sexta-feira, 30 de abril de 2021

Jr 29.1-14 Sete verdades para enfrentar o caos

 



 

 

Introdução

 

Os últimos tempos tem sido bem confusos, para dizer o mínimo. Talvez a palavra caos defina melhor o que tem acontecido. As pessoas foram privadas da liberdade de ir e vir por causa da transmissão do vírus, muitos perderam seus empregos, alguns tiveram que repensar de forma urgente o novo jeito de fazer as coisas, as relações interpessoais, as regras de convivência e a dinâmica da vida. As perdas financeiras foram enormes e a de preciosas vidas, ainda muito mais dramáticas. Não há ninguém que não conheça alguém que morreu por covid, e alguns destes que partiram eram amigos pessoais ou parentes próximos.

 

Quando confrontado pela tragédia da destruição de Jerusalém, o profeta Jeremias afirma: “Quero trazer à memória aquilo que me dá esperança. As misericórdias do Senhor não tem fim, renovam-se a cada manhã. Grande é a sua fidelidade.” (Lm 3.22,23). Jeremias evoca alguns pressupostos de sua fé, que foram capazes de sustentá-lo no caos e na calamidade.

 

Hoje estudaremos o texto de Jeremias 29 que serve para nossa reflexão, também foi escrito num contexto de confusão, perdas e dor. O povo tinha sido exilado, e não estava entendendo nem conseguia assimilar todo impacto do caos que se instalou na nação judaica como um todo e de forma particular na vida de cada um daquele  que haviam perdido parentes na guerra, foram privadas da sua vida pessoal, foram levados como escravos para uma terra estranha, e ainda precisavam manter fé em um Deus que simplesmente parecia não fazer mais sentido na calamidade.

 

Foi neste contexto que Deus envia sua palavra ao povo exilado, através de seu velho profeta Jeremias. Este texto foi escrito no meio do caos e da tragédia, mas é um texto de esperança, de orientação, de vida, dada por Deus ao seu sofrido povo.

 

Pelos menos sete verdades foram frisadas por Deus para o seu povo, e estas verdades deveriam conduzir o povo de Deus, deveriam guiar seus corações e mentes. Creio que estas sete verdades são fundamentais quando temos que passar por perdas e tragédias.

 

Que verdades são estas?

 

1.     Precisamos saber quem é o nosso Deus – “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia” (Jr 29.4).

 

De forma interessante, as duas revelações que Deus faz de si mesmo ao povo, neste momento são aparentemente paradoxais.

 

A.   Deus se apresenta como “o Senhor dos Exércitos. Isto pressupõe que Deus reina sobre todos porque ele é o Deus que tem a força. Ele é Senhor imbatível que tem supremacia sobre todos os exércitos, tem o domínio sobre todos, e a história do povo de Deus revela esta verdade diante de tantos embates e guerras que tiveram que enfrentar. Deus é o Senhor dos exércitos, não apenas de Israel, mas de todas as nações.

 

Então, poderiam pensar os judeus: Por que fomos derrotados? Como é que aquele que tem todo o poder é simplesmente massacrado por um exército pagão como a Babilônia? Você já se sentiu assim? Como Deus, que tem todo poder, não exerce seu poder e parece tão silencioso e impotente diante de tanta provocação, tragédia, dor e calamidade? Por que aquele que tem o poder não exerce o poder?

 

B.    Deus se apresenta como “o Deus de Israel” . Mais uma vez isto parece não fazer sentido. Neste exato momento da história, parece que o Deus de Israel não consegue proteger Israel. Não é outra ironia? Qual era a vantagem deste Deus de Israel se um povo estranho consegue entrar em Jerusalém e destruir a cidade, assolar o templo, e levar escravo o povo de Deus?

 

Algumas vezes você não se sentiu assim? Parece que os deuses pagãos são mais efetivos... Não temos uma falsa impressão tantas vezes de que os vitoriosos não são os seguidores de Yahweh, nem os discípulos de Cristo, mas aqueles que conspiram contra a igreja de Cristo?

 

Entretanto, Deus se apresenta assim ao seu povo: “Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel”. Precisamos lembrar que Deus é muitas vezes misterioso, mas ele é o Deus dos deuses, o Senhor dos exércitos. “Àquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelo séculos dos séculos.” (Ap 7.13) Em época de crise, precisamos lembrar que é o nosso Deus! Ele está sentado no trono:  A ele toda honra, glória e louvor.

 

2.     Precisamos saber que Deus sabe da nossa real situação – “... a todos exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia” (Jr 29.4).

 

Deus sabia da situação do povo, e o que tinha causado esta catástrofe. Ele mesmo permitiu e ordenou que isto acontecesse. Ele sabia da situação do seu povo,  distanciado de sua terra, orfanados, abandonados, exilados. Deus sabia da real situação do seu povo.

