segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mc 4.1-20 A Conspiração da Semente

Introdução:Tentações são diferentes para pessoas diferentes. No filme, advogado do diabo, uma frase no final do mesmo, proferida pelo próprio demônio, se torna clássica: “vaidade é meu pecado predileto”. Este texto fala de diferentes solos, que apontam para o meu e o seu coração. Refletem nossa vida. Alguns deles não são diretamente relacionados à minha vida, já que não se constituem em sedução para mim. Existem tentações diferentes para pessoas diferentes.
Na espiritualidade clássica da igreja cristã desenvolveu-se o conceito dos Sete pecados capitais. São chamados assim porque são matriciais. Não existem apenas 7 pecados, mas deles deriva toda uma soma de outros pecados.
Considere os seguintes exemplos:
Luxúria ou lasciva – Tem a ver com a deformação da sexualidade. Daí deriva a pornografia, a promiscuidade, fornicação, adultério, pornografia, etc.
Avareza – Dificuldade em dar, em repartir, em abençoar outros, contribuir para o reino de Deus e na obra do Senhor.
Gula – Destemperança, avidez, cobiça, ingerir mais do que é necessário, ter mais do que se é necessário, amontoar coisas. Engordar, no sentido mais amplo da palavra.
Todos estes e os demais pecados apontam para elementos de sedução. A fraqueza de seu irmão pode não ser a sua, mas nem por isto deixa de ser perigosa...
O que pode impedir que a semente do reino de Deus frutifique em nós? Alguns solos enfrentam lutas distintas dos outros, como Jesus descreve nesta parábola, mas ambos são igualmente danosos.

1. Oposição Satânica – (Mc 4.15). Jesus afirma que o primeiro obstáculo para que a semente seja acolhida e frutifique em nós, é a ação do inimigo de nossas almas. Satanás conspira contra a Palavra de Deus. Muitas pessoas demonstram interesse pelas verdades de Deus, mas o diabo, astutamente, retira as verdades do Evangelho do seu coração.
Em Atos 13, Paulo está na Ilha de Pafos, pregando o evangelho ao procônsul Sérgio Paulo. A Bíblia mostra que ele era um homem inteligente, lúcido (At 13.6-7) e que diligenciava em ouvir a Palavra. No entanto, Elimas, que exercia influência espiritual na região procurava afastar o procônsul da fé cristã.
Fico pensando como isto é verdade ainda hoje. Muitas pessoas se aproximando da palavra, lendo livros evangélicos, freqüentando cultos e buscando a Deus, mas enfrentando enorme oposição para ouvir, entender e acolher a palavra por causa da ação do diabo que se opõe à verdade de Deus.
O texto afirma que satanás trabalha ao mesmo tempo em que a Palavra é semeada. “Enquanto a ouvem, logo vem satanás e tira a palavra neles semeada” (Mc 4.15). Uma ação simultânea.
Isto me impressiona. Jesus afirma que se a semente não germina em nosso coração não poderemos nos converter a ele, e não haverá perdão.
Fico sempre pensando nas grandes lutas que ocorrem no campo de nossa mente entre o processo da semeadura da palavra e da oposição feita pelo diabo. Quando a semente poderia começar a germinar, trazendo compreensão do reino, vem o diabo e retira a palavra semeada. Isto é questão de vida ou morte!

