quarta-feira, 20 de maio de 2015

2 Sm 11 Imperfeitamente crente



Introdução: 
A vida de Davi é marcada por bom senso, equilíbrio, coerência e obediência. Por isto foi chamado de “Um homem segundo o coração de Deus”. No entanto, quando lemos atentamente a sua história entendemos que “o homem segundo o coração de Deus” é imperfeito. A Bíblia não tem nenhuma dificuldade de mostrar as sombras de sua alma, porque ela não se preocupa em criar heróis e nem em proteger a reputação de quem quer que seja. O homem Davi deixa brechas por onde passa, eventualmente é caprichoso, vingativo e vaidoso nas suas decisões, e a Bíblia não está interessada em mostrar homens sem falhas, mas em revelar o Deus amoroso e gracioso.
Um exemplo típico se dá logo após o chamado de Abraão em Gn 12. Deus faz promessas quanto à sua posteridade, apesar da desconfiança que Abraão expressa diante das circunstâncias reais relacionadas à sua vitalidade e à de sua esposa, mas Deus afirma que faria dele e Sara, uma numerosa sua descendência. No mesmo capítulo, porém, o texto nos revela um Abraão pusilânime e inseguro. Sua primeira atitude após as promessas foi entregar sua mulher a Faraó, movido pela atitude mesquinha de proteger a pele. No capítulo 15, Deus ratifica sua promessa, inclusive fazendo uma aliança de sangue, mas no capítulo 16, Abraão expulsa de sua casa a escrava Agar, com seu filho de colo, que certamente morreria no deserto, não fosse a intervenção miraculosa e sobrenatural de Deus. A Bíblia não oculta a fraqueza dos homens, mas procura demonstrar que neles opera sua graça suficiente.
Assim vemos os relatos bíblicos sobre a vida de Davi. Sua carreira segue uma trajetória ascensional até o 2 Livro de Samuel, quando toda sua força, unção, sensibilidade e mística se revelam frágeis demais.

Quais aspectos revelam esta fragilidade?

1. A zona do conforto ( 2 Sm 11.1)
O texto afirma que era tempo de guerra, mas Davi enviou seu comandante e ficou na cidade. Em dias de guerra, a cidade ficava deserta, com mulheres, crianças e alguns comerciantes idosos, que não tinham muita coisa para fazer. A cidade parecia dia de feriado, sem muito movimento, as atividades diárias se reduziam drasticamente.
Numa tarde, o rei estava no terraço, depois de se levantar da cama... Não havia desafios, o palácio estava calmo, mas o coração de Davi estava desassossegado, e é nesta zona de conforto que o desastre acontece.
Andando pelo terraço, vê uma linda mulher tomando banho, e isto o atrai cegamente. Manda buscar esta mulher, cujo marido encontrava-se na guerra, e depois de algum tempo de conversa, um bom vinho e risadas de sedução, estão envolvidos num relacionamento sexual. Tudo se passou meio escondido no palácio, mas as paredes tem ouvidos – e Deus vê o que acontece por detrás das portas. Davi é pego. 
Assim como Davi, somos uma geração consumista que não gosta de nada que gere desconforto. Queremos satisfazer necessidades imediatas, agimos por impulso de forma hedonista e existencialista: Busca pelo prazer de forma rápida. Gostamos de coisas boas, carros e casas cada vez mais luxuosos e fácil acesso a bens de consumo. Certa piada diz que as mulheres detestam baratas e adoram carinho. Não gostam de roupas baratas, viagens baratas, comida barata, e apreciam restaurantes carinhos, carros carinhos, hotéis carinhos. 
Esta busca pelo bem estar, entretenimento e lazer pode cobrar caro, podemos nos descuidar nesta zona de conforto quando deveríamos estar lutando. Ficamos no palácio, no terraço, com a mente vazia, espreguiçando, e como Davi, temos de tudo, mas falta-nos desafios. Nossa cabeça cheia de lascívia, pessimismo, depressão e descontentamento. Queremos o que não temos. Ficamos horas na internet, lendo e relendo páginas, com nossa mente vazia de sentido e de Deus. 
Foi exatamente neste momento que a tentação veio forte sobre Davi. 
Acredito que a grande tentação numa determinada fase da vida é o conforto, quando não temos grandes sonhos e nem achamos muitas razões para ir à luta. Desta forma paramos de orar, de buscar o Senhor, de aceitar desafios espirituais e ficamos com nossa mente vazia, abertos às sugestões, propostas e ofertas do diabo. 
Certo presbítero cuja igreja enfrentara muitas lutas com disputas pastorais e divisões, fez o seguinte comentário: “Estamos cansados de lutar. Não queremos novos desafios, nem novas ideias, queremos apenas o básico, queremos sossego e paz. Estamos cansados...”. Outro casal se envolveu com minha esposa no trabalho de adolescentes, depois de algumas semanas, desapareceu e não mais apoiava o trabalho. Ele confessou que desde que começara a dar suporte para este trabalho, sua vida estava um inferno e os problemas se acumularam. E completou: “Minha vida está tão boa... porque preciso de desafios?”
É exatamente nesta zona de conforto que corremos sérios riscos.
Pv 14.4 afirma: “Não havendo bois, o celeiro fica limpo, mas pelo mexer dos bois há abundância de cereal”. Você pode não ter trabalho, mas também não vai ter colheita. Uma vida sem oração pode ser tranqüila, mas perigosa. Enterrar os talentos pode ser muito atraente, mas não dá frutos e não recebe a aprovação do dono da seara. 
Clarice Lispector fala de um determinado personagem da seguinte forma: "O hábito tem-lhe amortecido as quedas, mas sentindo menos dor, perdeu a vantagem da dor como aviso e sintoma. Hoje em dia vive incomparavelmente mais sereno, porém em grande perigo de vida; pode estar a um passo de estar morrendo, a um passo de já ter morrido, e sem o beneficio de seu próprio aviso prévio"[1]. 