 

Muitas vezes não sabemos que Deus sabe! Deus parece distante e alheio à nossa realidade. Será que Deus realmente sabe? Esta insinuação vem dos descrentes: “E diz: como sabe Deus? Acaso há conhecimento no Altíssimo?” (Sl 73.11) e outras vezes dos crentes: “Digo a Deus, minha rocha: Por que te olvidaste (esquecestes) de mim?” (Sl 42.9). O Povo de Deus parece não saber que Deus sabe de suas lutas e necessidades, e erroneamente pensa que Deus se encontra distante, alheio e distanciado de suas dores. Por isto Deus se apresenta ao povo afirmando que conhecia a real situação do seu povo, que ele mesmo os havia  deportado de Jerusalém para a Babilônia, porque ele mesmo queria que isto acontecesse. Ele conhecia, ele sabia...

 

Recentemente ouvi uma antiga entrevista com Clarice Lispector, e o repórter a perguntou como ela definiria uma pessoa adulta, e ela disse com os olhos vagos e tristes: “A pessoa adulta é uma pessoa solitária. Triste solidão”.

 

Muitas vezes o próprio povo de Deus está indagando: Será que Deus sabe de tudo o que estou enfrentando?  Precisamos saber que Deus nos vê, e não pode ser um mero conhecimento filosófico e teológico. Uma das coisas mais abençoadas da vida quando enfrentamos calamidade é ter aquele conhecimento da fé profunda de Jó: “Porque eu sei que o meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra!” (Jó 19.25).

 

3.     Precisamos saber que Deus não perdeu o controle da história – “... a todos exilados que eu deportei (Jr 29.4).

 

Esta declaração de Deus ao seu povo é surpreendente: “A todos que eu deportei”. As pessoas estavam na Babilônia porque Deus queria que elas estivessem ali. Na verdade a ideia é ainda mais intensa: Estavam ali, porque Deus as colocou naquela terra.

 

Isto traz outro problema hermenêutico: Por que Deus levou o povo a passar por todo este sofrimento? O texto afirma que Deus era o causador último daquela tragédia. O momento histórico e caótico que viviam tinha a ver com a ação de Deus, com seu propósito. Deus os havia enviado para a Babilônia.

 

Isto nos leva a entender que Deus não perdeu o controle da história. Podemos discordar dos seus métodos e da sua pedagogia, podemos reclamar da forma como ele nos trata, mas não podemos deixar de saber que as coisas não perderam o controle. Todos os fatos da história seguem um cronograma divino, uma agenda divina, um propósito divino. Deus não apenas age na história, mas ele é Senhor da história.

 

Eugene Peterson afirma: “A soberania de Deus é um dos aspectos mais difíceis de por em prática no cotidiano das pessoas de fé. Mas não temos escolha: Deus é soberano. Ele reina, não só sobre os afazeres particulares, mas também sobre todo o Universo. Não só sobre nossos momentos e locais de culto, mas também nos prédios empresariais, nas questões políticas, nas fábricas, nas universidades, nos hospitais e até mesmo nos bastidores dos bares e dos concertos de rock. Sem dúvida, essa é uma noção estranha e extravagante. Mas não há outro aspecto nas Escrituras que seja defendido com tanta ênfase e tanta frequência.” (The Message, introdução 1 & 2 Reis).

 

Vamos considerar a quarta verdade essencial que precisamos saber para enfrentar o caos.

 

4.     Precisamos saber que a vida só acaba, quando acaba! Deus dá projetos ao seu povo exilado.

 

Deus dá projetos ao seu povo.

Quando o povo já estava na linha de desistência, achando que nada mais deveria ser feito, que a morte era melhor para suas vidas, que não haveria mais nenhum projeto, Deus ordena grandes coisas para serem realizadas pelo seu povo:


Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais. Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.” (Jr 29.5-7).

 

Seria normal que o povo estivesse agora sem chão, sem lugar firme onde pisar. Todos seus fundamentos  desmoronaram... O que fazer da vida? Este é o retrato de tantas pessoas que ao enfrentar a tragédia ficam sem capacidade de continuar vivendo, morrem antes da hora. São sepultados com sua dor e com suas perdas.

 

Recentemente ouvi o testemunho da Nathalia Youssef, de Roraima, filha de meu querido amigo Samuel Coutinho, que foi uma das recentes vítimas da Covid. “Eu tenho que voltar ao trabalho com a força de Deus... choro algumas vezes mas tenho na minha mente que preciso continuar a história do papai.” Com a força de Deus eu volto ao trabalho! O luto é necessário no processo de restauração, mas a vida precisa continuar.

 

Deus olha para seu povo abatido e desanimado e dá uma dimensão nova, mostrando de que a vida precisava continuar. Deus ordena três coisas ao seu povo:

 

a)- Façam projetos duradouros – “Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto.”

