segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mc 6.45-52 A Trilha da tempestade

Introdução: Algum tempo atrás ministrei uma série de sermões cujo titulo foi “Trilhas do Coração”. Isto aconteceu depois que percebi que vários textos das Escrituras narram a caminhada de homens de Deus, e revelam os rumos que tomaram em suas vidas. Existem a trilha do deserto, da tentação, do legalismo, do palácio ao deserto e do deserto ao palácio. Hoje estou dando a este sermão o titulo de “A trilha da tempestade”, porque fala da angustiante travessia que os discípulos tiveram que fazer.
Todos atravessam a trilha da tempestade. As pessoas ou já passaram por ela, ou vão passar, ou estão passando... Algumas são maiores, outras menores; umas longas, outras curtas; mas a tempestade é real em nossa vida. Elas podem ser de natureza financeira, espiritual, relacional ou física. Nesta hora é fundamental entendermos algumas coisas importantes sobre tempestades.

Podemos aprender algumas lições sobre estas tempestades:
1. Tempestades surgem de forma inesperada e são incontroláveis. Quem tem poder sobre o vento? Sobre o mar? Sobre fenômenos da natureza? Tsunamis, terremotos, o homem mau?

2. Tempestades podem sobrevir após grandes manifestações da glória de Deus - O texto que antecede é o da multiplicação dos pães, um grande feito de nosso Senhor, mas a narrativa deste texto afirma: “Logo a seguir” (Mc 6.45).
Elias enfrenta grande medo e depressão depois de uma grande conquista no Monte Carmelo. A rainha Jezabel lhe manda um recado, e ele, temendo a ameaça, foge desatinado no deserto, e depois de muito andar, encontrou um pequeno arbusto. Deprimido e desanimado, deitou-se debaixo dele e pediu para si a morte (1 Rs 19.1-4). É incrível como coisas assim acontecem logo depois da manifestação da gloria de Deus em nossa vida, e nos deixamos abater, desencorajados.
Neste texto, Jesus despede seus discípulos, logo após a multiplicação dos pães. Eles ainda se encontram em estado de êxtase, e saem daquela grande manifestação para se deparar com a morte que se prenuncia nesta grande tempestade.

3. Somos colocados na tempestade pelo próprio Deus – “Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos” (Mc 6.45). Compelir nos dá idéia não de “forçar” algo, mas de “induzir” a um ato.
O Sl 23 é um dos textos mais consoladores e que trazem esperança e segurança aos nossos corações. Ele afirma que o senhor é o nosso pastor, por isto nada vai nos faltar, que ele nos dará banquetes diante de pessoas que se opõem a nós, que vai trazer refrigério para nossa alma, etc., mas no meio do Salmo lemos o seguinte: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum”. O fato de Deus ser nosso pastor, não impede que atravessemos tempos e lugares sombrios, situações de morte, de perdas, de lutas. A presença de Deus não elimina a dor, mas ilumina a dor. O texto nos diz que Jesus “compeliu” seus discípulos.

4. Tempestades levam-nos a crer que toda esperança desapareceu – É bom lembrar que “desespero” é o contrário de “fé”. Muitas vezes vemos nosso coração passando pela masmorra da dúvida, porque a tempestade é longa, e não vemos mais a luz do sol e a claridade do dia. A tempestade que os discípulos enfrentaram foi longa, pois já era a 4ª vigília da noite (Entre 3-6 da manhã) e pesada (ventos fortes e contrários), por isto trazem muito desânimo e desesperança. Eventualmente sentimos nossas forças se esgotarem. Não encontramos mais coragem para lutar. Entregamos os pontos. Numa tempestade que Paulo enfrenta, lemos o seguinte: “E, ao terceiro dia, nós mesmos, com as próprias mãos, lançamos ao mar a armação do navio. E, não aparecendo, havia alguns dias, nem sol nem estrelas, caindo sobre nós grande tempestade, dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento” (At 27.19,20).

