sábado, 30 de janeiro de 2021

Js 4 Construindo memórias e memorial


Construindo memórias e memoriais

Js 4

 

 

Introdução

 

Um povo sem memória, é um povo sem futuro! Um povo que não conhece seu passado, também não preserva sua história. Um povo sem memória é um povo sem história, e um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado. Um povo sem memória não tem como compreender o presente. Quando nos negam o direito de conhecer o passado, nos tiram também a possibilidade futura de transformação e de justiça. Por isto não existe futuro para um povo que não preserva sua memória”, e um povo que não preserva a história fica sem referências.  

 

Muita crítica tem sido feita ao fato de que os brasileiros valorizam tão pouco sua história. Alguns afirmam que o povo brasileiro é desmemoriado. A ausência de história pode impedir a capacidade de análise e a percepção de quem somos.

 

Quando olhamos para este texto do livro de Josué, vemos Deus orientando seu povo a construir memórias e memorial. Quais são os princípios contidos nele? Quais implicações práticas para nosso dia a dia? Por que o povo cristão é sempre convidado a escrever suas experiências e narrar os feitos de Deus?

 

Depois que o povo atravessa a seco o Rio Jordão, entrando finalmente na terra prometida, Deus ordena a Josué que daquele lugar, onde os sacerdotes ficaram parados no meio do rio, eles retirassem doze pedras, representando cada uma das tribos de Israel, e com elas, construíssem um memorial, um monumento, que serviria de sinal para o povo, e que também orientaria as próximas gerações. “Quando vossos filhos, no futuro, perguntarem dizendo: Que vos significam estas pedras? Entoa, lhes direis que as águas do Jordao foram cortadas diante da arca da aliança do Senhor; em passando ela, foram as águas do Jordao cortadas. Estas pedras, serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel” (Js 4.7). Deus não queria que eles apenas contasse a história, relatando-a aos filhos, mas que alguma coisa simbólica, um memorial, fosse construído. Era uma forma didática de ensinar e lembrar às próximas gerações que algo maravilhoso acontecera entre eles.

 

A tarefa não era simples: as pedras não deveriam ser pequenas se quisessem ser visíveis. Isto significava um trabalho pesado e cansativo. Mas Deus, mais do que ninguém sabe da importância de ter memória para solidificar a fé.

 

Por isto quando Deus dá uma vitória prodigiosa ao seu povo, com Moisés orando até que o povo de Deus obtivesse vitória sobre os amalequitas, Deus ordena a Moisés: “Escreve isto para memória num livro!” (Ex 17.14), e depois, ao dar a ordenança ao povo sobre as festas fixas, ele diz a Moisés para escrever: “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras, porque, segundo o teor destas palavras fiz aliança contigo e com Israel” (Ex 34.27).

 

Deus sabe que as pessoas esquecem dos fatos, que a memória social tende a se distanciar trazendo esquecimento. Escrever é uma forma de marcar, registrar, não permitir que os fatos se percam na história. Os profetas Isaias e Ezequiel também receberam ordens de Deus para escrever:. (Is 30.8; Ez 37.16). E apenas no livro de Apocalipse Deus ordena 10 vezes que João escreva: (Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14; 14.13; 19.9; Ap 21.5). Quem se lembra tem mais saúde espiritual. O povo de Deus precisa de memória.

 

Por que Deus ordena este memorial ao povo? Por que Deus insiste tanto em que os relatos sejam escritos? Qual a importância da memória e dos memoriais para nossa fé?

 

  1. Precisamos de memórias porque elas que nos conectam ao passado e dão sonhos para o futuro – Nós nos sustentamos através da memória. Quando Deus dá a palavra a Habacuque ele ordena: “Escreve a visão e torna bem legível sobre tábuas, para que a possa ler quem passa correndo” (Hab 2.2). Escrever era uma forma de guardar e informar o conteúdo.

 

A geração mais nova geralmente considera a história com pouco valor e até mesmo desprezo. Entretanto, a história nos ajuda a evitar erros já conhecidos, e nos orientam quanto aos próximos passos que devem ser tomados. A geração antiga corre o risco de dar muito valor à história, esquecendo-se de que a história não pode ser revivida, ainda que possa ser um instrumento importante para próximas decisões e novos desafios. 