 

Construir casa é um grande projeto. Aqueles que se envolveram na tarefa de construir uma casa sabem do que estou falando. Mas Deus ordena ainda outra ação necessária. Ele manda que seu povo  plante pomares. Ele não ordena plantar hortaliças, um projeto bem mais rápido e simples. Pomares levam tempo para serem formados. Antigamente, havia um provérbio que dizia: “Quem planta tamareiras não colhe tâmaras”, porque um pé de tâmaras levava 80 anos para produzir. Deus ordena que seu povo construa casas e plante pomares. A vida continua. Quem planta um pé de jaboticabeira, sem os recursos tecnológicos e híbridos da agricultura moderna, sabe que são (ou eram) necessários, 12-14 anos para esta árvore produzir um fruto.

 

b)- Façam projetos que envolva a família – “Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais.”

 

Uma nova geração chegaria e precisava ser cuidada, protegida. Apesar da tragédia, ainda precisavam pensar em formar famílias e continuar a vida. O projeto de vida deles tinha que levar em consideração os filhos que estavam chegando. Era necessário casar, construir famílias, a nova geração precisa se estabelecer e firmar suas raízes, ainda que em terra estranha.

 

c)- Façam projeto para abençoar outros – “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.”

 

Esta ordem é até esdrúxula. Deus não diz para que eles busquem a paz de Jerusalém, a cidade amada, mas lhes  ordena que se imiscuam na vida de uma cidade pagã, idólatra, e tenham uma participação política, engajamento social, buscando sua paz e orando por ela. Que grande projeto Deus dá ao povo. Interceder pelos pagãos!

 

No meio de tudo isto precisamos nos lembrar, desta quarta verdade: “Precisamos saber que a vida só acaba, quando acaba!”  Deus continua nos dando projetos e ordenando que continuemos a fazer as coisas que precisamos fazer. A vida não acabou para nós ainda.

 

5.     Precisamos tomar cuidado para não alimentarmos nossa vida de falsas ilusões e fantasias – “Porque assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos enganem os vossos profetas que estão no meio de vós, nem os vossos adivinhos, nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo.” (Jr 29.8).

 

No meio do caos, se levantaram vozes, criando falsas esperanças. Quanto maior é o sofrimento, mais tendemos a alimentar a alma de ilusões. O povo estava espiritualizando, falando em nome de Deus, criando falsas expectativas, talvez afirmando que em breve retornariam para Jerusalém, o que só aconteceria 70 anos depois. Deus alerta o povo a não colocar a confiança em promessas utópicas.

 

Ideias fantasiosas não ajudam. Existem muitas coisas que geram falsa esperança. O ser humana faz isto inconscientemente numa tentativa de amenizar o sofrimento, mas a realidade é que muitas coisas na vida são brutais e duras, e temos que enfrentar com solidez e coragem, não com fuga e fantasia. Nem mesmo quando tais promessas surgem em nome de Deus. Vejo muitas pessoas correndo atrás de profetisas e mensageiros de Deus no meio do sofrimento, porque não querem lidar de frente com sua dor, e ali recebem mensagens que são placebos, paliativos, mensagens de paz quando as coisas continuam duras e pesadas. É necessário enfrentar com fé e coragem os dias maus. Olhando para Deus, entendendo que ele tem planos para isto tudo e que a aflição vai passar.

 

Quais são os riscos de colocarmos nossa confiança em falsas promessas?

 

a)- Criamos a ilusão de que nossos desejos serão atendidos. “nem deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo”.

 

Sonhadores e videntes, profetas daqueles dias, falavam aquilo que havia no desejo dos corações das pessoas em sofrimento. Deus não diz o que queremos ouvir, ele diz o que é verdadeiro. Os profetas falsos agem de forma diferente. É fácil confundir nossos desejos com vontade de Deus, mas Deus não tem compromissos com nossos desejos. Ele promete suprir, em Cristo Jesus, cada uma de nossas necessidades, e não cada um de nossos desejos.

 

b)- Espiritualizamos nossos desejos – “Porque falsamente vos profetizam eles em meu nome; eu não os enviei, diz o Senhor.” (Jr 29.9).

 

Como isto é atual: pessoas que dão respostas em nome de Deus quando Deus nada disse, Deus não se pronunciou, Deus não falou. Basta ler um pouco do livro do Profeta Jeremias para perceber como a presença de falsos profetas no meio do povo de Deus era sempre tão presente. Todo capítulo 23 de Jeremias fala das fontes da falsa profecia. Em Jr 23.16 vemos que os profetas falavam em nome de Deus, “as visões do se coração”, e em Jr. 23.26 há uma forte afirmação sobre tais profetas: “Falam do engano do próprio coração”. Era auto-engano. Estavam espiritualizando seus anseios.


A sexta verdade essencial para enfrentar o caos é a seguinte:

 

6.     Não perca a visão de que os planos de Deus são sempre de bem e não de mal- “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais.” (Jr 29.11).


