sábado, 22 de maio de 2021

2 Cr 28.1-15 A fé dos nossos pais é ainda relevante?

 



 

 

Introdução

 

Um dos maiores desafios para o cristianismo nestes tempos modernos é a transmissão da fé à próxima geração.

 

Estatisticamente 80% dos jovens abandonam a igreja quando entram nas universidades, 20% retornam depois, e apenas 40% mantem a fé recebida dos pais.

 

A pergunta intrigante é:

A fé cristã é relevante para nossos filhos?

Eles conseguirão firmes  se manter diante dos desafios apologéticos que enfrentam?

 

Recentemente conversei com uma pessoa, em torno dos seus trinta anos, que estava chocada com o fato de que um de seus melhores amigos na época de mocidade, renunciou abertamente a fé, se tornou inimigo da igreja e da Bíblia e tem se tornado um paladino do ateísmo, ele afirma que há vários amigos dele, filhos de líderes, que ainda não tiveram coragem de dizer aos seus pais que não creem mais em Jesus, para não magoá-los. Um deles teria chegado a dizer que morre que nos almoços de domingo com a família, tem medo de que seu pai lhe peça para orar, porque ele não crê em mais nada e não sabe como se comportaria se isto acontecesse...

 

Assim que lemos as primeiras palavras sobre o rei Acaz na Bíblia, este é exatamente o cenário que encontramos: “Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e reinou dezesseis anos em Jerusalém; e não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai.” (2 Cr 28.1). Portanto, parece que este problema não é novo.

 

A fé de seus pais não fazia nenhum sentido, e desta forma ele começou a desenvolver novas formas de interpretar a vida, uma nova cosmovisão.

 

Ele abandonou a fé de seus pais.

 

Nos assusta sua atitude, principalmente quando olhamos sua biografia.

Ele era neto de Uzias, um dos reis mais piedosos de todos os tempos em Jerusalém.


A Bíblia assim relata sua relação com Deus:

Ele fez o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Amazias, seu pai. Propôs-se buscar a Deus nos dias de Zacarias, que era sábio nas visões de Deus; nos dias em que buscou ao Senhor, Deus o fez prosperar.” (2 Cr 26.4,5). Não somente o avô era consagrado a Deus, mas seu bisavô, Amazias, também o era. Portanto, ele vinha de uma ancestralidade de pessoas tementes a Deus, e que lutavam para colocar Deus no centro da vida de Israel.

 

Mas a fé de seus pais, não fazia qualquer sentido para a vida de Acaz.

 

Outro detalhe curioso e assustador. Depois da morte do seu avô, seu pai Jotão assumiu o trono e só ficou quatro anos no reinado, e morreu. Portanto, entre o reinado piedoso de seu avô Uzias, e o início do seu reinado, são apenas quatro anos. Neste curto período de tempo, ele desprezou todo esforço de seu avô em fazer com que Israel fosse um povo voltado para Deus.

 

Ele desenvolveu uma nova forma de espiritualidade.

Andou nos caminhos dos reis de Israel e até fez imagens fundidas a baalins. Também queimou incenso no vale do filho de Hinom e queimou a seus próprios filhos, segundo as abominações dos gentios que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel. Também sacrificou e queimou incenso nos altos e nos outeiros, como também debaixo de toda árvore frondosa.” ( 2 Cr 28.2-4).

 

Preste atenção:

Ele deixou a espiritualidade de seus pais, e decidiu buscar outras fontes para sua fé. Ele não deixou de ter fé, mas agora sua fé havia se deslocado, indo em outra direção. Ele se envolveu numa devastadora e bizarra forma de espiritualidade. Ele fez templo para Moloque, que exigia sacrifícios vivos de crianças que eram queimadas no altar, e ainda diluiu a fé em Yahweh, fazendo com que em toda árvore frondosa, fizessem um altar aos deuses que ele invocava.

 

O texto paralelo de 2 Rs 16 descrito no livro dos reis de Israel conta que ele vai a Damasco para se encontrar o rei da Assíria (que havia invadido a Siria), e ali ele fica impressionado com os altares que vê, e dá ordens ao sacerdote de Jerusalém, para que fizessem um altar semelhante. Sua lógica de fé era pragmática: “Pois ofereceu sacrifícios aos deuses de Damasco, que o feriram, e disse: Visto que os deuses dos reis da Síria os ajudam, eu lhes oferecerei sacrifícios para que me ajudem a mim.” (2 Cr 28.23).

 

Em outras palavras, a fé histórica, herdada de seus pais, não era bastante, por isto mandou reproduzir os altares de Damasco (2 Rs 16.10-11), retirando do centro o antigo o altar de bronze, que Salomão havia mandado edificar: “Salomão também mandou fazer um altar de bronze de nove metros de comprimento, nove metros de largura e quatro metros e meio de altura.” (2 Cr 4.4), colocando em seu lugar altares para outros deuses. (2 Rs 16.14). O antigo altar do holocausto havia sido construído por Bezalel, o artesão chefe da construção do Tabernáculo, e ele construiu o altar do holocausto de acordo com as instruções divinas dadas a Moisés. Deus revelou a Moisés cada detalhe de como deveria ser o altar. Isso incluía seu formato, suas medidas e os materiais a ser utilizados (Ex 27.1-8.