 

As memórias nos conectam ao passado. Lembra-nos de onde vivemos, fala-nos da identidade, nos conectam ao passado. As coisas não se dão num vácuo, mas possuem origens, etiologias, motivos (positivos ou não) que nos levam a tomar esta ou aquela decisão no dia de hoje. As memórias também, nos torna ousados. Foi desta forma que Davi ousou enfrentar Golias. Se Deus já o havia protegido no passado, poderia também protegê-lo no próximo desafio. A vitória do passado o levou a acreditar na vitória do futuro.

 

  1. As memórias dão força para enfrentar as adversidades do momento. As memórias sobre quem Deus é nos sustentam no meio dos desafios e crises que enfrentamos.

 

Quando Davi vai enfrentar Golias como ele conseguiu obter vitória? Ele evocou as experiências anteriores que ele teve com Deus.  Respondeu Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; quando veio um leão ou um urso e tomou um cordeiro do rebanho, eu saí após ele, e o feri, e livrei o cordeiro da sua boca; levantando-se ele contra mim, agarrei-o pela barba, e o feri, e o matei.O teu servo matou tanto o leão como o urso; este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. Disse mais Davi: O Senhor me livrou das garras do leão e das do urso; ele me livrará das mãos deste filisteu. Então, disse Saul a Davi: Vai-te, e o Senhor seja contigo” (1 Sm 17.34-37).


Davi decide enfrentar Golias, baseado na experiência que ele teve ao enfrentar o leão e o urso no passado. Quando temos memória, passado, presente e futuro se constituem num continuum. O passado é uma dimensão permanente da consciência humana quando pode ser preservada pela memória.

 

O mesmo se dá na experiência de Jeremias, ao enfrentar o caos na sua história, com o povo de Deus sendo levado cativo para a Babilônia, deixando para trás a devastação e ruinas, uma terra arrasada. “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.(Lm 3.21-24).

 

Quando enfrentamos crises, se olharmos para fora, veremos o caos e a tragédia; se olharmos para dentro, confusão e angústia; se olharmos para os outros, perplexidade e medo; mas se olharmos para  Deus podemos encontrar segurança e paz. Foi isto que fez Jeremias: “quero trazer a memória o que me pode dar esperança...” Minha memória precisa funcionar. 

 

Por esta razão Deus pediu a este povo que levasse 12 pedras do rio Jordão. Estas pedras foram levadas para bem longe. Mais tarde, quando o povo de Deus se instalou, este memorial ficou de forma permanente em Gilgal, que se tornaria a principal base de operações de Israel na conquista da Terra Prometida. De onde também Josué liderou a campanha contra Jericó e na região sul (Js 4.19,20; 6.11,14; 10.1-43, e onde a primeira Páscoa celebrada em Canaã foi realizada em Gilgal (Js 5.10). Dali também, Josué começou a distribuir os territórios conquistados entre as tribos de Israel (Js 14.6.

 

Este memorial com as 12 pedras esteve ali, todo tempo, lembrando a Deus quem os trouxera do Egito, e como Deus interviu maravilhosamente em toda caminhada do povo. 

 

 

  1. Memórias geram gratidão – Só agradece quem é capaz de lembrar as bênçãos que Deus deu. 

 

Em geral somos pouco agradecidos porque pouco nos recordamos. Existem pessoas que foram uma benção na sua vida, será que você se lembra do que elas fizeram a você, e quão importante foram para sua vida? Se você se lembra disto, você é grato. Se se esqueceu, certamente não haverá nenhuma gratidão. Como ser grato se não há memória?  

 

Um provérbio francês afirma que “gratidão é a memória do coração”. Isto faz enorme sentido...

 

Pensando nisto alguns anos atrás minha esposa resolveu fazer um pote para nele guardar memória das experiências de resposta de oração e de bençãos recebidas. É preciso reconhecer que ela está precisando de um pote maior, porque o que ela escolheu já está superlotado. Não são assim as bençãos de Deus? Mas infelizmente delas não nos recordamos.

