sábado, 31 de dezembro de 2022

Gn 1.26 Ideologia do Gênero: Homem e mulher os criou

 


 

 

 

Introdução

 

Bem-vindo à era das questões de gênero, sexo e sexualidade. Nunca se falou tanto sobre este assunto. Nações inteiras tem se dividido e polarizado em relação a este assunto. De um lado, países liberais que não só aprovam, encorajam e financiam movimentos sobre o direito civil e até mesmo cirurgias para mudança de sexo e luta pelos direitos civis da comunidade LGBT; do outro, países conservadores, que perseguem e matam pessoas com comportamentos homossexuais. Catar, o país que abrigou a Copa do Mundo em 2022, foi muito criticado pela imprensa da esquerda, por causa de suas restrições sobre este assunto e pelas suas leis restritas.

 

Para muitos, a sua identidade está ligada à sexualidade. Isto é um grande problema, porque o ser humano é muito mais que um ser sexual. Ele é um ser de relação, ser espiritual, ser de afetos, ser social. A sexualidade é pouco para nos definir, e quando nossa identidade está apenas focada na sexualidade, corremos o risco de perder a essência de nossa natureza.

 

A igreja também tem sido cobrada sobre sua posição acerca deste assunto. Recentemente o Pr. Ricardo Gondim afirmou que na sua comunidade em São Paulo, pessoas homossexuais podem se tornar membros, ocuparem funções de liderança e até mesmo serem ordenadas.  Sem restrições. Isto causou enorme escândalo na igreja evangélica.

 

Uma das perguntas recorrentes é qual a visão da Bíblia e da igreja sobre o assunto. O que pensamos? Qual a nossa visão? Nestas horas, precisamos olhar com atenção para as Escrituras Sagradas. O que significa ser homem? Mulher?

 

Durante séculos, a humanidade sempre esteve alinhada à narrativa bíblica: “Criou Deus o homem à sua imagem e semelhança. Macho e fêmea os criou.” (Gn 1.26) Mas para muitos, a letra da música “Masculino e Feminino”, de Pepeu Gomes, está mais correta que as Escrituras Sagradas.

 

“Ser um homem feminino

Não fere o meu lado masculino

Se Deus é menino e menina

Sou masculino e feminino.”

 

A crise moderna: Ser homem ou mulher é uma questão apenas de autocompreensão, e não está ligada à anatomia nem aos cromossomas, tem mais a ver com cultura e imposições conceitos que com o corpo em si

 

Em algumas universidades americanas, o banheiro é unissex. É discriminatório obrigar uma pessoa a se dirigir a um banheiro que não se identifique com sua identidade de gênero.” Bem-vindo ao novo e selvagem mundo, contrariando a visão de Aldous Huxley.

 

Qual é a expectativa para o Macho? Se tal afirmação pode ser feita? O que é ser mulher?

 

Na visão cultural o homem é o provedor, mais agressivo, menos emocional, interessado em esportes e na sua carreira. A mulher: mais relacional, emocional, socialmente menos agressiva. Os defensores da ideologia do gênero afirmam que as diferenças são impostas, culturais e psicológicas.

 

Por esta razão, precisamos retornar às Escrituras. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Tm 3.16-17) Precisamos ler a Bíblia, não para confirmar meus pensamentos, mas para sermos transformado pelas suas verdades. Qual foi a última vez que você mudou um ponto de vista por causa do ensinamento bíblico?

 

O que aprendemos na Teologia bíblica na criação? “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1.27)

 

Desta afirmação surgem duas linhas de interpretação:

 

Igualitariarismo

 

Homem e mulher são iguais em tudo. Ambos criados à imagem e semelhança, ambos recebem tarefas indiferenciadas sobre no ato da criação.

 

Complementarianismo

Homem e mulher são iguais em dignidade, valor e essência, mas são distintos nas suas tarefas. Quando a Bíblia fala de auxiliadora, afirma que são iguais no valor, mas complementares nas tarefas.

 

Particularmente defendo a ideia do complementarianismo. Muitos cristãos bíblicos divergem da minha linha de interpretação. Esta visão afirma que


Há igualdades

 

  1. Sua condição – ambos feitos à imagem de Deus.
  2. Sua vocação – ambos recebem o mandato de dominar a terra. Mordomia da criação, cuidado e reprodução dos filhos. Na vocação, necessitam um do outro.
  3. Sua satisfação – mútua aceitação e alegria. Eles se aceitam

 

Há diferenças:

a.     Sexualmente diferentes - Distinção não apenas de constituição física, mas também na forma de ser, perceber, reagir e relacionar. Diferença hormonal.

