sábado, 28 de maio de 2016

2 Rs 5.1-19 As coisas de Deus são simples



Introdução:

A geração pós moderna tem uma característica bem conhecida por ser mística e esotérica, encantada com coisas sobrenaturais como: gnomos, duendes, bruxos, fadas, ET’s. Por esta razão artistas e políticos conhecidos são tão atraídos por “este outro lado do mundo”. Políticos famosos estão constantemente visitando João de Deus em Abadiânia, envolvidos em rituais de macumba e bruxaria, fazendo ritos e práticas bizarras e assustadoras para atrair o favor dos deuses e das entidades. Geração animista que crê no poder da natureza, das luas cheias, e das cachoeiras. Recentemente vi uma reportagem de um grupo de artistas consultando um famoso guru em São Paulo que fazia o seu mapa astral pela singela bagatela de 11 mil reais. Você está interessado?

Este texto pode ser analisado por dois ângulos: Pela perspectiva de uma menina sem nome, escrava da guerra, e sua relação com a vida, patrões e sua visão de Deus. Uma menina anônima, sem rosto, sem identidade é imortalizada aqui neste texto. E pela perspectiva de Naamã, homem poderoso, herói de guerra, com uma imensa folha de serviços militares e conquistas, comandante, que faz parte da cúpula politica de seu país. Homem cheio de glória, mas com a alma despedaçada. Tantas posses, títulos, reconhecimento público, mas com uma sentença de morte sobre si. Gente de Brasília: Grande prestígio público mas sofrendo na alma. Glória humana e fracasso enquanto ser. Sucesso exterior e fracasso interno.

Ele era leproso, doença esta que era quase um veredito de morte, sem tratamento naquele tempo, que além do mais, isolava a pessoa de seu circulo familiar, porque era contagiosa, obrigando a pessoa a viver no ostracismo. Naamã tinha lepra, um decreto antecipado da morte, que tirava o seu sono e o prazer de viver.

Todo o seu sofrimento o torna espiritualizado. Ele é místico, crédulo, crente no pior sentido do termo, acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo. Orando para todos os deuses e os santos. Gente do tipo desesperançada que vai ao pai de santo na sexta feira, reza uma vela na madrugada para uma entidade e visita uma profetisa no domingo. Naamã é seguidor de Rimon, o Deus da Síria (2 Rs 5.18), mas quando houve falar de outro Deus em Israel, corre atrás de quem ele mesmo não conhece. Felizmente, neste caso, encontra-se com o Deus verdadeiro. Poderia não ter sido. Normalmente pessoas que vivem correndo atrás de benção, da cura imediata, pode se encontrar e se curvar diante das piores potestades possíveis.

Toda sua peregrinação espiritual o torna espiritualizado. Isto o leva a percepções equivocadas de sua relação com Deus. Para ele, a benção vem como resultado de troca. Deus é mercantilizado. Dou por isto serei abençoado, se eu der terei garantia de solução espiritual!  Afinal, não é assim se pagam aos deuses, as entidades, aos gurus? É com esta pressuposição que ele procura Eliseu, afinal, porque ele seria diferente?

Sempre que leio este texto, me surge na mente uma questão: Por que Elizeu não aceitou a oferta? Não há nenhum problema em relação a isto, as pessoas do Antigo Testamento sempre traziam suas ofertas a Deus, isto faz parte do culto e da liturgia judaica. Aquele profeta era pobre, como vimos no texto anterior que não tinham dinheiro para comida. Certa vez precisavam fazer uma choupana e não podiam comprar um machado, tendo que tomá-lo emprestado. Isto foi uma dor de cabeça pois o machado caiu na água e não conseguiam encontrá-lo, sendo necessário uma intervenção sobrenatural de Deus (2 Rs 6.1-7). Então, por que o profeta não aceitou a oferta?

Pessoalmente creio que Deus queria ensinar algo para Naamã.

Ele precisava entender que o Deus de Israel não barganha bençãos, com ele as negociatas e oferendas não funciona, não se paga benção, não se compra nem se paga benefícios. Estas coisas são próprias de entidades e religiões pagãs e deuses falsos. Os  deuses falsos de todas as religiões, em todo o tempo, possuem sistema de trocas, e exigem oferendas para ficarem satisfeitos. Outros deuses aplacam seu mau humor e ira com sacrifícios e holocaustos.

Não é assim o Deus da Bíblia. O Deus de Israel e de nosso Senhor Jesus. O Deus verdadeiro rejeita este mecanismo frágil de troca, de mercantilização. A rejeição do profeta é rejeição de Deus. Deus trata as pessoas numa relação de gratuidade. Deus não é uma entidade pagã, que aceita oferendas para pacificar sua ira.
A percepção falsa de Naamã o leva a avaliar de forma equivocada o Deus de Israel. Veja a expressão verbal dele no texto: “Pensava eu…” (2 Rs 5.11). Não raramente nossos pressupostos tornam-se grandes rivais do Evangelho. Muitos afirmam: “basta ser sincero!” mas isto não é verdade. Podemos ser sinceros, mas errados.

Quais são suas falsas percepções:

1.  Ele tinha certas pressuposições concernentes aos rituais e orações – (2 Rs 5.11)  quando Eliseu diz que ele deveria mergulhar no Rio Jordão 7 vezes, ele não quer fazer, por causa da sua forma de enxergar as coisas de Deus.

