segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Mc 8.31-33 A Necessidade da cruz

Cruz é um tema impopular. Isto surpreendeu o Dr. John Stott quando foi convidado para escrever um tratado sobre a Cruz de Cristo, lançado pela IVP em 1986. Ele afirma: “Nenhum livro sobre este tópico tem sido escrito por um autor evangélico, por quase meio século”. Num corajoso trabalho do Dr. Guillebaud’s citado por John Stott com o tema “Por que a cruz?” o autor faz três perguntas apologéticas importantes:
1. A cruz realmente traduz o pensamento cristão? (Ela é compatível com o ensinamento de Jesus e de seus discípulos?);
2. Ela é moralmente correta? Isto é, ela é compatível com a justiça?
3. Ela tem credibilidade? (Seria realmente compatível com problemas como a transferência da culpa nossa para Jesus?)

Numa recente entrevista com Jô Soares, Rubem Alves fez a seguinte afirmação: “Eu me recuso a crer em um Deus que executa seu filho na cruz”. O pensamento de Rubem Alves reflete bem o conceito que a raça humana faz da obra de Cristo.

Contexto:No texto lido, vemos Pedro repreendendo a Jesus quando este menciona a necessidade de sua morte: “Tem misericórdia de ti, isto de forma alguma te acontecerá”. Desviar-se da cruz, sempre foi a grande tentação de Cristo. Satanás o provoca quanto a isto propondo para uma saída mirabolante fazendo um show acrobático em Jerusalém, insinuando que assim seria mais fácil convencer os judeus de que ele de fato era o Messias. Jesus recusou esta e outras propostas.
Pregadores atualmente se recusam a falar da obra de Cristo na cruz. Fala-se de prosperidade financeira, de barganha com Deus, de ética, de moral, menos daquilo que é central no Evangelho: A cruz de Cristo.
Paulo afirma que não queria anunciar outra coisa, senão a Jesus e este crucificado. Temos a impressão de que pregadores modernos querem anunciar qualquer coisa, menos o Cristo crucificado.
Uma das afirmações mais repetidas nas liturgias católicas é: “Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Lamentavelmente, veremos homilias sobre muitos outros assuntos, menos sobre o significado desta declaração.
Como vemos as narrativas nos Evangelhos sobre este assunto?
Jesus afirmava que “era necessário morrer”.
Por que a cruz é necessária?

1. A cruz é necessária para satisfazer a justiça de Deus – Deus, sendo justo, não poderia deixar impune os pecados da raça humana. Ele afirmou que “A alma que pecar esta morrerá” (Ez 18.2), e ainda que “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Para que o homem fosse absolvido desta justiça de Deus, Jesus entrou em seu lugar, pagando o preco de nossa redenção. Foi esta a “proposta” de Deus na cruz (Rm 3.23).
A Trindade fez então, o “Pacto da Redencao", que consistia em que o Filho de Deus, seria o nosso substituto. Deus colocou sobre Jesus toda sua ira contra o pecado e nos considerou absolvido por causa da sua obra. “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 6.21).
Os Evangelhos fazem questão de acentuar que a cruz de Cristo era um fato inegociável. Ele precisava morrer. Esta foi a declaração que assustou tanto a Pedro. “É necessário que o Filho do homem sofra...”.
Isto pode parecer estranho aos nossos olhos, afinal, o homem mais perfeito, o melhor filho que a humanidade produziu, termina seus dias sendo julgado num processo altamente questionável, e numa morte desumana. Mas Jesus estava muito consciente de sua missão. Na cruz, depois de ter pago o preço de nossa redenção, ele exclamou: “Tudo está pago!”. Em outras palavras, nada mais precisava ser feito, já que a divida que constava contra nós, havia sido paga pelo Filho de Deus. Jesus se tornou maldito em nosso lugar. O justo pelos injustos. A pena foi paga.
Por isto lemos em Rm 8.1: “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus”. Rm 5.1 afirma: “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus”. Justificação é um termo forense, vem da lei. Para que eu fosse declarado justo, Jesus teve que assumir minha culpa e minha condenação. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A justiça da lei se cumpre em Cristo. A cruz é uma necessidade (Mt 16.21,23).
Satanás tenta usar Pedro, um dos melhores amigos de Jesus, para desestimulá-lo à cruz (Mt 16.22,23). Jesus afirma que era "necessário". Lucas afirma que "convinha" que o Filho do Homem fosse entregue para morrer na cruz (Lc 24.26,27). João afirma a mesma idéia: (Jo 12.27).