2. Superficialidade do coração (Mc 4.16-17). Se no primeiro elemento temos a acao do diabo, no segundo, vemos a realidade de nossas vidas. “Recebem a apalavra com alegria, mas eles não tem raiz em si mesmos, sendo antes de pouca duração” (MC 4.16-17).
A superficialidade ameaça seriamente nossa vida cristã. Karl Rahner, conhecido teólogo católico disse: “Nos dias que se seguem, ou você será um místico (alguém que experimentou Deus pra valer), ou simplesmente nada”. O problema é que, ao olharmos para nosso coração, vemos quão raso ele é.
Certa vez Deus disse ao povo de Israel : “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manha e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Os 6.4).
Pe. Antonio Vieira , no seu conhecido sermão da Sexagésima afirma que no texto, em nenhum momento, Jesus sinaliza para a possibilidade de que haja problema com a semente. O problema sempre se encontra na terra. A Palavra de Deus tem vitalidade, seu germe é ativo, mas quão ruim tem sido o solo de nosso coração.
Falta-nos aquilo que David Wilkerson chamou de Angústia, que Lutero chamava de Anfektung, uma dor vital, anseio profundo pelas verdades de Deus. Precisamos de mais profundidade. Nosso solo rochoso ouve a palavra com alegria, mas nosso coração é raso, não tem raiz em si mesmo.
Eventualmente pregadores falam do compromisso com o dinheiro. Jesus falou deste assunto mais que qualquer outro assunto, exceto o Reino de Deus. O que ele queria nos ensinar? Não é a questão monetária em si, mas dinheiro aponta para algo mais profundo. “Onde estiver teu tesouro, ai estará o teu coração”. Fé que não exige nada, não vale nada. Se você não tem aprendido a lidar com esta área de forma generosa, indague a seu coração: “Por que não tenho prazer em servir a Deus com meus bens?”.
Pense na área da oração. Quão profunda tem sido sua experiência com Deus? Ela revela seu envolvimento e relacionamento com ele. Quando você não sente vontade em orar, deve indagar ao seu coração: “Por que não tenho prazer na oração?”.
Somos uma geração rasa na fé – falta-nos profundidade. Poucos estão pagando o preço pelo reino de Deus. Olho para meu próprio coração e fico entristecido. Quão raso, quão tímido, quão pusilânime ele é. É necessário angustiar por isto.
O que acontece quando vivemos superficialmente? O texto demonstra que existem dois inimigos que nos atingem em cheio: Angústia e perseguição (Mc 4.17). Observe que esta não é a mesma angústia à qual nos referimos anteriormente.
Angústia aponta um elemento interno: Nossos conflitos pessoais. Porque a Palavra não penetra profundamente em nós, vivemos adoecidos emocionalmente. Existe muito sofrimento que nos joga para baixo e que tem a ver com a ausência da Palavra de Deus viva em nós. Vivemos em ciclos viciosos de depressão, perturbação, angústia, ansiedade, preocupações, síndromes modernas e antigas – porque a Palavra de Deus não tem sido operosa em nós.
A semente tem que penetrar profundamente em nossa vida.
O que acontece quando vivemos orientados por esta pecaminosa angústia? Nós nos escandalizamos na palavra. Começamos a indagar: Como Deus pode permitir isto comigo?”. Esta é a angústia narcisista. Muitas angustias virão sobre nós porque a Palavra germinou.
Considere viver numa sociedade promíscua como a nossa. Você sofre angústia não porque é infiel, mas por ser fiel... muitos jovens que buscam uma vida de santidade sexual, sofrem por causa da Palavra... Muitos profissionais cristãos sofrem por causa da Palavra. Muitas vezes para se manter no emprego é necessário ser desonesto, e aquele em quem a palavra brotou, vai se angustiar porque não vai agir com base na mentira e desonestidade. Angústia que vem por causa da Palavra.
Perseguição aponta para um elemento externo. Jesus diz que seremos perseguidos por causa da Palavra. Se somos superficiais, se o solo é rochoso, diremos: -“Como Deus pode permitir que isto aconteça comigo? Tenho sido fiel...” A perseguição, entretando. Se dá exatamente por causa da fidelidade.
Se nossas raízes são profunda no Evangelho, nos regozijaremos por sofrer por causa do evangelho. Se são rasas, nos escandalizamos...