 

Acaz agora o substitui por um altar pagão, cujo modelo ele havia copiado e trazido de Damasco. Ele precisava sustentar alguma crença, mas a fé de seus pais não era suficiente para sua vida, ele precisava de outras expressões de espiritualidade. Desta forma removeu o altar do Senhor e construiu um novo altar. O texto de 2 Reis afirma que ele retirou todos os símbolos sagrados que pudessem ser ofensivos ao rei da Assíria. (2 Rs 16.18) Sua religiosidade transformou-se numa forma politica de expressão. 

 

Ele deu ao altar pagão uma prioridade que não dava às coisas de Deus.

 

 “Vindo, pois, de Damasco o rei, viu o altar, chegou-se a ele e nele sacrificou. Queimou o seu holocausto e a sua oferta de manjares, derramou a sua libação e aspergiu o sangue das suas ofertas pacíficas naquele altar.” (2 Rs 16.12).

 

Dá para perceber de forma nítida, como a idolatria era atraente para ele e como ocupava seu coração de forma imediata e plena. Assim que viu o altar pagão pronto, cujo modelo havia copiado de Samaria ele estava pronto para oferecer os sacrifícios. Você não o verá tendo esta atitude, em hora nenhuma, em relação as coisas de Deus.

 

Ele foi além: “Ajuntou Acaz os utensílios da Casa de Deus, fê-los em pedaços e fechou as portas da Casa do Senhor; e fez para si altares em todos os cantos de Jerusalém.” (2 Cr 28.24). Anteriormente havia mandado retirar todos os objetos sagrados do templo e enviado ao rei da Assíria. As coisas de Deus não eram realmente importantes para sua vida, e pouco representavam para ele. Agora ele age de forma impetuosa e manda destruir, despedaçar e quebrar os utensílios da casa de Deus. Não é possível perceber uma forte hostilidade contra Deus? As pessoas nunca ficam neutras em relação a Deus. Eles desenvolvem também uma aversão e oposição a Deus. Por esta razão, muitas pessoas ao invés de serem ateias (não creem em Deus, filosoficamente falando), tornam-se anti Deus (uma forma de ateísmo militante). 

 

É possível perceber como as coisas relacionadas aos ídolos que ele ia edificando eram importantes e como as coisas de Deus não tinham valor algum. Deus não se encontra no seu radar. É isto que acontece quando a fé herdada de nossos pais, não faz nenhum sentido para o coração da nova geração que rejeita a Deus.

 

Todas estas realidades me fazem pensar no cenário das igrejas dos Estados Unidos e Europa, países outrora cristãos, que foram estruturados em torno dos valores judaico-cristãos e que agora tem sido profundamente desprezados. Reflito ainda sobre a realidade de tantos filhos que tem abandonado a fé cristã no Brasil. Quantos de nossos filhos tem se afastado da casa do Senhor? Precisamos não apenas evangelizar os que estão distante do evangelho, mas aqueles que caminham conosco em nossos acampamentos, encontros, reuniões. Será que o evangelho tem chegado de forma efetiva aos corações da nova geração?

 

Qual é a consequência deste afastamento de Deus?

O texto mostra que a forma como Acaz conduziu o povo de Israel fez dele um dos reis mais destrutivos para Jerusalém.

 

Primeiro, vieram os reis da Síria. A descrição da tragédia que veio sobre Israel é angustiante: “Pelo que o Senhor, seu Deus, o entregou nas mãos do rei dos siros, os quais o derrotaram e levaram dele em cativeiro uma grande multidão de presos, que trouxeram a Damasco.” (2 Cr 28.5)

 

Não bastasse isto, houve uma guerra civil, entre o reino do norte contra o reino do Sul (sobre o qual ele reinava), e veja o que aconteceu. A descrição é dolorosa: “...Também foi entregue nas mãos do rei de Israel, o qual lhe infligiu grande derrota. Porque Peca, filho de Remalias, matou em Judá, num só dia, cento e vinte mil, todos homens poderosos, por terem abandonado o Senhor, Deus de seus pais. Zicri, homem valente de Efraim, matou a Maaseias, filho do rei, a Azricão, alto oficial do palácio, e a Elcana, o segundo depois do rei. Os filhos de Israel levaram presos de Judá, seu povo irmão, duzentos mil: mulheres, filhos e filhas; e saquearam deles grande despojo e o trouxeram para Samaria.”(2 Cr.28.5-8).

 

Israel foi devastado!

Deus envia um profeta para censurar o reino do Norte, tão trágico havia sido a realidade. (2 Cr 28.9-15).

 

Depois vieram os edomitas (2 Rs 28.17)

Depois vieram os filisteus (2 Rs 28.18).

 

A Bíblia diz: “O Senhor humilhou a Judá, por causa de Acaz, rei de Israel” (2 Rs 28.19)

 

Ao invés de se voltar para Deus, o que fez Acaz?

Ele vai procurar ajuda com o rei da Assíria, e entrega todos os objetos sagrados da Casa do Senhor.

 

A situação chegou a um ponto que ele inviabilizou o culto, pois ele num gesto talvez de raiva, hostilidade ou frustração, destruiu os utensílios da casa de Deus, fazendo-os em pedaços. Ele literalmente mandou quebrar todos os símbolos do templo e “fechou as portas da Casa do Senhor” (2 Cr 28.24). Foram 17 anos de tentativas constantes de apagar a memória do Deus de Israel.  O culto a Deus sequer podia acontecer, pois o templo estava fechado e os sacrifícios não podiam mais ser oferecidos.

