domingo, 27 de junho de 2021

Sl 10 O Deus “Ausente”

 



Introdução

 

A maioria dos salmos são orações. Orações em forma de canto. Eles revelam a realidade que cada um está experimentando. Na maioria dos textos bíblicos Deus fala conosco, mas no Livro de Salmos, nós falamos com Deus. Por esta razão, você encontrará salmos de louvor e alegria, salmos de júbilo (alegria intensa), mas encontrará pessoas deprimidas pelo caminho, gente que ama a Deus mas está vivendo tempos de dor, solidão, ameaças, medos. Na verdade, 64 dos 150 salmos são chamados “salmos de lamento”. Neles encontraremos pessoas derramando sua alma, amargura, e eventualmente até “brigando” com Deus, por não conseguir entender o seu mistério e sua forma de agir.

 

O Salmo 10 revela um homem de Deus que considera Deus longe demais. Deus parece ausente, ou no mínimo “escondido”, não quer aparecer. Por isto é um salmo inquieto e começa questionando a Deus: “Por que Senhor, te conservas longe e te escondes nas horas da tribulação?” (Sl10.1).

 

O problema central do texto: Deus parece ausente!

 

A “ausência de Deus” na história tem alguns efeitos:

 

A.   Faz com que os ímpios construam uma ética insensível e desumana.

 

Antes de mais nada, gostaria de pensar na palavra “ímpio”.

 

Quando ouvimos o termo “ímpio” em geral pensamos que se trata de alguém mal, perverso. E quase sempre a impiedade desemboca na maldade. Por isto a Bíblia afirma que “A ira de Deus se revela do céu contra impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). A associação entre impiedade e perversão não é de todo equivocada. Entretanto, o termo ímpio significa literalmente “o não pio”, a pessoa “não devota”. Alguém que ignora a realidade de Deus ou não considera Deus em sua vida.

 

Um “ímpio”, não sente necessidade das coisas espirituais. Na verdade, as coisas eternas parecem sem sentido, sem propósito. Deus é algo muito distante. Para ele, não faz sentido ir à igreja, adorar a Deus, orar, cantar louvores. Você não verá um ímpio ajoelhado a não ser por “motivos políticos”. Fazem isto apenas para conseguir votos. Um ímpio nunca contribuirá para a obra missionária, ele não trará ofertas a não ser com segundas intenções, porque contribuir para as coisas de Deus, lhe parece um deboche. Ele não se ajoelha, ele não ora, ele não busca a Palavra de Deus para encontrar direção para sua vida, ele não se curva diante de Deus. O Salmista afirma no Salmo 14.1: “Diz o ímpio em seu coração. Não há Deus!”

 

Portanto, o problema do ímpio está diretamente relacionado à Deus. A maldade e perversidade podem facilmente resultar disto, porque “se não há Deus, todas as coisas são permitidas”. Não havendo absolutos, não há verdades (apenas narrativas).

 

Muitas vezes, porém, a pessoa é “ímpia”, não se preocupa nem se interessa pelas coisas de Deus, mas é uma pessoa moralmente “boa”, você encontrará muitos que são bons pais, corretos nos seus negócios, sua ética é boa, mas ainda assim sua visão das coisas espirituais é escura ou parda. Assim é que você pode encontrar amigos, colegas de trabalho, que possuem uma boa ética, mas que não se interessam pelas coisas espirituais. São secularizados. Não acreditam seriamente nas coisas de Deus.

 

Certamente a impiedade sempre impacta a ética. Pessoas tementes a Deus procuram fazer as coisas pesando suas consequências diante do juízo de Deus. Por isto a Bíblia afirma que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. As coisas eternas impactam a ética que adotamos. O salmista vai demonstrar isto aqui neste texto:

 

Com arrogância os ímpios perseguem o pobre;

sejam presas das tramas que urdiram.

Pois o perverso se glória na cobiça de sua alma

O avarento maldiz o Senhor e blasfema contra ele” (Sl 10.2-3)

 

A impiedade atinge de forma direta os grupos vulneráveis. Por não considerarem Deus em seus caminhos, a forma como lidam com o dinheiro torna-se uma adoração, são insensíveis com os menos favorecidos, são cobiçosos e tem gana contra os pobres. Tudo isto acontece porque ele maldiz a Deus. A ausência de Deus, desemboca numa ética esvaziada. O salmista cita o pobre, que fazia parte dos três grupos mais vulneráveis da Bíblia, entre eles o estrangeiro e as viúvas.