Este texto é bem conhecido do povo de Deus, mas infelizmente as pessoas não consideram em que contexto ele foi escrito. Nós o usamos fora do lugar. Ele foi escrito a um povo no meio de tragédias, perdas e lutos. Neste momento de desesperança e dor, Deus vem confirmar o seu amor, porque é bem possível que muitos já estivessem com forte suspeita sobre o amor de Deus por suas vidas.

 

Deus vem afirmar que mesmo quando seu povo passa por perdas e calamidades, o seu propósito era de bem e não de mal. Deus tinha propósitos de bençãos para o seu povo exilado.

 

Será que somos capazes de entender que as intenções de Deus são boas para nossa vida quando estamos passando por estradas sinuosas e ameaças? Quando toda nossa segurança e estabilidade é colocada em xeque?


E por último, a sétima verdade essencial para enfrentar o caos:

 

7.     Nunca se esqueça que Deus pode ser invocado e encontrado, em qualquer situação inóspita, qualquer condição adversa e mesmo numa terra estranha. “Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.” (Jr 29.12-14).

 

Provavelmente o povo de Israel, estivesse condicionando a presença e a manifestação de Deus apenas para aquele lugar que consideravam sagrado, o templo de Jerusalém. Talvez estivesse reduzindo a compreensão de um Deus que está em todo lugar, em todo tempo. Deus pode ser invocado em todo tempo, em todo lugar, em qualquer situação, no meio da mais profunda solidão e dor, em meio aos escombros.

 

O segredo para resgatar a dimensão da grandeza de deus é simples e direto: “Buscai a Deus de todo o vosso coração”.

 

Você já buscou a Deus de todo coração? 

Você tem buscado a Deus de todo coração?

Suas orações são viscerais?


Gosto de uma frase que diz: 

“Ore até que você ore!” 


De forma mais ampla, o grande pregador Spurgeon declarou: “Rogue pela oração - ore até que consiga orar, ore para ser ajudado a orar e não abandone a oração porque não consegue orar, pois nos momentos em que você acha que não pode orar, é que realmente está fazendo as melhores orações. As vezes quando você não sente nenhum tipo de conforto em suas súplicas e seu coração está quebrantado e abatido, é que realmente está lutando e prevalecendo com o Altíssimo.”

 

Quando vamos aconselhar pessoas, seja em crise pessoal ou relacionada ao seu casamento, uma das perguntas essenciais para orientar o coração dos filhos de Deus é a seguinte: “como vai sua vida devocional?” Quase sempre a resposta nestes contextos é evasiva, vaga, superficial. Será que temos buscado a Deus de “todo o nosso coração?” Qual foi a última vez que você derramou sua alma diante de Deus? Eu, honestamente, não sei se temos buscado a Deus de todo o nosso coração...

 

No caos, precisamos saber que Deus ouve nossas orações, então, precisamos intensificar nossa oração. Enfrenta-se o caos com consagração, com derramamento de alma, buscando o Senhor de todo coração. 

 

Conclusão

 

É sempre bom considerar toda reflexão  à luz do Evangelho. Como Cristo lidou com o caos, a confusão, a oposição e dor? Nos Evangelhos, vemos Jesus se dirigindo de forma intencional para  a cruz. Lugar de trevas, de sombras pesadas, a ação visível do diabo ronda o Calvário... Poderes religiosos, políticos e espirituais todos alinhados contra o Filho de Deus.

 

A cruz está carregada de violência, caos, injustiça. Lugar de desencontro. Jesus sendo moído pelos pecados. O Filho de Deus, verdadeiro Deus, é abandonado por Deus. Que paradoxo! “Meu Deus, meu Deus, por que me desamparastes!” É o brado de dor do Filho de Deus. A calamidade parece dominar.

 

Naquela cruz, entretanto, Deus estava reorientando a humanidade que havia se distanciado dele. “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo”. Deus, o ofendido, se aproxima da sua criatura, ofensora, para resgatá-la da sua confusão e desorientação.

 

Na cruz vemos o caos se instalando...

Mas o que é o caos?

Na verdade, o Deus da Bíblia é um Deus que intervém no caos. Esta é a primeira da ação do Deus criador revelado nas Escrituras Sagradas. “No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia. Havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas.” (Gn 1.1,2). A Palavra abismo no hebraico é teom, que seria melhor traduzida por "caos". Ali vemos Deus dando ordem ao caos.

 

É exatamente isto que vemos na cruz. No meio de todas contradições e equívocos, no meio da calamidade, da brutalidade, da dor e do caos, o Filho de Deus estava reconciliando o pecador com Deus. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.  Não há caos, onde contemplamos a presença de Jesus. A dor mais profunda, a perda mais significativa, a tragédia mais avassaladora é vencida no nome de Cristo.

domingo, 18 de abril de 2021

Joel 1.2 Aconteceu isto em vossos dias?

