída de acordo com o ambiente, influência social e formação familiar. Quando pessoas de universos diferentes se encontram é possível que aconteça um choque cultural. Os conceitos e opiniões podem variar de forma tão marcante que se tornam irreconciliáveis. 

Pensando sobre este prisma, podemos indagar: como isto deve influenciar a pastoral, a forma de ser igreja, a liturgia, os programas e atividades da igreja? Como adequar o pastor com a sociologia da cidade? Que ferramentas teológicas podem ser uteis para identificar e adequar o pastor com a comunidade urbana?

 

Conclusão:

Linthicum afirma: "Tenha uma teologia tão grande quanto o tamanho da cidade e um ministério tal específico como a próxima pessoa que você encontrar". Como citamos no inicio deste texto: o problema da igreja é que temos vivido na cidade com sociologia e ferramentas urbanas, mas com uma teologia rural. Precisamos de uma teologia tão grande quanto a própria cidade. Tão urbana quanto nossa sociologia e missiologia. (Ray Bakke, A theology as big as the City).

 

domingo, 24 de janeiro de 2021

Jos 7.1-26 Pecados Ocultos



 

Introdução 

 

No catolicismo romano, os pecados são categorizados de 

ü  Original (ligados diretamente ao estado natural do homem); 

ü  Venial (falta leve que, embora deva ser confessada e absolvida, não conduz o homem à condenação perpétua); 

ü  Mortal (falta grave que, se não for confessada e absolvida, abre caminho ao fogo do inferno). 

 

Na espiritualidade clássica do cristianismo, fala-se dos tradicionais sete pecados capitais: 

§  Soberba

§  Avareza

§  Luxúria
Ira

§  Gula

§  Inveja

§  Preguiça. 

 

A igreja contemporânea incluiu ainda pecados sociais como injustiça, poluição do meio ambiente e riqueza desmesurada. Pecados que são mais que algo individual, mas possuem dimensões coletivas, já que o mal tem uma dimensão social. 

 

Para nossa reflexão em Js 7, gostaria de pensar em duas dimensões do pecado: 

O pecado deliberado e o pecado oculto.

 

Pecado deliberado

O autor da carta aos hebreus fala do pecado deliberado: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10.26), outras traduções preferem o termo voluntário. É o pecado cometido como escolha, sabendo que o que está sendo feito é agressivo a Deus e uma voluntária quebra da lei de Deus. Como uma criança pequena que ouve seu pai dizendo não que não toque em determinado objeto, mas ela olha disfarçadamente para o pai para ver se ele está vendo, e então, sabendo ser errado, ainda assim faz o que lhe foi proibido. É um pecado ofensivo, deliberado. Um pecado de propósito, depois de saber plenamente o que é certo, ainda decidir em fazer o errado.

 

Pecado oculto

Podemos ainda falar da natureza de outro pecado, narrado neste texto de Josué 7: É o pecado oculto. 

 

Ao me mudar para os Estados Unidos, em 1994, fui pastorear a região de Newark, e um grupo de pessoas de determinada igreja começou a se congregar conosco. O que os afastou de sua igreja de origem? A conduta pecaminosa de seu pastor. Ele havia sido flagrado num envolvimento com outra pessoa e a liderança da denominação acobertou sua conduta.

 

Curiosamente, dias antes do escândalo vir à público, alguém deste grupo dissidente, teve uma assustadora experiência. Ela sonhou que tinha ido à igreja, e ao chegar ali, viu policiais, detetives e bombeiros em frente dela e que ela estava interditado. No seu sonho, um cadáver havia sido encontrado no porão da igreja e a polícia queria descobrir a causa da morte. E, no sonho, alguém lhe comentou: “Há pecado no arraial!” O pecado do pastor ainda não havia sido descoberto. Ele acordou assustado e perplexo com seu sonho, e qual não foi a surpresa quando, ao  chegar no domingo de manhã para participar do culto, a pastoral do boletim era: “Há pecado no arraial!” Poucos dias depois, o escândalo explodiu trazendo ruptura à unidade da igreja e esfacelando aquela comunidade, pois o pastor decidiu não sair da igreja.

 

A Bíblia condena os pecados deliberados, que praticamos tendo consciência da afronta, mas a Bíblia condena também os pecados ocultos, que são empurrados para debaixo do tapete, eventualmente acobertados por muitos anos. Uma igreja pode sofrer graves consequências na sua história por causa de pecados mantidos em segredo.