3. Cuidados do mundo – (Mc 4.19). Este é o terceiro elemento: Satanás, superficialidade do coração, atração pelo mundo.
Não me parece que “cuidados do mundo” sejam, na sua essência. Pecaminosos. Todos temos tarefas a cumprir, agendas para seguir, projetos a executar, compromissos a atender. O que existe de errado com tais cuidados?
O problema aqui é de foco e de atenção.
Perdemos facilmente o foco do reino de Deus.
As tarefas, agendas, compromissos e projetos consomem nosso tempo e nos levam a um fazer irrefletido, e vamos seguindo, como autômatos em direção às exigências e tarefas a realizar. Vivemos a filosofia do Zeca Pagodinho, “deixa a vida me levar!”, passamos a um viver sem sentido. Nos esquecemos de Deus. T. S. Elliot indaga: “Onde está a vida que perdi, tentando encontrá-la?”
Jesus afirma que este é o coração cuja palavra cresce em meio aos espinhos. A palavra está sufocada e se torna infrutífera em nós. Jesus fala de dois elementos que cooperam para sufocar a Palavra no meio dos espinhos.
A. A fascinação das riquezas – (Mc 4.19). Ficamos fascinados pelas possibilidades que a vida oferece, o glamour das riquezas. Todos temos em nossa mente a imagem clássica dos filmes onde uma pessoa precisa largar o ponte de ouro para continuar a viver. No rio Mississipi, após um naufrágio no século passado, encontraram um homem morto com o bolso cheio de ouro. Nossa vida não é diferente. Perdemos o reino, nos esquecemos de Deus, porque ansiamos mais, possuir mais...
B. As demais ambições – (Mc 4.19). Acho esta declaração de Jesus extremamente complexa. Todos temos ambições. Ambição não é um termo como ganância e cobiça, que só abrigam idéias negativas. Pessoas sem ambições, em geral, são preguiçosas e se justificam existencialmente porque falta garra, ousadia e coragem, dizendo que não são ambiciosas. Então, que mal podemos encontrar nestas ambições?
Mais uma vez trata-se de foco. A ambição retira prioridades... Imagine um estudante que quer ser um bom profissional e luta para fazer as coisas com excelência. Ele se esforça, dá duro nos estudos, se entrega, no entanto, sacrifica sua vida com Deus, sua vida devocional e o compromisso com o Senhor. Esta sua ambição vai retirar a palavra do seu coração.
Considere um profissional cristão. Competente no que faz, esforça-se por sua empresa e espera o reconhecimento de seu patrão. Ele quer se projetar e ser diretor da mesma, no entanto, seu trabalho o afasta do Senhor. Ele deixa de ter tempo para orar, ler a palavra ou freqüentar a igreja. Seu esforço concentrado se volta para a profissão. A Palavra pode ser sufocada em seu coração. Tudo é uma questão de foco e atenção!

Conclusão: Quando a palavra frutifica?

1. Quando a ouvimos, entendemos e acolhemos em nosso coração – Mc 4.12 Jesus fala de pessoas impossibilitadas de entender tais verdades do reino. Elas ouvirão mas isto não fará diferença nos seus corações. Esta é uma situação assustadora: “Para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se e haja perdão para eles” (Mc 4.12).
Para que a palavra germine em nós, devemos acolher a semente. Fico pensando na boa terra da qual Jesus fala neste texto. Na terra boa, todas as sementes podem germinar, mas o bom solo vai acolher esta semente do reino e deixar que ela frutifique.

2. Quando a Palavra frutifica – (Mc 4.20). Gosto de pensar no reino de Deus como semente. Esta é uma alegoria que Jesus vai usar numa parábola a seguir (Mc 4.26-29). O efeito da palavra de Deus em nós é o fruto que ela produz. Jesus fala de 1 por 30, 60 e 100. que analogia maravilhosa...
A palavra do reino em nós vai produzir resultados. Qual esforço faz a semente para germinar? Apenas ser semente! Existir na sua simplicidade. Este é o milagre da semente. Esta é a conspiração da semente. Por isto acho impressionante a parábola da semente a seguir. “O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois dormisse, e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como... a terra, por si mesma frutifica”. (Mc 4.26-28)
Que tipo de solo é o seu coração? Como você tem recebido, entendido e acolhido a palavra, a semente do reino?
G. Steiner: “Uma vez que o homem ou a mulher jovens, são expostos ao vírus do absoluto... algo de seu resplendor permanecerá neles, e, para o resto de suas vidas, estarão equipados com uma espécie de salva vidas contra o vazio”