 



 

 

Introdução


"O Livro de Joel inicia com uma pergunta muito atual, adequada para os dias que vivemos, dirigida de forma direta aos habitantes mais antigos de Jerusalém: "Aconteceu isto em vossos dias, ou nos dias de vossos pais?". O que estava acontecendo naqueles dias era algo excepcional. 


Assim como naqueles dias, estamos vivendo dias singulares e excepcionais na história da humanidade.

 

Quem poderia viver dias tão estranhos e distintos como os nossos:


ü  Antigamente, se entrássemos num banco mascarado, seriamos presos; hoje, se tentarmos entrar sem máscara, seremos presos.


ü  A grande maioria das nações ocidentais foram obrigadas a um brutal isolamento social e lockdown. De repente fomos distanciados de amigos, familiares e igreja. Certa pessoa chegou a colocar num grupo de what’s up: “Se eu sair do grupo, por favor, me coloquem de novo. É a vontade de sair para algum lugar”.


ü  Quem poderia prever que um simples vírus poderia fechar academias, shoppings, centros comerciais, galerias, e até mesmo templos, impedindo que as pessoas pudessem se congregar?


ü  Quem poderia prever que as empresas mudariam sua forma de trabalho, e mandariam seus funcionários para trabalhar em casa, virtualmente? As pessoas talentosas, de qualquer lugar do mundo, podem demonstrar suas competências via online. Isto traz impactos imobiliários e profissionais, e  revela um novo e radical estilo de vida.


ü  Quem poderia imaginar que teríamos que nos afastar dos pais e avós, e seríamos impedidos de abraçá-los? Meu irmão mais velho, chegou de uma viagem, e estava com tanta vontade de abraçar meus pais que arrumou um plástico daqueles que envolvem colchões, se cobriu, e meus pais saíram de casa para receber seu abraço.


ü  Quem poderia afirmar que algumas pessoas ficariam mais de um ano sem poder receber a santa ceia, sem poder participar de um culto, e que nossas crianças seriam confinadas em casa sem poder participar de escolas e do ministério infantil durante todo este tempo?


ü  O Seminário no qual dou aula em Goiânia, decidiu no início de 2021 que voltaríamos às aulas presenciais, depois cancelou novamente por causa de uma nova onda do vírus, mesmo tempo feito reformas para reiniciar as aulas. Com certa relutância decidiram finalmente que todas as aulas deste semestre seriam virtuais, porque estava difícil fazer o planejamento acadêmico.

 

Quantas coisas estranhas e excepcionais nestes tempos de pandemia.

O profeta Ageu, nos seus dias, faz exatamente esta pergunta, estranhando eventos que aconteciam em seu tempo: “Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais?”

O que há o profeta Ageu via de excepcional naqueles dias?

 

Ele afirma que o evento excepcional de seus dias traria algumas consequências:

 

A.   Uma peste assolaria a terra.

 

Narrai isto a vossos filhos, e vossos filhos o façam a seus filhos, e os filhos destes, à outra geração. O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor.” (Jl 1.4).


Muitos pregadores que estão sempre dispostos a usar o método alegórico procuram identificar quais seriam estes gafanhotos em nossos dias. E com um pouco de imaginação podemos dizer o que acharmos interessante, mas não precisamos tentar encontrar neste texto qualquer mensagem oculta ou escondida. gafanhotos eram pragas avassaladoras, um fenômeno muito presente naquela região, mas que agora tinha vindo de forma exagerada, e assolado o país.

 

B.    O culto deixaria de acontecer

 

Cortada está da Casa do Senhor a oferta de manjares e a libação; os sacerdotes, ministros do Senhor, estão enlutados.” (Jl 1.9)

 

 “Cingi-vos de pano de saco e lamentai, sacerdotes; uivai, ministros do altar; vinde, ministros de meu Deus; passai a noite vestidos de panos de saco; porque da casa de vosso Deus foi cortada a oferta de manjares e a libação.” (Jl 1.13).


O texto aponta para o fato de que o povo deixaria de ir aos cultos, as igrejas não poderiam receber mais os adoradores, os sacrifícios não poderiam mais ser oferecidos. em resumo, uma calamidade para o povo judeu. Não haveria mais oferendas, nem cânticos, nem celebrações a Deus. Não é esta uma figura similar à realidade que experimentamos atualmente? Quem já viu coisas similares? Em tempos de aflição, as pessoas correm para os templos e santuários, e nestes dias de pandemia, fomos obrigados, por uma questão de saúde e controle da enfermidade, a nos afastarmos do templo.

 

C.    Os projetos de casamentos seriam cancelados.

 

Lamenta com a virgem que, pelo marido da sua mocidade, está cingida de pano de saco.” (Jl 1.8).

 

O texto é estranho porque fala da virgem chorando pelo seu marido. É importante lembrar que as pessoas se casavam e só depois de algum tempo, iam morar juntas. Lembra-se de Maria, que era “casada” com José, sem que tivessem juntos? 