 

A ausência de Deus, permite que os ímpios construam uma ética insensível e desumana. Ética tem a ver com teologia, cosmovisão, visão de mundo, de Deus, das coisas eternas. Os homens se parecem com seus deuses. Um Deus misericordioso e bondoso conduz os homens a uma ética misericordiosa e carregada de bondade.

 

B.    A aparente ausência de Deus leva os homens a lidarem de forma errada com o dinheiro e a desprezarem as coisas sobrenaturais.

 

Veja o que diz o vs. 3: “O avarento maldiz o Senhor e blasfema contra ele”.

 

A relação do homem com o dinheiro leva o homem a desprezar e desconsiderar Deus. O avarento é alguém que lida com o dinheiro de forma equivocada, ele vê no dinheiro a sua segurança, por isto nunca é generoso. O dinheiro leva o homem a blasfemar contra Deus.

 

Blasfêmia não é crime. É pecado!

Você não será julgado em um tribunal por blasfêmia (a não ser que esteja em um país que possui uma religião oficial, como países muçulmanos). Blasfêmia, não tem a ver com os homens, tem a ver com Deus. Trata-se de um termo espiritual.

 

Por isto o versículo 4 afirma: “o perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações”.

 

O perverso destrói a ideia de Deus. “Deus está morto!” Não é isto que a filosofia contemporânea tenta inculcar na mente dos jovens? Não há Deus! Esta filosofia é chamada também de nihilismoque vem do latim, nihilnada. O texto fala de “cogitações” que são formulações mentais. Na estrutura do pensamento secular, não há Deus.

 

O salmista entende que os ímpios florescem porque não sofrem o juízo imediato de Deus por seus atos. Deus está “ausente” e não se pronuncia, não se manifesta.

 

Vs. 5: “são prósperos os seus caminhos em todo tempo;

Muito acima e longe dele estão os teus juízos.”

 

Para o salmista, esta “ausência” divina, este silêncio de Deus, esta distância do eterno é a causa da atitude destes homens.

“Por que Senhor, te conservas longe?”

 

A visão do salmista tem uma semelhança com a conhecida frase de Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

 

Outro aspecto que o salmista descreve é o fato de que o ímpio se baseia numa falsa de que não há juízo moral no universo.

 

“Deus se esqueceu

virou o rosto e não verá isto nunca”. (Sl 10.11)

 

Esta foi a sugestão que Satanás fez a Eva ainda no Éden: “É certo que não morrereis”. Nada vai acontecer. Pode pecar que não há juízo. Esta ideia de que falta juízo moral ao universo, leva o homem sem temor a Deus, viver sua vida despreocupada.

 

O salmista vê tal situação com temor. Este é o tema central de sua oração. “Por que, Senhor, te conservas longe?”. Então ele ora para que Deus aja.

 

Vários homens de Deus tiveram crises semelhantes:

 

§   – “Como é, pois, que vivem os perversos, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos? Seus filhos se estabelecem na sua presença; e os seus descendentes, ante seus olhos. As suas casas têm paz, sem temor, e a vara de Deus não os fustiga. O seu touro gera e não falha, suas novilhas têm a cria e não abortam. Deixam correr suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos saltam de alegria; cantam com tamboril e harpa e alegram-se ao som da flauta. Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura. E são estes os que disseram a Deus: Retira-te de nós! Não desejamos conhecer os teus caminhos. Que é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações?” (Jó 21.7-15).

 

§  Asafe – “E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo? Eis que são estes os ímpios; e, sempre tranquilos, aumentam suas riquezas. Com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência.” (Sl 73.11-13).

 

§  Habacuque - “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida (...) Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1.2,3,13)

 

Talvez você também tenha crise semelhante. Afinal, onde está Deus? Ele julga os fatos da história? Ele vê o que acontece? Nos dias do profeta Malaquias, o povo de Deus também estava dizendo isto. Veja qual foi a resposta de Deus:

 

As vossas palavras foram duras para mim, diz o Senhor; mas vós dizeis: Que temos falado contra ti? Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos e em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos? Ora, pois, nós reputamos por felizes os soberbos; também os que cometem impiedade prosperam, sim, eles tentam ao Senhor e escapam. Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve.” (Ml 3.13-18)


A oração do salmista.

 

No vs 12 ele diz: “levanta-te Senhor, ergue a tua mão”

 

É o anseio por justiça, pela intervenção de Deus. “Não te esqueças dos pobres”. Ele pede a Deus para que olhe para aqueles que são menos favorecidos. Os pobres, as viúvas e os estrangeiros são considerados no Antigo Testamento como os grupos mais vulneráveis.

