sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

2 Co 4.7 Como começar o Ano Novo?


 



 

 

Introdução

 

A expectativa do novo ano pode ser otimista ou negativista. Alguns acreditam que a mudança do ano, de uma forma mágica, trará uma série de revoluções positivas, por isto fazem votos, planejam mudanças, reorganizam sua agenda e cardápio, acreditando que algo inusitado vai acontecer com a mudança do calendário. Em geral, não demora muito para descobrir que tudo nada mais era que uma fantasia, e a vida retorna ao seu ciclo de normalidade. A dinâmica da vida simplesmente não muda.

 

Mais do que novos votos e resoluções, o que precisamos é entender algumas coisas que podem ajudar a nossa caminhada e nos tornar pessoas mais maduras espiritualmente. Este exercício é importante, afinal, precisamos aprender alguma coisa na medida em que envelhecemos

 

Neste texto, Paulo fala de alguns princípios que devem orientar a vida dos discípulos de Cristo. Na medida em que o lia, refletia sobre seu valor para o meu coração, e espero que também o seja para o seu. Ele fala de alguns valores fundamentais para nossa vida.

 

1.     Precisamos entender nossa fragilidade e vulnerabilidade - “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.” (2 Co 4.7)

 

Neste texto Paulo chama a atenção sobre a realidade de nossa natureza humana. Provavelmente Paulo estava se lembrando de como sua própria vida já se mostrara tantas vezes frágil. Ele via a sua vida como “um vaso de barro”. Você já considerou como um vaso de barro facilmente se despedaça?

 

Nossa vida é frágil.

2022 foi um ano de perdas muito significativas para minha vida. Perdi amigos preciosos. Gente que, como eu, tinha uma saúde estável, e de repente, de forma inesperada estavam lidando com grandes batalhas, visitas diárias a hospitais e remédios pesados.

 

A fragilidade nos torna humildes. Contemplamos nossa própria realidade.

A fragilidade nos torna humanos. Menos arrogantes, mais compreensivos, mais sensatos.

A fragilidade nos torna lúcidos. O autor de Eclesiastes afirma que é “melhor ir à casa do luto que na casa do banquete, porque naquela se vê o fim de todos os homens.”

 

Para começar bem o próximo ano, precisamos entender quão vulneráveis somos. Para não colocarmos nossa esperança na saúde que temos, nos bens que possuímos, ou nas conquistas que fazemos. A Bíblia afirma que a vida é como “um conto ligeiro”, ou “como um breve pensamento”, e ainda “como a relva que de madrugada viceja, à tarde murcha e seca.” E ainda completa: “A vida passa rapidamente e nós voamos.” Entender nossa vulnerabilidade nos tornará mais prudentes e sensatos, mais tementes a Deus.

 

2.     Precisamos nos fundamentar em quatro pilares irrefutáveis da vida cristã

 

Do vs 8-9 ele faz quatro paralelos colocando-os em oposição um ao outro:

 

A.    Tribulações não podem nos transformar em seres angustiados – Em tudo atribulados, porém não angustiados.” (2 Co 4.8)

 

Não raramente passamos por tribulações. Muitas vezes as tribulações parecem maiores do que podemos enfrentar. Nos sentimos destruídos, esmagados, acuados. A dor pode nos transformar em pessoas rudes e hostis, com dificuldade de rir e celebrar. Ela pode nos levar para o túmulo antes de morrer.

 

Por isto é que muitos, ao passarem pela tribulação, enterram sua vida na dolorida experiência de dor. Transformam o sofrimento em mero sofrimento e morrem junto com a dor. Isto pode acontecer na tragédia, na injustiça, e podemos nunca mais sair da angústia e ficarmos eternamente remoendo a dor. A dor deixa de ter sentido e torna-se mera dor. É dor pela dor. Não conseguimos ver qualquer sentido e nos amarguramos.

 

Paulo afirma que podemos ser atribulados, e isto certamente acontecerá, mas não podemos permitir que o sofrimento nos transforme em pessoas angustiadas. Ser dominado pela angústia rouba de nós a esperança e a alegria. Morremos em vida. Este não é o paradigma cristão.