 

b.     Diferença funcional – um tem o que falta no outro. Complementariedade, não competição. A diferença torna possível o enriquecimento mútuo.

 

 

O que é Imago Dei?

  1. Aspecto Estrutural - A imagem de Deus fala da natureza. Quem somos nós?
    1. Seres espirituais
    2. Seres racionais
    3. Seres volitivos
    4. Seres morais
    5. Seres criativos

 

  1. Aspecto funcional – O que somos chamados a fazer?
    1. Tenham domínio sobre os seres criados.” (Gn 1.26)
    2. Multiplicai-vos, enchei a terra.” (Vs 28)

 

  1. Aspecto Relacional – “Macho e fêmea os criou.”
    1. Deus é Trino, relacional: “façamos”
    2. Adão/Eva: Relacionais

 

Temos o grande desafio de ver a beleza de Deus na diferença, não como opositores, adversários, mas complementares. Larry Crabb escreveu um livro falando sobre a necessidade de “celebrarmos a diferença!”

 

O que não vemos na criação? Subordinação feminina ou dominação cultural e histórica.

 

Não existe superioridade em razão da sexualidade. Quando Deus afirma que faria uma auxiliadora, isto não denota inferioridade, já que o mesmo termo é usado algumas vezes no Antigo Testamento para se referir a Deus. Portanto, não há subordinação.

 

Quando Deus criou o homem e a mulher, os chamou ambos de Adam. “homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados.” (Gn 5.2) Adão (Adam), vem de Adamã, no hebraico, terra, mas quando o pecado adentra o coração humano, Adão muda o nome da mulher, chamando-a de Eva. É uma distorção, ele deixa de chamá-la de companheira, termo que destaca identidade (Gn 2.23), e a nomeia, chamando-a de Eva (mãe de todos os viventes), que ressalta sua função (Gn 3.20). A utilidade suplanta a identidade, torna-se um meio para atingir um fim. O sujeito passa a ser objeto. Na cultura semítica, quem nomeia tem controle sobre o outro.

 

Masculinidade nas Escrituras

O que é a essência da masculinidade?

 

Homem/mulher, são igualmente dignos de honra, criados à imagem e semelhança de Deus: valor, dignidade e importância. Nenhuma superioridade ou inferioridade, ainda que distinto nas funções.

 

Gênero (masculino ou feminino), dado como dom divino, definido biologicamente por Deus. Ser macho ou fêmea faz parte inerente da natureza humana. Não se trata de uma construção social ou cultural.

Gênero não é maleável

Gênero não é cultural

Gênero é biológico.

 

Tive uma professora peruana de fisiologia humana no CEUB/ Brasília, que certo dia suscitou um debate na classe perguntando: “Porque, biologicamente, podemos afirmar que homossexualismo é errado?” As respostas foram filosóficas e até mesmo teológicas, mas ela insistia numa resposta centrada na Biologia. Até que um aluno afirmou: “se não houver heterossexualidade, não há procriação, nem reprodução da espécie.” E ela desenvolveu sua aula a partir deste ponto.

 

Algumas considerações importantes:

 

  1. Masculinidade e feminilidade são definidas biologicamente. Nenhum pai ou mãe tem dificuldade em afirmar que o sexo da criança quando ela nasce. Não há dúvida biológica, nem teologicamente. Ninguém fica em dúvida, fazendo cara de interrogação. Quem define sexualidade não são os pais, mas o corpo.

 

  1. Por causa da queda humana, homens e mulheres passaram a construir imagens nebulosas sobre quem são. O pecado traz confusão ao coração do homem.

 

Podemos falar de distorções na construção da sexualidade, e alguns fatores predisponentes são devem ser considerados na formação da confusão sexual.

 

Algumas confusões:

 

  1. Mães projetam uma deformidade sexual em seus filhos, tratando um garoto, como garoto. Foi assim que acompanhei um transsexual, cuja mãe, desde cedo, o vestia de menina.