 

Por que o salmista deseja estas coisas de forma tão veemente?

 

A.   Porque Deus é o defensor dos pobres. Ele é o defensor daquele que não tem voz, daquele que não tem ninguém do seu lado, do marginalizado.

 

B.    Por causa de seus atributos. Deus é eterno – vs. 16. Por que o salmista não descreve Deus neste texto com outro atributo como “Todo-poderoso?”, mas eterno? A impressão que temos é que todos os poderosos, ou que se julgam dono do poder, são transitórios, e é necessário deixar claro que apenas Deus é eterno. A glória humana é passageira.

 

C.    Porque Deus ouve o clamor dos que sofrem. Vs. 17 A Bíblia afirma que Deus ouve, não apenas as orações, mas o clamor do que sofre, a dor dos esquecidos. Quando Deus envia Moisés com a tarefa de libertar o povo da opressão do egípcio ele afirma: “Ouvi o clamor deste povo”. Ele não diz, ouvi a oração deste povo, mas sua agonia e dor. Clamores, violência, chegam ao trono de Deus.

 

D.   Deus é o Deus da justiça – vs. 18

A fim de que o homem que é da terra, já não infunda terror”. Vs 18. A frase “o homem que é da terra é um contraste com a eternidade de Deus.

A história do homem é breve:

·       Como um conto ligeiro

·       Como um breve pensamento

·       Com a erva da manhã que cedo passa...

 

Toda esta arrogância se transformará em pó em pouco tempo. Os arrogantes passam, os poderosos passam. Você se lembra do ditador Iraquiano Saddam Hussein que arrotava arrogância e foi encontrado fugindo, passando seus últimos dias dentro de um buraco na terra num esconderijo improvisado? Lembra-se de Hitler, um homem que atormentou o mundo com sua megalomania? Onde foi parar? Vendo-se acuado cometeu suicídio. Sua morte se deu em 30 de abril de 1945 em seu Führerbunker em Berlim, onde se matou. O que foi feito dos poderosos, homens que regiam o mundo com mão de ferro, reinavam absolutos, onde foram parar? Assim será com todos os homens. O homem é da terra, transitório, passageiro. Veio da terra e à terra tornará.

 

Como se responde ao silêncio de Deus?

 

A.   Deus está conduzindo a história e executando seus planos de acordo com sua soberana vontade e poder.

 

Deus nunca deixa de ser manifestar na história, ainda que tantas vezes seja tão difícil perceber. A história segue seu plano. Seu silêncio também faz parte de seus planos. Ele nunca deixou de cumprir suas profecias, e a história segue para o plano que ele mesmo desenhou. Não há força politica ou espiritual que possa deter o seu plano.

 

Então, não se assuste com o aparente silêncio de Deus. Uma boa pergunta nestas horas é indagar: “O que o Senhor está querendo fazer, neste exato momento de minha vida ou da tua igreja?”

 

Esta foi uma pergunta que tive que fazer durante este ano de pandemia. Eu tenho a impressão de que ao permitir que tudo isto acontecesse, Deus está preparando algo grandioso. Por que Deus “fechou” as igrejas? Minha impressão é que este tempo Deus está levando a igreja a ter uma perspectiva mais ampla das oportunidades. Quem sabe seja isto que aprendemos? A usar mais a mídia para tornar conhecido o evangelho a todo mundo, como ele ordenou a sua igreja? A internet quebrou as fronteiras. O evangelho tem chegado a diferentes lugares e a pessoas que jamais alcançaríamos nos cultos nos templos...

 

B.    Há uma dinâmica interessante no Salmo 10.

 

 O vs 12 afirma: “Levanta-te, Senhor, ó Deus, ergue a mão”

 

O silêncio de Deus impulsiona o povo a orar. O salmista clama a Deus. “Levanta-te Senhor!”.

 

Na dinâmica da história, uma das forças descritas pelo livro de Apocalipse são as orações daqueles que morrem por sua fé e estão dispostos a se sacrificar por Jesus. Em Apocalipse 6 vemos as principais forças agindo:

 

è O cavalo preto: Economia

è O cavalo vermelho: A guerra

è O cavalo amarelo: A peste (estamos exatamente experimentando sua força nestes dias com a pandemia do Covid-19). Como temos sentido sua força...

è O cavalo branco: Jesus. Que se move entre estes cavalos, trazendo sua graça e cura.