Conclusão

 

Atitudes de apostasia não acontecem no vácuo. Quando lemos o texto, vemos que as coisas não se constroem no vácuo. Acaz sempre teve um coração distante de Deus. Acaz tinha apenas 20 anos de idade quando assumiu o trono, e ele nunca inclinou seu coração para as coisas de Deus. Ele era leviano e hostil ao Deus dos pactos, o Deus da história de Israel, o Deus de seus pais.

 

Já viram pessoas assim? Filhos de crentes que rejeitam todo conhecimento de Deus? Parecem que as coisas de Deus não os atraem. São mais propensos à idolatria, imoralidade e heresia e continuam levando a sua vida em descaso pelas coisas de Deus. Tornam-se cínicos, incrédulos, críticos e zombeteiros com as coisas de Deus. 

 

Por outro lado, é possível perceber os filhos da igreja que amam a Deus e desejam as coisas de Deus. Estes, desde cedo demonstram grande temor pelas coisas de Deus, tem um coração quebrantado, desejo de santidade, tristeza pelo pecado.

 

Gosto muito de uma frase da Bíblia acerca de Josué, sucessor de Moisés: “o jovem Josué não se apartava da tenda” (Ex 33.11). Josué era atraído pela glória de Deus. No tempo da sua preparação, permaneceu sempre à frente do povo, ao lado de Moisés, apoiando-o, participando das revelações, sendo testemunha ocular das ações de Deus. Após a morte de Moisés, Deus o estabeleceu com líder em Israel.

 

É assim que ainda hoje vemos jovens na igreja, comprometidos com a santidade, com o reino de Deus, e com a igreja local. Normalmente Deus levanta do meio destes jovens, aqueles que hão de liderar seu povo. Deste grupo surgem as vocações ministeriais e missionárias, os líderes no meio do povo.

 

O abandono da fé cristã, desemboca em direções que não podemos antecipar. Quando vejo jovens abandonando a casa do Senhor, não faço ideia para onde se dirigirão espiritualmente.

 

O que aconteceu a Acaz?

Ele se embrenhou numa devastadora e bizarra idolatria. Ele importou um altar de Damasco (Siria), fez um altar para o Deus Moloque (bruxaria), ele se opôs aos símbolos judaicos, ele doou os objetos do templo e o que restou ele mandou despedaçar. Quando a fé cristã é abandonada, não sabemos onde a espiritualidade desembocará. O ser humano é tendente à religiosidade, e construirá ídolos para si. Muitos jovens atualmente afastados da igreja embrenham no misticismo, no esoterismo ou nas religiões orientais. São atraídos à cabala, ocultismo e assim se distanciam de Deus.

 

Se você é jovem, e percebe que seu coração tem se afastado de Deus. Ore sinceramente pedindo para que Deus leve o seu coração a ser atraído a Deus. Ore pedindo desejo pelas coisas de Deus. Não deixe seu coração se afastar lentamente de forma que lá na frente você perceba o quanto se afastou e se torna difícil de um retorno.

 

Se você é pai, gostaria de dizer que precisamos pedir a graça de Deus pela salvação da alma de nossos filhos. Estamos muito preocupados com seu conforto, bem estar, sucesso (que também tem se tornado numa manifestação idolátrica de nossa cultura), mas  pouco temos nos esforçado para imprimir em suas almas, a dimensão do evangelho. Precisamos proteger espiritualmente nossos filhos.


Há muitas promessas de Deus para nossos filhos, quando lemos o Evangelho. Uma das mais significativas encontra-se no derramamento do Espírito Santo em Atos 2, quando Deus afirma: "Nossos jovens sonharão e nossos velhos terão visões". Precisamos orar para que o Espírito Santo envia ao coração das novas gerações estes sonhos divinos. Para que o Espírito de Deus converta seus corações e eles entendam a obra de Cristo realizada na cruz.

 

Se você tem filhos afastados, gostaria de encorajá-lo a não desistir espiritualmente de seus filhos, independentemente da idade. Sei de pais que estão orando por seus filhos e chorando por eles, por vinte anos. Nós não podemos ignorar os riscos que nossos filhos correm quando abandonam a fé.

 

O reinado de Acaz foi curto. De apenas 17 anos. Mas suficiente para levar Israel e uma das situações mais destruidoras da história do povo de Deus. Tudo isto aconteceu, porque ele desprezou a fé de seus pais.

 

O texto Bíblico começa com a seguinte afirmação: “Tinha Acaz vinte anos de idade quando começou a reinar e reinou dezesseis anos em Jerusalém; e não fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai.”(2 Cr 28.1). O desprezo pela fé que havia herdado de seus pais e avós, foi a causa de todo transtorno e devastação.


quarta-feira, 12 de maio de 2021

LIderança: Mobilização: Como levar as pessoas a cooperarem?



 

 

Introdução

 

Acho muito interessante a definição de liderança dada por Dwight E. Eisenhover:

“Liderança é a capacidade de fazer com que a pessoa faça aquilo que você quer

            quando você quer

                        do jeito que você quer

                                    porque ela quer fazer”.

 

Por que muitas vezes vemos pessoas se envolvendo e seguindo determinados lideres, às vezes de forma leal, compromissada, sacrificial e eventualmente até com obediência cega, enquanto nós não conseguimos mobilizar as pessoas em direção a projetos e na visão que você considera tão salutar para sua instituição? Por que as pessoas seguem determinados líderes enquanto outros encontram tanta dificuldade em mobilizar pessoas para determinados projetos?

 

Como atrair pessoas à visão que você propõe? Como mobilizar de forma efetiva as pessoas?