2. Licenciosidade moral (2 Sm 11.3-5)
Davi tinha várias mulheres, um verdadeiro harém dentro do palácio, mas o pecado coloca seus olhos em outro lugar, seu harém já não mais o atraia. Sua lascívia e luxúria o dominavam Na primeira oportunidade seus pecados se manifestam. Podemos ter a mulher de nossa vida ao lado, a mulher da mocidade, ter família respeitada, fé em Deus, mas sermos detonados por uma atração fatal, uma paixão irresistível, e estas coisas destrutivas ainda assim passarem a ter um profundo significado existencial em nossas vidas. 
C.S.Lewis: “Um homem com uma obsessão é um homem que tem pouca resistência à compra… Muitas pessoas dizem não praticar a castidade por ser ela impossível. Quando uma coisa é obrigatória, não facultativa, deve-se fazer o melhor e não pensar em possibilidade ou impossibilidade”. [2]
Davi perde o senso do seu chamado, de sua história, de seu Deus, de sua fé. Torna-se vulgar, mesquinho e desrespeitoso. Usa sua autoridade como pretexto para a luxúria. Sua vida torna-se um inferno, a partir de então. De repente, Bate-seba está na sua cama, subsequentemente está grávida. Uma bomba chamada lascívia detona sua vida.
Mais e mais pastores e líderes estão se perdendo numa sociedade licenciosa e mundana. Visitei uma igreja do interior que viu cinco dos sete presbíteros, envolvidos em escândalos de divórcio e adultério. Como esta igreja ainda sobrevive é um milagre. O que pode acontecer espiritualmente com uma igreja que vê seus lideres sucessivamente envolvidos em escândalos financeiros, morais e familiares?

3. Demora em entrar em contacto com seu mal (2 Sm 12)
O que Davi faz quando pecou? Ele saiu em busca de subterfúgios e álibis. Ele não procura confissão, mas defesa. Não quer admitir, quer negar.
Sua reputação e glória pessoal tornam-se mais importantes que a integridade e relacionamento com Deus. Davi tenta encobrir, ocultar, manter em segredo. Sua estratégia, porém, não funciona. O diabo ajuda a fazer, mas não ajuda a esconder. O Deus dos exércitos se torna seu opositor. O homem segundo o coração de Deus se afastou do coração de Deus.
Pior que o pecado que cometemos, é a forma como tentamos manter uma vida de aparência e engano. Um abismo chama outro abismo, a máscara precisa cair para sermos curados. Na tentativa de acobertar, ao invés de confessar, nos tornamos mais religiosos, rígidos, legalistas e moralistas. Já viram isto? Uma pessoa em pecado que se torna um religioso radical, um exemplo de fidelidade denominacional? Rígido e duro com censuras e crítico dos outros? Gente que acusa facilmente determinados pecados e trata com dureza todos os demais? Geralmente pessoas acusadoras e ícones moralistas possuem sérios conflitos, e buscam esta frágil defesa da acusação para se protegerem e se defenderem. Na verdade, toda acusação é a neurose do acusador.
Assim faz Davi.
Para proteger sua reputação manda matar Urias. 
Para proteger seu nome manda matar. 
Quantas pessoas já mataram em nome de um falso zelo? Davi é capaz de matar Urias, para criar álibis. Faz para si vestimentas de folhas de figo para cobrir sua patética nudez. Para salvar a pele, líderes inescrupulosos e em pecado, colocam fachada de santidade, aparentam piedade. Leia cuidadosamente o texto abaixo e vejam como Paulo denuncia esta realidade na igreja primitiva: “Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais cousas, com efeito, tem aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não tem valor algum contra a sensualidade” (Col 2.21-23)
O problema é que sem confissão vem o endurecimento e aprofundamento do mal. “Aquele que confessa e deixa, alcança misericórdia, mas o que endurece o seu coração cairá no mal” (Pv 28.13). O caminho é a confissão, não a reputação. A confissão traz cura, redenção, restauração. O ocultamento nos torna rígidos e religiosos, cujo coração é endurecido pelo pecado. 
O profeta Natã é enviado por Deus a Davi já que “...isto que Davi fizera, foi mau aos olhos do senhor?”(2 Sm 11.27). Este profeta foi encarregado de trazer duras sentenças contra seu amigo e rei Davi. “O que fizeste em oculto, eu farei perante todo povo de Israel”(2 Sm 12.12). O pecado estava cobrando seus dividendos.

4. Davi descuidou da família (2 Sm 13)
As atividades palacianas, os encontros com chefes de estados, ministros e secretários, gente do poder, consumiram sua vida, sem que ele percebesse como sua base familiar estava sendo destroçada. Incidentes cada vez mais graves foram surgindo dentro de casa, e ele, impotente, indiferente e silencioso, não reagia nem tratava destas questões. Ao contrário de Jó que demonstrava profundo interesse pelos seus filhos (Jó 1.5), Davi se descuidou dos seus.
Filhos criados sem pais, facilmente se desorientam. 