Não raramente estabelecemos determinados estereótipos da atuação de Deus. Como isto é complicado para seres religiosos como somos. Naamã começa a pensar que Deus age da forma como ele crê que Deus tem que agir.

Certa vez encontrei  uma pessoa que estava agindo de forma contrária ao que preceitua as Escrituras. Quando mostrei na Bíblia, ela se defendeu de forma tranquila. Eu me disse que sabia que a Bíblia ensinava assim, mas que ela “sentia” de tudo estava bem com ela.

Lembrei-me de uma discussão do conhecido pregador Jacó Silva, pai do Rev. Oziander Schaff, foi  um ardoroso defensor dos princípios dos dízimos e estudou profundamente este tem nas Escrituras, e dava palestras no Brasil inteiro sobre o assunto. Certa vez, no seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, onde eu estudei, na hora do debate sobre sua palestra, um aluno levantou-se e disse: “Rev Jacó, se eu “sentir” no meu coração que não devo trazer meu dízimo para a igreja, mas dar para as pessoas, o que o senhor acha?”. E ele respondeu direto e ríspido como sempre fazia: “Bacharel, o que nos ensina a Palavra do Senhor?” e citou o texto de Malaquias 3.10: “Trazei todos os dízimos à casa do Senhor”. Então respondeu: “Se Deus afirma que você tem que trazer seus dízimos para a casa dele e você ‘sente’ que deveria fazer outra coisa com o seu dízimo, você sentiu errado. Pode sentar bacharel”. 

É isto que fazemos em relação a Deus. Criamos alguns pressupostos e achamos que Deus vai agir assim, e nos esquecemos o que Deus quer dizer e a forma como ele espera que façamos. Assim agiu Naamã.

2.  Ele se torna um adorador cheio de exigências  - (2 Rs 5.12)  Por ter algumas ideias sobre Deus e sua forma de agir, Naamã se recusa a fazer aquilo que o profeta lhe pediu para fazer. Ele deveria mergulhar sete vezes no rio Jordao, mas se recusava a fazer isto afirmando que na Síria existiam rios melhores e mais limpos, e cita inclusive dois belos rios da Síria, Farfar e Abana, mas no Jordão ele não queria ir.

Percebem o risco que corremos?

Buscamos uma dose de conforto, de comodismo, uma forma, um ritual. O texto afirma que ele ficou irado e bravo com o profeta: “Naamã, porém, muito se indignou e se foi dizendo: pensava eu que ele sairia a ter comigo, pôr-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor, seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso” (2 Rs 5.11) . Ele não gostou do método de Eliseu, e ficou chateado por não ter as deferências que costumava ter como homem importante e rico.

Rick Warren, no seu livro, A Igreja com Propósitos afirma que: “Novos membros, especialmente vindos de outras igrejas, geralmente tem interesses pessoais e pressuposições sobre a Igreja”. Não raramente vemos pessoas irritadas por causa da posição que assumimos como igreja, as vezes concordam que agimos de forma coerente, com caráter, mas acham que deveriam receber tratamento diferente. São adoradores que se tornam exigentes quanto ao culto e o que querem da igreja. Eventualmente sequer contribuem com a igreja. Pessoas que geralmente procuram ser servidas, na maioria das vezes, não tem servido à igreja.

Igreja passa a ser uma espécie de supermercado, onde buscam mercadorias que desejam. Religião torna-se descompromissada, que não exija muito, que ofereçam promoção de dízimo a 8% e bebedouro de Coca-Cola. Até são capazes de pagar para não ter que fazer as coisas que não gostariam. Se aproximam da igreja com guardanapo e se assentam à mesa para serem servidas, quando deveriam se aproximar da comunidade com avental, dispostos a servir. Precisamos nos apresentar diante de Deus como servos e não como senhores.

3.  Sua relação com Deus se torna complexa - (2 Rs 5.13)  É necessário que seus oficiais argumentem com ele, que lhe façam ver que a ordem do profeta não era difícil, pelo contrário, era simples até demais. Não custava tentar…

Ele mergulha como Deus manda e volta limpo. “ Então, desceu e mergulhou no Jordão, sete vezes, consoante a palavra do homem de Deus; e sua carne se tornou como a carne de uma criança, e ficou limpo” (2 Rs 5.14). Nada complicado. 

Infelizmente estamos sempre complicando nossa relação com Deus. Quando Adão se vê nu, diante da desobediência, o caminho deveria ser o do arrependimento e retorno a Deus, no entanto, ele fugiu, se escondeu, costurou folhas de figueira, trabalhou artesanalmente sua tola e insuficiente vestimenta, mas aquela roupa dele não servia para Deus. Deus precisou matar um animal e vesti-lo.

Assim fazemos com a obra de Cristo. Tentamos demonstrar o que Deus fez: ele colocou Jesus em nosso lugar. Nos dias de Jesus, havia pessoas sinceras querendo fazer a vontade de Deus de forma errada, com sacrifícios e oferendas complicadas. “Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhe Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.28,29).