 

Creio que cinco passos podem ajudar:

 

1. Entenda a cultura das pessoas – Determinadas pessoas possuem o feeling da comunidade e os liderados se identificam com elas porque passam segurança. É comum vermos líderes impostos tentando fazer com que as pessoas se movam em direção ao que eles desejam, mas os resultados não acontecem, mas quando surge um líder natural, as pessoas aderem ao plano, trazendo resultados imediatos, e o envolvimento se dá de forma efetiva.

 

Quando você não entende a cosmovisão das pessoas, hábitos, atitudes, e não sabe porque elas reagem a determinados estímulos e rejeitam outros, torna-se difícil criar empatia.

 

Muitas vezes não se trata apenas de identificar a cultura das pessoas, mas é necessário também entender a cultura de uma organização. Cultura organizacional, cultura empresarial ou cultura corporativa são os termos que definem o conjunto de hábitos e crenças firmados por meio de normas, valores, expectativas e atitudes compartilhados por todos os integrantes de uma empresa.

 

Bill Hybels afirma que quando ele precisa contratar alguém para fazer parte de sua equipe, ele considera quatro aspectos:

Caráter

Competência

Cultura,

Química (em inglês: Chemistry).

Estes dois últimos aspectos tem a ver com a compreensão e a capacidade de fazer leituras apropriadas. Ao pensar na cultura, ele considera se a pessoa está identificada com a forma de ser da instituição. Muitas vezes pastores sofrem em seus ministérios, não porque sejam líderes incapazes, mas porque não foram capazes de entender o ambiente no qual se encontram. Na questão da “química”, Hybels acentua a identificação pessoal da pessoa que está sendo contratado, com toda equipe. Eventualmente o novo membro do staff não é simpático ao grupo, ou não encontra identificação emocional.

 

2. Carisma é essencial – Muitas vezes ficamos surpresos com a rapidez com que as pessoas aderem a determinados líderes, enquanto nos esforçamos para realizar determinadas tarefas tentando levar as pessoas a um engajamento numa determinada visão e não conseguimos.

 

O que estes líderes possuem que levam as pessoas a se mobilizarem de forma tão espontânea e voluntária? A palavra chave para isto é “carisma”. Este poder de atração tão presente em determinadas personalidades. As pessoas se sentem atraídas a elas, e gostam de andar ao seu lado, tem interesse em se aliar a elas.

 

Não confundamos carisma com caráter. Muitos líderes com grande poder de mobilização não possuem integridade, mas mesmo assim, as pessoas o seguem. Portanto, caráter, infelizmente, nem sempre é o fator mais decisivo para que as pessoas se mobilizem. Trata-se de uma inteligência emocional presente em algumas pessoas, que levam os outros a se aproximarem delas por causa do seu poder de atração. Às vezes é sua personalidade charmosa, ou forte, mas que inspira confiança aos liderados.

 

3. Consistência nos projetos – As pessoas seguem líderes consistentes. Um líder com carisma, mas sem caráter, pode até atrair pessoas num primeiro momento, mas se seus projetos não forem exequíveis, facilmente mudarão sua abordagem.

 

Existem três inimigos presentes:

A.   Insegurança – Pessoas não seguirão um líder, se eles não estiverem convencidos de que o lugar que pisam é firme. Elas podem até estar equivocadas na sua avaliação e serem enganadas, mas é fundamental que se sintam, inicialmente, seguras para caminhar nesta direção.

 

B.    Incerteza – Líderes com ambiguidade, não comunicam confiança. As pessoas precisam se convencer de que estão colocando seu tempo, energia, talentos e recursos em projetos viáveis. As pessoas podem ser simples, mas isto não quer dizer que são tolas. Precisamos transmitir com firmeza a visão, estando certos do que falamos.

 

C.    Inconstância – Outro fator de risco é a inconstância ou inconsistência nos projetos. Ninguém está interessado em entrar num projeto que vai durar apenas dias, ou em projetos que estão sempre mudando de direção. Um dos fatores a que se atribui o sucesso da Amazon, criado por George Bezos é que na sua famosa carta anual para todos os acionistas e empregados, as pessoas não se sentem pisando em areia movediça.

 

4. O investimento vale a pena? Outro aspecto essencial para mobilizar as pessoas é que todos liderados tem uma pergunta em mente, pode ser inconsciente ou subliminar, mas encontra-se implícita: O que vou ganhar ao aderir a este projeto?

 

O ganho não é necessariamente financeiro, na verdade dinheiro não é o grande fator motivacional. Existem muitas outras coisas mais relevantes e importantes. Ser capaz de fazer algo bom para os outros e fazer a diferença é considerado um dos grandes fatores de motivação para funcionários e liderados. Veja como este gráfico nos ensina sobre isto. Neste gráfico, o fator dinheiro & benefícios foi apontado como o mais importante apenas para 4% dos entrevistados.

 

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É certo que muitas pessoas consideram o dinheiro um aspecto importante para o engajamento, mas numa instituição filantrópica o trabalho é voluntário, então devemos descobrir outros fatores motivacionais que possam ser relevantes e possam motivar o envolvimento, mesmo sem qualquer ganho monetário, mas que, eventualmente pode ser mais poderoso que o dinheiro em si. Considere como muitas pessoas ao se envolver numa ONG, ou numa igreja, não apenas disponibilizam seus tempos talentos, recursos e tempo, mas ainda contribuem financeiramente. Por que as pessoas fazem isto? Quais são estes ganhos? Que fatores intrínsecos num projeto que leva as pessoas a se interessarem, se envolverem, se mobilizarem, gastarem seu tempo e seu conhecimento?