Davi não tratou Amnom
O primeiro a manifestar seu desequilíbrio foi seu sucessor, o primogênito, Amnom, que se apaixonou pela sua meia-irmã Tamar. Paixão vem do termo grego “pathos”, daí a palavra “patologia”. É uma doença. Davi teve a chance de interromper a loucura de seu filho, mas menosprezou os riscos. Faltou sensibilidade para perceber o risco que seu filho corria. Amnom, na verdade, pede ajuda. Davi soube que ele estava doente e foi visitá-lo, mas ao chegar ali ouve um pedido esdrúxulo e o atende. Faltou percepção. Estava na cara. Algo anormal estava surgindo e Davi não foi capaz de discernir. 
A conversa que ele teve com Amnom, antes do fatídico estupro não fazia sentido. Ele pede para sua irmã ir preparar biscoitos para ele, que ele comeria das suas mãos (2 Sm 13.6). Ela era uma princesa, Havia numerosas cozinheiras muito melhores que ela, mas faltou perspicácia a este homem acostumado a tomar decisões de Estado. Era um grande executivo, acostumado a lidar com grandes decisões do governo, mas tergiversou, fez que não entendeu e atendeu ao pedido insano, ordenando a Tamar que fosse à casa deste filho adoecido e se tornasse vítima de um estupro (2 Sm 13.7).
Quando o incesto foi praticado, Davi não participou do drama, antes evadiu-se e se limitou a ficar irado (2 Sm 12.31). Esta atitude de ficar nervoso, é muito pequena ante a gravidade do fato, ele não tomou atitudes mais rígidas contra Amnom, o que certamente geraria uma catarse pública e seria disciplina para seu filho. Ele precisava ir para a cadeia, ter uma sentença pública pelo crime. Davi deveria punir publicamente, já que o problema se tornara público, cassar seus privilégios políticos de primogenitura e afirmar que pelo seu desatino, não seria mais o futuro rei de Israel.

Davi não protegeu Tamar
A segunda vítima de Davi, foi Tamar. Ele não a procurou para consolá-la, sua filha fora violentada, abusada, e ele simplesmente se afasta? Sua ausência lhe custou muito caro. 
Por não tomar posição, ele enfrentaria oposição dentro de sua própria casa, e por não agir de forma assertiva, Absalão, o irmão de Tamar, transforma-se no seu maior opositor.
Sua indiferença destruiu sua família:
Trouxe morte a Amnom
Arrebentou as estruturas emocionais de Tamar.
Hoje as pessoas estão muito preocupadas com a lei da palmadinha no congresso. Na verdade, o grande risco no coração dos filhos é a frieza, a distância e o descaso. Estas coisas são bem mais danosas à alma.
Talvez esta tenha sido a maior sombra na ameaça de Davi: Nem guerras, oposições, inimigos declarados e ocultos, nem traição, mas a incapacidade de ser pai.

Davi não confrontou a Absalão
A alma de Absalão era complicada, mas ele foi o irmão que protegeu Tamar. Certamente ele esperava que seu pai se manifestasse, mas depois do acesso de ira que Davi teve no palácio, nada aconteceu. As coisas aparentemente voltaram à sua normalidade, mas isto estava longe de ser verdade. 
Absalão desenvolveu uma amargura profunda contra seu pai e seu irmão. Este porque abusara de sua irmã; aquele porque não tomou nenhuma atitude diante do incidente. Talvez o relacionamento entre Absalão e o rei não fosse bom, mas o fato é que ele passa a alimentar sua ira e ódio contra o irmão, e dois anos depois, num banquete que fez em sua casa matou Amnom. 
Davi teve a chance de confrontá-lo, as coisas estavam muito claras para todo povo de Israel. Era visível que Absalão odiava seu irmão. Logo após a morte, Jonadabe afirma isto. “Assim o revelam as feições de Absalão” (2 Sm 13.32). Por isto Absalão insiste em que o rei deixe seu irmão ir para a festa de banquetes (2 Sm 13.27). Isto parece indicar que, inicialmente, Davi não o permitiu, mas pela insistência, concordou. Normalmente fazemos isto em relação aos nossos filhos. Não queremos o ônus de dizer não, de confrontar.
Nesta hora, Davi poderia ter dito: “Absalão, todos sabemos que você não gosta de seu irmão. Você está mal intencionado. Não faça isto. Isto será ruim para sua vida, seu futuro político, sua alma”. Entretanto, Davi se cala e consente e seu filho é assassinado num grande escândalo político em Israel. Todos sabiam disto, menos Davi, que deliberadamente ignorou o risco, ou fez de conta que ignorava. 

Conclusão
Davi é um homem segundo o coração de Deus, não porque era perfeito. A bíblia faz questão de revelar sua fragilidade, e isto deve nos ajudar a nos aproximarmos de Deus. Ele sabe como é a natureza humana.
A vida de Davi nos revela o poder do Evangelho, ainda que seja um personagem do Antigo Testamento.
Como Davi temos que lutar com o comodismo e conforto. Não raramente nos aproximamos desta complexa zona de risco. Davi foi tentando na sua indolência. Não somos diferentes.
Da mesma forma temos que lutar contra a luxúria, pensamentos lascivos e tentações sexuais, e isto não é prerrogativa só do sexo masculino. Mais e mais mulheres tem se tornado infiéis, desprezado os votos do casamento, encharcando-se de fantasias e futilidades. Estamos acossados com propagandas que tentam nos vender uma ética perniciosa e pecaminosa.
A vida de Davi nos revela a necessidade que temos de Jesus.
Ele entende, na sua própria dolorida e amarga experiência o poder da graça e do Evangelho.
Bem aventurado é aquele cujo pecado é perdoado, e cuja iniquidade é coberta” (Sl 32.1). Ele não afirma que é bem aventurado o que não pecou ou não falhou. Nem nega a realidade de que o pecado está presente, mas experimenta a cura real do seu pecado real. Ele sabia e experimentara na sua própria vida o poder da redenção.
É Isto que podemos experimentar quando nos aproximamos da cruz.
Imperfeitamente crentes, podemos ser considerados perfeitos aos olhos de Deus pelos méritos de Jesus. “Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1); “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Não pessoas perfeitas, mas pessoas restauradas. Declaradas justas, não pelos méritos pessoais, mas pela maravilhosa e completa obra efetuada pelo Cordeiro de Deus, que a si mesmo se entregou por nós para que isto se tornasse a nossa justiça diante de Deus. 