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Mc 3.20-27 A Blasfêmia contra o Espírito Santo

Introdução:

Muitos se perturbam com a idéia de terem blasfemado. “Será que eu blasfemei contra o Espírito Santo?”. Esta idéia, geralmente atinge dois grupos:

A. Pessoas realmente sinceras que se lembram de que, em algum momento da vida, algum dia, disseram algo sério contra Deus. Muitas vezes sobre o efeito de drogas, pressões de grupo, andando com escarnecedoras e ficam se perguntando: Será que serei perdoado?

B. Pessoas deprimidas, em geral, sentem-se sob o pensamento obsessivo de que pecaram contra o Espírito Santo, e que por isto estão condenadas à perdição e ao fogo eterno. Nada pode ser mais danoso. Isto é fruto de depressão, distúrbios psiquiátricos ou síndrome de pânico. Quando tais pensamentos sobrevém, tornam-se ainda mais oprimidas com estes sentimentos. O que tenho aprendido é que, pessoas que julgam ter pecado contra o Espírito Santo, realmente jamais o fizeram.
O que é Blasfêmia contra o Espírito Santo?
Jesus afirma que é atribuir ao demônio o que o Espírito Santo faz. É sobre isto que Jesus está falando neste texto. A acusação contra ele era de que “pelo maioral dos demônios que expelia demônios” (Mc 3.22). Belzebu significa literalmente “Senhor das moscas”. Jesus argumenta dizendo: “Como pode Satanás expelir a Satanás?”. Jesus então nos dá duas linhas de orientação:

a)- Satanás não expele Satanás – Uma das perguntas que surgem em nossa mente é, como pessoas possessas são conduzidas a um terreno de umbanda e rituais espiritualistas e aparentemente “ficam livres”? O que acontece, na verdade, não é que ficam livres, e sim, como são mantidos por hierarquias espirituais, tantos os anjos malignos como os benignos são mantidos desta forma, um demônio mais poderoso ordena a um inferior e ele se retira. Não é para a pessoa ficar livre, antes para ficar ainda mais presa, já que se encontra debaixo de um demônio com poder ainda mais devastador. Fico pensando nesta afirmação: Um reino dividido contra si mesmo não pode subsistir”(Mc 3.25). satanás não se divide nos seus propósitos, embora um dos seus propósitos essenciais seja causar divisão entre as pessoas. Diabolos, um dos nomes dados a Satanás significa exatamente, “aquele que divide”. Ele divide irmãos, famílias, lideranças, igrejas, causa inveja, ciúmes, porfias, mas jamais divide a si mesmo.

b)- Satanás precisa ser neutralizado por uma força maior para que quebre seu domínio 0 (Mc 3.27). “Valente”é uma referência a Satanás. Só existe uma forma de Satanás ser vencido: Ele precisa ser dominado por uma força superior, que precisa entrar no seu domínio, sua casa, e neutralizar seu poder.

O que pode vencer o diabo?
1. A Cruz de Cristo – Cl 2.14-15 afirma: “Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Este texto nos mostra que a cruz causou um estrago na ação maligna. Jesus , despojou principados e potestades triunfando deles na cruz. Despojar é um termo de guerra que significa, levar o inimigo à rendição e tomar-lhe as armas e suas defesas. Foi isto que os Estados Unidos fizeram contra o Japão em 1945, logo após a trágica explosão da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, os japoneses se renderam incondicionalmente.
John Pipe afirma que Satanás cometeu suicídio na cruz, pois mesmo sabendo que seria derrotado nela, não se conteve diante do prazer de ver o Filho de Deus sofrendo. A cruz foi o local da derrota de Satanás. Antes de levar Jesus à cruz, ele usou as estratégias de fazer Jesus pensar na possibilidade de se libertar da cruz, fazendo-lhe ofertas no deserto, prometendo-lhe glória e domínio, e, posteriormente, usando seu amigo Pedro para convencê-lo de que a morte seria um grande desperdício. Quando Jesus começou a falar que “era necessário ser morto”, Pedro de aproximou e disse-lhe “tem piedade de ti mesmo, isto de modo algum te acontecerá”. (Mt 16.21-23). Pedro, sem saber, estava sendo instrumentalizado pelo demônio.