 

No caso do voluntariado, o ganho não é financeiro, mas imaterial, e talvez por isto, seja algo tão grandioso. Muitas pessoas buscam aceitação, reconhecimento, aprovação, que são recompensas poderosas em si mesmas, mas talvez o maior ganho seja de sentido e significado. Os seres humanos são, na sua maioria, generosos e buscam significado em gestos de solidariedade e doação. Isto traz sentido profundo. Acredita-se que muitas pessoas seriam curadas de sua depressão se elas, ao menos, tivessem uma causa para lutar, uma razão para viver e para morrer. Portanto, as pessoas são motivadas e mobilizadas, porque há um ganho emocional e espiritual no ato de sua doação.

 

Embora a maioria das pessoas não reflita sobre isto, o que elas buscam é algo que possa lhes acrescentar sentido. Victor Frankl, fundador da Logoterapia, uma corrente da psicologia moderna, afirma que: “Quem tem porque viver pode suportar qualquer como”[1].  As pessoas encontram sentido em cooperar, se envolver, participar, doar.

 

Eu era ainda um jovem pastor na Igreja Presbiteriana de Brasília, cujo prédio fica ao lado de um bloco construído para acolher os senadores da república. Um dia, numa escola dominical, estava falando sobre o valor e a importância do trabalho, não apenas como remuneração, mas como forma de cooperar para a construção do mundo, e abençoar as pessoas. Estava ali, uma ilustre visitante, esposa de um senador, embora ninguém a conhecesse. Ao terminar a palestra, ela veio em minha direção, dizendo que estava passando por um período de muita depressão e veio à igreja para receber uma orientação, e ela havia descoberto naquele dia, que ela precisava servir, que sua vida estava muito centrada em torno de seus problemas pessoais. Espero que sua vida tenha encontrado sentido pessoal na compreensão e engajamento em alguma atividade que possa orientar sua história.

 

5. Liderança inspiradora. John Maxwell afirma que “tudo se levanta e cai em liderança”. Nenhum projeto é executado sem a presença e força de um líder, seja ele espiritual, organizacional, carismático.

 

Pessoas são capazes de morrer quando se identificam com um líder forte e com a inspiração que ele traz. A história da humanidade está repleta de bons e maus exemplos neste sentido. No verão de 2002 em Cape Cod, (EUA), cerca de 20 baleias se encalharam ao mesmo tempo nas praias. Como é que todas elas se desorientaram assim? A resposta está em que elas seguem cegamente seu líder, as vezes ele está perseguindo uma presa e vai para águas rasas, e todas as demais seguem a mesma direção.

 

O mesmo acontece com os seres humanos. Quando inspirados, são capazes de grande doação e sacrifício. Somos uma cultura muito voltada para a questão financeira, mas existe um valor muito maior, presente nos seres humanos: algo que as inspire, lhes dê razão para viver. Por isto o líder é capaz de inflamar, encorajar, conduzir as pessoas a grandes sacrifícios porque inspiram seus liderados.

 

O verdadeiro líder é capaz de mobilizar as pessoas, porque inspira crescimento, evolução, desenvolvimento e ações positivas em seus liderados. Líder é agente de mudanças nas suas instituições porque são capazes de levar as pessoas a sonharem e a doarem o melhor que possuem por causa de uma causa.

 

 

 

 

 

 

 



[1] Frankl, Victor – Em busca de sentido. São Leopoldo, Ed. Sinodal, 2020, pg. 7 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Plantação de Igrejas: Formação e estruturação do Grupo Base



 

Introdução

 

Um dos grandes desafios quando se pretende plantar igrejas é a formação de um grupo de apoio inicial, aquelas pessoas com as quais poderemos contar no projeto que ora iniciamos. Nem sempre é fácil formar este grupo, e muitas vezes é desafiador este processo. Identificar, atrair, envolver, encorajar, apoiar, inspirar, são tarefas fundamentais para o plantador de igrejas. Sem estes elementos as pessoas não estarão dispostas a se envolver numa tarefa tão desafiadora.

 

Além de estar treinado, equipado e mentoreado, o plantador de igrejas precisa formar uma equipe, e não apenas isto, mas encorajá-la a tal ponto que ela não disperse nos embates e desafios iniciais. Esta equipe será fundamental já que ninguém consegue a tarefa de plantar uma igreja sem encontrar pessoas que o apoiem. Então, a primeira tarefa, certamente será de reunir pessoas em torno de uma ideia e equipá-los para a tarefa.

 

O ministério de Cristo com o seu grande desafio de implantar reino de Deus, nunca foi feito de forma solitária. Ele investiu em alguns homens a quem ele mesmo escolheu e os capacitou para continuarem a obra. Deu-lhes orientação, treinamento, autoridade e poder para realizarem a desafiadora obra. Jesus, ele formou uma base, a quem delegou a tarefa de continuar a sua obra. O ministério de Cristo não foi solitário assim como não deve ser a tarefa de pastorear.

 

Quando Barnabé e Saulo saíram para a primeira viagem missionária, eles formaram uma equipe base. Nunca veremos na Bíblia um ministério sendo desenvolvido de forma solitária, e uma das primeiras preocupações no projeto de plantação de igrejas era o estabelecimento de uma liderança local. Veja a recomendação de Paulo a Tito:  “Por esta causa te deixei em creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes” (Tt 1.4) O plantador de igrejas, fazendo um ministério sem mobilizar pessoas em torno da visão, não tem a mínima condição de alcançar seu objetivo. Ele precisa de uma equipe, porque uma igreja requer trabalho de equipe.