[1] Lispector, Clarice - A descoberta do mundo, Rio, Ed. Rocco, 1999, pg 32 
[2] Lewis, C. S. – Cristianismo puro e simples. Ed. ABU, 1982, pg 132.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mt 25.1-13 A hora chegou!




Introdução:

Tínhamos na época do seminário um colega que se irritava facilmente, e assim começou a se dizer que era perigoso conviver com ele, porque ele tirava férias da vida espiritual. Muitos cristãos costumam sair de férias.
Este texto faz parte do Sermão Escatológico, que surgiu logo depois do desconforto de Jesus ao perceber a dureza e incredulidade de Jerusalém acerca do seu ministério. Ali Jesus profetiza sobre a destruição do templo, que aconteceu de forma absolutamente plena, 36 anos depois, quando Tito Vespasiano invadiu Jerusalém.
Em seguida jesus fala do princípio das dores, os primeiros sinais
Depois fala da grande tribulação, deixando no ar três perguntas ainda para respondermos:
a.       O Evangelho já foi pregado a todas as etnias para que sua vinda se dê?
b.       O abominável da desolação, já se manifestou historicamente?
c.        Já passamos pela “Grande tribulação?”
Em seguida, jesus entra especificamente na descrição de sua vinda e no arrebatamento da igreja.
Depois conta quatro parábolas, todas elas exortando quanto à vigilância e à prudência:
i.                     A parábola da figueira
ii.                   A parábola do bom servo e do mau
iii.                 A parábola das dez virgens
iv.                 A parábola dos talentos.

Hoje, queremos estudar a parábola das dez virgens. Que lições podemos extrair dela?

1.       As aparências enganam - O grupo era idêntico, tinha as mesmas características e reações: “E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram" (Mt 25.5). Eram virgens, esperando a chegada do seu noivo. Mas apesar das semelhanças, existiam diferenças substanciais. Nem todas haviam feito a provisão correta em relação ao azeite que precisavam, elas não o tinham suficiente para algum imprevisto. E o noivo demorou. É no imprevisto é que se conhece o cristão. Crises, pressões econômicas e sociais revelam o caráter do cristão. Alguém afirmou que “crente é como saco de chá, ninguém sabe o que tem dentro até que se derrame água quente sobre ele”.
Joio e trigo são igualmente parecidos, mas na hora da colheita, quando os frutos se manifestam, sabe-se exatamente quem é quem.
Como enfrentamos o inesperado? As prudentes não tinham azeite para o imprevisto, para o caso da demora.

2.       A religião comodista é fracassada - Fé bíblica implica em preço, não há discipulado barato, sem custo. Quando Jesus afirmou que seriamos "testemunhas" (At 1.8), ele usou a expressão “mártires”. Ele convidou seus discípulos para o seguirem até à morte.
As virgens néscias não levaram azeite consigo. Apesar das semelhanças com as outras cinco, viviam de forma negligente e displicente. Havia substanciais e graves diferenças, apesar da semelhança   Por que não se precaveram? Queriam ficar mais livres? Com menos peso de azeite? Assim é a espiritualidade cômoda, despreocupada. Ela não abastece a lâmpada de azeite. A aplicação prática é simples e direta: Fé que não dá nada, não exige nada. Não podemos baratear a obra do Senhor. Por isto Davi afirmou que não ofereceria holocaustos ao Senhor que não lhe custassem nada. Ele sabe que há um preço no discipulado, na adoração, no culto, na vida de santidade e temor ao Senhor.
Certa pessoa tinha uma lista de intercessão e orava por várias pessoas.  Um dia, porém, cansada olhou a lista e fez um rápido resumo de sua oração dizendo: "Senhor, tu o sabes". Assim age a pessoa que vive num estilo de vida descuidado. Não quer pagar o preço de servir a Deus, busca sempre alternativas mais fáceis, negocia a fé e os valores. Por isto a advertência de Cristo é "Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24.42).

3.       Podemos ter lâmpada, sem azeite – “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando” (Mt 25.8). O azeite é a figura do Espírito Santo. Esta parábola fala de pessoas conscientes da vinda do noivo, mas despreparadas para o encontro com ele. A Bíblia ensina algumas verdades sobre o Espírito:
a. Podemos abafá-lo – “Não apagueis (ou não extingais) o Espirito Santo” (1 Ts 5.18)
b. Podemos entristecê-lo – “Não entristeçais o Espirito Santo de Deus, no qual fostes selados” (Ef 4.30).
c. Podemos buscar sua plenitude – “Enchei-vos do Espirito, falando entre vós com hinos e cânticos espirituais” (Ef 5.18). isto é, dando liberdade para que Ele possa agir em nossas vidas. Isto exige rendição diária, arrependimento, vida devocional, que podem nutrir o nosso coração.  Sem azeite a lâmpada se apaga. “As nossas lâmpadas estão se apagando” (Mt 25.8).
Bill Hybels escreveu interessante livro: “Muito ocupado para não orar”, tentando mostrar que muitas pessoas se descuidam da vida de oração por não terem tempo, mas que devemos agir de forma diferente. Quanto menos tempo tivermos, mais precisamos orar. É necessário alimentar a alma, encher-se deste glorioso espirito, manter nossas lâmpadas cheias de azeite para a volta de nosso amado Senhor.