 

  1. Pais distantes, frios, ausentes e passivos. Figuras masculinas que não inspiram nem servem de modelos aos filhos

 

  1. Pais violentos e agressivos. Que levam seus filhos ainda pequeno a odiarem a figura masculina, procurando se identificar e defender a mãe por abusos verbais e violências físicas.

 

  1. Mães dominadores e superprotetoras

 

  1. Sexualidade precoce. Muitas crianças são expostas à vida sexual ainda muito cedo, quando ainda não estão emocionalmente maduras para lidar com lares marcados por excessiva liberdade sexual e pornografia.

 

  1. Abuso sexual. 85% dos abusos são cometidos dentro de casa por amigos, parentes, tios, avôs, e até mesmo pais. Há muita doença que tem o poder de deformar e destruir a possibilidade de uma visão bela e santa da sexualidade.

 

  1. Podemos, ainda, em último lugar, nos referir à educação sexual que é feita por professores liberais, colegas de escola, que destroem a visão natural da sexualidade.

 

É bom observar que estamos falando de fatores predisponentes, e não determinantes. Muitas crianças passaram por toda distorção da sexualidade, mas ainda assim mantém sua visão sexual de forma equilibrada. Seriamos ainda levianos e superficiais em não afirmar ainda que há muitos outros fatores psicológicos e até mesmo espirituais que transcendem esta pequena lista de fatores predisponentes que enumeramos.

 

O grande objetivo de Satanás sempre foi perverter a harmonia e beleza do que Deus criou. Ele sempre propõe formas de perversão que vão muito além da sexualidade em si. Adão e Eva tinham tudo no Paraíso, mas ainda assim, Satanás foi capaz de criar desejos em Eva, e dar-lhe a impressão de que lhe faltava algo, de que Deus a estava privando de algo que deveria ter sido dado.

 

O grande alvo de Satanás é perverter a criação divina.

 

Além do mais, perversão sexual se dará por causa de escolhas pessoas, morais e individuais. Não apenas somos vítimas, mas a inclinação de nosso pecado nos leva a querer e desejar coisas pervertidas, afinal, “todas as maças do diabo são bonitas, mas todas tem bicho.”

 

Aplicações finais

 

  1. A você que tem impulsos homossexuais.

 

Nem todo desejo é legítimo. A Bíblia usa o termo “concupiscência”, que significa literalmente “desejo estragado.” De alguma forma Satanás perverte a beleza de Deus. E isto se aplica a pessoas hetero ou homossexuais.

 

Em Mateus 19.12 Jesus faz uma afirmação interessante:

Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita.”

 

Ele afirma que por causa de Deus, e pelo desejo de santidade, muitos decidiram consagrar sua sexualidade, para glorificarem o nome de Deus. Muitos jovens decidiram viver vida de castidade por causa da glória de Deus, e isto independe de  direção ou impulso sexual.

 

Paulo afirma:

Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça.” (Rm 6.11-14). Isto se aplica a todos discípulos de Cristo, solteiros ou casados, que tenham inclinação heterossexual ou não.

 

Este estilo de vida de santidade, deve consagrar membros e sexualidade por causa do amor a Deus. Não deixe que seus impulsos e paixões determinem sua identidade e controlem sua história. Sam Allberti é um conhecido conferencista canadense que decidiu não se casar por causa de seus impulsos homossexuais, e tem vivido sua vida para dar glórias ao nome de Deus e falado abertamente sobre este assunto.

 

  1. A você que tem amigos homossexuais.

 

Trate e ame respeitosamente a todas as pessoas, independente de sua inclinação sexual. Deus não nos dá o direito de tratar com descaso, desamor, indiferença ou crítica, pessoas que encaram a vida de forma diferente da sua.

 

Por outro lado, não apoie, concorde, ou encoraje sua escolha. Você pode pensar de forma diferente, sem necessidade de hostilizar. Se disserem que você é preconceituoso, diga que você não tem “preconceito”, mas que você tem “conceito”. Preconceito tem a ver não com a discordância de visão, mas com a hostilidade com que você trata aqueles que sentem e agem de forma diferente da sua.

 

Estabeleça um relacionamento de santidade, e isto se aplica não apenas às relações homossexuais, mas é exigido daqueles que também possuem inclinação heterossexual.