Que resposta simples e direta. Na verdade tenho aprendido que a verdade do velho pregador inglês Olliver. “Sermões simples salvam vidas!”. O maior pregador do evangelho no Século XX, Billy Graham, atraia milhões de pessoas às convenções que faziam, levou para o maracanã cerca de 180 mil pessoas em 1974. O que ele pregava: Salvação através da obra suficiente e plena da cruz de Cristo. Afinal não é isto que nos diz o Evangelho: “Quem crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). Simples assim. Precisamos parar de confiar na nossa suficiência, e depositar a confiança na obra plena e completa do Filho de Deus.

Precisamos resgatar a espiritualidade simples e descomplicada do Evangelho. Temos nos tornado sofisticados, complicados, exigentes, lógicos, pragmáticos, cheio de manias e temos perdido a singeleza do Evagelho.

Aplicações práticas:

1.  Gente aflita tende a se tornar espiritualizada - Tome cuidado para que sua espiritualização não o leve a morte. As pessoas de hoje não são ateias, o grande desafio não é o ateísmo, mas o espiritualismo. Não a falta de fé, mas a fé colocada em coisas erradas, falsa esperança. Gente sofisticada, intelectualizada, se torna espiritualizada, mas não no sentido bíblico. Existe uma grande ameaça hoje que é a espiritualidade pagã. Harvard está cheia de videntes, bruxos, adoradores de cristais, orientando-se por videntes, misticismo oriental, cartomantes e bruxarias. O problema de hoje não é a negação de poderes sobrenaturais, mas o excesso de deuses. Como só existe um Deus vivo e verdadeiro, existe muita possibilidade de que pessoas sem esperança e aflitas se tornem presas de “ensinos de demônios e a espíritos enganadores” (1 Tm 4.1).

2.  Gente espiritualizada complica sua relação com Deus: Torna-se  cheia de pressupostos, convenções, rituais. Vida com Deus é simples. Veja esta afirmação de Eclesiastes 7.29: “Eis o que tão somente achei, Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.  O Evangelho é simples. Veja as declarações de Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”(Jo 14.6). Isto é difícil de entender? Ou seu convite: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei, tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas” (Mt 11.28). Será que isto é difícil para alguma pessoa simples ou sofisticada entender?

3.  Gente espiritualizada precisa entender que benção de Deus é benção, por isto não pode ser manipulada por sacrifícios nem mercantilismo - Não há nenhuma evidência textual para que eu afirme isto, mas para mim, a rejeição da oferta de Elizeu foi deliberada para ensinar Naamã a ter uma nova relação com Deus, para desintoxicá-lo de sua relação de troca com o Deus falso que ele conhecia. Mudar a forma de se relacionar com Deus é complicado. Tenho visto muito isto em pessoas na Igreja, que não conseguem compreender Deus de forma diferente daquele que viram na sua infância.
Infelizmente Geazi, o ambicioso auxiliar de Eliseu, ao correr atrás deste homem rico para pedir desonestamente dinheiro, preserva a falsa visão de Naamã que queria pagar para Deus lhe dar ou por Deus lhe ter dado. Geazi manda uma mensagem para ele reforçando seu pensamento de que era realmente preciso dar algo a Deus em troca de sua bondade e graça! (2 Rs 5.20-27).

4.  Gente espiritualizada precisa romper conceitualmente com toda conexão de que outros deuses. Esta é primeira conversão: Do Deus falso para o Deus verdadeiro! Submissão ao primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3).
Esta foi a atitude dos primeiros cristãos convertidos em Éfeso. “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras” (At 19.18). Por rejeitarem suas falsas concepções, queimaram publicamente seus livros mentirosos e abandonaram sua prática de magia.

5.  Gente espiritualizada podem ser marcadas sensivelmente com a experiência profunda do Deus real- Quando Naamã experimenta o poder do Deus verdadeiro em sua vida, ele renuncia seu antigo deus. Ele adorava o deus Rimon, da Síria, mas agora faz uma declaração de fé ousada e diante de todos: “Voltou ao homem de Deus, ele e toda a sua comitiva; veio, pôs-se diante dele e disse: Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel; agora, pois, te peço aceites um presente de teu servo” (2 Rs 5.15). Ele faz isto na frente de todos. Não foi uma declaração medrosa e furtiva, mas pública. “Agora reconheço”. Ele encontra a verdade e é convencido pelo poder de Deus.
Gente espiritualizada não precisa continuar no discurso filosófico das religiões, nesta linguagem pagã e mística, e pode experimentar uma nova forma de viver e adorar. É isto que acontece com Naamã. Diante da recusa peremptória de Eliseu em aceitar os ricos presentes que oferecia, ele pediu algo simbólico. “Levar uma carga de terra de dois mulos”, para reafirmar que “nunca mais oferecerá este teu servo, holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (2 Rs 2.17). Ele leva terra de Israel, para oferecer holocausto ao verdadeiro Deus.

Conclusão
Nada é mais simples que o Evangelho. 
A mensagem de Deus é esta: 
Que Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”.
Em Mc 16.15 lemos: “Quem crer e for batizado, será salvo”.
Em At 16.31 vemos: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”.
A vida cristã tem inicio no momento que compreendo que estou perdido sem Jesus, quando eu desisto de construir meus próprios caminhos e passo a confiar plenamente na obra de Cristo.
O problema é que queremos criar outro evangelho, ou como Juan Carlos Ortiz afirmou: “O Evangelho dos santos evangélicos”. Subtrair ou acrescentar algo ao evangelho é catastrófico e o torna complexo. Quando entendemos que Cristo gratuitamente assumiu nosso lugar na cruz, ritos estranhos não fazem qualquer sentido. A vida com Deus começa quando nos rendemos de coração a Jesus, sem reservas, sem condições, sem rituais, sem complexidade.