5. Tempestades atrapalham a leitura correta dos fatos – “eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram” (Mc 6.49). Passamos a fazer leituras equivocadas, a julgar erroneamente as coisas, a ver “assombrações” no meio do caminho, a ficarmos assustados com o farfalhar das folhas ou o movimento das árvores. Perdemos a capacidade de julgamento. Em meio a dores, aconselho sempre que as pessoas encontrem um conselheiro sábio, porque nossa capacidade de julgamento torna-se limitada.
Como reagiríamos se estivéssemos no lugar dos discípulos? Jesus os impele a entrar no barco e fazer a travessia, tendo consciência do risco. O barco perde contacto com terra firme e o vento é contrário. Enquanto isto, Jesus vai orar... Nestas horas de enfrentamento podemos achar Deus estranho e distante, indiferente e demorado, já que se manifesta apenas na quarta vigília da noite, entre as 3 e 6hs da madrugada. O pior horário de uma noite atribulada, enfrentando lutas e ameaças.
Tribulações e tempestades podem causar confusão mental e nos levar a interpretar erroneamente o que está acontecendo.
O Sl 77 é um texto de crise. O Salmista indaga várias vezes sobre coisas difíceis em relação àquilo que Deus está fazendo. “Cessou perpetuamente a sua graça? Deus deixou de ter misericórdia? Caducou a sua promessa?”. No vs. 10, porém, ele afirma: “Então disse eu: Isto é a minha aflição. Mudou-se a destra do Altíssimo”. Ele percebe que a crise dele com a existência e a fé, está relacionada à intensa aflição, que o leva a julgar as circunstâncias, e até mesmo Deus, de forma equivocada.
Por isto no meio da dor podemos julgar os outros e a Deus. Perdemos a capacidade de julgar corretamente os eventos da história no qual estamos inseridos. Começamos a nos assustar com os “fantasmas” e “assombrações”. Nestas horas é muito bom termos alguém que, fora do problema, nos ajude a analisar melhor as circunstâncias, já que nos tornamos pessimistas e com dificuldade de fazermos as leituras corretamente.

6. Antes de acalmar o vento, ele acalma os corações. Jesus poderia ter dado ordem ao mar, antes de subir no barco, mas o texto afirma que ele, antes de mais nada, dirigiu-se aos discípulos, para que pudessem vencer seu próprio medo. “tende bom ânimo. Sou eu. Não temais!”. Muitas vezes, o grande desafio não é vencer as tempestades e ameaças, mas vencer nossa insegurança e falta de fé. Jesus desafia seus discípulos a entrarem em contacto com ele mesmo. “Sou eu”. Ao dizer isto, é como se estivesse afirmando que o mais importante não é saber o tamanho da tempestade a enfrentar, mas o tamanho do Deus que anda no meio da tempestade.
Este texto faz ainda outra afirmação interessante: “E subiu ao barco para estar com eles”. O objetivo de Jesus, mais que acalmar a tempestade, que faz parte dos seus propósitos eternos, é estar conosco. Ele deseja nos transmitir a idéia de que, sua comunhão é melhor e mais importante que a suspensão da tempestade.
O livro do profeta Naum afirma “O Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e as nuvens são o pó de seus pés”(Nm 1.3). Deus transita no meio da nossa dor, e visita-nos nas noites angustiantes da alma. O grande problema não é a tempestade em si, mas nossa incapacidade de lembrar quem está por detrás da tempestade e quem manda na tempestade. Jesus tenta revelar sua divindade aos discípulos, mostrar que nunca esteve ausente, mas que estava por perto. Ele passeia sobre as águas tumultuadas da nossa existência, e sobre os fantasmas que nos amedrontam. “Sou eu. Não temais!”. É como se ele dissesse: Na tempestade vocês precisam sempre se lembrar disto! Deus sempre providencia ajuda inesperada em meio às nossas tempestades e entra no barco para estar conosco. Por isto, sempre nas tempestades, sempre descobrimos mais a natureza do Deus a quem servimos e entendemos mais sobre sua natureza.

7. Apesar da tempestade, com Cristo chegamos a um porto seguro (Mc 6.53). “E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou”. A presença de Deus é a única forma manter-se acima das tempestades. Deus nunca perde o controle dos fatos. Quando o texto afirma que Jesus os compeliu, isto demonstra que aquele fato não o pegou de surpresa.