2. Cumprir perfeitamente todas as exigências da lei mosaica -
Todos os sacrifícios eram feitos com sangue, havia exigências de sacrifício (Hb 9.22). Jesus torna-se o Cordeiro Pascal, de uma vez por todas, para que nunca mais houvesse necessidade de qualquer outra forma de sacrifício. Toda a ira de Deus estava em Jesus, na cruz, por esta razão ele sente "o desamparo de Deus” (Mt 27.46). O maior sofrimento não era o físico, mas o espiritual. Na cruz, ele assumiu nossa culpa. Nós deveríamos estar lá.
Com sua morte Jesus assume nosso lugar e manifesta sua justiça, julgando nossos pecados. Na cruz, Jesus "cancela o escrito da dívida que estava contra nós, despojando principados e potestades" (Col 2.14-15). Nenhum homem jamais conseguiu satisfazer o padrão moral da lei. Aquilo que havia sido dado por Deus para orientar o homem, agora se torna acusação. Todos somos culpados. Eu sei o que tenho que fazer, mas não sou capaz de realizá-lo. A lei é bonita, mas inoperante.
Lutero : “A lei de Deus foi satisfeita pela perfeita obediência de Cristo em sua vida, assumindo nossa culpa”.

3. A cruz era necessária para que se cumprisse as profecias -
.As Escrituras falavam de sua morte - Lc 24:25-27,44,45; O Evangelista Mateus afirma: “Tudo isto aconteceu para que se cumprisse as palavras dos profetas” (Mt 26.24,54,56). A cruz fazia parte de um plano de Deus. Jesus foi entregue segundo a presciência de Deus (At 2.23). No seu discurso, Pedro afirma que isto se dava pelo determinado conselho e presciência de Deus. Era "vontade do Pai" (Jo 18.11).
Os discípulos não creram: Nossa fé gosta de ser seletiva. O caminho da cruz não é o melhor nem o mais fácil. Havia uma estrutura de pensamento entre os judeus. O Messias seria político, libertador. Mesmo depois da morte de Cristo ainda continuavam crendo desta forma (At 1.6).

4. A cruz, é uma opção de amor do Pai – Deus não seria injusto se nos condenasse ao inferno. Paulo diz que “Deus prova o seu amor por nós no fato de que Cristo morreu, sendo nós ainda pecadores”. A cruz é veredito da contradição e do paradoxo, por isto toda Bíblia centraliza tanto a idéia do sacrifício expiatório, da morte de animais. O sangue do Antigo Testamento aponta para a idéia central do sangue também no Novo Testamento.
A morte seria destruída, na ressurreição de Jesus. Quando parecia demonstrar seu triunfo, foi destruída de uma vez para sempre. Por isto, "Todo que nele crê será salvo" (Jo 13.32; Jo 3.14,15).

Conclusão:A história de Jesus, nunca termina na cruz. A cruz é veredito de contradição: Morte/vida. A cruz é lugar de sofrimento e dor. Jesus nos convida a ir além. Ir ao túmulo vazio, enxergar a vida plena de Deus.
Mas a cruz e o sangue trazem três implicações profundas:
A. Mexe com o meu orgulho – Não somos salvos por nossa capacidade, mas através de Cristo. Esta assertiva mexe com nossa prepotência e arrogância espiritual, Nenhum mérito pessoal – todos os méritos são de Cristo.
B. Muda minha visão – Não mais desespero ou orgulho, apenas confiança e dependência. Paulo afirma: “Cristo em nós, esperança da glória!” e ainda: “Eu me glorio na cruz de Cristo” (Gl 6.10).
C. Gera gratidão – Toda minha resposta de adoração agora muda o foco. Não adoro a Deus para ser amado, para receber recompensa. Ele já me amou. Minha resposta agora é de gratidão, da atitude da pessoa que diz “Muito obrigado!”. Verdadeiro sacrifício de louvor.