 

Mas se olharmos mais cuidadosamente, veremos ainda mais cuidadosamente a presença da oração dos mártires. Outra poderosa força na história. A oração está no centro do propósito de Deus.

 

A oração é fundamental no propósito divino.

E o que vemos no Salmo 10. Diante do caos, da opressão, o salmista se torna ousado e intrépido em suas orações: “Levanta-te Senhor!” O silêncio e a ausência de Deus na história o leva a orar, a buscar resposta de Deus.

 

C.    Apesar do silêncio de Deus, o salmista ora.

 

Por que ele clama se Deus parece surdo? Se Deus se mostra distante, dando impressão de ausência?

 

Porque ele sabe que não há como lidar com as contradições da vida (instabilidade, injustiça), se não for na direção de Deus, onde podemos encontrar estabilidade.

 

O que o salmista fala de Deus? Ele é eterno! Ele não sofre a influência do tempo e dos homens. Eternidade dá a ideia de estabilidade, em oposição à transitoriedade. Porque ele é eterno, podemos olhar com confiança para seu caráter.

 

Conclusão:

vendo as coisas na perspectiva da cruz.

 

Por último, toda hermenêutica bíblica precisa ser visto na ótica de Cristo e do calvário. Quando olhamos para a cruz...fracasso. Há algum lugar onde Deus se encontra mais distante que na cruz?

 

Naquele lugar vemos o silêncio de Deus.

Naquele lugar está presente o abandono de Deus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes”.

 

Ali vemos a vitória dos arrogantes. A injustiça na sua dimensão mais absurda, a vergonha e a dor estampada. Onde está Deus?

Naquela cruz está Jesus. O homem que curava, abençoava, vivia fazendo o bem e terminando seus dias de forma patética.

 

O Salmo 10.1 não se aplica exatamente à experiência de Jesus?

Por que Senhor, te conservas longe e te escondes nas horas da tribulação?” (Sl10.1).

 

A cruz é didática!

No lugar dos paradoxos, vemos a glória de Deus de forma presente.

A cruz não é fracasso. A cruz é vitória!

A cruz não é derrota nem ausência, é lugar da presença de Deus.

 

Um antigo hino diz: “Sim, eu amo a mensagem da cruz, até morrer eu a vou proclamara. Pois um dia, em sinal de uma cruz, a coroa Jesus me dará.”

 

Sua dor hoje pode ser oportunidade de Deus manifestar sua glória. No silêncio de Deus há uma profunda manifestação da bondade de Deus.

 

 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

2 Cr 29.1-11 Filhos, NÃO imitem seus pais

 




Filhos, não imitem seus pais

2 Cr 29.1-11

 

Introdução

 

Parece um contrassenso falar deste tema, nós que, a partir das Escrituras Sagradas aprendemos coisas tão importantes quanto “filhos, obedecem a vossos pais no Senhor, pois isto é justo” (Ef 6.1), e “honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem e sejas de longa vida sobre a terra” (Ef 6.2-3), que é o quinto mandamento, e o único que vem acompanhado de promessa: Honrem... para que... te vá bem!...

 

Hoje, porém, numa aparente contradição, enunciamos o sermão com o titulo: “filhos, não imitem seus pais”, baseado neste texto de 2 Cr 29.6-7, que diz: “Nossos antepassados erraram e viveram em peado diante do Eterno, e o abandonaram. Fecharam as portas e apagaram as lâmpadas e cancelaram todos os sacrifícios e ofertas queimadas no santuário do Deus de Israel.”

 

O que podemos observar neste texto?

 

Ezequias começou a reinar com 25 anos de idade, e foi um dos mais zelosos e piedosos reis de Judá. Mas isto não foi verdade em relação a seu pai. A Bíblia afirma que Acaz saqueou o templo de Jerusalém doando-o em parcerias políticas com a Assíria, e não satisfeito, despedaçou os símbolos restantes que ainda restaram, e fechou o templo. Por cerca de 15 anos, não houve culto em Jerusalém, porque ele transformou o templo numa latrina e abandono, daí a razão pela qual ele ordena no vs. 5: “tirai do santuário a imundícia”.

 

Quando Ezequias começou a reinar, ele tinha um desejo profundo em restabelecer a centralidade de Yahweh, o Deus de Israel, em Jerusalém. Primeiro ato dele, no “primeiro ano do seu reinado, no primeiro mês”, foi reunir a liderança política e religiosa e falar daquilo que lhe parecia central. A importância de colocar Deus no centro do reinado de Israel.