8. Por último, O texto ainda nos ensina que, apesar da manifestação anterior da multiplicação dos pães, os discípulos não estavam entendendo bem o que estava acontecendo e continuavam com os corações endurecidos.
Endurecidos em relação a quê? A única coisa que me vem a mente era que eles ainda não haviam entendido a messianidade e a própria divindade de Cristo. Não sabiam quem de fato era Jesus. Eles talvez encontrassem justificativas racionais para explicar o que havia acontecido antes, mas não chegavam no cerne da questão: A Multiplicação dos pães revelavam a majestade de Cristo. Eles estavam diante do logo de Deus, que se tornara carne e habitara entre eles. Eles estavam “endurecidos”e “não haviam compreendido”.
Manifestações de Deus nos ensinam muito sobre o Deus que amamos e adoramos. Nesta hora é exatamente isto que eles experimentaram. A graça maravilhosa de Deus sobre suas vidas, e a compreensão da natureza divina de Jesus. Parece que Jesus, inclusive, teria permitido que eles passassem por esta dura experiência, para aprender coisas sobre as quais eles não podiam se equivocar, e isto era sobre sua natureza e obra.
O Evangelho de João é bem explicito sobre isto. Os milagres sempre eram acompanhados por discursos nos quais ele demonstrava quem ele era. Por exemplo, logo após a multiplicação dos pães, Jesus ensina que ele era “O Pão da vida”. O milagre apontava para uma didática celestial. Jesus ensinava por meio de sua obra aquilo que ele era. Neste texto, Jesus se manifesta dizendo: “Tende bom ânimo, sou eu, não temais!”. O termo “Sou Eu” (Ego eimi), é a tradução mais próxima da forma como Deus se revelou no Antigo Testamento ao afirmar: “Eu sou o que sou”. Jesus está dizendo aos discípulos. Não temam porque o “Eu Sou”, está aqui ao lado de vocês. A tempestade é grande, mas o Deus que controla a tempestade, está aqui.
o texto revela Tempestades são o melhor meio para que Deus nos comunique a sua natureza - Deus pode demorar, mas o socorro de Deus sempre aparece. Jesus lhes falou: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!” (Mc 6.50). O que os discípulos estão vendo agora? A revelação na natureza de Cristo. Se antes eles não haviam entendido sobre a natureza de Cristo, agora isto se torna claro. Os discípulos ficaram “atônitos” (MC 6.51), e isto mostra que eles ainda não haviam entendido quem realmente era Jesus.
Na verdade, não deve ter sido muito fácil entender que naquele amigo pessoal, habitava “toda a plenitude da divindade”. Agora, os discípulos são confrontados com a natureza divina de Cristo, que é capaz de controlar as forças da natureza. Sua presença multiplicava pães, curava enfermos, mas também dominava a natureza, os mares, o vento. Por isto os discípulos se encontram atônitos, era como se mais uma vez, se surpreendessem com quem ele era. Jesus demonstrava agora sua autoridade e poder, acima dos mares. No texto de Mateus eles afirmam: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem”.


Conclusão:
Milagres apontam para algo maior. Intervenções históricas de Deus, possuem uma pedagogia muito especial. Muitas vezes podemos ver milagres e ainda assim estarmos endurecidos sobre quem é Jesus. Este era o objetivo de Jesus.
Muitas vezes nos impressionamos com as intervenções de Deus, mas não com o Deus que intervém. Nos contentamos com os milagres de Deus, e não com o Deus dos milagres. Esta parábola encerra dizendo que os discípulos foram compelidos a atravessar o mar, para aprender sobre a natureza de Cristo, a glória e o poder que estava sobre ele, transcendia a humanidade, sendo expressões do próprio Deus.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mc 6.12-16 Prisioneiros da Culpa

