quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mc 6.12-16 Prisioneiros da Culpa

Introdução:
A Revista Veja de 20 de Setembro de 1995, traz intrigante artigo intitulado “Noite sem fim” com o seguinte subtítulo: “0s 111 fantasmas do Carandiru perseguem os oficiais que comandaram o massacre”. Descreve o massacre no qual os presidiários foram queimados vivos, sem possibilidade de defesa, num dos maiores atentados contra o direito civil em nosso país. A revista mostra que todos os responsáveis pelos massacres tiveram mortes estranhas e trágicas, ou vivem atualmente acossados pela sua consciência.
Um deles anda espantado com alucinações: “Atirei muito e tenho dezesseis espíritos me rondando”. Outro perdeu completamente seu equilíbrio psiquiátrico. O coronel que comandava o policiamento de choque simula indiferença, mas ao depor, não resistiu e num acesso de choro, teve que se assentar. É um homem fragilizado, admitindo que até um de seus filhos o questionou pela chacina. O articulista da revista afirma a certa altura: “Os algozes dos 111 não se preocupam com a Justiça. Mas preocupam-se com outros gemidos”.
Um dos maiores tormentos da vida é sermos prisioneiros da culpa.

Contexto: Este texto nos fala de Herodes consumido pela culpa. Quando Jesus começa a exercer seu ministério repleto de sinais e milagres, a assombração de sua alma ressurgiu: “É João, a quem eu mandei decapitar” (Mc 6.16).
Herodes tem que lidar com a sombra de um homem, a quem aprendera ouvir. “E quando o ouvia, ficava perplexo, escutando-o de boa mente” (Mc 6.20). Herodias, sua amante (que antes era sua cunhada), “O odiava, querendo matá-lo, e não podia”. (Mc 6.19). Na noite do seu aniversário, já bastante embriagado, resolve oferecer à sua enteada, Salomé, o que ela quisesse, e ela, instigada pela sua mãe, pede a cabeca de João Batista num prato. O texto afirma: “Entristeceu-se profundamente o rei; mas por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar” (Mc 6.26). Agora, quando Jesus começa a exercer seu ministério, expelindo demônios e curando numerosos enfermos (Mc 6.13), sua culpa vem à tona. “É João, a quem eu mandei decapitar, que ressurgiu” (Mc 6.16).
Sua alma estava presa pela grave culpa:
Precisamos entender algumas coisas sobre culpa:

1. Culpa é um poço sem fundo – Não há nada que possa tapar este buraco. Ela tem o poder de causar um enorme vácuo em nossa alma. A pessoa culpada não se sente no direito de fazer qualquer coisa prazerosa. Ela precisa se punir.
 Jay Adams, conhecido conselheiro cristão afirma que 70% neuroses estão associadas a culpa e auto punição, e que metade dos pacientes em clinicas psiquiátricas se recuperariam, apenas se soubessem que foram perdoadas.
o Pv 28.13: “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia”
o Pv 28.17: “O homem carregado do sangue de outro, fugirá até a cova. Ninguém o detenha”.
o Pv 27.20: “O inferno e o abismo nunca se fartam”. Assim também é a culpa. Neste poço, quanto mais você tira, mais fundo fica.

2. Culpa não se aplaca com paliativos de bondade e justiça própria – Não existem subterfúgios e esconderijos para aquele que não foi perdoado do seu pecado ou que ainda não experimentou a graça do perdão. Você não consegue acobertar o mal.
 Pecado e culpa: tentativas de vir mais à igreja, fazer gestos de bondade (5 mil reais para a creche); ser bondoso com a família, nada disto cura.
No famoso texto de Shakespeare, “Lady MacBeth”, um dos personagens íntimos do rei Duncan, que o considera seu amigo mais leal. MacBeth, incitado por sua esposa, resolve assassinar o rei que está sob a proteção da hospitalidade do próprio Macbeth; para assumir o trono e desta forma o apunhala durante o sono. A culpa cai sobre os dois guardas que deveriam vigiar o sono do Rei. A partir daí, Macbeth e sua esposa passam a ficar atormentados pela culpa e pelo medo. Medo de pensar no que fez e medo de que outros façam o mesmo com ele. Lady MacBeth, atormentada pela culpa passa a andar e a falar durante o sono, revelando o crime dela e do marido. Lady Macbeth vemos como a culpa causa loucura. Ela vira uma sonâmbula, caminhando com uma vela acesa na mão, como que para iluminar a escuridão instalada em seu coração. Ela esfrega as mãos sem parar.
Shakespeare coloca na voz da própria Lady MacBeth: “Mas será que estas mãos não estarão jamais limpas? Aqui está, ainda agora, este fedor de sangue. Nem todos os perfumes das Arábias conseguirão perfumar esta mãozinha”. A dama de companhia comenta que nem por todo o ouro e poder do mundo ela gostaria de carregar tamanha culpa. Finalmente Lady MacBeth, não resistindo à culpa, comete o suicídio. MacBeth, o esposo, também se perde em suas culpas. Ele não consegue mais controlar as rédeas de sua desnorteada alma e vive assim atormentado até sua morte que ocorre durante um duelo.
Quando fala de culpa, sempre fico pensando no drama que a família Nardoni enfrenta. Apesar de todas as evidências, continuam a negar sua participação naquele horrendo crime. Talvez consigam atenuar sua pena por isto. Toda família se mobilizou num esquema para que se livrem da cadeia ou atenuem a pena. Mas todos estão se esquecendo que a culpa é a maior prisão. Aquelas pessoas se tornaram prisioneiras de si mesmas, de sua consciência, e a consciência é um implacável algoz. Nada resolve o problema de uma mente culpada, a não ser o perdão.
Culpa não se resolve com artifícios e argumentos filosóficos, tampouco com o tempo. Culpa se resolve com enfrentamento, e isto implica em desmascaramento, arrependimento e confissão, não com negação, ou mesmo com boas obras, gestos de boa vontade para apaziguar o sofrimento.