 

B.     Perplexidades não podem nos dominar - Perplexos, porém não desanimados.” (2 Co 4.8).

 

Perplexidades são experiências não previstas, inusitadas, que nos tomam de assalto. São fatos surpreendentes, inesperados. Más notícias podem a qualquer momento, nos abater completamente e nos destruir emocionalmente. Paulo está afirmando que esta não pode ser a resposta de uma pessoa de fé diante do inesperado.

 

Discípulos e Cristo podem ter câncer, sofrer perdas financeiras, passar por dificuldades, separações, problemas de toda natureza. Apesar de tudo isto, Deus deseja que seus filhos demonstrem atitudes e reações diferentes: amor, alegria e paz que não poderão ser explicadas a não ser em termos daquilo que Deus tem feito em suas vidas.

 

C.    Perseguições não podem nos deixar órfãos – “Perseguidos, porém não desamparados.” (2 Co 4.9)

 

O senso de desemparo pode nos atingir de forma brutal. Em 2 Co 11.24-27 Paulo descreve a dura experiência de perseguição que ele enfrentou. Curiosamente ele faz questão de relatar a graça e o consolo que recebeu de Deus, nestes dias de grande oposição. Após relatar detalhadamente sua dor, ele descreve a experiência de arrebatamento espiritual (2 Co 12). A brutal oposição não o esmagou, mas o levou aos céus. Ele foi esmagado pelas perseguições, mas foi cuidado e visitado poderosamente pela presença gloriosa de Deus, permitindo que ele experimentasse antecipadamente da maravilhosa benção da glória por vir.

 

Perseguições não podem nos dar a sensação de desemparo e orfandade. Somos filhos amados de Deus. Não somos órfãos! Cristãos podem ser afligidos, mas não esmagados. Suas perplexidades poderiam levá-los ao desespero, podem ser afligidos por semanas e até mesmo anos, mas serão reerguidos pela graça e pela presença de Deus.

 

D.    Derrotas efêmeras não nos destroem. Derrotados, mas não destruídos.” (2 Co 4.9)

 

Certamente teremos muitas derrotas, e muitas vezes seremos levados à lona pelos opositores, nos sentiremos esmagados e acreditando que não dará mais para se levantar. A Bíblia afirma: Porque sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal.” (Pv 24.16)

 

Um dos relatos mais surpreendentes da Bíblia encontra-se em Apocalipse 11, que descreve as duas fiéis testemunhas martirizadas. Elas trazem a mensagem de Deus com fidelidade, mas são esmagadas pelo diabo.

 

Quando tiverem, então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará.” (Ap 11.7)

 

O diabo vence? Ninguém tem capacidade de lutar contra a besta? Se pararmos neste versículo ficaremos assustados. Mas na medida que avançamos, veremos a vitória do povo de Deus.

 

Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo.” (Ap 11.11).

 

O mal não prevalece! O povo de Deus segue vitorioso. A vitória da besta é relativizada. Injustiças serão desmascaradas, sistemas corruptos passarão, juízes corruptos serão julgados pela história. Perder a batalha não significa perder a guerra. A vitória é de Cristo e de sua igreja. Derrotas não nos destroem, não seremos jamais destruídos. “As portas do inferno não prevalecerão contra a igreja.

 

3.     Precisamos começar o ano entendendo o grande diferencial dos discípulos de Cristo: a vida de Cristo em nós – Transcendência.  

 

O grande diferencial é a vida de Cristo em nós:

A.    Nossa suficiência vem de Deus – 2 Co 3.5

B.     Temos este tesouro em vasos de barro – 2 Co 4.7

C.    Tudo provém de Deus – 2 Co 5.18

 

A vida de Cristo em nós tem efeitos bem característicos:

A.    Novo conhecimento – 2 Co 4.11

B.     Novo Estilo de vida – 2 Ci 4.17

C.    Nova natureza – 2 Co 4.17

 

Aqueles que vivem em Cristo não estão condicionados às variações da vida,nem às circunstancias da historia, não à força injusta dos poderosos.

 

A vida cristã é marcada por transcendência.

 

Temos dois ângulos:

 

Historicidade – Aquilo que é tangível, concreto, humano. São os poderes constituídos, as circunstâncias esmagadoras, as tragédias humanas.