Introdução:
A Revista Veja de 20 de Setembro de 1995, traz intrigante artigo intitulado “Noite sem fim” com o seguinte subtítulo: “0s 111 fantasmas do Carandiru perseguem os oficiais que comandaram o massacre”. Descreve o massacre no qual os presidiários foram queimados vivos, sem possibilidade de defesa, num dos maiores atentados contra o direito civil em nosso país. A revista mostra que todos os responsáveis pelos massacres tiveram mortes estranhas e trágicas, ou vivem atualmente acossados pela sua consciência.
Um deles anda espantado com alucinações: “Atirei muito e tenho dezesseis espíritos me rondando”. Outro perdeu completamente seu equilíbrio psiquiátrico. O coronel que comandava o policiamento de choque simula indiferença, mas ao depor, não resistiu e num acesso de choro, teve que se assentar. É um homem fragilizado, admitindo que até um de seus filhos o questionou pela chacina. O articulista da revista afirma a certa altura: “Os algozes dos 111 não se preocupam com a Justiça. Mas preocupam-se com outros gemidos”.
Um dos maiores tormentos da vida é sermos prisioneiros da culpa.

Contexto: Este texto nos fala de Herodes consumido pela culpa. Quando Jesus começa a exercer seu ministério repleto de sinais e milagres, a assombração de sua alma ressurgiu: “É João, a quem eu mandei decapitar” (Mc 6.16).
Herodes tem que lidar com a sombra de um homem, a quem aprendera ouvir. “E quando o ouvia, ficava perplexo, escutando-o de boa mente” (Mc 6.20). Herodias, sua amante (que antes era sua cunhada), “O odiava, querendo matá-lo, e não podia”. (Mc 6.19). Na noite do seu aniversário, já bastante embriagado, resolve oferecer à sua enteada, Salomé, o que ela quisesse, e ela, instigada pela sua mãe, pede a cabeca de João Batista num prato. O texto afirma: “Entristeceu-se profundamente o rei; mas por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar” (Mc 6.26). Agora, quando Jesus começa a exercer seu ministério, expelindo demônios e curando numerosos enfermos (Mc 6.13), sua culpa vem à tona. “É João, a quem eu mandei decapitar, que ressurgiu” (Mc 6.16).
Sua alma estava presa pela grave culpa:
Precisamos entender algumas coisas sobre culpa:

1. Culpa é um poço sem fundo – Não há nada que possa tapar este buraco. Ela tem o poder de causar um enorme vácuo em nossa alma. A pessoa culpada não se sente no direito de fazer qualquer coisa prazerosa. Ela precisa se punir.
 Jay Adams, conhecido conselheiro cristão afirma que 70% neuroses estão associadas a culpa e auto punição, e que metade dos pacientes em clinicas psiquiátricas se recuperariam, apenas se soubessem que foram perdoadas.
o Pv 28.13: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”
o Pv 28.17: “O homem carregado do sangue de outro, fugirá até a cova. Ninguém o detenha”.
o Pv 27.20: “O inferno e o abismo nunca se fartam”. Assim também é a culpa. Neste poço, quanto mais você tira, mais fundo fica.