Mc 8.31-33 O fermento da Religiosidade

Introdução:Fermento na Bíblia tem duplo sentido:
 Negativo- Usado para se referir a atitudes malignas que penetram no meio do povo de Deus e o afasta do propósito inicial.
 Positivo – O Reino é comparado ao fermento em Mt 13.33. Reino traz em si idéia de conspiração.
Neste último sentido, somos semeadores do “fermento” que penetra silenciosamente e provoca grandes transformações onde ele é aplicado, levedando toda a massa.
Pr. Glenio Paranaguá, conta a história de um avivamento acontecido no Brejo do Maroto, Piauí, que alcançou sua mãe. Este episódio revela muito bem como o Evangelho pode ser transformador.
Passou por lá um pregador itinerante que evangelizou Seu Filomeno, homem semi-analfabeto, mas que entendeu a graça de Deus e procurava ler a Bíblia para seus filhos e amigos da fazenda. Aos poucos, pessoas da redondeza, foram atraídas ao “oculto”, que era como chamavam o culto cristão dirigido por aquele irmão simples. Eles não tinham pastor nem hinários, e o único hino que sabiam cantar era “deixa a luz do céu entrar, deixa o sol em ti nascer; abre o coração e deixa Cristo entrar”. Este cântico estava presente em todos os encontros dominicais. Depois de algum tempo, as pessoas passaram a chegar em grande número, e no auge daquele mover de Deus, cerca de 500 pessoas já participavam do culto, com a leitura bíblica claudicante que era feita pelo irmão Filomeno. Tempos depois, passou por lá outro pastor, da Igreja Batista, que teve de batizar 200 novos convertidos naquela fazenda. Este é o fermento positivo do Evangelho, que leveda a massa e transforma o pecador em pessoa redimida, trazendo compreensão do amor de Deus e salvação ao seu coração.
Neste texto Jesus fala do perigo do mau fermento, que penetra sorrateiramente através de doutrinas perniciosas e a ensinos de homens, e que leveda e profana aquilo que é bom, e é capaz de diluir a boa semente da mensagem cristã, em mentiras ardilosamente criadas por homens, causando sérios danos espirituais às pessoas. Por isto Jesus adverte seus discípulos para tomarem cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus (Lucas fala ainda do fermento de Herodes).
Qual o fermento dos fariseus e saduceus? O texto faz uma menção clara que se trata do fermento da religiosidade. Como os religiosos tem o poder de destruir e contaminar a simples mensagem do Evangelho. Bastar lermos a carta aos Gálatas, escrita apenas 30 anos depois da subida de Jesus aos céus, para vermos como os cristãos já estavam passando do evangelho genuíno para “outro evangelho”. Paulo afirma que se sentia admirado de que isto tivesse acontecido assim tão depressa (Gl 1.6-8)
Por esta razão, Jesus foi mais crítico dos fariseus e religiosos de seus dias, que eram homens respeitáveis moralmente, do que dos pecadores. Chegou mesmo a ser chamado de “amigo dos pecadores” (Mt 11.19) e afirmou que publicanos e meretrizes precederiam os religiosos no reino dos céus.
Estes grupos religiosos citados por Jesus gozavam de excelente reputação. Eram líderes religiosos e tinham grande admiração de toda comunidade, ocupavam cargos de liderança e posições importantes no templo. No entanto, Jesus adverte seus discípulos contra o fermento dos mesmos.

Por que?
1. Religiosos tropeçam na sua justiça própria – Jesus ensina que “os sãos não precisam de médicos”. Os religiosos, geralmente se sentem acima da necessidade de confissão de pecados e não reconhecem o mal que existe em seus próprios corações. Religiosos não entendem o risco de suas almas, pois acham que quem precisa de Jesus são os pecadores, e eles não se acham dentro desta categoria humana.

A justiça própria sempre desemboca em duas graves conseqüências:

A. Orgulho espiritual – Pessoas que acreditam que porque praticam atos bons, são merecedoras do céu. No entanto, o evangelho não fala de conquistas humanas, mas fala da conquista de Jesus a nosso favor, alcançada por intermédio de seu sacrifício. O evangelho não focaliza no que os homens tem feito por Deus, mas no que Deus tem feito para os homens.
Rm 3.19 nos ensina: “Para que, diante de Deus se cale toda boca!”. Na verdade, os mandamentos de Deus apenas demonstram como somos incompetentes espiritualmente para cumpri-los, então, a lei que é boa, acaba se tornando instrumento de execução e juízo, porque ela diz o que devemos fazer mas não conseguimos praticá-la. A Bíblia afirma que nenhum homem foi capaz de cumprir a lei. Na lei descobrimos o que devemos fazer, mas infelizmente não temos força para fazer o que é necessário.
Por esta razão o homem é salvo “pela graça”, e apenas “pela graça” (Ef 2.8-9). Paulo afirma em Fp 3.8-10, que queria ser encontrado em Deus, não tendo justiça própria. Normalmente cremos que “nossa bondade é suficiente”. Isto gera orgulho. O evangelho diz que somos incapazes de responder positivamente a Deus, nossa vontade e mente, são escravizadas pelo pecado, e apenas o Espírito de Deus operando em nós pode nos levar a desejar as coisas de Deus. Nossa vontade é contaminada desde a queda e por isto somos constantemente inclinados para o mal.

B. Depressão espiritual – O outro resultado da confiança em nossa justiça própria é o oposto do orgulho, quando vem sobre nós o sentimento de desencorajamento e frustração que temos ao perceber que somos viciados no pecado. Pecado não é acidente de percurso, mas a nossa essência. Não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. O problema central não é o que fazemos, mas o que somos. Nossa natureza, entregue a nós mesmos, nos destrói.
Então, quando buscamos servir a Jesus de forma profunda, sempre enxergamos nossa incapacidade, e nos sentimos frustrados e tristes com o nosso coração.
Minha esposa estava discipulando uma jovem que afirmou estar desistindo de Deus por se sentir incapaz de seguir a Cristo. Ela havia se embrenhado nas drogas na sua adolescência, e um dia, sozinha no seu quarto, desistiu de si mesma e desesperada, pediu forças a Deus. Jesus trouxe libertação dos seus vícios e restituiu sua dignidade que já havia se perdido, quando sua família, amigos e nem ela mesma acreditava que pudesse se libertar de sua dependência. Agora, minha esposa a lembra de como ela havia obtido vitória: Através do sangue do Cordeiro, pela ação de Jesus em sua vida. Sara Maria então a convidou, mais uma vez, a desistir de si mesma e olhar para Jesus.
Os puritanos alertavam suas comunidades de que, quando olhamos para fora, contemplamos as pessoas, o resultado é cinismo (sociedade corrompida, moral destruída, políticos mal intencionados, corrupção, decadência, etc); quando olhamos para nós mesmos, nos desesperamos (as tentações, luxuria, vaidade, ira, ressentimento, etc). Parece que não conseguimos avançar na fé e descansar nos braços do Senhor. Vemos o nosso fracasso, e compreendemos que nossas intenções não são fortes o suficientes para glorificar a Deus. Por isto, precisamos olhar para a cruz. Quando olhamos para a obra de Cristo, podemos encontrar descanso para nossas almas. Paulo afirmava o seguinte: “Eu me glorio na cruz!” (Gl 6.10). Em que ou quem estamos nos gloriando? Nos nossos méritos, na nossa justiça própria? Nos trapos morais que apresentamos diante de Deus ou na obra vicária e perfeita de Seu Filho?
Por causa disto, os puritanos diziam: “Cada vez que olharmos para dentro de nós e vermos nosso fracasso, arrogância ou desespero, devemos olhar dez vezes para cruz”.