 

Pr Jeremias Pereira disse que gosta de escrever no final de sua bíblia, as respostas de orações e bençãos recebidas. Imagino que ele vai ter que colocar muitas páginas extras no final para anotar todas bençãos.

 

Deus ordena a Josué que construa um memorial. Igrejas evangélicas, em geral, têm muito medo dos símbolos. Isto certamente tem a ver com o medo que temos de construirmos ídolos e da dificuldade com a iconoclastia, porque muitos grupos religiosos cristãos transformaram imagens e representações em objetos de veneração e adoração. 

 

Alguns anos atrás ouvimos uma palestra de Paulo Solonca, pastor em Florianópolis. Ele diz que estava assentado numas pedras apreciando a natureza, quando veio uma onda maior e o arrastou para o mar. Ele sabia nadar, mas não conseguia se agarrar nas pedras e ainda era arremessado perigosamente nas rochas. A situação dele se tornou bem complicada, quando então um pescador decidiu intervir. Ele tinha uma linha grossa, e jogou em direção ao pastor que fez amarrou a corda ao seu redor, e assim, o pescador e ele, aproveitando as ondas, foram ao pouco conseguindo se agarrar nas rochas, fugindo da violência das ondas e finalmente ser resgatado. 

 

Ele certamente ficou muito grato àquele pescador, e no final pediu que ele lhe desse o anzol que o salvou. O pescador brincou dizendo que além de lhe dar trabalho ainda lhe daria prejuízo, levando sue anzol. Ao chegar em casa, Solonca decidiu fazer uma estante em sua casa para servir de memorial. Todas as pessoas que entravam na sua casa, perguntavam sobre o significado do anzol, e ele então contava como Deus teve misericórdia dele. Naquela prateleira, colocou ainda o exame de sua filha, que havia superado um câncer, e dai por diante começou a fazer um memorial de milagres que ele, sua família, e sua igreja tinham recebido de Deus. 

 

  1. Memoriais se transformam em marcos, que servem para orientar e ensinar os filhos. A memória desperta fé nas gerações futuras. 

 

Estes memoriais, eventualmente se transformam em rotas vivas para as próximas gerações. Servem como roteiro e instrução. Foi isto que Deus disse a Josué: “...cada um levante sobre o ombro uma pedra, segundo o número das tribos dos filhos de Israel, para que isto seja por sinal entre vós; e, quando vossos filhos, no futuro, perguntarem, dizendo: Que vos significam estas pedras?” (Js 4.5,6).

 

Aquele monumento com as 12 pedras suscitariam indagações na mente das crianças e dos jovens. “Que significa estas pedras?” (Js 4.6,27). E a resposta seria: “então, lhes direis que as águas do Jordão foram cortadas diante da arca da Aliança do Senhor; em passando ela, foram as águas do Jordão cortadas. Estas pedras serão, para sempre, por memorial aos filhos de Israel.” (Js 4.7). Por se tornarem tão importantes, foram levadas para Gilgal (Js 4.20) e posteriormente se tornaria um dos lugares mais sagrados de Israel, lugar de peregrinação e romarias (Am 5.5)

 

ó Como seria possível traduzir este princípio para nossa vida no século XXI?

ó Que memoriais estamos construindo para nossos filhos?

ó Na nossa história vemos intervenções miraculosas de que sejam capazes de manter nossa fé viva, e nossa lembrança aguçada?

ó Que repercussão as experiências de hoje estão causando nas futuras gerações?

 

Conclusão

 

E o que tudo isto tem a ver com a mensagem de Cristo? 

 

Jesus também nos deixou memoriais. Pelo menos dois deles sempre estiveram presentes na liturgia da igreja e permanecem vivas até hoje. Onde houver igreja cristã, estes memoriais estarão presentes. 

 

A igreja reformada chama tais memoriais de sacramentos. Tem um aspecto superior ao memorial ainda que a memória seja fundamental. Um sacramento é definido como “um sinal visível de uma graça invisível”. Dois sacramentos são adotados: O Batismo e a Santa Ceia.