4.       Ninguém entra no céu com azeite dos outros – Parece desumano que as demais virgens não forneçam do seu óleo para socorrer as virgens néscias. Mas a verdade é que ninguém entra no céu por procuração. Nem do pastor, nem da mãe, nem da irmãzinha abençoada.  A unção é individual, assim como a salvação é individual. As mães podem orar, mas há uma responsabilidade dos filhos. Por isto o profeta Ezequiel afirma que: "Os pais não levarão as iniquidades dos filhos nem os filhos a iniquidade dos pais".  O convívio familiar não é suficiente. Deus não tem netos, só tem filhos.
Portanto, não confie no óleo do outros, porque salvação é pessoal e individual
Dá-nos do seu azeite, nossas lâmpadas estão secas” (Mt 25.8) É necessário gastar tempo para encher as lâmpadas de azeite (25:10)). Queremos o óleo dos outros: Um culto abençoado, uma irmã ungida, uma conferência de avivamento. Vivemos atrás do óleo dos outros. Deus está sendo procurado nos outros. Uma sociedade neurótica e doentia correndo atrás de homens abençoados, ao invés de buscarmos a benção no Deus da benção. Não dá para “comprar” a benção, pegar o óleo das outras pessoas. Ela não é adquirida na prateleira de um supermercado religioso. O óleo para nossa vida não pode ser encontrado na lâmpada dos outros. A unção que precisamos só pode ser encontrada em Deus. As néscias estavam “despreparadas”, e talvez até contassem na eventualidade com o suporte das demais virgens. Jesus nos adverte quanto a sua vinda exortando-nos a estarmos sempre preparados, porque não sabemos nem o dia nem a hora.


Conclusão:
Estas são as lições que podemos encontrar nesta parábola.
1.       As aparências enganam -
2.       A religião comodista é fracassada
3.       Podemos ter lâmpada, sem azeite
4.       Ninguém entra no céu com azeite dos outros

Jesus afirma que as virgens néscias perderam a oportunidade do encontro. E conclui a parábola afirmando: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25.13).

Esta é uma parábola de advertência. Ela nos convida a não vivermos a vida despreocupadamente, mas procurarmos sempre manter nossas lâmpadas acesas, para que, quando o noivo chegar, não percamos a hora da oportunidade e do encontro.

2 Co 8.1-15 A Graça de Doar



Introdução:

Quando você contribui para sua igreja local, envia uma oferta especial de missões, ou ajuda alguém necessitado, quais são os motivos?
ð  Medo? O que pode acontecer com minha vida espiritual se eu não doar?
ð  Barganha? Se eu der, Deus vai me abençoar. Eu preciso ter mais dinheiro...
ð  Legalismo judeu? “Você tem que trazer o seu dízimo!”
ð  Quitar o carnê de compromisso anual com sua comunidade.
ð  Medo de ser arrolado no Serasa do céu, ou na lista negra da igreja.
ð  Por causa das duras palavras de Malaquias 3.11: “Com maldição sois amaldiçoados!”

O que este texto ensina?

1.       Doar é Graça

Este texto fala de uma graça muito especial, de um privilégio dado às igrejas da Macedônia. O termo “graça” é mencionado cinco vezes (8.1;4,6,7,9). Doar é uma graça, ainda que poucos a desejem.
Que graça tão especial é esta?
Ouvi certa vez sobre a participação do grande avivalista Antonio Elias, num congresso de pastores. Quando o preletor convidaram as pessoas para se levantarem e orarem para receber uma benção, o velho pastor se levantou imediatamente. Seu colega, ainda jovem, ficou indagando porque um homem tão abençoado como aquele, se levantaria numa convenção para se consagrar, e resolveu indaga-lo. Sua resposta foi: “Onde houver a manifestação da graça de Deus, ali quero estar”.
Você quer receber graça?
Você deseja estar onde flui a graça celestial?
Sabe de qual graça este texto está falando? A Graça de doar, de cooperar com o reino de Deus, de ser generoso com seus bens materiais.
A Igreja da Macedônia, sabendo que os irmãos da Judeia passavam necessidade, resolveram ajudar, mas eles tinham um problema. Eram muito pobres. Então, Paulo, que era o pastor da comunidade, quis convencer os macedônios de contribuir, por causa da sua condição financeira, e eles lhe rogaram, com muitos rogos, para se envolverem com seus recursos financeiros (2 Co 8.4). Deixar de se envolver neste projeto, para eles, seria ficar impedidos de experimentar a benção de Deus sobre suas vidas. Talvez seja esta a primeira e única vez na história da igreja em que um pastor tenta impedir da igreja de fazer doações, em geral estamos sempre querendo encorajar as pessoas a serem generosas. Que situação estranha: Um pastor dizendo não! A Igreja dizendo, sim!

O que nos surpreende são as perspectivas espirituais daquela comunidade. O ato de doar é visto como uma graça genuína, como benção e privilégio para suas vidas. Não é peso, nem tarefa onerosa, é privilégio. Uma igreja bondosa vê nisto, oportunidade de servir a Deus e adorá-lo.
Existem pessoas de pouca condição financeira, que justificam sua não contribuição porque ganham pouco, e muitos ricos, se justificam porque tem demais... Contudo, a melhor medida de sua fidelidade não é o que você dá, é o que você retém. Não importa o quanto você dá, antes o quão fiel você é. A contribuição pode ser aparentemente insignificante para a Igreja, e ser uma benção para Deus. Jesus observou a viúva pobre;
Nas Escrituras, dar é um ato de adoração.
Você vê sua contribuição como privilégio? Ato de culto a Deus?
Wayne Watts, escreveu um livro a benção de dar, ele disse que, como membro da igreja ele dava seu dízimo porque sabia que a igreja tinha necessidades financeiras e tinha que atender seus compromissos, quando começou a estudar a Bíblia ele viu que para Deus, dar era ato de adoração.
Em Dt 16.16 a Palavra de Deus afirma: “Não aparecerás diante de Deus com mãos vazias”. Dar é mais que um compromisso ou tarefa, é ato de culto.