2. Culpa não se aplaca com paliativos de bondade e justiça própria – Não existem subterfúgios e esconderijos para aquele que não foi perdoado do seu pecado ou que ainda não experimentou a graça do perdão. Você não consegue acobertar o mal.
 Pecado e culpa: tentativas de vir mais à igreja, fazer gestos de bondade (5 mil reais para a creche); ser bondoso com a família, nada disto cura.
No famoso texto de Shakespeare, “Lady MacBeth”, um dos personagens íntimos do rei Duncan, que o considera seu amigo mais leal. MacBeth, incitado por sua esposa, resolve assassinar o rei que está sob a proteção da hospitalidade do próprio Macbeth; para assumir o trono e desta forma o apunhala durante o sono. A culpa cai sobre os dois guardas que deveriam vigiar o sono do Rei. A partir daí, Macbeth e sua esposa passam a ficar atormentados pela culpa e pelo medo. Medo de pensar no que fez e medo de que outros façam o mesmo com ele. Lady MacBeth, atormentada pela culpa passa a andar e a falar durante o sono, revelando o crime dela e do marido. Lady Macbeth vemos como a culpa causa loucura. Ela vira uma sonâmbula, caminhando com uma vela acesa na mão, como que para iluminar a escuridão instalada em seu coração. Ela esfrega as mãos sem parar.
Shakespeare coloca na voz da própria Lady MacBeth: “Mas será que estas mãos não estarão jamais limpas? Aqui está, ainda agora, este fedor de sangue. Nem todos os perfumes das Arábias conseguirão perfumar esta mãozinha”. A dama de companhia comenta que nem por todo o ouro e poder do mundo ela gostaria de carregar tamanha culpa. Finalmente Lady MacBeth, não resistindo à culpa, comete o suicídio. MacBeth, o esposo, também se perde em suas culpas. Ele não consegue mais controlar as rédeas de sua desnorteada alma e vive assim atormentado até sua morte que ocorre durante um duelo.
Quando fala de culpa, sempre fico pensando no drama que a família Nardoni enfrenta. Apesar de todas as evidências, continuam a negar sua participação naquele horrendo crime. Talvez consigam atenuar sua pena por isto. Toda família se mobilizou num esquema para que se livrem da cadeia ou atenuem a pena. Mas todos estão se esquecendo que a culpa é a maior prisão. Aquelas pessoas se tornaram prisioneiras de si mesmas, de sua consciência, e a consciência é um implacável algoz. Nada resolve o problema de uma mente culpada, a não ser o perdão.
Culpa não se resolve com artifícios e argumentos filosóficos, tampouco com o tempo. Culpa se resolve com enfrentamento, e isto implica em desmascaramento, arrependimento e confissão, não com negação, ou mesmo com boas obras, gestos de boa vontade para apaziguar o sofrimento.

3. Culpa é a melhor arma do diabo – O texto de Zacarias 3.3 nos fala de um tribunal montado diante do sumo sacerdote Josué. Este se encontra de vestes sujas, dando ensejo para que Satanás se lhe oponha. A mensagem é clara. As acusações se encontram diante de nós, penetram o inconsciente, e até mesmo quando estivermos dormindo ou acordados elas estarão sempre a nos envolver. Josué está diante de Deus, mas até ali Satanás o acusa incessantemente.
Pecado não confessado destrói vidas. A Bíblia afirma: “Teu pecado de achará”. Culpa retira a alegria e a autoridade moral e espiritual.
Em Ap 12 os céus estão em festa! A razão daquela festa: “Foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite” (Ap 12.10). Os céus se alegram porque Satanás, aquele que faz acusação, e nossos pecados, a razão de nossa culpa, já foram resolvidos por meio da cruz. “O Sangue de Jesus, seu filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.9).
Pecado não confessado é a melhor arma de Satanás para retirar a alegria do coração. Culpa é o ingrediente que ele precisa para nos deprimir, gerar doenças emocionais e desequilibrar-nos.

O remédio para a culpa:A Bíblia nos diz que Deus providenciou o remédio para nossa culpa.
Herodes provavelmente viveu e morreu com esta sombra fantasmagórica de João Batista, mas não precisamos ser prisioneiros de nossos pecados e atitudes ímpias. “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem macula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9.14)... “E sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22). Foi isto que Cristo fez por nós, quando se deixou moer naquela cruz.
A Bíblia diz que Deus, o ofendido, resolveu nos absolver por meio de Cristo. Nós, os ofensores, fomos perdoados. Deus providenciou o remédio: a cruz! “O escrito de dívida que era contra nós, foi rasgado” (Col 2.14).
Como Deus fez isto?
Em Ap 6 surge a seguinte pergunta: “Estes que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram?” (Ap 7.13). Quem pode se apresentar purificado diante de Deus? Não é sem razão que João faz esta provocante pergunta: “Quem são e donde vieram?”. A resposta maravilhos é dada pelo ancião: “Estes são os que lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.14). Existe um meio que Deus mesmo providenciou para nossas vidas. A morte de seu Filho. Através do seu sangue somos libertos do diabo e purificados de todo pecado. Precisamos nos aproximar dele para experimentarmos liberdade que sua obra e cruz faz por nós.
O homem não é capaz de purificar-se de sua culpa por si mesmo, nem aliviar a sua consciência. Ele precisa de Deus.
A opção pós-moderna afirma que o homem não tem pecado, já que não há absolutos. O problema é que se não há pecado, também não há cura, nem perdão. Se uma pessoa está com câncer e afirma que não tem câncer, vai recusar-se a tomar remédio. No entanto, a negação da doença não trata a doença. A negação da dor, não resolve o problema da dor.
Não existe outro caminho, a não ser enfrentamento, arrependimento e confissão.
Conta-se que certa vez Satanás estava acusando Wesley de seus pecados. Acuado, lembrou-se das promessas de perdão feitas por Jesus e então disse: “Satanás, você não sabe da metade do que fiz e sou, mas eu quero lembrar-lhe que já fui lavado pelo sangue do Cordeiro”.
“Não sou o que devo ser, não sou o que quero ser, não sou o que um dia espero ser, mas graças a Deus não sou o que fui antes, e é pela graça de Deus que sou o que sou” (John Newton).