 

Podemos perceber no texto uma forte influência espiritual de sua mãe, Abia, que era filha de um piedoso sacerdote chamado Zacarias. Veja como é importante a figura materna na formação espiritual dos filhos.

 

O que afirma Ezequias: Não faremos como nossos pais! Não podemos fazer como eles e por isto hoje rompemos com o desprezo contra o Deus das alianças, o Deus bíblico, e não podemos mais segui-los, nem imitá-los. “Nossos pais prevaricaram e fizeram o que era mau perante o Senhor”. Não podemos imitá-los. Precisamos assumir um compromisso diferente diante de Deus.

 

Em geral, falamos dos pecados da juventude, mas raras vezes consideramos o pecados dos pais. Embora reconheçamos a benção e a importância dos pais em nossas vidas, na formação de nosso caráter, temos que reconhecer que não devemos imitar seus comportamentos, quando rebeldes, abandonam a presença de Deus.

 

Ezequias detecta as atitudes da geração anterior, e que os filhos deveriam abandonar

Nossos pais prevaricaram. A NVI traduz: “Nossos pais foram infiéis”. Prevaricar significa Deixar de cumprir uma obrigação, um dever. Trair, por interesse ou má-fé, os deveres do seu cargo ou ministério ou abusar do exercício do cargo, corromper, transviar.

 

Temos aqui uma situação curiosa: filhos estão julgando as ações dos pais, e as recriminando. Ezequias afirma que não poderiam imitar seus pais por causa de tudo que haviam feito diante de Deus.

 

§  Nossos pais fizeram o que é mau perante o Senhor...

 

§  Nossos pais deixaram o Senhor. Neste caso, era apostasia mesmo. Deus foi esquecido por a geração anterior. Ezequias afirma que eles haviam virado o rosto contra ao Senhor. Uma atitude de desrespeito.

 

§  Nossos pais desviaram o seu rosto do tabernáculo do Senhor. Os pais deixaram de vir ao templo, de participar dos cultos. Seja por preguiça espiritual, seja por frieza. Será que a realidade tem sido muito diferente em nossos dias?

 

Seus pais haviam extinguido a ideia de Deus em Israel: fecharam o templo, ignoraram o culto público, deixaram de oferecer holocaustos (2 Cr 29.7). Não traziam mais ofertas para o santuário, nem comprometiam seus recursos financeiros com o culto a Deus. Será que o povo de Deus entende a importância de seus recursos para a obra do Senhor?

 

O resultado espiritual foi uma tragédia.

Pelo que veio grande ira do Senhor sobre Judá e Jerusalém, e os entregou ao terror, ao espanto e aos assobios, como vós o estais vendo com os próprios olhos.” (2 Cr 29.8).

 

Por isto a mensagem central aqui é: “Não imitem seus pais”.

 

Quando filhos não podem imitar seus pais?

 

1.     Não os imitem quando sua ética for incompatível com o caráter de Deus.

 

Ezequias viu como o seu pai agia. Sua reação infantilizada diante de ameaças. Ele não consultava a Deus, apenas fazia arranjos políticos para salvar sua pele, Ora mandando mensageiros a determinados reis, ora a outros. Mas a consequência do desprezo a Deus trouxe graves consequências sociais para seu povo.

 

Ezequias entendia, ainda que fosse tão jovem, que sua ética não poderia ser diferente da ética da Palavra de Deus que estava tão claramente exposta no livro da Lei.

 

Quando filhos adotam a ética pecaminosa dos pais, o efeito é uma tragédia. Pense em Jacó. Ele recebeu a ordem de sua mãe para enganar o seu pai. Ele sabia que aquilo que não era certo, mas sua mãe o incitava a fazer. Ele disse à sua mãe que não poderia trair o seu pai, porque se tratava de algo sagrado. Ainda assim, mesmo sabendo que sua mãe estava errada, não teve coragem suficiente para se firmar na verdade e na integridade. E cedeu à pressão de sua mãe.

 

Infelizmente queremos nos opor a nossos pais, não nas coisas que são santas e tem a ver com o caráter de Deus, mas naquilo que nos agrada. Então, brigamos com nossos pais, para fazermos o que é errado. Você alguma vez já se opôs a seu pai e sua mãe por causa de Deus? Por que você gostaria de agradar a Deus?

 

Muitas vezes a cultura familiar é carregada de atitudes e comportamentos que contrariam a Deus, e nestas horas, como filhos tementes a Deus, devemos viver para a glória de Deus.