2.       Dificuldades não são justificativas para não doar, mas meio de demonstrar confiança no caráter de Deus – “No meio de sua grande pobreza, superabundou sua generosidade em grande riqueza” (2 Co 8.2)

A região da Judéia passava por fome. Isto os motivou a abençoar os irmãos.
Muitos pensam que pessoas pobres, por causa da sua situação, doam menos, mas na realidade, estatísticas mostram que pessoas de condição humilde tem mais facilidade em serem generosas. A pesquisa Gallup (Outubro 98- USA) demonstrou que, quanto menos a pessoa ganha, mais ela dá, proporcionalmente:
ü  Salário até U$ 10 mil – 2.8%
ü  Salário de U$ 10 a U$ 30 mil – 2.5%
ü  Salário de U$ 30 a U$ 40 mil – 2.0%
ü  Salário de U$ 50 a U$ 75 mil – 1.5%
Dá prá perceber a tendência. Quem ganha mais, dá menos, proporcionalmente.
Quando doamos, aprendemos a confiar no caráter e na provisão de Deus para nosso sustento.

3.       Dinheiro está relacionado ao coração - "Antes, deram-se, a si mesmos, primeiro ao Senhor" (2 Co 8.5).
No início do meu ministério, trabalhei numa comunidade pobre, na periferia de Goiânia. Neste interim, aconselhei uma pessoa com crise no casamento, que eventualmente se tornou uma pessoa muito interessada na minha vida e ministério. Tudo o que fazíamos naquela igreja era muito limitado pelos recursos que tínhamos, um dia esta pessoa, que eu estava evangelizando, quis ajudar financeiramente, mas achei que se eu aceitasse sua oferta, ele faria uma espécie de “justificativa espiritual”, diante de Deus. Ele precisava entregar sua vida a Cristo, mas não queria dar este passo de fé. Quando ele trouxe o dinheiro eu lhe disse que ele precisaria dar primeiro sua vida, que ele estava querendo substituir seu compromisso de coração por uma oferta generosa em dinheiro.
Muitas pessoas tentam fazer isto, mas existe um princípio claro nas Escrituras. Se você não quer dar a você, não adianta dar dinheiro, e quando você entrega a si mesmo a Deus, dinheiro torna-se uma questão menor e irrelevante. Quando você entrega seu coração, seu bolso segue. Sabe porque não doamos? Falta-nos entrega do coração, afinal, “Onde estiver o teu tesouro, ai estará o teu coração”.
A oferta de Caim não foi aceita por causa de sua pessoa. “De Caim, e de sua oferta, não se agradou o Senhor” (Gn 4.3). Muitas vezes damos para aliviar nossa infidelidade em outras áreas. Esta não é a melhor motivação.
Para a igreja da Macedônia, doar era apenas consequência da fidelidade a Deus.

4.       Dinheiro tem o poder de vida e de morte – “Nosso desejo não é que outros sejam aliviados enquanto vocês são sobrecarregados, mas que haja igualdade. No presente momento, a fartura de vocês suprirá a necessidade deles, para que, por sua vez, a fartura deles supra a necessidade de vocês. Então haverá igualdade, como está escrito: "Quem tinha recolhido muito não teve demais, e não faltou a quem tinha recolhido pouco" (2 Co 8.13-15).
Dinheiro não é apenas para manutenção e acúmulo, mas para servir. Podemos direcionar nossa relação para os bens que possuímos, desejando que eles sirvam a Deus ou a mamom.
Minha esposa ouviu a campainha da casa tocar. Era “mais” uma pessoa pedindo ajuda. Quando abriu viu um homem pedindo ajuda e foi profundamente tocada por Deus para pegar todo dinheiro que possuía (que na verdade não era muito), e doar para aquela pessoa. Quando ela repassou o valor, o homem começou a chorar e disse: “Eu sou um servo do Senhor, e antes de sair de casa, orei para que Deus abrisse o coração de alguém para me ajudar. Preciso de um remédio, e o valor do dinheiro que a senhora me deu, é exatamente o que eu preciso”.
Não é maravilhoso ver nosso dinheiro trazendo experiências de Deus para nossa história e gerando vida para outros?
Jacques Ellul afirma: “temos indicações claras que, na vida cristã, o dinheiro é ganho a fim de ser dado”.
Richard Foster ensina: “Temos assim, uma única utilidade para o dinheiro: Promover o reino de Deus sobre a terra”.
Jesus chamou o dinheiro de "mamom". Não apenas um meio neutro de intercâmbio, mas uma potestade que tem vida própria (Mt 6.24). Não podemos servir a Deus e às riquezas. Jesus concede ao dinheiro natureza pessoal e espiritual, deixando inequivocamente claro que o dinheiro não é um meio impessoal de intercâmbio, antes um poder que busca dominar-nos. Por trás do dinheiro existem forças espirituais que o energizam e dão-lhe vida própria, sendo capaz de inspirar devoção.
Portanto, as coisas materiais não devem ser consideradas como algo fora dos parâmetros da verdadeira espiritualidade. Dinheiro é uma forma eficaz de demonstrar amor por Deus, por ser parte integral de nós. A pessoa que começa a entender realidades espirituais, dispõe-se a contribuir, e na medida que vai crescendo espiritualmente, vai participando com mais liberdade do ato de dar.
Dinheiro é uma benção quando usado no contexto da vida e do poder de Deus.