Col 3.13-23 A Maravilhosa Obra de Cristo

Este texto nos fala do caráter e da obra de Cristo. Quem é ele, e o que fez.
Hoje queremos considerar sua obra:

1. Sua obra mudou o nosso domicílio – (Col 1.13)

a. Nos libertou – rompeu os grilhões

b. Nos transportou – Nos levou sobre seus ombros.
A ilustração que me vem à mente é a da família de Ló,quando os anjos insistiam para que saíssem da cidade,.e como ficassem indecisos e vacilantes, o anjo os tomou pela mão.

Para Jesus nos resgatar foram necessários dois movimentos:

a. Invasão – vencer o inimigo. – Jesus teve que entrar no império das trevas. Ele afirmou o seguinte: “Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só, então, lhe saqueará a casa”(Mc 3.27). Este texto foi citado por Jesus, quando ele estava expulsando demônios que habitavam a vida das pessoas. É necessário amarrar o valente, uma referência clara a Satanás, e tirar seu poder e autoridade. Jesus fez isto na cruz.
O apóstolo João afirma: “Para isto se manifestou o Filho do Homem, para destruir as obras do diabo”(1 Jo 3.8).
b. Transporte – Jesus nos trouxe para o seu reino, onde as leis são completamente diferentes. Fomos transportados para este lugar onde Jesus reina. É maravilhoso sair do domínio de um imperador tirano, e ser conduzido para o reino de Deus feito de paz, justiça e alegria no Espírito Santo.

Outra distinção necessária no texto está entre Império e Reino.
a. Império é sempre por usurpação, reino é por herança – Os imperadores tomavam pequenos reinados, e transformavam aquelas pessoas em vassalos.
b. Reino pressupõe a figura do Rei – Jesus nos trouxe para um lugar onde ele mesmo governa.
c. Reino pressupõe leis – Você fica debaixo das leis de um reinado soberano e bom, ou debaixo de um imperador, invasor e carrasco.

2. Sua obra nos deu Redenção – (Col 1.14) – “Redenção é um termo peculiar. Fala do preço para se tirar uma pessoa de uma determinada situação. Este termo era muito usado para descrever a situação de um escravo que se encontrava no mercado para serem vendidos. Muitos anti escravagistas usavam esta estratégia para comprar escravos e dar-lhes alforria.
1 Pe 1.18-19 afirma: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptas, como prata ou ouro, que fostes resgatados... mas pelo precioso sangue, como de cordeiro, sem defeito e sem macula, o sangue de Cristo”.
Por causa do preço.
Existe uma forte expressão de Jesus, quando estava ainda na cruz: “Tetelestai”, que literalmente significa: “Tudo está pago!”. O que Jesus queria dizer ao fazer este brado? Sua obra a favor da humanidade estava concluída, cabal e eficazmente. Quando seu sangue é aplicado sobre nossa vida, seus benefícios são duradouros, e isto acontece quando o recebemos pela fé, em nossos corações. Esta decisão de acolhê-lo em seu coração pode ser agora, pedindo para que Ele venha morar em seu coração.
Sangue é moeda de troca no mundo espiritual, por isto as religiões animistas e primitivas ainda hoje fazem este tipo de sacrifício. Elas sabem do poder do sangue. No entanto, tais sacrifícios são totalmente pagãos e ofensivos para Deus. Jesus já pagou o preço, morrendo em nosso lugar naquela cruz. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Não há nada mais a ser pago. Jesus pagou nossa divida. Quando fazemos novamente sacrifícios queremos dizer que ignoramos o que Jesus fez por nós.
“E que, havendo feito a paz, pelo sangue da sua cruz, reconciliou consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Col 1.14).