 

  1. Se você é pai, ou mãe, de uma pessoa que se declara homossexual.

 

A primeira palavra que quero dar é: Ame seu filho (a).

Amar não quer dizer que você concorde, ou aceite seu estilo de vida. Deixe claro o que você sente, o que você pensa, o que diz as Escrituras Sagradas sobre este assunto. Defina-se!

 

Estabeleça as fronteiras:

-Deixe claro que esta opção é dele (a), que você vai amá-lo sempre, não vai hostilizar, mas que não quer ser parceiro naquilo que você discorda. Você não quer ser cúmplice de algo que você não aprova. Você não é obrigado a concordar com sua orientação sexual.

 

- Estabeleça fronteiras e limites. Muitos pais cristãos, para serem modernos, permitem que seus filhos tragam namoradas (ou namorados) para ter sexo dentro de casa. Isto significa concordância e aprovação. Seu filho (a) pode fazer escolhas, mas você não deve apoiar e encorajar tais atitudes.

 

-Dormir no mesmo quarto? Não! Sendo heterossexual ou homossexual, esta não pode ser a atitude de pais cristãos.

 

  1. O comportamento da igreja

 

Tem se tornado claro que a igreja está despreparada para lidar com esta questão. Certamente teremos um longo tempo de discussão e reflexão sobre este assunto, mas queria caminhar com três linhas de pensamento.

 

Francis Schaeffer:

“A igreja deve ser santa e fiel, mas acolhedora e sem preconceito.” Este equilíbrio é muito tênue, mas ele deve ser buscado com todas as forças. Como amar o pecador? Como ser santa, como Jesus era, e ao mesmo tempo dizer amorosamente: “Nem eu te condeno, vá e não peques mais?”

 

Rick Downs

Quando pastoreávamos a igreja Christ The King em Cambridge, MA, lidávamos com muitos jovens universitários numa sociedade progressista e liberal. Um dia a igreja recebeu um bilhete que dizia mais ou menos assim: “Somos um casal homossexual. Estamos frequentando a igreja já faz algum tempo. Temos nos sentido amados, acolhidos e queríamos saber se vocês nos aceitariam na condição de homossexuais.” Muito sabiamente o Pr. Rick Downs respondeu, ignorando completamente a questão da sexualidade e focando no aspecto mais importante: “Ficamos muito felizes em receber vocês em nossa comunidade. Vocês são sempre benvindos, mas queríamos indagar se podemos estabelecer as bases do discipulado para seguir a Cristo.”

 

Isto é importante, pois para seguir a Cristo, não somos nós quem estabelecemos as condições. Somos seus discípulos, ele é o Mestre. Portanto, faremos o que ele nos ordenar, e como servos o obedeceremos.

 

Hernandes Dias Lopes:

A terceira reflexão vem do Rev. Hernandes: “A igreja aceita todos, mas não aceita tudo. Venha como está, mas não permaneça como és.”

 

Temos pensado muito a nossa fé a partir da perspectiva do que queremos. Recordando o versículo que usamos no início, na orientação que Deus dá a Caim. “Se procederes bem, é certo que serás aceito, mas se procederes mal, é certo que serás aceito. O seu pecado será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.”

 

  1. A você que é heterossexual, e julga o irmão por causa de seu pecado homossexual.

 

Temos que lembrar que santidade é exigida a todos, independente da orientação sexual que possuem.

 

É fácil nos escandalizarmos com filhos de amigos quando sabemos que são homossexuais, julgá-los e condená-los, como se eles fossem piores do que outros jovens (ou casais), que vivem uma vida promíscua, de formicação ou adultério, pecando igualmente contra o Senhor, e ferindo a sua santidade.

 

Arrependimento deve ser pregado a todos, independente da idade, sexualidade, estado civil, cor ou sexo.

 

O filho pródigo que saiu de casa estava perdido na sua orientação moral. Era relativismo moral, achando que poderia fazer tudo o que vinha na cabeça, seguindo seus instintos e impulsos morais. Ele estava perdido e precisava ser achado.

 

Mas o filho que ficou em casa, estava igualmente perdido, na sua justiça moral, vivendo como “um justo amargurado”, julgando a todos, inclusive o seu amoroso Pai. Ele também precisava se arrepender da sua justiça própria.