 

Ele precisa providenciar pessoas que orem a favor de seu projeto, mas precisa ainda identificar pessoas que acreditem e se envolvem no projeto, pessoas que sentem o desejo de participar da

plantação de uma nova igreja. Ele precisará de pessoas ajudando no louvor, discipulado, recepção, cuidado com as crianças, e outras necessidades que forem surgindo, como ministérios específicos, grupo evangelístico, etc.

 

 

O que é um grupo base?

Um grupo base é aquela equipe inicial que decide apoiar o plantador de igreja. Eventualmente alguns pessoas se dispõem para cooperar por determinado tempo, o que não é uma situação ideal, mas ao mesmo tempo, pode ser a condição com a qual o plantador de igrejas poderá plantar, mas o importante mesmo são aquelas pessoas que vestem sua camisa, e estarão dispostas a pagar o preço por aquele projeto. Tais pessoas serão incansáveis no seu investimento, seja ele em termos de talento, tempo, e recursos financeiros. 

 

Como formar um grupo base?

 

Existem várias situações possíveis.

 

1.     Trabalhar com o grupo pré-existente – Boa parte dos modelos que temos hoje de plantação de igrejas, parte deste ponto de vista. O presbitério (ou a convenção), designa um obreiro que vai para o campo, onde já existe um grupo se reunindo.

 

A vantagem deste modelo é que o plantador de igrejas não precisa começar o projeto sem ter uma base. Já existe um número de pessoas se reunindo naquele lugar, motivadas a alcançar o alvo. Isto traz alguns benefícios. mas isto pode trazer complicações.

 

Quando o pastor se junta àquele grupo, já existe uma liderança formada, e eventualmente tal liderança pode se sentir enciumada ou não concordar com o modelo de ação que tentam construir. Eventualmente pode haver até competição pela liderança porque, todo grupo já tem um determinado líder, e nem sempre ele está disposto a abrir mão de sua primazia, com a chegada de um novo obreiro. Em alguns casos mais graves, pode haver rupturas graves. Nos Estados Unidos há uma estatística que afirma que 80% de um grupo se dispersa, no período de dois anos, com a chegada do pastor.

 

O pastor designado precisa se encaixar, ou cair na simpatia da comunidade, o que nem sempre acontece. Muitas vezes a química, os métodos, a forma de pregar, não se identifica com o grupo já existente.

 

No meu primeiro pastorado foi designado pelo presbitério de Anápolis, para pastorear a igreja de Formoso-GO, que tinha uma congregação em Minacú e um ponto de pregação em Palmeirópolis. Ao me apresentar em Minacú, foi acolhido por uma família de um homem muito simples, íntegro e severo na forma de avaliar a igreja. Eu era um pastor ordenado com apenas 21 anos de idade. Meu pai, que era um presbítero de Gurupí-TO, estava me acompanhando neste primeiro encontro.

 

Na apresentação à igreja, aquele homem foi direto, curto e grosso: “Pastorzinho, o senhor está chegando aqui agora, mas queremos informar que o senhor veio aqui para trabalhar. Há muita coisa a ser feita, e esperamos que o Senhor possa corresponder às necessidades da igreja”. Eu pesava menos de 60kgs, e ainda era muito jovem. O recado estava claro: “O senhor precisa provar que realmente tem competência para esta tarefa”. Eu passei a me hospedar na casa deste homem quando ia pregar naquela igreja. Sua esposa fazia uma deliciosa carne de panela, e era uma companheira inestimável na obra da evangelização. Aos poucos fui conquistando a confiança e aceito no grupo. No final do ano, aquela igreja se emancipou e foi organizada. Este é um bom exemplo do que podemos esperar quando nos aproximamos de um grupo já existente.

 

2.     Iniciar um trabalho sem grupo pré-existente

 

Muitos pastores são enviados para determinados campos onde não há nenhum crente, com a tarefa de plantar uma igreja. É um trabalho missionário, na sua definição mais simples.

 

Ao chegar àquele lugar, ele precisa fazer amizades, contatar as pessoas, se envolver com determinadas ações que o tornem conhecido, na esperança de que o coração de alguns deles sejam alcançados pela graça. Boa parte dos pastores enfrentam muitas dificuldades com isto porque possuem um histórico de pessoas igrejadas demais, e alguns não possuem treinamento nem os dons necessários para a tarefa de evangelizar e gerar filhos na fé. O resultado pode ser angustiante.

 

Ao mesmo tempo, pode ser desafiador, se o plantador de igrejas possui uma linguagem apropriada e sabe se aproximar do não crente, criar networks e comunica de forma eficiente a salvação por meio de Cristo. a vantagem neste processo é que, as pessoas que se envolverem com este ministério, terão uma profunda identificação com o plantador de igreja, se não houvesse isto, certamente não se aproximariam deste pequeno grupo. É necessário que a pessoa se identifique, confie, e se relacione com o grupo e com a família pastoral de forma direta.

 

Os pontos de contato podem ser através de atividades esportivas, lazer, hobbie, inserção cultural, amizade da esposa e filhos. Muitas vezes o pastor possui um veio artístico que o identifica com outras pessoas, como música ou arte, outras vezes ele é um professor, ou tem habilidades esportivas que possam estabelecer a ponte entre as pessoas e a igreja.