2. Religiosidade é como fermento: Contamina! Temos apenas duas opções: Ou olhamos para a cruz (O poder do evangelho), ou para nós mesmos (justiça própria). Quando a comunidade cristã aprende a olhar para Jesus, sua reputação e honra – tudo é obra de Cristo. Nenhum mérito, mas plena aceitação.
Apesar disto, temos que considerar que a religiosidade nos atrai: Códigos externos, rudimentos morais, guarda de dias, meses e anos exercem um grande fascínio sobre a raça humana (Gl 4.8-11). Sutilmente a lei nos escraviza. Paulo diz à Igreja da Galácia, que ela havia se afastado do Evangelho e por isto havia perdido a exultação. Por isto perfunta: “O que foi feito da vossa alegria?” (Gl 4.15).
O que Cristo fez na cruz? Ele “nos resgatou da maldição da lei”. O que é isto? Ele assumiu o nosso lugar, tirando de nós todos os encargos, ordenanças e mandamentos que nunca poderíamos cumprir. Ele cumpriu toda a lei, para satisfazer a exigência de justiça que um Deus santo requer, e nos trouxe para o domínio da graça, que se realiza em nós por meio do poder do Evangelho que nos é comunicado pelo Espírito Santo.
Os religiosos contaminam os outros com ensinamentos focados na habilidade humana, no esforço humano e na competência pessoal. Jesus adverte: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus”. Tome cuidado! Isto pode ser atraente, mas é fermento do mal, que leveda toda a massa.
Em Fp 3.2-3, vemos a mesma expressão: “Acautelai-vos dos cães, acautelai-vos dos falsos obreiros, acautelai-vos da falsa circuncisão”. Se lermos atentamente, veremos que ele chama os falsos obreiros de verdadeiros cães. Eles ensinam mentira, apesar de serem obreiros, isto é, estão envolvidos teoricamente na obra de Deus, mas conspiram contra a mensagem de Deus. Circuncisão, por sua vez, fala de algo externo, periférico. Aqueles que se firmam na lei, sempre tratam da superficialidade da espiritualidade. Por isto a lei tem tanto prazer nos rituais, em prédios, coisas, paramentos, etc.
“Não sou o que devo ser, não sou o que quero ser, não sou o que um dia espero ser, mas graças a Deus não sou o que fui antes, e é pela graça de Deus que sou o que sou” (John Newton). Se minha mensagem está centralizada no que o homem pode fazer, e não no sacrifício de Cristo, eu ainda não estou pregando o evangelho.

3. Religiosos encontram grande dificuldade em entender o Evangelho – Vemos isto em Mc 8.21: “Não entendeis ainda?” e em Mt 8.11: “Como não compreendeis que não vos falei a respeito de pães?”. Os discípulos tinham todo o peso de obrigações, leis e costumes do AT e não estavam conseguindo entender o que Cristo ensinava.
Paulo encontrou este mesmo problema na mentalidade das novas comunidades cristãs que foram alcançadas pelo Evangelho, mas que eram contaminados pela influencia religiosa judaica, que se fundamentava em rudimentos (stoicheias). A Carta aos Gálatas fala da liberdade cristã que alcançamos em Cristo. Paulo está procurando tirar o velho fermento que dificultava a compreensão da mensagem do Evangelho.
Ele ensina que só Jesus era suficiente, mas os judaizantes queriam colocar algumas regras: Guarda do sábado, circuncisão, guarda de dias santos, etc. A Lei torna difícil a compreensão da carne.
Na Epistola aos Hebreus, vemos o autor tentando formar a compreensão teológica do significado da obra de Cristo, comparando-o ao Antigo Testamento. Ele afirma que a Lei tinha “sombras”, mas não a imagem perfeita (Hb 10.1), e que sangue de touros e de cabritos jamais poderiam purificar a consciência (Hb 9.24), no entanto as pessoas tinham dificuldade para assimilar o conteúdo do Evangelho. Como entender agora que todo sacrifício se cumpre em Cristo?
Nos nossos dias, encontramos a mesma complexidade na questão da salvação pelas obras. Quando falamos que apenas a graça é suficiente, como o nosso software religioso é voltado para salvação através de méritos pessoais, temos dificuldade de crer que Cristo, e a penas Cristo é suficiente. Lutero mesmo reconhecia sua própria dificuldade em viver na plena convicção da graça, ele afirmou certa vez, que depois de estar pregando sobre a Obra suficiente e plena de Cristo na cruz, ele ainda se sentia tentando fazer alguma coisa para Deus a fim de convencê-lo de que era digno de ser amado.
Por esta razão pessoas religiosas e que se acham boas moralmente, tem grande dificuldade em entender a graça de Deus.

Conclusão:“Guardai-vos do fermento dos fariseus e saduceus”. Como precisamos estar atentos às inclinações da nossa própria religiosidade. Porque ela nos fazem tropeçar na justiça própria, contaminam o Evangelho e sua simplicidade, e dificultam a compreensão e aceitação da graça simples do Evangelho que diz que não somos salvos pela graça, mas pela obra salvadora de Cristo (Tt 3.5). Por isto, tome cuidado com sua religião. Católicos, espíritas, evangélicos e todas as outras formas de religião, facilmente nos levam a tirar os olhos de Cristo e olhar em outra direção, afastando-nos da mensagem reconciliadora que Deus propôs em Cristo Jesus.