 

Esta parábola nos ensina que existem duas formas de estar perdido: Relativismo moral e legalismo frio, mas existe apenas uma forma de ser salvo: receber o amor, a reconciliação e o amor do Pai. Jesus morreu na cruz para nos reconciliar com Deus. Ele é o meio de nos restaurar diante do Pai.

 

 

 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

2 Co 4.7 Como começar o Ano Novo?


 



 

 

Introdução

 

A expectativa do novo ano pode ser otimista ou negativista. Alguns acreditam que a mudança do ano, de uma forma mágica, trará uma série de revoluções positivas, por isto fazem votos, planejam mudanças, reorganizam sua agenda e cardápio, acreditando que algo inusitado vai acontecer com a mudança do calendário. Em geral, não demora muito para descobrir que tudo nada mais era que uma fantasia, e a vida retorna ao seu ciclo de normalidade. A dinâmica da vida simplesmente não muda.

 

Mais do que novos votos e resoluções, o que precisamos é entender algumas coisas que podem ajudar a nossa caminhada e nos tornar pessoas mais maduras espiritualmente. Este exercício é importante, afinal, precisamos aprender alguma coisa na medida em que envelhecemos

 

Neste texto, Paulo fala de alguns princípios que devem orientar a vida dos discípulos de Cristo. Na medida em que o lia, refletia sobre seu valor para o meu coração, e espero que também o seja para o seu. Ele fala de alguns valores fundamentais para nossa vida.

 

1.     Precisamos entender nossa fragilidade e vulnerabilidade - “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” (2 Co 4.7)

 

Neste texto Paulo chama a atenção sobre a realidade de nossa natureza humana. Provavelmente Paulo estava se lembrando de como sua própria vida já se mostrara tantas vezes frágil. Ele via a sua vida como “um vaso de barro”. Você já considerou como um vaso de barro facilmente se despedaça?

 

Nossa vida é frágil.

2022 foi um ano de perdas muito significativas para minha vida. Perdi amigos preciosos. Gente que, como eu, tinha uma saúde estável, e de repente, de forma inesperada estavam lidando com grandes batalhas, visitas diárias a hospitais e remédios pesados.

 

A fragilidade nos torna humildes. Contemplamos nossa própria realidade.

A fragilidade nos torna humanos. Menos arrogantes, mais compreensivos, mais sensatos.

A fragilidade nos torna lúcidos. O autor de Eclesiastes afirma que é “melhor ir à casa do luto que na casa do banquete, porque naquela se vê o fim de todos os homens.”

 

Para começar bem o próximo ano, precisamos entender quão vulneráveis somos. Para não colocarmos nossa esperança na saúde que temos, nos bens que possuímos, ou nas conquistas que fazemos. A Bíblia afirma que a vida é como “um conto ligeiro”, ou “como um breve pensamento”, e ainda “como a relva que de madrugada viceja, à tarde murcha e seca.” E ainda completa: “A vida passa rapidamente e nós voamos.” Entender nossa vulnerabilidade nos tornará mais prudentes e sensatos, mais tementes a Deus.

 

2.     Precisamos nos fundamentar em quatro pilares irrefutáveis da vida cristã

 

Do vs 8-9 ele faz quatro paralelos colocando-os em oposição um ao outro:

 

A.    Tribulações não podem nos transformar em seres angustiados – Em tudo atribulados, porém não angustiados.” (2 Co 4.8)

 

Não raramente passamos por tribulações. Muitas vezes as tribulações parecem maiores do que podemos enfrentar. Nos sentimos destruídos, esmagados, acuados. A dor pode nos transformar em pessoas rudes e hostis, com dificuldade de rir e celebrar. Ela pode nos levar para o túmulo antes de morrer.

 

Por isto é que muitos, ao passarem pela tribulação, enterram sua vida na dolorida experiência de dor. Transformam o sofrimento em mero sofrimento e morrem junto com a dor. Isto pode acontecer na tragédia, na injustiça, e podemos nunca mais sair da angústia e ficarmos eternamente remoendo a dor. A dor deixa de ter sentido e torna-se mera dor. É dor pela dor. Não conseguimos ver qualquer sentido e nos amarguramos.

 

Paulo afirma que podemos ser atribulados, e isto certamente acontecerá, mas não podemos permitir que o sofrimento nos transforme em pessoas angustiadas. Ser dominado pela angústia rouba de nós a esperança e a alegria. Morremos em vida. Este não é o paradigma cristão.