5.       Doação está fundamentada no caráter de Cristo – "Sendo rico, se fez pobre". (2 Co 8.9)
O que nos inspira é o modelo de Jesus, a forma como ele viveu. Ele fez opção de amor por nós. Desceu de sua glória, humanizou-se, tornou-se homem. O que ele queria: Fazer-nos ricos.
Você já pensou alguma vez em fazer alguém rico? Em melhorar a condição de vida de alguém? Em investir na vida de um estudante promissor? Estas coisas falam no reino de Deus...Dinheiro investido em gente é o melhor investimento possível.

Existem ocasiões em que devemos dar para responder a determinadas necessidades que surgem. Pelo menos três vezes em At., os cristãos deram dinheiro extra diante de necessidades: At 2.43-45; 4.32-35 e 11.27-30, porque haviam necessidades específicas. Algumas vezes a igreja precisa dar ofertas voluntárias para missões, o problema da fome, necessidades de outros, etc.
Conclusão:
Dar é uma benção.
Þ   Livra-nos de ganhar dinheiro só para uso pessoal -
Þ   Ajuda-nos a confiar na provisão de Deus, e não na força de nossas mãos;
Þ   Abençoa tremendamente outras vidas;
Þ   Glorifica a Deus
Þ   Limpa os canais de nossa vida para que as bençãos de Deus possam fluir em nós.
Þ   Os desamparados passam a receber ajuda;
Þ   Promove-se o reino do Deus com projetos ousados;
Þ   Recursos são canalizados para ministérios que produzem vida;
Þ   Obras missionárias dispendiosas são mantidas. Povos não alcançados ouvem a mensagem da salvação.  


Você deseja esta graça para sua vida?

Mt 25.24-30 Receoso... Escondi...


“Sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeastes,
e ajuntas onde não espalhastes, receoso,  escondi na terra o teu talento, aqui tens o que é teu".


Introdução:

Existem 39 parábolas de Jesus, registradas nos Evangelhos. A dos talentos encontra-se apenas em Mateus, embora tenhamos a parábola das Minas em Lucas, que possui muitas semelhanças, mas foi contada em uma situação distinta.
Esta parábola está inserida dentro do sermão escatológico de Cristo, que começa em Mateus 24.1. Portanto, devemos ler esta narrativa, na perspectiva do julgamento. Entre as duas vindas de Cristo, Deus entrega aos seus servos, os talentos para que cada um deles o exercite. Ela conta a história de um homem dando a três servos, talentos diferentes, e retornando depois de um determinado tempo para ver o resultado do trabalho com aquilo que lhes fora confiado.
A um foi entregue dez, a outro cinco, e finalmente, um talento. A ênfase da parábola recai sobre o último deles, que recebendo um talento, resolve enterrá-lo.
“Talentos”, são somas de dinheiro, não se trata de uma moeda, mas de uma medida para dinheiro. Kistemaker afirma que não dá, nem é necessário determinar o valor entregue.  Talento também, na parábola, não é um dom natural, mas uma unidade representativa em dinheiro. Não é uma quantidade muito grande, nem muito pequena de recursos.  O senhor lhes entregou estas quantias.

A parábola nos ensina várias lições:

1.     Os dons foram dados, “segundo a capacidade”, de cada um – (Mt 25.15). O Senhor conhecia seus servos. Homens não possuem as mesmas capacidades. Certo colega de ministério foi muito criticado por não ser um grande pregador, embora fosse um grande professor. Certo dia ele ouviu uma frase muito libertadora: “Quando eu seu sei que não sei, não dói”. A partir de então, toda vez que ouvia um comentário depreciativo sobre sua mensagem ele sabia que seu dom era diferente.
A questão não é quanto talentos recebemos, mas o que fazemos com aquilo que recebemos. Deus nunca cobra aquilo que sabe que não temos. Por isto a Bíblia afirma que “a quem muito é dado, muito será exigido”. O ponto importante é que Deus vai usar nosso currículo, aquilo que temos, e vai colocar oportunidades para colocarmos em prática aquilo que temos.

2.     Os dois primeiros servos, colocaram seus talentos em ação, e receberam, cada um deles 4 elogios:
i.               O Senhor apreciou suas atitudes: “Muito bem”
ii.              Foram chamados de bom e fiel.
iii.            Receberam o reconhecimento de que, apesar de não ser uma grande quantia, souberam trabalhar com o que tinham;
iv.             Foram convidados para assentar-se à mesa com ele.

3.     A parábola ensina que Jesus espera que seus discípulos trabalhem diligentemente com os dons confiados, independentemente do que recebem.
Os discípulos de Cristo, ao ouvirem a parábola, podem ter feito associação com o povo judeu, que receberam os oráculos e a Lei de Deus, a guardaram cuidadosamente, mas não a usaram como Deus queria. No entanto, embora esta verdade se aplique aos judeus, a verdade é que ela foi endereçada aos discípulos. Jesus iria embora, mas lhes deixava a mensagem do Evangelho, que deveria ser pregada a todo mundo, e um dia ele voltaria para pedir contas dos talentos que ele deu a cada um, individualmente.

Por que o servo infiel foi repreendido?