b) O Espírito Santo, que se manifesta historicamente na Igreja – Em 2 Ts 1.7-8 lemos: “E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda”. Que poder é este que detém “O mistério da iniqüidade... o homem da iniqüidade ou o filho da perdição?”(2 Ts 2.3). Esta é uma referência clara ao anticristo e seu poderio espiritual.
A resposta a esta pergunta possui duas vertentes complementares e dissociáveis: O Espírito Santo agindo na Igreja de Cristo.
O tema está ligado ä volta de Cristo, e ela não é, como recentemente afirmou Ricardo Gondim, “uma utopia”, ou “um horizonte utópico”, ela é literal e se dará no tempo e no espaço. Assim como os discípulos viram a Jesus subir, assim ele descerá em gloria. Por isto, neste texto lido, nos é dito: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane” (2 Ts 2.3).
A igreja de Cristo é a habitação do Espírito Santo na terra. Nós somos “O templo do Espírito Santo”(1 Co 6.19). As entidades espirituais reconhecem o poder do Espírito sobre a igreja de Cristo. Por isto, quando os filhos de Ceva, tentaram expulsar demônios usando as mesmas frases que Paulo usava, foram ridicularizados pelo demônio.
Eles disseram: “conheço a Jesus e sei quem é Paulo, mas vós, quem sois?”. O termo “conheço”, (ginosko), quando se referem a Jesus, tem uma idéia interessante: “conheço por interação. Os demônios sabem quem é Jesus. “Bem sei quem és: O Santo de Deus!” (Mc 1.24). os demônios se submetem ao nome de Jesus, porque sabem quem ele é. Esta mesma autoridade foi dada à igreja (Mc 3.15; Lc 10.17-19).
Quando se referem a Paulo, os demônios dizem: “Sei quem é Paulo”. E agora usam um termo diferente. Epistamai. Este saber não é por interação, mas por terem informações sobre Paulo. Usando uma linguagem moderna diríamos que eles tinham o profile de Paulo. O arquivo e informações sobre Paulo estavam em suas mãos.
A Igreja de Cristo detém o mistério da iniqüidade, a ação maligna e derrota o valente, por causa da autoridade do Espírito Santo sobre ela. A igreja é a única força no mundo que é imbuída deste poder e desta força que nos foi dada por Jesus. Por isto tem a capacidade de amarrar o valente e neutralizar sua ação, tirar os seus despojos e esvaziar seus efeitos deletérios.

c) A Armadura de Deus – Para vencer o maligno, Deus nos deu suas armaduras, que são descritas em Efésios 6.10-17. Por isto Paulo diz: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”. A armadura inclui:
 Nos cobrirmos com a verdade – mentira é uma roupagem traiçoeira...
 Nos vertimos da justiça – A injustiça é uma arma apreciada pelo diabo;
 Fundamentar nossos passos no Evangelho da paz – com facilidade criramos outros fundamentos filosóficos para nossos pés, e fracassamos;
 Embracar o escudo da fé – Viver com pensamento dividido é sempre uma oportunidade para Satanás nos cirandar;
 Tomar o capacete da salvação – Ninguém tire da sua cabeça a compreensão de que você foi alcançado pela graça, e é filho de Deus.
 Usar a espada do Espírito – não dá para vencer o mal sem a Palavra.
 Viver em atitude de oração – “em todo tempo”. Lembrar de guardar seu coração.
Às vezes temos a obra da cruz, já que fomos alcançados pela sua obra redentora, e encontra-se à nossa disposição o maravilhoso poder do Espírito, mas vivemos sem armadura, soldados negligentes, displicentes, distraídos, vidas descuidadas. Use a armadura de Deus.