 

O texto de Josué nos fala de Acã. Não nos é relatado que ele tivesse um cargo de influência, nem que fosse um comandante. Apenas nos é dito que ele, ao retornar de Jericó, decidiu trazer para si alguns despojos de guerra para si, quando na verdade, todo despojo deveria ser consagrado a Deus (Jos 6.19). Ninguém deveria ter privilégios especiais para usar em benefício pessoal. Em muitas outras guerras isto era uma prática comum, mas temendo que trouxessem “coisas condenadas” (Jos 6.18), uma referência provável às imagens de ouro e prata que os pagãos possuíam, foi proibido que tomassem de qualquer despojo e trouxessem para si. Entretanto, Acã ignorou a ordem, e prevaricou nas coisas condenadas (Jos 7.1), trazendo os objetos de valor que encontrou e enterrando debaixo de sua tenda.

 

Qual é o problema do pecado oculto?

 

1.     Antes de mais nada, pecado é pecado. Devemos tratá-lo como algo sério

 

Precisamos entender a seriedade do pecado aos olhos de Deus. Somos uma geração com muita tendência de achar que podemos pecar que não há juízo. Deus é amoroso, não é? Por que ele julgaria as pessoas? Raciocínios superficiais assim demonstram que não conhecemos o Deus da Bíblia. O autor aos hebreus afirma: “horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). É bom estar nas mãos de Deus, mas não cair nas mãos de Deus. Por isto, a reverência com as coisas de Deus, o temor ao Senhor, é algo tão importante na espiritualidade bíblica.

 

 

Creio que, na maioria das vezes, não consideramos realmente a gravidade do pecado. Esquecemos que as graves consequências do pecado, os efeitos deletérios que ele causa em nossas vidas. Pecado é algo tão sério que Deus teve que dar um tratamento radical, enviando Jesus para morrer pelos nossos pecados. Deus não poupou seu próprio Filho para que pudéssemos entender como ele trata o pecado.

 

2.     Não podemos esconder daquele que conhece todas as coisas. 

 

O que normalmente acontece é que, por algum mecanismo diabólico, achamos que podemos acobertar o que fizemos. Este tem sido o padrão desde o Éden. Depois da desobediência, Adão se oculta de Deus e tenta se esconder. Contudo, sabemos como Deus tratou de seu pecado. Deus veio ao encontro de Adão e denunciou sua tentativa de ocultar e esconder sua rebelião e desobediência. 

 

A verdade é que diante de Deus não se esconde nada de bom ou de ruim. Tudo é claro aos seus olhos. Diante do trono descrito em Apocalipse, há um mar de cristal, tudo é transparente. Nada se esconde. O diabo ajuda a fazer, mas não nos capacita a esconder. Não existe crime perfeito. 

 

Jesus adverte aos seus discípulos: “Pois nada está oculto, senão para ser manifestado; e nada se faz escondido, senão para ser revelado” (Mc 4.22). Paulo escreve: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; aquilo que o homem semear, isto também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6.7-8)

 

3.     Pecado oculto traz graves consequências para o povo de Deus.

 

O Povo de Deus foi duramente castigado por causa do pecado de Acã. Existem determinados pecados que trazem julgamento apenas para aquele que cometeu, entretanto, outros pecados trazem graves juízos sociais e comunitários. Na verdade, nossos pecados sempre trazem implicações comunitárias. Já viram como o pecado de um pastor afeta a vida de uma igreja? Como o pecado de uma mãe ou de um pai traz graves consequências sobre a saúde emocional da família? As sequelas vão se ramificando nas gerações, trazendo desequilíbrio e dor por longo tempo.

 

Uma boa ilustração para isto foi o pecado de Davi quando, movido por vaidade pessoal, decidiu fazer o recenseamento do povo. Deus condenou sua atitude e por causa de seu pecado, uma violenta pandemia veio sobre Israel, tirando a vida de setenta mil homens num curto espaço de tempo (2 Sm 24.1-17). O pecado de Davi afetou diretamente o povo de Deus. Suas ramificações foram profundamente danosas para Israel

 

O pecado de Acã aparentemente tinha passado desapercebido. Ninguém tinha visto, ninguém denunciou, estava acobertado. Sua estratégia parecia perfeita. Ele enterrou seu pecado. Como as pessoas gostam de fazer isto. Todavia, seu pecado enterrado trouxe perdas tremendas para o povo de Deus, e vidas preciosas morreram por sua causa. Acã jamais poderia imaginar quão grande seriam as consequências do seu pecado para sua comunidade. Normalmente também não imaginamos os efeitos danosos de nossos pecados para nossa família, igreja e sociedade.