Tiberíades, (Israel) 5.12.98
Renovado em Anapolis em 28 Maio 2016.

sábado, 21 de maio de 2016

Ef 2.1-10 Sob Nova Direção



Introdução:

Um conhecido programa humorístico da TV Brasileira foi o “Sob nova direção”. Todos temos ideia do que isto significa: trata-se da condição de um estabelecimento, que agora passa a ser dirigido por um novo proprietário, eventualmente com mudanças de conceitos e paradigmas, e que os antigos donos não lideram mais .
É disto que a Bíblia está falando neste texto de Ef. 2.1-12. O texto está repleto de contrastes, mostrando a forma de viver longe de Deus e debaixo da orientação de Deus, a situação da humanidade sem Jesus e com Jesus, o que antes dirigia nossa vida e o que agora dirige a vida da pessoa que se encontra debaixo da orientação de Jesus.
Três são as forças  que dominam o ser humano antes de seu encontro com Cristo. Alguns a chamam de tríade maligna: O mundo, o Diabo e  a carne.

O primeiro parágrafo assim se divide: Nossa situação de pagãos, antes de Cristo e nosso privilégio em Deus, com a vida arraigada em Jesus.

Este texto descreve a realidade de todas as pessoas, não apenas de uma tribo particularmente decadente ou de um segmento degradado da sociedade. Este é o diagnóstico do homem caído numa sociedade caída. É um quadro da condição humana universal. Mostra também, como Deus está criando uma sociedade redimida, por meio da ressurreição espiritual dos crentes.
Paulo inicia este paragrafo mostrando a situação espiritual dos seres humanos, antes de conhecerem a Cristo. “três terríveis acusações lhes foram feitas: estavam mortos (v.1); eram escravos do pecado (vv 2,3a); foram objeto da ira de Deus”(Curtis Vaughan, p. 52).

Exposição : Deus faz diferença !

Neste texto, o apóstolo mostra três verdades terríveis sobre o homem:

1. Estávamos mortos – Quando olhamos as pessoas ao nosso redor, esta frase não parece fazer sentido nem estar de acordo com os fatos da realidade cotidiana. Não temos a mesma impressão dos “mortos vivos” do “The Walking dead”. As pessoas se parecem bem vivas:
Uma tem o corpo vigoroso do atleta,
            Outra , a mente lúcida de um intelectual
                        Outro ainda, a personalidade brilhante de um ator.
Devemos dizer que, se Cristo não as salvou, estão mortas ?
Sim. Na esfera de suprema importância: Não é o corpo, nem a mente, nem a personalidade,
mas a ALMA.  É uma alma sem vida...Não tem ouvidos para o Espírito de Deus.

O que nos revela a figura do morto?
Primeiramente, o morto é incapaz de reagir, de corresponder, de comunicar, de movimentar-se, de aproximar. Deus fala ao homem e ele não ouve, não responde, não reage. É morte espiritual. O homem sem o toque do Espirito está inteiramente incapaz de responder ao chamado de Deus, por isto é que a regeneração, o ato do Espirito nos tornar nova criatura, é um dos passos iniciais no processo da salvação. Sem a obra do Espirito não respondemos a Deus. A condição do homem é a falta de vida e qualquer movimento em direção à Deus.
Em segundo lugar, ele começa a se decompor. Não no sentido de mau-cheiro, mas da desintegração de sua personalidade. O homem se decompõe quando se separa de Deus. A evidência disto se revela no desatino filosófico, existencial e moral. A Bíblia fala do homem como estando espiritualmente morto, devido ao pecado, e necessitando de nada mesmo que uma vida da parte de Deus.
Portanto, esta é uma declaração geral e real da condição espiritual de todas as pessoas fora de Cristo: mortos em delitos (paratôma) e pecados ((hamartia). Estas duas palavras são sinônimas e expressam ideias similares. “Provavelmente não ha diferença essencial entre os dois substantivos; a raiz do primeiro significa “errar o alvo” e do segundo, “errar, sair do caminho”, de modo que ambos exprimem a falha do homem em viver como poderia e deveria”(Francis Foulkes, pg 58). O homem errou o alvo, como dois caçadores que ao invés de mataram a caça que procuram, atiram no companheiro. O homem perdeu a perspectiva e o propósito que Deus lhe estabeleceu, e encontra-se morto em seu delito.