 

Quando o plantador de igrejas inicia, ele mesmo, um determinado grupo base, ele tem a vantagem de atrair pessoas que já se identificam com ele. Há um princípio em plantação de igrejas que diz: “você não atrai as pessoas que você quer, você atrai as pessoas que se parecem contigo”. Por esta razão, a igreja se parece com o seu pastor, se ele plantou a igreja ou se se encontra ali por muito tempo. Nós só conseguimos atrair as pessoas que aceitam nossa liderança e reconhecem o nosso ministério.

 

Nos Estados Unidos, plantando igrejas na região de Newark, comecei a receber a visita de um casal que eu queria muito que somasse ao nosso ministério. Eles eram simpáticos, e achei que eles poderiam ser uma benção no nosso meio, eles estavam fora de igreja, tinham sofrido decepção com o antigo pastor, e todos os domingos, após o culto, sorridente, sua esposa me dizia que estava me “avaliando”. Inicialmente pensei que fosse uma brincadeira, mas posteriormente descobri que isto era verdade. Na avaliação deles eu não passei no teste, e eles então, que nunca criaram vínculos reais com a comunidade, passou a vir cada vez mais esporadicamente, até que finalmente deixou de participar de nossa comunidade. Não houve empatia suficiente para que eles permanecessem na igreja.

 

A desvantagem de iniciar um projeto sem um grupo existente é que isto exige uma quantidade imensa de dons e esforço da família do plantador de igrejas. É necessário criar relacionamentos, considerar que o projeto levará um tempo bem maior, porque está começando do zero. E se for um projeto numa cultura diferente, então podemos considerar um tempo ainda maior. Mesmo no Brasil, encontramos regiões que apresentam peculiaridades e distinções enorme de outras. Imagine um gaúcho num relacionamento com o Nordeste?

 

3.     Grupo que já apoia o projeto

 

Neste terceiro grupo temos a benção de vermos uma igreja nascendo com um grupo já identificado com o plantador. Eles participaram da visão e muitas vezes construíram a visão juntos. Em alguns casos já eram amigos, ou discípulos, ou ovelhas, e decidiram sair para formar uma nova comunidade. Este é o cenário ideal.

 

As vantagens neste caso são imensas. O grupo já nasce com uma profunda identificação com o obreiro. Por esta razão, não há suspeição, não é necessário ganhar a confiança pois ela já foi conquistada, e as pessoas que se envolvem estão realmente dispostas  a caminhar juntas.

 

O desafio inicial é clarificar o projeto com tais pessoas. Muitos estão juntos mas ainda não entenderam a grandeza do projeto nem os custos envolvidos. Eles precisam entender que plantar igrejas não é uma tarefa social, nem será realizado a curto prazo, e que não é um pic-nic. Então, a tarefa fundamental aqui do plantador é escrever o projeto, dar uma cópia dos alvos, propósitos, motivos, a cada um, e desafiá-los a um envolvimento mais profundo.

 

Já vi várias igrejas surgindo assim e considero este o modelo ideal e mais fácil de ser atingido. Uma coisa é você estar liderando um grupo sem envolvimento, outro é trabalhar com pessoas com a qual você já tem identificação. Mas elas precisam entender os desafios e compromissos que terão que assumir. Quando este grupo sai de uma igreja grande, é possível que algumas pessoas ninguém tiveram compromisso, nem liderança, ou quem sabe, nem mesmo contribuíam financeiramente com a igreja mãe, mas agora, num pequeno grupo, elas serão observadas e exigidas quanto a estes pontos. O que acontecerá quando entenderem o nível do compromisso? Continuarão firmes ou se afastarão?

 

É necessário levar as pessoas a assumirem o projeto. Elas terão tarefas, não serão mais servidas na igreja, mas estarão no front para servir e receber outros. Precisarão ainda contribuir. Um princípio simples: Se a pessoa não está envolvida ainda com seus recursos financeiros, você pode estar certo de que ela não vestiu a camisa da equipe. Ela ainda é uma expectadora, não agente.

 

Há um classe exemplo sobre os diferentes níveis de compromisso. Para isto, ilustra-se com a participação da galinha e do porco no café da manhã. Quem está mais envolvido: aquela que dá o ovo ou aquele que entra com o bacon? O porco, certamente possui um compromisso total, sacrificial, porque ele precisa dar sua vida. Os comprometidos, compram os problemas e ajudam a resolvê-los. Comprometer-se é assumir responsabilidade. O envolvido toma espaço,  o comprometido constrói seu espaço.

 

Embora a fábula tenha suas limitações, existem momentos em que as galinhas são necessárias, mas precisamos saber se elas estão comprometidas.

 

O que fazer depois do estabelecimento do grupo base?

 

Alguns pontos podem ser importantes para o bom andamento deste grupo:

 

A.   Tenha um projeto escrito.

 

Escreva uma filosofia de ministério. Fale dos motivos bíblicos e práticos do projeto. Descreva tanto quanto possível, sem ser exaustivo, a dinâmica do trabalho, as estratégias, as bases teológicas e litúrgicas. A pessoa que adere ao projeto precisa saber o que ela pode esperar, e ao mesmo tempo, isto permite que você possa trazer o grupo de volta, para a ideia inicial, se algum deles quiser seguir uma direção diferente ou discordante.

 

B.    Assinar o projeto?

 

Alguns experts, recomendam inclusive que as pessoas assumam um termo de compromisso, assinando que concordam e desejam participar deste projeto. Não sei se na nossa cultura isto seria facilmente compreensível. Em outras culturas, como a americana, isto faz enorme sentido.