 

Penso que ainda hoje, as pessoas não avaliam quão sério é para sua igreja o estilo de vida pecaminoso. Sempre defendi que líderes da igreja, professores de Escola Dominical e de crianças, diáconos, presbíteros, devem procurar viver uma vida de santidade para glorificar a Deus. Defendo que os presbíteros e diáconos participem das reuniões de oração da igreja, sejam dizimistas, vivam em santidade, porque creio que isto traz benção para a comunidade. Devem ser modelos porque dessa forma Deus pode abençoar sua igreja. Nenhuma igreja vai além de sua liderança. Um homem de Deus em pecado, deve abandonar imediatamente seu pecado se quiser trazer benção sobre o rebanho que ele lidera. “Quem confessa e deixa alcança misericórdia”. Se insiste em viver no pecado, deveria, pelo menos se afastar da liderança para não trazer ainda mais danos. 

 

Josué diz a Acã: “Por que nos conturbaste? O Senhor, hoje, te conturbará” (Js 7.25). Acã trouxe perturbação para o povo de Israel. Aqueles que perturbam o povo de Deus e trazem vexame e humilhação para sua igreja, não podem esperar uma colheita muito boa para suas vidas... 

 

4.     Pecado não deixa o povo de Deus ser vitorioso.

 

Muitas instituições perderam sua agressividade evangelística e missionária, sua capacidade de testemunho, e encontram dificuldade para crescer por causa de atitudes pecaminosas de seus líderes. São igrejas que perdem seu entusiasmo e brilho, perdem sua pujança e efetividade.

 

Eu cresci em uma igreja que tinha uma mocidade forte, uma influência muito abençoadora na cidade, uma excelente escola, mas seus líderes foram sistematicamente caindo moralmente. Quase todos os líderes daquela igreja tiveram problemas sexuais, de forma direta. Isto enfraqueceu a igreja. Na época que eu era membro daquela igreja, ela tinha quase 300 membros, isto há 40 anos atrás, a última estatística que ouvi ela não tinha mais que 100 membros. 

 

Na narrativa deste texto de Josué, observamos que o povo de Israel obteve uma maravilhosa vitória sobre Jericó. A queda das muralhas é uma das vitórias mais prodigiosas do povo de Deus. Em seguida, partiram para conquistar uma pequena e insignificante cidade, chamada Ai. Apenas uma pequena parte do exército de Israel foi para a guerra, mas ainda assim foram derrotados de forma humilhante. 

 

Quando Josué se lamentou diante de Deus ouviu o seguinte: “Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto? Israel pecou, e violaram a minha aliança, aquilo que lhes ordenara, pois tomaram das coisas condenadas, e furtaram, e dissimularam, e até debaixo de sua bagagem o puseram” (Js 7.10-11). 

 

Quantas vezes observamos isto. Queremos benção mas vivendo em pecado. Queremos alegria, mas desobedecendo. Queremos vitória, mas vivemos em desacordo com a vontade de Deus. Se você quiser benção, viva em obediência. Obediência é o caminho da vitória!

 

Pecado traz derrotas no plano individual e no plano coletivo. Muitas igrejas estão sem vida, sem empolgação, por causa de pecado. Sem quebrantamento, se dirigem para Deus chorando como fez Josué. “Ah! Senhor Deus, por que fizeste este povo passar o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus, para nos fazer perecer?” (Js 7.7) Não fica claro que Josué está acusando Deus pelo fracasso? Não é exatamente isto que fazemos? Queremos vida plena, mas estamos chafurdados em pecado. Como queremos obter a benção de Deus?

 

O que Deus diz: “Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai-vos para amanhã” (Js 7.13). Para ser vitorioso o povo precisava de santificação. 

 

Quando vivemos em pecado, nossa vida pessoal será uma derrota. Quando a igreja tem membros em sua comunidade vivendo de forma infiel, ela traz sobre si a condenação de Deus. Quando há pecado no arraial, no meio da comunidade, a benção de Deus deixa de fluir. Deus não pode abençoar a infidelidade. 

 

Há coisas condenadas no vosso meio, ó Israel; aos vossos inimigos não podereis resistir, enquanto não eliminardes do vosso meio as coisas condenadas” (Js 7.13). Sem santificação estamos nas mãos do inimigo, nos tornamos impotentes, não podemos resistir às investidas do diabo.

 

Como o pecado oculto é tratado?