Conclusão:Para concluir, quero voltar ao pensamento inicial. O que é blasfêmia do Espírito Santo? Três princípios precisam ser considerados:
1. Quem acha que blasfemou contra o Espírito Santo, realmente nunca blasfemou. Quem blasfema não se importa com Deus. Se voce se sente acusado por ter feito isto alguma vez saiba que isto é obra do maligno. Ele quer mantê-lo neste pensamento obsessivo e culposo.

2. Muitos homens blasfemos se arrependeram, foram perdoados, restaurados e lavados. Portanto, a blasfêmias contra o Espírito é uma síndrome que envolve muitos outros aspectos que uma palavra desatenta e descuidada, ou um desabafo de um coração machucado e em crise com Deus, que o acusou severamente num determinado período da história de sua vida.
Por exemplo, considere a vida de Paulo:
Ele meteu em cárcere homens e mulheres que criam em Jesus (At 22.19), chegando mesmo a obrigá-los a blasfemar (at 26.11), Ele afirma que foram “blasfemo e insolente” (1 Tm 1.13), mas obteve misericórdia. Este homem afirma que sobre ele “transbordou a graça de nosso Senhor”(1 Tm 1.14). Talvez muitos aqui tenham episódios similares ao de Paulo, embora não com esta intensidade;

3. Considerando estas verdades, podemos afirmar que a única blasfêmia contra o Espírito Santo é a rejeição eterna do Filho de Deus. Este é o pecado imperdoável. Não entender que a obra na cruz, tem efeito real, pleno e cabal na sua história. A Palavra de Deus nos ensina: “quem crê no filho, tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho, não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”(Jo 3.36). Nos ensina ainda que “quem crê não é julgado; o que não crê, já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). este é o pecado imperdoável.
Se você está ouvindo a Palavra de Deus e a rejeita em seu coração, despreza, ignora ou a desconsidera, não há salvação para você. Se você aceita a Jesus como salvador, “o sangue de Jesus, seu filho, nos purifica de todo pecado, inclusive de uma provável blasfêmia que você tenha cometido contra os céus, contra Deus, ou contra o Espírito Santo.
Não há pecado imperdoável, senão a recusa da oferta que Deus faz de seu filho ao entregá-lo para a nossa salvação. Todo que vem a mim, de alguma lançarei fora. “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, será salvo, entrará, e sairá, e achará pastagem”(Jo 10.9).

Atenção: A pregação desta mensagem pode ser ouvida também no youtube. www.vimeo.com/ipbanapolis

Mc 2.5 Teus pecados estão perdoados

Introdução: Vivemos numa sociedade culpada num contexto sem culpa. Quanto mais se relativiza a moral, mais se neurotiza o homem. O problema pode ser equacionado da seguinte forma: Se não há pecado real, não há perdão real – ambos são ficcionais. Frutos de ficção. Portanto, como alguém pode ser perdoado se não há nada a ser perdoado?
Temos, portanto, um sentimento vago de culpa, e eventualmente um sentimento vago de perdão. Vago, porque, a rigor, não existe perdão para quem não é culpado.

O Evangelho, no entanto, afirma que temos culpa real.
"Senhor, tu és justo, e hoje estamos envergonhados. Sim, nós, o povo de Judá, de Jerusalém e de todo o Israel, tanto os que estão perto como os que estão distantes, em todas as terras pelas quais nos espalhaste por causa de nossa infidelidade para contigo” (Dn 9.27). “Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniqüidades nos levam para longe” (Is 64.6). “Como está escrito: Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer". (Rm 3.10-12).

O Evangelho afirma também que, em Cristo, temos perdão real.
"Venham, vamos refletir juntos", diz o Senhor. "Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão. Se vocês estiverem dispostos a obedecer, comerão os melhores frutos desta terra (Is 1.18-19). “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8.1-2).