 

C.    Dê tarefas

 

O Pr. José Pereira, de Brasília, gostava de afirmar que “igreja grande e covil de malandro”. Se você está com uma pequena comunidade, a pessoa não poderá se “esconder”, pois um grupo assim, precisa do esforço e participação de todos. Tarefas demonstram o vinculo, e servem para avaliar o nível de compromisso.

 

Quando plantava igrejas no EUA, tínhamos uma salão onde podíamos nos reunir mas precisávamos montar e desmontar o som, em todos os cultos, colocar as cadeiras no lugar, preparar o espaço para o culto público. Para isto fizemos uma pequena escala, mas havia pessoas que sempre atrasavam e comprometiam o encontro. Um determinado dia, decidimos que não sairíamos desesperados para corrigir a negligência de alguém. Obviamente isto gerou um caos, porque num domingo não pudemos usar os instrumentos e o som, tivemos que tocar apenas um violão, as pessoas responsáveis quiseram montar em cima da hora mas não dava tempo. Isto gerou uma reação neles e nas outras pessoas, e dai para a frente as coisas foram corrigidas.

 

Tarefas empoderam e demonstram compromisso. Portanto, evidencia dois resultados positivos imediatos.

 

D.   Avalie as contribuições

 

O princípio é: “Quem ama se compromete”. Afinal, “dinheiro é uma questão espiritual”, como revela Richard Foster. Por isto, “o bolso é o último a se converter e o primeiro a esfriar”(Bispo Paulo Aires). Dinheiro revela o coração. Mostra se realmente podemos contar com determinadas pessoas, afinal “Onde estiver teu tesouro, ai estará o seu coração”.

 

E.    Avalie sugestões

 

Para empoderar o grupo é fundamental que as ideias sejam valorizadas e avaliadas. Isto não significa que serão sempre aceitas, mas elas demonstram respeito pela pessoa que deseja contribuir.

 

Eu tenho adotado um princípio que tem me ajudado muito: “quem tem a visão tem o dom”. Normalmente quando a pessoa traz uma ideia, e que eventualmente é interessante, eu delego a tarefa para ela mesma, afinal, ninguém poderá fazer melhor do que ela, que teve a visão. Isto normalmente leva a pessoa a considerar se ela realmente acha interessante o projeto ou se está querendo dar tarefas às demais pessoas, sem assumir diretamente. Em muitos casos, o projeto morre ai, porque a pessoa que trouxe a ideia não quer ter o compromisso de assumir.

 

F.     A necessidade de sair de um grupo informal para uma liderança compartilhada

 

Quando estamos ainda em um pequeno grupo, reunindo sem maiores formalidades, as pessoas não possuem compromissos. Elas desfrutam da comunhão, da simpatia e alegria do grupo, mas isto não quer dizer que quando um projeto maior for desafiado, que poderemos contar com elas.

 

Isto se torna perceptível quando saímos de um pequeno grupo familiar, para construir um projeto de plantação de igrejas, é natural que algumas pessoas se afastem do grupo, não porque necessariamente descreem da igreja, mas porque elas serão exigidas em outro nível de compromisso.

 

Este é, eventualmente, um momento muito sensível para o grupo, acostumado a se reunir sem maiores alvos e sem nenhum objetivo maior a não ser desfrutar da comunhão daquele pequeno grupo caseiro, e da atenção particular que pode receber do pastor (particular) daquele grupo. Na hora em que são desafiados, nem sempre estarão dispostos a um envolvimento mais significativo, de serviço, generosidade e doação.

 

G.   Desenvolva liderança baseada não em cargos, mas nos dons espirituais.

 

Este é um aspecto importante a ser considerado. Muitas vezes damos “ofícios”, sem que as pessoas tenham “dons”. Ofício pode se transformar numa espécie de cargo, com uma postura meramente institucional, e nem sempre identificada com as características necessárias para a função.

 

Hoje é possível encontrar na internet, muitos modelos para avaliar os dons dos membros da igreja, talvez isto possa se transformar numa excelente ferramentas para que possamos colocar “pessoas certas nos lugares certos”. Na Bíblia vemos que os diáconos surgiram por causa da necessidade da igreja (Atos 6). A Igreja Primitiva foi sensível em analisar a realidade de sua comunidade e mudar a estrutura com os dons específicos para a função. O mesmo princípio deve ser adotado ainda hoje em nossas comunidades.

 

H.   Um teste para aferir o compromisso.

 

Três aspectos devem ser considerados quando estamos recebendo pessoas em nosso grupo e transmitindo a visão:

 

TEMPO

A pessoa está disposta a investir seu tempo?

Ela se sacrifica pelos projetos?

As atividades da igreja se tornam realmente importantes para sua vida?

 

TALENTO

As pessoas estão colocando seu expertise a serviço do reino?

Qual o efeito de uma comunidade quando os dons são exercidos adequadamente?

Uma das grandes bençãos de uma comunidade é ter “pessoas certas nos lugares certos”.

 

TESOURO

Toda pessoa que estiver realmente pronta para o serviço, terá disposição de investir seus recursos. Afinal, “dinheiro segue visão”.

A falta de generosidade revela, não apenas um distanciamento da pessoa, mas uma falta de compreensão da mordomia cristã e de uma compreensão bíblica de finança.

Ensina os membros do grupo a serem comprometidos financeiramente desde o nascimento da igreja. Isto forma o DNA da igreja, e a seguirá para sempre. Igrejas generosas aprenderam isto no momento em que estavam sendo plantadas.