2. Éramos escravos - O apóstolo Paulo afirma que existem três forças escravizantes agindo e dirigindo a vida do homem sem Deus. São forças que nos obrigam a uma ação que nem sempre é positiva. A característica mais triste do escravo é que ele não tem vontade própria, pois mesmo que a tivesse, não seria capaz de agir com liberdade.
Os termos "segundo" que surgem apontam para as forças, uma espécie de "triunidade satânica", que impulsionam a nossa humanidade a ser como é:

2.1. O curso deste mundo – Segundo o curso deste mundo”. “Mundo” muitas vezes na Bíblia é definido como sistema, e esta é uma das vezes que deve ser traduzida assim. Paulo fala aqui do pensamento e da cultura que controlam o ser humano. São sistemas filosóficos e éticos, que agem como a força brutal da correnteza do rio e que arrasta tudo que está ao seu redor.
Vivemos no meio de uma realidade cultural pagã e demoníaca. A sociedade não é neutra, antes é oposta a Deus.
Nos tempos bíblicos, a igreja teve que enfrentar toda uma forte cultura helênica, pagã, sensual; teve que lidar com a ética romana de dominação, opressão e violência. A vida humana pouco valia na mão do Império. O homossexualismo era instituído, as meninas escravas se tornavam meros objetos nas mãos de senhores inescrupulosos, adolescentes eram seviciados e iam com os generais para servirem de escravos sexuais na guerra.
"Este mundo" é inimigo de Deus, possui um sistema de valores sociais que nada traz de Deus, um sistema opressor e subjugador, uma influência dominante que gera uma escravidão espiritual. Uma tradução contemporânea da Bíblia traduzido esta frase como "éreis arrastados ao longo das correntes de ideias" (CIN).
Tal é o curso desta época e da cultura dominante. Antes de Jesus, somos dominados e escravizados completamente por esta cosmovisão. Jesus muda perspectivas, valores e percepções. Nos capacita a sermos contra culturais e a não nos conformamos com a forma de pensar e agir desta geração. Não podemos mais sermos controlados pelo pensamento social e humano, nem por valores humanistas e secularizados.
Estamos sob nova direção!

2.2. Forças satânicas - "segundo o príncipe da potestade do ar". Esta é a segunda força que domina o homem sem Deus. O termo "ar"  pode ser traduzido por "atmosfera nebulosa", indicando "trevas". Não se refere a ideia mágica de que o ar (atmosfera) seja dominada pelo diabo.
Suas estratégias são sutis e bem organizadas. Ele induz certo pensamento de independência e rebelião contra Deus.
O diabo é descrito na Bíblia como um ser pessoal e existem inteligências demoníacas que agem na vida das pessoas e das estruturas sociais. Não há nenhuma razão para pensar que a retomada deste tema seja "uma moda eclesiástica". Jesus e seus apóstolos ensinavam a existência do demônio e confrontavam suas manifestações.
É curioso que enquanto  negamos a realidade do diabo, o satanismo viceja fora da Igreja. Estima-se que cerca de 60.000 declarados existam atualmente nos EUA (1994) e no Brasil fala-se num número de 5.000.  Magias negras alcançam popularidade e dimensões assustadoras.
Há um "espírito que atua nos filhos da desobediência. "Potestade do ar" descreve sua visibilidade. Em Ef 6.11 lemos: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. A velha vida, sem a atuação de Deus que nos dá poder está sujeita à orientação e direção dos poderes do mal (grego energountos).
Estes espíritos malignos atuam nos filhos da desobediência. Isto descreve seu campo de ação. Ele dá a direção daqueles que não estão debaixo da orientação divina.
Apenas quando o homem se encontra sob nova direção, ele vai discernir a Deus.