 

No batismo utilizamos a água. Didaticamente a aplicamos. Ela nos faz lembrar que o sangue de Cristo nos purificou, que fomos purificados, e que o Espírito Santo aplica esta salvação na vida da pessoa regenerada. Jesus afirmou que “quem nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.  (Jo 3.5). A água é purificadora! Embora o símbolo não possa ser maior que o simbolizado, torna-se instrumento visível e concreto por meio do qual podemos entender o que aconteceu conosco.

 

O que Jesus faz na Eucaristia: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.” (Lc 22.19). Ele levanta um memorial. Coisas simples e corriqueiras como pão e vinho, tornam-se mensagens poderosas. “Tomai e comei o meu corpo”. O que significa isto? A santa ceia é a mensagem do evangelho dramatizada. Jesus está construindo memórias para facilitar aos seus discípulos a compreensão do evangelho. Memória e memorial. Mas acima de tudo, a Igreja Reformada defende o princípio de que, nos elementos, há uma presença “real e espiritual” 


Conclusão

 

E o que tudo isto tem a ver com a mensagem de Cristo? 

 

Jesus também nos deixou memoriais. Pelo menos dois deles sempre estiveram presentes na liturgia da igreja e permanecem vivas até hoje. Onde houver igreja cristã, estes memoriais estarão presentes. 

 

A igreja reformada chama tais memoriais de sacramentos. Tem um aspecto superior ao memorial ainda que a memória seja fundamental. Um sacramento é definido como “um sinal visível de uma graça invisível”. Dois sacramentos são adotados: O Batismo e a Santa Ceia.

 

No batismo utilizamos a água. Didaticamente a aplicamos. Ela nos faz lembrar que o sangue de Cristo nos purificou, que fomos purificados, e que o Espírito Santo aplica esta salvação na vida da pessoa regenerada. Jesus afirmou que “quem nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.  (Jo 3.5). A água é purificadora! Embora o símbolo não possa ser maior que o simbolizado, torna-se instrumento visível e concreto por meio do qual podemos entender o que aconteceu conosco.

 

O que Jesus faz na Eucaristia: “E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.” (Lc 22.19). Ele levanta um memorial. Coisas simples e corriqueiras como pão e vinho, tornam-se mensagens poderosas. “Tomai e comei o meu corpo”. O que significa isto? A santa ceia é a mensagem do evangelho dramatizada. Jesus está construindo memórias para facilitar aos seus discípulos a compreensão do evangelho. Memória e memorial. Mas acima de tudo, a Igreja Reformada defende o princípio de que, nos elementos, há uma presença “real e espiritual” de Cristo. o símbolo traz consigo bênçãos, por isto os elementos concretos tornam-se em “meios de graça” para todos os que dele participam. 

 

Quero encerrar dizendo que tudo isto se constitui neste dia, num aspecto muito importante para minha vida. Hoje minha filha Priscila, e seu esposo, Victor Scherrer trazem o Gabriel para ser batizado. Ele fez um ano no dia 29 de Janeiro, no mesmo dia em que eu e Sara celebramos nosso casamento. Mas no ano passado, não pudemos comemorar. Minha filha corria risco de eclampse e o parto teve que ser feito às pressas, com minha esposa indo também, apressadamente, para os Estados Unidos. Não sabíamos se ele nasceria vivo, e nem se continuaria vivo, e foi colocado numa estufa por 15 dias, todo cheio de fios, alimentação intravenosa, e minha esposa não podia ver o netinho por causa da delicada situação de saúde. Priscila e Victor o visitavam uma vez por dia, e podia colocar sua mão na incubadora, cuidadosamente higienizada, para não levar bactérias.


Graças a Deus Gabriel está hoje saudável, crescimento normal, alegre, dando já seus primeiros passinhos. portanto, trata-se de um tempo muito importante par construir um memorial, e seu batismo está sendo feito exatamente hoje, porque precisamos lembrar que ele pertence a Deus antes de nos pertencer, e que Deus precisa ser celebrado em tudo isto.



 















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