 

B.     Perplexidades não podem nos dominar - Perplexos, porém não desanimados.” (2 Co 4.8).

 

Perplexidades são experiências não previstas, inusitadas, que nos tomam de assalto. São fatos surpreendentes, inesperados. Más notícias podem a qualquer momento, nos abater completamente e nos destruir emocionalmente. Paulo está afirmando que esta não pode ser a resposta de uma pessoa de fé diante do inesperado.

 

Discípulos e Cristo podem ter câncer, sofrer perdas financeiras, passar por dificuldades, separações, problemas de toda natureza. Apesar de tudo isto, Deus deseja que seus filhos demonstrem atitudes e reações diferentes: amor, alegria e paz que não poderão ser explicadas a não ser em termos daquilo que Deus tem feito em suas vidas.

 

C.    Perseguições não podem nos deixar órfãos – “Perseguidos, porém não desamparados.” (2 Co 4.9)

 

O senso de desemparo pode nos atingir de forma brutal. Em 2 Co 11.24-27 Paulo descreve a dura experiência de perseguição que ele enfrentou. Curiosamente ele faz questão de relatar a graça e o consolo que recebeu de Deus, nestes dias de grande oposição. Após relatar detalhadamente sua dor, ele descreve a experiência de arrebatamento espiritual (2 Co 12). A brutal oposição não o esmagou, mas o levou aos céus. Ele foi esmagado pelas perseguições, mas foi cuidado e visitado poderosamente pela presença gloriosa de Deus, permitindo que ele experimentasse antecipadamente da maravilhosa benção da glória por vir.

 

Perseguições não podem nos dar a sensação de desemparo e orfandade. Somos filhos amados de Deus. Não somos órfãos! Cristãos podem ser afligidos, mas não esmagados. Suas perplexidades poderiam levá-los ao desespero, podem ser afligidos por semanas e até mesmo anos, mas serão reerguidos pela graça e pela presença de Deus.

 

D.    Derrotas efêmeras não nos destroem. Derrotados, mas não destruídos.” (2 Co 4.9)

 

Certamente teremos muitas derrotas, e muitas vezes seremos levados à lona pelos opositores, nos sentiremos esmagados e acreditando que não dará mais para se levantar. A Bíblia afirma: Porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.” (Pv 24.16)

 

Um dos relatos mais surpreendentes da Bíblia encontra-se em Apocalipse 11, que descreve as duas fiéis testemunhas martirizadas. Elas trazem a mensagem de Deus com fidelidade, mas são esmagadas pelo diabo.

 

Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará.” (Ap 11.7)

 

O diabo vence? Ninguém tem capacidade de lutar contra a besta? Se pararmos neste versículo ficaremos assustados. Mas na medida que avançamos, veremos a vitória do povo de Deus.

 

Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo.” (Ap 11.11).

 

O mal não prevalece! O povo de Deus segue vitorioso. A vitória da besta é relativizada. Injustiças serão desmascaradas, sistemas corruptos passarão, juízes corruptos serão julgados pela história. Perder a batalha não significa perder a guerra. A vitória é de Cristo e de sua igreja. Derrotas não nos destroem, não seremos jamais destruídos. “As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja.

 

3.     Precisamos começar o ano entendendo o grande diferencial dos discípulos de Cristo: a vida de Cristo em nós – Transcendência.  

 

O grande diferencial é a vida de Cristo em nós:

A.    Nossa suficiência vem de Deus – 2 Co 3.5

B.     Temos este tesouro em vasos de barro – 2 Co 4.7

C.    Tudo provém de Deus – 2 Co 5.18

 

A vida de Cristo em nós tem efeitos bem característicos:

A.    Novo conhecimento – 2 Co 4.11

B.     Novo Estilo de vida – 2 Ci 4.17

C.    Nova natureza – 2 Co 4.17

 

Aqueles que vivem em Cristo não estão condicionados às variações da vida,nem às circunstancias da historia, não à força injusta dos poderosos.

 

A vida cristã é marcada por transcendência.

 

Temos dois ângulos:

 

Historicidade – Aquilo que é tangível, concreto, humano. São os poderes constituídos, as circunstâncias esmagadoras, as tragédias humanas.