3. Culpa é a melhor arma do diabo – O texto de Zacarias 3.3 nos fala de um tribunal montado diante do sumo sacerdote Josué. Este se encontra de vestes sujas, dando ensejo para que Satanás se lhe oponha. A mensagem é clara. As acusações se encontram diante de nós, penetram o inconsciente, e até mesmo quando estivermos dormindo ou acordados elas estarão sempre a nos envolver. Josué está diante de Deus, mas até ali Satanás o acusa incessantemente.
Pecado não confessado destrói vidas. A Bíblia afirma: “Teu pecado de achará”. Culpa retira a alegria e a autoridade moral e espiritual.
Em Ap 12 os céus estão em festa! A razão daquela festa: “Foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite” (Ap 12.10). Os céus se alegram porque Satanás, aquele que faz acusação, e nossos pecados, a razão de nossa culpa, já foram resolvidos por meio da cruz. “O Sangue de Jesus, seu filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.9).
Pecado não confessado é a melhor arma de Satanás para retirar a alegria do coração. Culpa é o ingrediente que ele precisa para nos deprimir, gerar doenças emocionais e desequilibrar-nos.

O remédio para a culpa:A Bíblia nos diz que Deus providenciou o remédio para nossa culpa.
Herodes provavelmente viveu e morreu com esta sombra fantasmagórica de João Batista, mas não precisamos ser prisioneiros de nossos pecados e atitudes ímpias. “Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem macula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo” (Hb 9.14)... “E sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22). Foi isto que Cristo fez por nós, quando se deixou moer naquela cruz.
A Bíblia diz que Deus, o ofendido, resolveu nos absolver por meio de Cristo. Nós, os ofensores, fomos perdoados. Deus providenciou o remédio: a cruz! “O escrito de dívida que era contra nós, foi rasgado” (Col 2.14).
Como Deus fez isto?
Em Ap 6 surge a seguinte pergunta: “Estes que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram?” (Ap 7.13). Quem pode se apresentar purificado diante de Deus? Não é sem razão que João faz esta provocante pergunta: “Quem são e donde vieram?”. A resposta maravilhos é dada pelo ancião: “Estes são os que lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.14). Existe um meio que Deus mesmo providenciou para nossas vidas. A morte de seu Filho. Através do seu sangue somos libertos do diabo e purificados de todo pecado. Precisamos nos aproximar dele para experimentarmos liberdade que sua obra e cruz faz por nós.
O homem não é capaz de purificar-se de sua culpa por si mesmo, nem aliviar a sua consciência. Ele precisa de Deus.
A opção pós-moderna afirma que o homem não tem pecado, já que não há absolutos. O problema é que se não há pecado, também não há cura, nem perdão. Se uma pessoa está com câncer e afirma que não tem câncer, vai recusar-se a tomar remédio. No entanto, a negação da doença não trata a doença. A negação da dor, não resolve o problema da dor.
Não existe outro caminho, a não ser enfrentamento, arrependimento e confissão.
Conta-se que certa vez Satanás estava acusando Wesley de seus pecados. Acuado, lembrou-se das promessas de perdão feitas por Jesus e então disse: “Satanás, você não sabe da metade do que fiz e sou, mas eu quero lembrar-lhe que já fui lavado pelo sangue do Cordeiro”.
“Não sou o que devo ser, não sou o que quero ser, não sou o que um dia espero ser, mas graças a Deus não sou o que fui antes, e é pela graça de Deus que sou o que sou” (John Newton).

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