3. Sua obra nos reconciliou com Deus – (Col 1.21) – Este texto faz uma triste avaliação de nossa realidades sem a obra de Deus em nossas vidas:
a. Éramos estranhos e inimigos no entendimento – Nossa mente carnal, sem a iluminação do Espírito Santo, é inimiga de Deus. Nossas categorias mentais são opostas a Deus. Isto acontece tanto como o homem simples quanto o intelectual. Na forma de entender as coisas espirituais, somos inimigos no entendimento;
b. Obras malignas – Por causa da confusão nos valores, vivemos esta vida sombria sem Deus. O problema com nossas obras é que, ao praticarmos as mesmas, fazemos para a glorificação do EU, ao invés de fazermos para Deus. Nossas obras sempre redundam em vaidade, narcisismo, auto centralização – não glorificam a Deus.
Nossa fonte está contaminada pelo EU. Quando fazemos as coisas, exaltamos nossa justiça própria. Achamos que podemos nos justificar diante de Deus por causa das obras que fazemos. Nos esquecemos do sacrifício do Cordeiro. Por que Jesus morreu na cruz? Nossas obras são falhas, incompletas e incapazes de nos justificar.

Como Jesus nos reconciliou com o Pai?
O texto bíblico afirma: “No corpo de sua carne, mediante a sal obra” (Col 1.22). O seu sacrifício nos libertou. Ele fez isto doando sua própria vida, deixando que seu corpo fosse esmagado. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4).
Precisamos de uma identificação com a morte de Cristo. A Bíblia afirma: “Fomos crucificados com Cristo”. Precisamos ir até o Calvario, partilhar de sua dor, morrer com ele.

Qual é o objetivo da morte de Cristo?
O texto bíblico afirma: “Para apresentar-nos perante ele, santos, inculpáveis e irrepreensíveis” (Col 1.22). Seu alvo é me apresentar diante do Pai, com estes requisitos. Sua morte em mim precisa afetar nossa natureza num nível muito profundo.
Santos - Quando Deus olha para mim, ele me vê em Cristo. Eu me tornei identificado com sua morte e, portanto, com sua natureza. Ele me levou até à cruz, e aplicou o seu sangue sobre minha vida, me libertou e me transportou para o seu reino. Meus méritos não são meus, mas os de Cristo.
Sem Culpa - Jesus me apresentará sem culpa. Não há debito ou pendência, nem cobrança – ele pagou o preço de meu pecado. Fui perdoado. O castigo que me traz a paz estava sobre ele. Sobre minha vida, tem a estampa de seu sangue.
Irrepreensível - Ele também me apresentará sem nada para repreender. “Nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus”(Rm 8.1). O texto diz: “Nenhuma!” Nada pendente. Fui lavado. Minha vergonha foi colocada sobre Jesus, e Ele me tronou puro aos olhos de Deus. Minhas vestes foram alvejadas no sangue do Cordeiro (Ap 7). “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.21). Vestes brancas, sem mácula.

Conclusão:
Todos os benefícios da cruz estão disponíveis para aqueles que se identificam com a obra de Cristo. Ele morreu a minha morte. Aquela cruz era minha. O seu lugar era meu.
Para concluir, gostaria ainda de ler mais um texto bíblico: Rm 6.4-8
“De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo
foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também
em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na
semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição;
Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o
corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.
Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos
com Cristo, cremos que também com ele viveremos”.