 

Transcendência – Aponta para a eternidade. Os fatos parecem corriqueiros, banais, o mal imperando, o aparente silêncio de Deus à nossa dor e orações. Mas como discípulos de Cristo sabemos que céus e terra estão intimamente ligados. Há Deus que governa a história. “Os céus dominam.” (Dn 2.21)

 

Qual o resultado da transcendência em nossas vidas? A resposta é gratidão! Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus.” (2 Co 4.15)

 

Olha o que afirma este texto bíblico: “Porque todas as coisas existem por amor de vós.” Isto inclui até mesmo o inesperado, a tribulação, o trágico, aquilo que não conseguimos equacionar.

 

Veja o que diz a Bíblia: “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (1 Ts 5.18). É necessário fazer uma distinção importante neste texto. Ele não diz “por tudo dai graças”, mas “em tudo dai graças.” O que precisamos observar?

 

O povo de Deus não é masoquista, que sente prazer na dor em si. A fé cristã não é do tipo Pollyana, romântica personagem de Eleanor H. Porter, que está sempre feliz, vive um otimismo ingênuo, nunca vê maldade em nada e acredita que nada existe de errado sempre achando que algo de bom acontecerá. O discípulo de Cristo não mascara a dor, sente desânimo, tristeza, dor. Não se trata de um comportamento de duas pessoas fumando maconha sem querer saber da correta perspectiva do que está acontecendo.

 

O discípulo de Cristo entende sim, que apesar da dor e da tribulação, mesmo que tudo esteja absolutamente fora do eixo, todas as coisas existem por amor de nós.” O discípulo se sente perplexo com a dor e a dura realidade. Não dá graças pela tragédia, pela enfermidade em si, pela morte em si, mas no meio da tragédia e de todas as lutas pode dar graças, porque sabe que, ainda que tudo esteja nublado e cinzento, há um Deus acima que tem o governo. Existe transcendência! Além da dureza da história e da dor, há um Deus. No Natal estivemos estudando Isaias 9 e a profecia bíblica afirma: “o governo está sobre seus ombros.”

 

Três coisas nos são ditas aqui sobre o poder da gratidão:

A.   A gratidão restaura a vida - “Todas as coisas existem por amor de vós.” É uma perspectiva poderosa. Posso não entender o que me acontece, nem ser capaz de explicar porque a dor veio de forma tão poderosa, mas o que me acontece tem na sua raiz, o amor de Deus.

 

B.    A gratidão contagia outros – “Para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos.” (2 Co 4.15) A gratidão vai levar muitas pessoas a darem louvores a Deus. Pessoas amarguradas não encorajam à adoração e gratidão, mas pessoas com a perspectiva transcendental, estimulam outros a verem a sobrenaturalidade em todas as coisas e glorificarem a Deus.

 

C.    Gratidão traz glória ao nome de Deus – “Para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus.” (2 Co 4.15)

 

Gratidão traz louvor a Deus. Murmuração é um movimento contra Deus! Afinal, por que estou amargurado e deprimido? Em última instância minha insatisfação não é contra a vida, contra a igreja, contra minha família, mas contra Deus que permite que eu passe por todas estas experiências. Meu ressentimento é contra Deus, que na minha concepção poderia me tratar com mais honra e deferência, afinal Ele deveria me dar uma vida melhor... Quando Moises foi pressionado pelo povo diante da murmuração, ele foi conversar com Deus e a resposta de Deus foi que a murmuração não era contra Moisés, mas contra Ele.

 

 

Conclusão

Ao pensarmos no ano que virá nada sabemos de suas surpresas, bençãos, alegrias e das dores e perdas pelas quais deveremos passar, mas algumas coisas precisam estar presentes em nosso coração:

 

Precisamos entender nossa fragilidade e vulnerabilidade

Precisamos nos fundamentar em quatro pilares irrefutáveis da vida cristã

 

Tribulações não podem nos transformar em seres angustiados

Perplexidades não podem nos dominar

Perseguições não podem nos deixar órfãos

Derrotas efêmeras não nos destroem.

 

Precisamos começar o ano entendendo o grande diferencial dos discípulos de Cristo: a vida de Cristo em nós – Transcendência, que gera gratidão.

 

A gratidão restaura a vida

A gratidão contagia outros

Gratidão traz glória ao nome de Deus