            2.3. Inclinações da carne- “entre os quais também todos nós andamos outrora segundo as inclinações da carne, fazendo a vontade da carne e do pensamento, e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais ”(Ef 1.3). Este é terceira força que conspira contra Deus.
Carne (sarx), não são os tecidos vivos que cobrem o esqueleto ósseo, mas sim as inclinações internas, impulsos de uma natureza caída e egocêntrica. As inclinações da carne e do pensamento, não são forças externas, nem o diabo, nem o mundo, embora sejam parceiros destes.
Isto mostra que não precisamos de elementos externos para nos afastarmos de Deus. Bastam apenas nossos motivos pecaminosos. O homem sem Deus obedece os impulsos de sua natureza auto enamorada, está entregue a si mesmo, e como acontece na terceira lei da termodinâmica de Einstein, que diz que uma matéria entregue a si mesma nunca tende a organizar, e sim a deteriorar-se, tal se dá conosco.
A carne tem poder nefasto sobre nós. Ela nos torna escravos de desejos, lascívia e paixões. Nos arrasta para pensamentos pecaminosos e destruidores. Por isto a Bíblia nos convida a “negar-se a si mesmo”, a “fazer morrer a natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e à avareza, que é idolatria”(1 Ts 4.5). Ainda somos exortados a não alimentarmos a carne, no tocante às suas concupiscências, que são desejos estragados que ela produz (Rm 13.14).
Por outro lado, a Bíblia afirma que a única forma de obter vitória sobre a carne é a busca por santificação, gerada em nós pelo seu Espirito Santo. Quando o homem insiste em viver uma vida fora de sua direção, traz sobre si a ira de Deus, que é algo interessante: Deus abandona o homem a si mesmo, às suas próprias vontades e paixões. Por causa de suas inclinações, ele se auto destruirá.
Em Rm 1.24,26,28 vemos que Deus entregou os homens ímpios à si mesmo, e às suas concupiscências para desonrarem o seu corpo entre si, entregou-os a paixões infames para que mudassem o modo natural de suas relações intimas e os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes. A ira de Deus, portanto, é Deus deixou o homem natural seguir seus instintos. Isto vai atingir suas emoções e paixões, seus corpos e desejos e seu intelecto.
As inclinações da carne  incluem a soberba, a ambição, a rejeição à verdade de Deus, a autonomia e desejo de viver sem a direção de Deus. Sempre que o "eu" se levanta contra Deus eis aí a carne.
Para nos livrar deste auto enamoramento, Deus faz algo radical: Ele crucifica o nosso velho homem com Cristo, para que o corpo do pecado seja destruído e assim não sirvamos mais a este corpo tirano (Rm 6.6), ele nos pede que ofereçamos a Ele, os membros deste corpo, para que não mais sirvam como instrumentos de iniquidade, mas que sejam ofertas a Deus, como instrumentos de justiça (Rm 6.13). Este oferecimento é uma oferta de nós mesmos a Deus.
Como é possível termos uma nova direção, uma vez que estamos escravizados ao pecado? Como é possível se livrar desta tríade maligna: mundo, diabo e carne?
Em Ef 2.1 lemos: “Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados”.
Quando alguém pensa na salvação em termos de justiça própria, e não baseado na graça de Deus, é bom refletir: Como alguém morto, sem habilidade moral, dominado por forças externas e internas que conspiram contra Deus pode encontrar a vida e a liberdade, a não ser que Deus o ressuscite dentre os mortos?
Algum tempo atrás li uma frase marcante: “Só existem duas coisas que podem transformar o homem, o seu pecado ou a graça de Deus”.
Os vs.4 e 5  deste texto dizem o seguinte: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos”. Preste atenção na conjunção adversativa, mas. O surgimento desta pequena conjunção muda completamente o sentido da nossa história. Estávamos mortos, mas ele nos deu vida; éramos escravos, mas ele nos libertou; éramos dominados pelo mundo, mas ele nos tirou deste sistema; éramos totalmente subordinados à orientação do príncipe da potestade do ar, e ele nos trouxe para o reino do Filho do seu amor. Tudo foi Deus que fez. Ele nos deu novo status, de condenação por estarmos debaixo da sua ira, para uma relação de afeto e de amor. Mas isto só foi possível porque Deus assumiu a direção.
Estamos agora, sob nova direção.
Não mais do mundo, do diabo e da carne, mas de Deus.
O vs 4 fala da misericórdia de Deus, e o vs 5 de sua graça. Você sabe a diferença entre uma e outra? Já ouviram falar que a misericórdia é Deus deixar de dar o que merecemos. O que merecemos? Sua ira e condenação. Mas ele resolveu ser misericordioso conosco. Graça, porém, embora parecida com a misericórdia, pode ser vista como o ato de “Deus nos dar o que não merecemos.
A ênfase de todo este texto esta na misericórdia e graça de Deus.
Deus é quem faz. Ele viu a nossa condição, e por nos ter amado, nos deu vida, nos ressuscitou com Cristo e nos fez assentar nos lugares celestiais. A misericórdia e a graça excluem qualquer pressuposto da justiça própria. 

Conclusão:
As forças opressoras são internas e externas.
Por fora agem o mundo (cultura secular) e o diabo (força espiritual), o espírito maligno que escraviza o homem.
Dentro age a carne, a natureza caída, profundamente egocêntrica.
Esta situação nos condena aos olhos de Deus. "Éramos por natureza, filhos da ira".
A ira de Deus não é como a do homem. Não é mau-humor, como se ele pudesse perder as estribeiras diante de um determinado fato ou provocação. Não é despeito, malícia ou vingança. Nunca é intempestiva, nem surge por um processo inevitável de causa e efeito. Não é uma reação impulsiva, nem impessoal.

A ira de Deus é sua hostilidade pessoal e direta frente a qualquer pecado. Por isto, sua ira não é incompatível com seu amor. Por isto, neste texto saímos da “ira” (vs. 3), para a "misericórdia" (vs. 4), sem qualquer embaraço ou dificuldade. A obra de Deus e sua intervenção interrompem o caos e  tira-nos da escravidão. Deus irrompe o caos para dar vida. Deus nos deu vida,  nos ressuscitou e nos assentou em lugares celestiais, com Cristo.


Por isto podemos afirmar que estamos sob nova direção.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

2 Rs 4.26 Morte na família!




Introdução:
“Vai tudo bem contigo? Com teu marido? Com teu menino?”
Esta é uma das saudações mais corriqueiras e comuns que fazemos às pessoas. “Tudo bem?”
Quando perguntamos assim, nem sempre estamos interessados em saber da verdade. Trata-se de uma convenção social. Uma forma polida e educada de não ignorar o outro. Espera-se que a pessoa dê uma resposta politicamente correta do tipo: “Tudo bem!”
Foi assim que Geazi cumprimentou a sunamita que os hospedava, e sua resposta, embora não refletisse a verdade, é a resposta que comumente damos a pessoas com quem não queremos aprofundar o dialogo.
A verdade, porem, é que esta mulher diz: “Tudo bem!”, diante de um dos cenários mais grotescos e duros da alma. Seu filho estava morto em casa.
Como dizer: “Tudo bem?” quando nada está bem.
Como podemos falar que as coisas estão seguindo um curso natural quando a putrefação, a decomposição, e o cheiro da morte nos ameaçam?
Muitas vezes o casamento se esfacelando, o ódio e a amargura dominando o ambiente familiar, os filhos morrendo nas drogas, na fornicação e na incredulidade, indo para o inferno – e dizemos: Tudo bem!
Como é possível viver assim?