1.     Falso conceito de seu Senhor – Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajunta onde não espalhaste” (Mt 25.24). Este homem, declara como vê a Deus. Deus é "severo", cujos critérios de justiça não são coerentes: “ceifas onde não semeias, ajuntas onde não espalhastes".
Ele via o seu Senhor como alguém que faz as coisas a seu próprio modo, um homem duro, injusto. Na sua visão, o Senhor lhe dera um talento apenas para exigir dele, e não para capacitá-lo. Era uma forma de mantê-lo sob controle. Isto fez com que o talento, a dádiva oferecida, ao invés de ser graça, se tornasse uma punição. O Senhor era duro e severo.
Nossa mente funciona assim. Uma palavra bonita como "lar", pode relembrar-nos "céu" ou "inferno". Pai pode se tornar uma ideia de proteção ou de abuso. Quando você tem uma visão errônea de Deus introjetada parece que suas concepções viscerais complicam todo o desenrolada da vida. Você mantém um certo nível de suspeita em relação a Deus, como fez Eva na tentação que a serpente colocou em sua mente. “Deus sabe que no dia comeres, sereis conhecedores, como Deus, do bem e do mal”. Na mente de Eva, surgiu uma suspeita luciférica contra Deus, que muitas vezes parece estar presente em nós.
Pastoreei uma família que perdeu drasticamente o seu pequeno filho de seis anos num acidente. Aquela experiência foi um choque para toda família, amigos e a igreja. Numa visita àquele casal, a mulher em estado catatônico me disse: “Eu sabia que Deus tiraria este meu filho". Chocado com sua declaração indaguei como ela sabia disto, e ela me respondeu: "Deus sempre tira as coisas que eu mais amo na vida".
Este texto lido, revela o caráter de um homem que possuía uma concepção semelhante de seu senhor. Na verdade, cada um de nós traz dentro de si, uma ideia de Deus. Karl Barth, no prefácio de sua conhecida obra Introdução à Teologia Evangélica diz: "Ao termo Deus, poderão ser atribuídos os mais variados sentimentos, de forma que necessariamente deve haver uma multiplicidade de teologias. Não existe ser humano que, de forma consciente, inconsciente ou subconsciente, não tenha o seu Deus ou deuses como sendo objeto de sua ambição ou de sua confiança mais sublime, como sendo base de seu comprometimento mais profundo(São Leopoldo, Ed. Sinodal, 1979, pg. 5)

2.     Obsessão por proteção e segurança - "receoso, escondi..." Sua relação com o Senhor não é a de parceiro. Os outros não viram seu trabalho como demasiado exaustivo, não tiveram orientações confusas quanto ao caráter de Deus, nem tiveram ansiedade e   medo. Nada de filosofias derrotistas, nada de culpa no diabo pelo fracasso, não culparam o espírito da época. Aplicaram seus talentos e foram bem sucedidos. O que recebeu cinco talentos, “saiu imediatamente” (Mt 25.16).
Para o servo negligente, no entanto, o próprio medo tornou-se a razão de sua timidez e do fechamento. É sempre assim, há um proverbio japonês que afirma que “o medo de perder não deixa a gente ganhar”. Ele é censurado por não tentar. Seu senhor o questionou por não ter agido com aquilo que lhe fora dado, nem sequer procurou as formas mais simples de colocar em movimento o que lhe fora dado.  Ele tratou seu talento como “coisa morta”, achou que enterrada seria melhor.
O medo sufocou as oportunidades, impossibilitou-o de ver novos caminhos, de se aventurar e exercitar os talentos que lhe foram dados.

Conclusão:
O princípio que encontramos nesta parábola é que, entre a vinda e a volta do Senhor, talentos foram dados. Os discípulos entenderam bem a parábola de Jesus. Ele estava voltando para o pai celestial, mas um dia retornaria para reencontrar com seus servos, e esta seria a hora de ver o que cada um fez, segundo a sua capacidade, com os talentos que lhe foram entregues.
O que você tem feito com aquilo que Deus lhe deu?

Na Bíblia encontramos muitos exemplos de pessoas que souberam utilizar bem o pouco que Deus lhes entregou:
a)- Elias se encontrou com a viúva de Sarepta, que tinha apenas um pouco de farinha e azeite, mas a serviço de Deus, pode alimentar o profeta e experimentar milagre;
b)- Quando Deus pergunta a Moisés o que ele tinha na mão para enfrentar o poderoso exército Egípcio, ele respondeu que tinha apenas uma vara, e Deus usou este instrumento para abrir o mar vermelho.

E você? O que tem feito com aquilo que o Mestre lhe tem dado?
Deus lhe deu talentos, tempo, criatividade, voz, inteligência, formação, dinheiro. Deus quer usar isto que ele colocou em suas mãos para a glória dele mesmo.
A displicência e a negligência serão julgadas.
O Senhor é duro no julgamento daquele que, tendo recebido os talentos, resolve colocá-los debaixo da terra. Aqueles que confiam na colheita, e empregam aquilo que Deus lhes deu, serão recompensados.

O texto encerra com uma frase complicada:
Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância;
mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25.29).

Não parece estranho tirar de quem não tem e dar ao que já tem?
Na verdade, esta é uma lei universal.
Se um homem possui um talento e o exercita, progressivamente será capaz de fazer mais com aquilo que tem. Mas se não o exercita, o perderá, mesmo quando obsessivamente tenta protegê-lo. Quanto mais trabalhamos e exercitamos, mais teremos. É uma lei de semeadura. “Quem quiser perder sua vida, a achará, quem perder a sua vida, por minha causa, achá-la-á” (Jo 12.24)”. Seja qual for o talento, multiplica os talentos que Cristo lhe tem dado. Não o esconda, nem o coloque na terra. O mestre voltará para ver o que fizemos com aquilo que recebemos.

Conclusão:

Este é o paradoxo da cruz.
Quando jesus falava aos seus desatentos discípulos sobre sua morte, eles não o entendiam, até que Jesus afirmou: “Se o grão de trigo não morrer, fica ele só, mas se morrer, produz muitos frutos” (Jo 12.24).
É assim que funciona o reino de Deus.
Omitir, desligar, separar, agir com displicência, negligencia e preguiça, traz sobre nossas vidas graves consequências.

Portanto – Não deixe seu talento enterrado. Faça-o frutificar. É Isto que o Senhor espera de nós.