 

A profecia bíblica afirma que os casamentos deixariam de existir. As pessoas teriam que adiar seus projetos e sonhos, que eventualmente numa aconteceriam por causa da calamidade que viria sobre Israel. Qualquer semelhança com nossos dias, não é mera coincidência...Quantas pessoas adiaram seus projetos por causa da situação atual?



D.   A economia seria profundamente afetada.

 

O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor.” (Jl 1.4).

 
Haveria prejuízos na produção agrícola, uma área essencial na economia do povo judeu. O campo está assolado, e a terra, de luto, porque o cereal está destruído, a vide se secou, as olivas se murcharam. Envergonhai-vos, lavradores, uivai, vinhateiros, sobre o trigo e sobre a cevada, porque pereceu a messe do campo. A vide se secou, a figueira se murchou, a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo se secaram, e já não há alegria entre os filhos dos homens.” (Jl 1.10-12).


Se compararmos à situação atual, veremos como este texto se aplica à economia. A queda do PIB no Brasil foi de 4.1% em 2020, a pior em 24 anos. Isto é uma tragédia em termos de alimentos, desemprego, e atinge especialmente os pobres. O PIB da Europa reduziu em 6.8%, sendo que na França foi de 8.3% e na Espanha chegou a assustadores, 11.1%.

 

Joel afirma que a alegria e o regozijo seriam banidos (Jl 1.16).

 

E.    A população seria psicologicamente afetada. “...e já não há alegria entre os filhos dos homens” (Jl 1.12).

 

Cansaço emocional, tristeza, perdas, depressão, desânimo, angústia, medo. Assim como naqueles dias, o aumento de suicídio ansiedade e depressão tem impactado profundamente as pessoas em nossos dias.

 

O profeta Joel afirma que a excepcionalidade era uma forma de julgamento divino. Por isto ele é conhecido como o profeta do dia da Ira. Ele fala que o acerto de contas chegou. Veja quantas vezes aparece a expressão, “o Dia do Senhor”, ou “O dia de Yahweh”:

 

Ah! Que dia! Porque o Dia do Senhor está perto e vem como assolação do Todo-Poderoso.” (Jl 1.15).

 

“Tocai a trombeta em Sião e dai voz de rebate no meu santo monte; perturbem-se todos os moradores da terra, porque o Dia do Senhor vem, já está próximo; dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele haverá pelos anos adiante, de geração em geração.” (Jl 2.1,2).

 

“O Senhor levanta a voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque é poderoso quem executa as suas ordens; sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá suportar?” (Jl 2.11).

 

“Multidões, multidões no vale da Decisão! Porque o Dia do Senhor está perto, no vale da Decisão.” (Jl 3.14).

I.

A excepcionalidade é uma

forma de julgamento:

 

Que julgamento é este? Duas compreensões necessárias:

 

Primeira, perigo da relação de causa e efeito.

 

a)- Se algo de ruim acontece é porque Deus quer nos castigar,

b)- Ou, se uma tragédia nos alcança é porque Deus quer nos punir.

 

É muito comum encontrarmos pessoas passando por perdas e lutos e tentando descobrir porque Deus permitiu que uma pessoa querida da família morresse. Quando isto acontece, além do sofrimento pela perda da pessoa, ainda surge outro tipo de sofrimento psicológico, relacionado à culpa. O que fiz (ou o que fizemos de errado)?

 

Veja como Jesus respondeu a estas questões:

 

1.     Em Lc 13.1-5 Os discípulos tentam fazer esta associação, porque isto fazia parte da teologia judaica:

 

Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” (Lc 13.1-5)

Jesus não permitiu que seus discípulos abrigassem esta cruel equação em seus corações: Se algo de errado acontece é porque fiz algo de errado. Ainda que o pecado seja uma causa de grande sofrimento, muitas vezes sofremos pelo fato de vivermos num mundo caído, onde o mal, a dor, a morte e o luto estarão sempre presentes.

 

2.     Em João 9, mais uma vez os discípulos tentam explicar o sofrimento usando a equivocada equação causa/efeito.

 

Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus
.” (Jo 9.1-3).

 

Mais uma vez, vemos os discípulos usaram o mesmo raciocínio, e Jesus rechaça a sua forma de pensar. Apesar dos mistérios relacionados ao mal, a dor e ao luto, Deus usa todas estas coisas para seu propósito e para sua glória. Nem todo sofrimento é resultado do pecado.


Apesar de ser necessário vigiar para não reproduzir esta estranha equação, "sofrimento é resultado do pecado", não podemos, entretanto, deixar de entender que Deus, a seu modo, e de acordo com seus propósitos e soberania, executa juízo através de tragédias e calamidades. 