A.      Podemos dizer que tudo está bem e tudo está ruim quando não enxergamos a real condição em que estamos vivendo.
Trata-se de cegueira ou tola inocência. Pessoas que na sua ingenuidade simplesmente não veem o cenário de morte e perigo que ronda sua vida e sua família. A Bíblia afirma que “o prudente vê o mal e se esquiva; os simples passam adiante e sofrem a pena”. Não se trata de pureza, mas de ingenuidade, são os simplórios. Embora a Bíblia encoraje os simples e a simplicidade, ela não aprecia o simplismo.
Provérbios adverte: “Aos tolos, sua sensação de bem estar o destrói” (Pv 1.32). É tolo aquele que acha que tudo está bem quando tudo está sendo destruído.
Uma das formas de entendermos estas tendências conflitivas da alma humana foi elaborada na conhecida “Janela de Johari”, ferramenta conceitual, criada por Joseph Luft e Harrington Ingham em 1955, que busca auxiliar o entendimento da comunicação interpessoal[1]. Os autores conceberam um modelo de representação, que permite, revelar o grau de lucidez nas relações interpessoais, classificando os elementos que as dominam, num gráfico de duas entradas (janela): busca de feedback versus auto-exposição, subdividido em quatro áreas:
- Área livre ou eu aberto;
- Área cega ou eu cego;
- Área secreta ou eu secreto;
- Área inconsciente ou eu desconhecido.

 Estes conceitos podem ser representados da seguinte forma:

                                                                                                             
ÁREA ESCURA
Nem você nem os outros percebem.

ÁREA ESCONDIDA
Você vê, os outros não

ÁREA OBSCURA
Os outros vêem, você não

ÁREA ILUMINADA
Você e os outros vêem


É interessante observar esta dinâmica.
Quanto mais consciência temos do próprio mal, mais iluminado seremos. Scott Peck afirma que o mal é como fungo e mofo, são fecundados na penumbra e na escuridão.
Quando Deus se aproxima de Jonas para inquiri-lo Jonas parece ignorar o grau de erro de sua alma: “É razoável esta tua ira?” . Sua resposta foi: “É razoável minha ira até a morte” (Jn 4.9).
Diante disto, podemos dizer que “tudo está bem!” quando tudo está mal, porque não percebemos as coisas que estão acontecendo ao redor. Não temos julgado corretamente a vida e podemos ser devorados por esta tola e superficial análise. No entanto, “a ignorância da lei não isenta o culpado”.

B.       Podemos dizer que tudo está bem quando tudo está ruim, quando vivemos em processo de negação. Não queremos encarar os problemas de frente.
A psicologia chama isto de co-dependência.
William Jefferson Blythe cresceu numa família cujo pai era alcoólatra. Sua infância e ambiente foram caracterizados pela instabilidade e caos. Seu pai faleceu antes de seu nascimento num acidente de trânsito. Sua mãe, Virginia Blythe, foi cursar sua faculdade em New Orleans, e ele continuou vivendo com seus avós. Quando ela retornou, casou-se com um homem conhecido por sua truculência, jogatina, bebedeiras e abuso de mulheres cujo nome era Roger Clinton. Antes mesmo de se casar com ele, sua mãe o surpreendeu com outra mulher, mas a despeito disto decidiu continuar o relacionamento. Neste contexto estava sendo moldado o caráter do futuro presidente dos Estados Unidos. Numa noite, Virginia queria ir visitar sua mãe no hospital, e Roger apanhou uma arma e atirou na sua direção, o tiro se cravou na parede da casa. Naquela noite, Bill dormiu na casa de um vizinho. Passou muitas noites sem dormir ouvindo a briga de seus pais. O alcoolismo e a violência cresceram de tal forma que sua mãe o abandonou em 1962, quando Bill tinha 16 anos. Ele que era o filho mais velho teve que depor contra seu padrasto na corte, e a partir daí, o ônus da casa tornou-se dele.

Bill tornou-se mestre da negação, mantendo os segredos da família. Para manter as aparências, criou uma regra de silêncio. Numa entrevista posterior afirmou que “em geral tivera uma boa vida na infância”.

Um terapeuta afirmou “Bill negava sua experiência da juventude, apesar dos repetidos episódios de abandono, alcoolismo, divórcio, padrasto, violência doméstica, disparo de arma, ele descreve sua vida em casa como normal, apesar de que sua infância deveria ser  descrita como caótica e altamente anormal. Sua constante necessidade de ser agradável o levou a esconder a verdade. Mentia automaticamente sem nenhuma culpa e rapidamente estava preparado para apresentar suas desculpas.
Isto é comum na história de muitas famílias. Por não ser capaz de encarar as verdades, passa a negar a dor. Pode dizer que tudo está bem quando tudo está ruim.
No primeiro caso, é alheamento e ingenuidade, o que não deixa de ser perigoso. No segundo, é negação, consciente ou não, das realidades que são concretas e visíveis. O fato negado, não deixa de existir apenas porque o nego. Pensamentos mágicos nunca solucionaram a crise de ninguém.

A mulher sunamita, porém, não parece apresentar nenhum destes sintomas.
Ela diz tudo bem, não porque ignore a morte, ou mesmo por negação.
Ela sabia que não podia adiantar o assunto, nem conversar com aquele rapaz. Seu problema era tão serio que não interessava a ninguém mais, a não ser o profeta. Ele estava se dirigindo à pessoa certa, para dizer o que estava errado na sua casa.