 

Transcendência – Aponta para a eternidade. Os fatos parecem corriqueiros, banais, o mal imperando, o aparente silêncio de Deus à nossa dor e orações. Mas como discípulos de Cristo sabemos que céus e terra estão intimamente ligados. Há Deus que governa a história. “Os céus dominam.” (Dn 2.21)

 

Qual o resultado da transcendência em nossas vidas? A resposta é gratidão! Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus.” (2 Co 4.15)

 

Olha o que afirma este texto bíblico: “Porque todas as coisas existem por amor de vós.” Isto inclui até mesmo o inesperado, a tribulação, o trágico, aquilo que não conseguimos equacionar.

 

Veja o que diz a Bíblia: “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” (1 Ts 5.18). É necessário fazer uma distinção importante neste texto. Ele não diz “por tudo dai graças”, mas “em tudo dai graças.” O que precisamos observar?

 

O povo de Deus não é masoquista, que sente prazer na dor em si. A fé cristã não é do tipo Pollyana, romântica personagem de Eleanor H. Porter, que está sempre feliz, vive um otimismo ingênuo, nunca vê maldade em nada e acredita que nada existe de errado sempre achando que algo de bom acontecerá. O discípulo de Cristo não mascara a dor, sente desânimo, tristeza, dor. Não se trata de um comportamento de duas pessoas fumando maconha sem querer saber da correta perspectiva do que está acontecendo.

 

O discípulo de Cristo entende sim, que apesar da dor e da tribulação, mesmo que tudo esteja absolutamente fora do eixo, todas as coisas existem por amor de nós.” O discípulo se sente perplexo com a dor e a dura realidade. Não dá graças pela tragédia, pela enfermidade em si, pela morte em si, mas no meio da tragédia e de todas as lutas pode dar graças, porque sabe que, ainda que tudo esteja nublado e cinzento, há um Deus acima que tem o governo. Existe transcendência! Além da dureza da história e da dor, há um Deus. No Natal estivemos estudando Isaias 9 e a profecia bíblica afirma: “o governo está sobre seus ombros.”

 

Três coisas nos são ditas aqui sobre o poder da gratidão:

A.   A gratidão restaura a vida - “Todas as coisas existem por amor de vós.” É uma perspectiva poderosa. Posso não entender o que me acontece, nem ser capaz de explicar porque a dor veio de forma tão poderosa, mas o que me acontece tem na sua raiz, o amor de Deus.

 

B.    A gratidão contagia outros – “Para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos.” (2 Co 4.15) A gratidão vai levar muitas pessoas a darem louvores a Deus. Pessoas amarguradas não encorajam à adoração e gratidão, mas pessoas com a perspectiva transcendental, estimulam outros a verem a sobrenaturalidade em todas as coisas e glorificarem a Deus.

 

C.    Gratidão traz glória ao nome de Deus – “Para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus.” (2 Co 4.15)

 

Gratidão traz louvor a Deus. Murmuração é um movimento contra Deus! Afinal, por que estou amargurado e deprimido? Em última instância minha insatisfação não é contra a vida, contra a igreja, contra minha família, mas contra Deus que permite que eu passe por todas estas experiências. Meu ressentimento é contra Deus, que na minha concepção poderia me tratar com mais honra e deferência, afinal Ele deveria me dar uma vida melhor... Quando Moises foi pressionado pelo povo diante da murmuração, ele foi conversar com Deus e a resposta de Deus foi que a murmuração não era contra Moisés, mas contra Ele.

 

 

Conclusão

Ao pensarmos no ano que virá nada sabemos de suas surpresas, bençãos, alegrias e das dores e perdas pelas quais deveremos passar, mas algumas coisas precisam estar presentes em nosso coração:

 

Precisamos entender nossa fragilidade e vulnerabilidade

Precisamos nos fundamentar em quatro pilares irrefutáveis da vida cristã

 

Tribulações não podem nos transformar em seres angustiados

Perplexidades não podem nos dominar

Perseguições não podem nos deixar órfãos

Derrotas efêmeras não nos destroem.

 

Precisamos começar o ano entendendo o grande diferencial dos discípulos de Cristo: a vida de Cristo em nós – Transcendência, que gera gratidão.

 

A gratidão restaura a vida

A gratidão contagia outros

Gratidão traz glória ao nome de Deus

 

 

 

 


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