A Revista Ultimato fez uma consideração que pode bem ser citada aqui: "Todas as vezes que tentamos incluir ou excluir Deus de alguma situação, nos tornamos indecentemente arrogantes. Os chamados fundamentalistas religiosos tem o costume de Incluir Deus em tudo. Os chamados fundamentalistas secularistas tem o costume de excluir Deus de tudo". (Ultimato, Março-Abril 2005). 

 

Segunda compreensão,

crises são sempre, de alguma forma, um meio que Deus usa para trazer arrependimento, contrição, mudança de valores e prioridades.

 

Que isto fique bem claro:

Ninguém passa pela dor e pela perda e continua a mesma pessoa. A pandemia pela qual atravessamos hoje vai nos levar a novas compreensões, e a reações positivas ou negativas em relação à vida. Sofrimento pode endurecer ou amolecer. “O mesmo sol que derrete a cera, endurece o barro”. Muitas pessoas ao passar para dor, são transformadas, energizadas, adquirem novas e mais profundas compreensões. Outros, entretanto, ao passar pela dor, se tornam vítimas e vitimizadas pelo sofrimento. Portanto, use a sua dor para te levar para uma nova compreensão do reino de Deus e da vida, para que você cresça em maturidade neste tempo.

 

 

II.

A excepcionalidade nos desafia

à revisão e à conversão

 

Durante os dias de Joel, Deus estava chamando o povo à conversão.

Que tipo de conversão?

Curiosamente, Deus dirige o apelo de conversão ao seu povo, portanto, não é uma mensagem destinada aos pagãos para que abandonem suas tolas pressuposições e seus estranhos ídolos, e se convertam ao Deus verdadeiro, mas Deus está exortando seu povo ao arrependimento. É uma conversão daqueles que já são convertidos.

 

“Ainda assim, agora mesmo, diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.” (Jl 2.12,13).

 

Precisamos entender que convertidos precisam de conversão. A igreja de Cristo precisa se converter. Muitas vezes Deus exorta o seu povo a uma “re-conversão”. Muitas vezes nós precisamos retornar nossos afetos a Deus, abandonar os sofisticados ídolos que construímos. Não se trata apenas de se voltar a Deus, mas sermos novamente transformados interiormente por Deus.

 

Isto “re-conversão” ou nova conversão, traz resultados profundos. Deus usa este nosso retorno para aprofundar nossa fé e a compreensão de quem ele é:

 

Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o pórtico e o altar, e orem: Poupa o teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele. Por que hão de dizer entre os povos: Onde está o seu Deus?” (Jl 2.17). Deus está pedindo para que os sacerdotes, pastores, líderes, sejam quebrantados. Deus está pedindo à igreja para que se converta.

 

Esta conversão do povo de Deus a Deus, é fundamental porque impacta o testemunho do povo de Deus na história. Traz glória a Deus. O profeta ora a Deus para que o povo dele não seja disperso, porque está preocupado com a glória de Deus. “Por que hão de dizer entre os povos: Onde está o seu Deus?” 

 

Portanto, neste excepcional tempo de pandemia, onde o mundo foi colocado de pernas para o ar, podemos igualmente entender que Deus está nos convidando a uma renovar nossos compromissos com sua obra e sua igreja, a entender quem ele é, a retornarmos a ele. É tempo de revisão, tempo de quebrantamento, tempo de conversão.

 

III.

A excepcionalidade é tempo de Deus anunciar

um novo tempo na história

 


Curiosamente, o livro de Joel, que fala de tempos excepcionais, do Dia da Ira do Senhor, e do juízo de Deus na história, é o livro que fala do derramamento do Espírito. Não é maravilhoso considerar que a promessa do Espírito Santo que se cumpriu no Pentecoste, tenha sido feita por este profeta naqueles dias tão estranhos?

 

Isto nos leva a pensar sobre o significado destes excepcionais dias aos olhos de Deus. Para onde ele quer nos levar, o que ele deseja fazer? Que promessas podemos esperar de Deus nestes tempos que atravessamos? Como ter sensibilidade para interpretar o mover de Deus neste tempo confuso?

 

Crises históricas sempre foram oportunidade de avivamento. O que Deus fará à sua igreja neste momento da história? Os dias tem sido confusos demais. Mas assim era nos dias do profeta Joel.

 

Deus anuncia três coisas fundamentais ao profeta:

 

1.     Deus derramaria seu Espírito sobre seu povo. “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões” (Jl 2.28).

 

A vinda do Espírito Santo traria resultados profundos em todas as gerações. na juventude e na velhice. É fácil imaginar que os jovens tenham visões, e construam utopias, mas nem sempre vemos esta mesma dimensão nos idosos. Tenho considerado muito isto para quem, assim como eu, já se encontra na terceira idade. Não podemos perder a expectativa de que Deus quer nos usar para sua glória e deseja nos dar sonhos, construir em nós profundas compreensões de sua graça em relação ao tempo que virá.

 

2.     O Espírito Santo impactaria todos povos. “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32). Esta é uma promessa missionária.