Como ela lida com a morte?

1.       Ela é objetiva e determinada em tratar a situação – Ela não deu satisfação ao seu marido, porque parece que ele não a entenderia mesmo. Ele era do tipo religioso, e se espanta ao saber que sua mulher vai procurar o profeta num dia que não era de festas, nem de lua nova, nem sábados. Como religioso, ritualista, ele sabia que existiam determinadas datas marcadas para questões religiosas. A mulher entende que Deus deveria ser procurado quando se fizer necessário, e a situação exigia que isto fosse feito.

Ela não dá satisfação a Geazi. Ele era um jovem, não entenderia a questão e não tinha maturidade suficiente para lidar com problemas tão sérios. Por isto se dirige àquele que representava a Deus naqueles dias em Israel. Hoje não precisamos mais de profetas, profetisas e gurus, pois podemos ousadamente entrar na presença de Deus através do sangue de Jesus.
O que vemos na sunamita, é a mesma disposição que encontramos na mulher hemorrágica, tocada por Jesus e curada. Jesus para e pergunta: “Quem me tocou?” Os discípulos acham estranha a pergunta. “Não vês que a multidão te aperta? Como dizes tu: quem me tocou?”. Em ambas encontramos intencionalidade. É bem diferente aproximar-se de Deus por curiosidade ou ritual, mas aqui vemos duas mulheres que se aproximam sabendo porque se aproximam. Isto faz uma enorme diferença na adoração individual, nos cultos e orações que fazemos.

2.       Ela se aproxima quebrantada diante de Deus – Sua atitude corporal revela o coração. “Chegando-se ela, pois, ao homem de Deus, ao monte, abraçou-lhe os pés. Então, se chegou Geazi para arrancá-la; mas o homem  de Deus lhe disse: Deixa-a, porque a sua alma está em amargura, e o Senhor mo encobriu e não mo manifestou” (2 Rs 4.27).

A morte precisa ser vencida com dependência, choro e súplica. Existem situações que exigem de nós mais que as orações rotineiras que fazemos. Exigem intensidade, submissão, lágrimas. O Salmo 51 afirma: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus”(Sl 51.17).

Depois de 25 anos de oração e clamor pela vida de seu filho, Monica viu seu filho, Agostinho, se converter. Com o coração radiante de alegria procura o bispo da cidade para lhe contar a benção. A resposta do bispo que a acompanhava foi surpreendente: “é impossível se perder um filho por quem se fez tantas orações”.

3.       Ela não negocia a benção – Quando o profeta sugere que ela siga a Geazi, ela responde enfaticamente: “Porém disse a mãe do menino: Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei. Então ele se levantou e a seguiu” (2 Rs 4.30).

Muitos milagres parecem exigir de nós uma dose maior de intensidade.

Não foi assim com Jacó no Vale de Jaboque: “Não te deixarei, enquanto não me abençoares”?
Não sei se entendo bem a parábola do amigo importuno (Lc 11.5-8) e do juiz iniquo, que parece não atender a pobre viúva que clama. Curioso, nestes dois versículos Jesus fala de oração. Será que entendemos bem estas parábolas? Ou será que as entendo e não quero pagar o preço da busca e clamor?
Lamentavelmente temos orado por muitas coisas tolas, que apenas expressam ansiosos materiais ou alivio temporário do sofrimento, mas que tal orássemos baseado nas promessas de Deus para nossa família, como o texto de Isaias 65.23: “Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a calamidade. Antes serão a posteridade bendita do Senhor, e seus filhos estarão pra sempre com eles”.

Conclusão: Vencendo a morte!
O texto termina com a declaração de Eliseu: “toma teu filho!” (2 Rs 4.36). A versão The Message diz: “Abrace teu filho!”.
Deus deseja restabelecer laços de ternura e afetos que a morte não permite.

Deus deseja que pais voltem a abraçar os filhos, que a morte seja relativizada, e que a vida renasça, trazendo calor e alegria à nossa casa.

A morte distancia, esfria os relacionamentos, impede a manifestação de afetos e ternura. Por isto, as promessas para a nova aliança que se daria com a obra de Cristo no Novo Testamento, são sempre carregadas de conceitos de afetividade. Deus promete tirar corações de pedra e colocar corações de carne (Ez 36.36). Deus promete colocar nervos, tendões, carne e peles nos ossos sequíssimos, no ambiente de morte (Ez 37) e anuncia conversões horizontais como parte intrínseca da obra do Messias que haveria de vir (Mal 4.5-6).

Este é o efeito da cruz: regeneração, novo nascimento, nova forma de perceber a vida (cosmovisão), vida, nova forma de sentir (afetos). Evangelho tem a ver com vida. Stanley Jones afirma que a palavra mais presente na Bíblia é morte. Por isto vale a pena dizer: “Abaixo a morte!” Não foi isto que Cristo fez, ironizando o poder da morte com a ressurreição?
Precisamos de vencer a morte que insiste em instalar-se em nossos lares. Isto só é possível com a obra do Espirito Santo, que energiza, dá vida, restaura o pecador, livra-nos da morte.








[1] As notas abaixo foram retiradas da Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Janela_de_Johari.