 

1.     Deus traz a tona o pecado. Deus revela que algo está errado no meio de seu povo. É Deus quem traz à tona a realidade de que alguma coisa muito séria está acontecendo.

 

Deus zela pela pureza de seu povo. 

Deus desmascara a hipocrisia, denuncia a maldade, revela o escondido. 

 

O problema do pecado é que, antes de ser contra a família, ou contra a igreja, é contra o próprio Deus. Então, o próprio Deus exerce juízo. Ele mesmo aponta o pecado e o pecador, condena e denuncia nossos subterfúgios e mentiras.

 

Deus diz: “Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai-vos para amanhã” (Js 7.13).

 

2.     Deus retira sua benção quando o pecado está oculto. Esta é a forma de tratamento de Deus. Deus deixa de abençoar.

 

Pecado retira de nós a benção. Não espere vida abençoada quebrando a lei de Deus. 

 

 

3.     Deus nos ordena a substituir a dissimulação, a capa escondida, as barras de ouro, as coisas condenadas, por um processo de santificação. 

 

Dispõe-te, santifica o povo e dize: Santificai-vos para amanha, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Há coisas condenadas no vosso meio, ó Israel” (Js 7.13).

 

Por isto, Lutero foi muito feliz quando expôs as suas 95 teses, colocando como ponto de partida, a primeira tese dizendo o seguinte: “A vida do cristão deve ser uma vida de penitência”. A palavra penitência hoje seria melhor traduzida como: “Arrependimento”. Precisamos desistir da capa escondida, das barras de ouro e de prata, daquilo que é prejudicial à nossa vida com Deus. Negócios escusos, imoralidade sexual, acordos e conchavos. Abandone estas coisas que podem ser prejudiciais à sua vida.

 

4.     O pecado denunciado, exposto, revelado – pode nos deixar envergonhado. A confissão não é nada fácil, mas é o único meio de restaurar nossa comunhão e trazer benção sobre nossa vida. 

 

Não tema, portanto, o pecado que vem à tona. Devemos temer o pecado sob a superfície, escondido nas nossas tendas, aqueles pecados aninhados e cultivados, que são muitas vezes mantidos por ano. A capa de Acã é o grande problema. Afinal, “O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará, mas o que confessa e deixa, alcançará misericórdia. Feliz o homem constante no temor de Deus, mas o que endurece o coração cairá no mal” (Pv 28.13,14). 

 

5.     O caminho do Evangelho é sempre o enfrentamento, e não a negação. A confissão, e não o ocultamento.

 

O grande problema de nossa sociedade é que vivemos de imagens. Amamos popularidade e reputação, mas não nos preocupamos com aquilo que realmente devemos ser diante de Deus. O que nos transforma não são as boas aparências, nem a moral externa, mas a disposição de ter um coração quebrantado diante de Deus. 

 

Confessai os vossos pecados uns aos outros para serdes curados”. É esta exortação que aprendemos na Palavra de Deus. Confissão é algo pesado, porque ao fazermos assim nos colocamos em campo aberto, nos expomos, decidimos desnudarmos a nós mesmos, “confissão é a antecipação do juízo”. 

 

O povo de Israel só obteve vitória quando o pecado oculto foi denunciado e confrontado. Talvez este seja o grande temor de nossa vida: sermos descobertos. Mas certamente, não esconder o pecado, mas denunciá-lo, é o grande desafio da vida cristã. Lembre-se: “O que confessa e deixa alcança misericórdia”. Pecado oculto será sempre uma arma poderosa do diabo para enfraquecer sua fé, para manter você cativo, para impedir uma vida vitoriosa. 

 

Conclusão 

O Evangelho e a confissão de pecados.

 

É libertador o que a Palavra de Deus nos ensina:

Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 Jo 2.1). No texto anterior lemos: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, anos mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.8-9).

 

Preste atenção. Há uma condição para o perdão de pecados: Confissão. “Se confessarmos”. Há uma condição. “Se”. Não ocorre libertação sem confissão. Sem a rendição, sem a entrega. Confissão é o oposto do ocultamento, da auto preservação, do segredo. Confissão é o desmascaramento de nós mesmos, a auto denúncia.  

 

O que Jesus veio fazer? Exatamente nos libertar: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2). Ele se apresentou diante de Deus em nosso lugar, e nos tornou propício diante de Deus, ele nos justificou. Confissão é o caminho da libertação espiritual, confissão por meio de Cristo, significa nossa absolvição diante do Pai.