 

Não apenas os judeus seriam impactados, mas o Espírito renovaria as nações. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo citará este texto para falar da salvação de Deus a todos os povos. Trata-se, portanto, de um anúncio missiológico. “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10.12,13).

 

3.     O Espírito traria plena restauração.

 

Seria uma restauração psicológica

Alegrai-vos, pois, filhos de Sião, regozijai-vos no Senhor, vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a chuva; fará descer, como outrora, a chuva temporã e a serôdia.” (Jl 2.23).


Por esta razão, num contexto tão pesado quanto o do Livro de Joel, este mesmo profeta falará de forma tão enfática da alegria. Vou usar a linguagem contemporânea da tradução de Eugene Peterson: "Não tenha medo, terra! Esteja feliz e celebre! O Eterno fez grandes coisas!" (Jl 2.23). "Filhos de Sião, celebrem! Alegrem-se no seu Eterno" (Jl 2.24). "Que o fraco estufe o peito e diga: "Eu sou valente, sou um lutador!" (Jl 2.24). "Que dia! vinho escorrendo das montanhas, leite fluindo dos montes, água correndo por todos os lugares em Judá. Uma nascente jorrando no santuário do Eterno, irrigando todos os vales e jardins" (Jl 3.18). 
 

Seria uma restauração econômica

Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei contra vós outros. Comereis abundantemente, e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor, vosso Deus, que se houve maravilhosamente convosco; e o meu povo jamais será envergonhado.” (Jl 2.25,26).


Os anos de escassez, de humilhação, de carência, passariam. Deus renovaria a história de seu povo. Esta é uma mensagem de esperança para aqueles que hoje, se sentem desamparados, esquecidos, sofrem privações de todos os tipos, mas que podem olhar para sua história com esperança de tempos abençoados, de colheitas abundantes. 

 

Seria uma restauração espiritual

“...até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias.” (Jl 2.29)


Portanto, tempos de excepcionalidade não apontam para o caos, mas para a novidade que o Espírito traz ao povo de Deus.

Tenho pensado muito e orado constantemente por este assunto.

Quero entender, o que Deus deseja fazer conosco nesta situação.

 

Um vírus surge do nada, contamina o mundo, gera 3 milhões de mortes (de Fev 2020 até Abril 2021), afeta a economia mundial, transtorna o modus operandis do mundo, fecha as igrejas, distancia as pessoas amigas... o que será que estes tempos excepcionais querem nos ensinar? O que Deus deseja fazer ao permitir que a realidade destes conturbados e caóticos dias traga para seu plano sábio e eterno? O que Deus está querendo fazer neste tempo?


Deus está anunciando aquela que é sua maior promessa. Um novo tempo, que começaria com o ministério de Cristo, e que seria completada com a obra do Espírito Santo. Honestamente irmãos e irmãs, eu não sei se existe alguma promessa maior que esta para nossa vida. Será que precisamos de mais alguma coisa, quando nosso coração está encharcado da ação poderosa do Espírito Santo em nossa história? 

 

Conclusão

 

Ao pensar em excepcionalidade, não posso deixar de refletir sobre a cruz de Cristo. Jesus viveu em tempos de dominação, onde o povo judeu não tinha voz, na qual um homem, se autoproclamava e se considerava Deus, chamando-se Augustus, que um título relacionado à divindade. Jesus se manifestou na história caótica, opressiva, violenta de Roma, na desconhecida região da Judeia.

 

Neste caos, Jesus é levado por um tribunal injusto, que o declara inocente e ainda assim o condena. Na justiça brasileira, vemos o contrário: As pessoas são declaradas culpadas, mas ainda assim o réu é absolvido. Jesus é declarado justo e inocente: “Não vejo neste homem crime algum”, mas é colocado na cruz.

 

Certa vez, perguntaram a C.S. Lewis, qual era o diferencial do cristianismo em relação às demais religiões, e ele respondeu: “A Graça!” Em todas outras religiões, as pessoas são salvas pelos méritos e conquistas morais, no cristianismo, a salvação vem pela graça. Nenhuma religião do mundo fala desta forma. Em Cristo, surge a excepcionalidade. Ele morre pelos pecadores e os absolve da condenação. Que coisa estranha e revolucionária. Que fato excepcional é este!

 

O profeta Joel, via que algo de absolutamente distinto estava acontecendo em seus dias: Ouvi isto, vós, velhos, e escutai, todos os habitantes da terra: Aconteceu isto em vossos dias? Ou nos dias de vossos pais?”. Da mesma forma, estamos lidando com a pandemia, que é algo excepcional na história.

 

Mas nenhum momento foi tão excepcional como aquele, quando Jesus é colocado numa cruz, para nos absolver de nossa culpa e condenação. Deus anda conosco nos dias ordinários, mas se revela surpreendente em tempos de excepcionalidade.

 

Que Deus nos abençoe!