 

2.     Não os imitem seus pais quando eles se afastarem da casa de Deus, e das causas do reino de Deus.

 

O pai de Ezequias, se tornou um opositor de Deus. Ele não trazia oferendas a Deus, nem prestava cultos a Deus. Ele dizia que as coisas de Deus não eram importantes, e por isto não levava holocaustos a Deus.

 

Sempre fico pensando no significado dos sacrifícios e holocaustos. Vocês já pensaram quanto custava trazer tais sacrifícios para a casa de Deus? Basta considerar isto. Quanto custa um novilho gordo hoje? Quando Jó oferecia sacrifícios pela sua família, ele tinha dez filhos, além dele mesmo e de sua esposa. Ele oferecia sacrifícios individuais para cada um deles. Não tenho muita noção do preço do boi gordo, mas deve custar algo em torno de R$ 3.500,00, não é mesmo? Multiplique isto por doze? Estamos falando de algo em torno de 45 mil reais.

 

Existem pais que nunca fazem ofertas para a casa de Deus, e nunca contribuem para a obra de Deus. Eles não querem trazer oferendas a Deus. Assim foram os pais nos dias de Ezequias: “Não queimaram incensos, nem ofereceram holocaustos” (2 Cr 29.7). Seus bens não estavam a serviço de Deus,  e nem era usados para cultuar a Deus. Se é este o seu caso, quero exortá-lo a aprender a colocar seus bens para a obra do Senhor. Ofertas e dinheiro, são coisas espirituais. As ofertas daquele tempo iam desde ofertas pacificas até holocaustos pelos pecados.

 

Se seus pais agem assim: Não os imitem!!!

 

3. Não os imitem quando o comportamento deles for hostil à glória de Deus.

 

Ezequias viu isto em seu pai. Nos seus levantes, trazendo deuses importados de Damasco, quebrando os altares o Deus de Israel, menosprezando o culto e fechando a igreja. Por isto, seu primeiro ato, no primeiro mês de reinado foi reabrir o templo que seu pai havia fechado. Ezequias era um jovem que amava a Deus. Ele retorna suas atividades cúlticas.

 

Normalmente os filhos querem contrariar os pais, fazendo aquilo que lhes agrada, e não o que agrada a Deus. Mas Ezequias quer fazer aquilo que agrada a Deus. A ordem do rei era: “Santificai-vos agora, e santificai a casa do Senhor”(2 Cr 29.5). Observe como a palavra “santificação”, fica em evidência. “Santificai-vos”, é uma ordem para um compromisso pessoal de vida. “Santificai a casa do Senhor”, é uma conclamação para um compromisso com o reino de Deus. Com a igreja, com a obra do Senhor.

 

Conclusão:

A obra de Cristo.

Em 1 Pe 1.18-19 lemos: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.


Os antepassados não foram infalíveis, A Palavra de Deus nos afirma que  herdamos um “fútil procedimento”. Comportamentos e atitudes vazias. Apenas a Palavra de Deus é eterna e não passa, tudo o mais passará.

 

O que nossos pais nos legaram? Temos coisas boas, heranças positivas, mas junto veio a futilidade, hábitos arraigados e pecaminosos de culturas que passam de geração a geração. Pode ser uma ética frouxa no mundo dos negócios, pode ser um legado de infidelidade na área sexual, pode ser uma fé descompromissada, superficial e meramente ritualista, pode ser o descompromisso com a igreja de Deus, com a obra de Deus e com o Deus da obra.

 

O que Cristo veio fazer?

Ele veio nos resgatar antes de mais nada, do fútil procedimento que nós mesmos construímos, já que ele fala do “vosso fútil procedimento”. Existe uma futilidade na forma como vemos a vida, nas coisas que amamos e desejamos, na vaidade que cultivamos, no orgulho e arrogância com que enfrentamos todas as coisas, nas existe também uma futilidade hereditária e cultural. Temos modelos neuróticos  e pecaminosos que são cultivados e que vem conosco na nossa construção de vida. É preciso haver uma quebra.

 

Jesus veio fazer isto. Ele veio nos resgatar do fútil procedimento que nossos pais nos legaram. Estas coisas andam conosco, tendemos a reproduzi-las e imitá-las.

 

Portanto, não imitem seus pais quando:

ü  Não os imitem quando sua ética for incompatível com o caráter de Deus.

 

ü  Não os imitem seus pais quando eles se afastarem da casa de Deus, e das causas do reino de Deus.

 

ü  Não os imitem quando o comportamento deles for hostil à glória de Deus.

 

Se seus pais agem assim: Não os imitem!!!