Reflexão na Palavra:
Este homem é trazido por outros. Já que não tem capacidade de vir por si só. O texto afirma que Jesus viu a fé dos que traziam o leproso (Mc 2.5), e não a fé do leproso em si – quanta desesperança e frustração na alma? Quantos precisam ser trazidos a Jesus, porque não conseguem por si mesmo se aproximar. É necessário que o amigo o encoraje, o arraste, o carregue para que tenha um encontro com Jesus. Muitos estão caídos demais, decepcionados e desesperançados demais para se dispor a ir ao encontro de Jesus. Este homem é paralítico, sua condição não lhe permite caminhar em direção a Deus. Muitos de nós também sofremos paralisia de coração, já não conseguimos mais nos mover. Não conseguimos caminhar por nós mesmos.
a. Intercessão é a oração que se faz por aquele que não consegue orar. Quantas pessoas se encontram assim?
b. Evangelização é a pregação das boas novas para aqueles cuja desilusão é tão grande que acham que toda noticia que existe é ruim na sua essência. Muitos são trazidos a Jesus por aqueles que crêem, e eventualmente, ao se depararem com o acolhimento da graça de Cristo são surpreendidos pelo seu amor.
c. O texto nos surpreendente, porém, pelo fato de que Jesus faz uma declaração voltada para a alma do paralítico, quando a razão porque trouxeram o paralítico era por causa de sua enfermidade física. O que podemos aprender deste episódio?

1. O problema que se vê nunca é o problema mais profundo

Lidamos com nossos problemas sempre acobertados como se tivessem uma cortina de fumaça. Nunca vemos a realidade em toda sua extensão.
Certa feita trouxeram um surdo mudo para que Jesus pudesse operar um milagre na sua vida e lhe desse a graça de falar. Surpreendentemente, Jesus expulsa um demônio que oprimia este homem, e o evangelista Mateus afirma de forma clara: “Expulso o demônio, passou a falar o mudo”. (Mt 9.32). seu problema visível e aparente era sua surdez, mas Jesus vê que aquela pessoa estava naquela condição por causa de uma ação maligna, e trata da essência do problema.
Lutero falava do “Pecado debaixo do pecado”. Para ele, quebramos os mandamentos quando não obedecemos o primeiro mandamento. Honramos aos nossos pais, guardamos os sábados, não nos curvamos diante de imagens, etc., quando realmente colocamos Deus como prioridade de nossa vida. Todos partem da quebra do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim”. O nosso problema é que amamos coisas mais que a Deus e elas se tornam ídolos em nosso coração e nos fazem pensar que não podemos viver sem elas. Da mesma forma devemos entender que a ira, culpa, depressão, mau humor, angústia e avareza, são pecados de superfície. Nosso problema é mais profundo que imaginamos.
O problema que vemos nunca é o problema real e mais profundo. Na psiquiatria moderna, quando os pais ou a família trazem uma criança perturbada para uma consulta, os psiquiatras colocam na ficha a seguinte afirmação: “Paciente identificado”, pois já aprenderam que, em geral, tais crianças refletem a disfuncionalidade de sua casa, tornando-se a parte mais frágil deste emaranhado complexo de uma família psicologicamente adoecida. Todos acreditam que o problema é da criança, mas a realidade é que sua enfermidade é sistêmica. Tal neurose ou distúrbio surgiu pela convivência numa família adoecida, embora a criança seja identificada como sendo “o problema”. Afinal, não existem filhos problemas, existem pais problemas.
Aquilo que achamos ser o nosso problema, pode apontar para algo muito mais complexo. Quase sempre vemos apenas o sintoma, e não a causa. A Bíblia nos demonstra que “não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores”. Nosso problema é muito mais sério que imaginamos. Pecado não é acidente de percurso, mas a essência de nossa natureza.

2. As necessidades manifestas nem sempre são as que mais nos afligem. Jesus sabia qual era a maior necessidade daquele homem, embora toda multidão acreditasse que a coisa mais importante seria sua cura física. Jesus vê nos olhos daquele homem, sua necessidade de aceitação, perdão e graça de Deus. Percebe quão grande é sua necessidade de ser amado e absolvido. Jesus sabe que há muita enfermidade associada a culpa e que por isto o ser humano precisa de coisas que estão muito além dos desejos manifestos. Há uma música que faz a seguinte pergunta: “Você precisa de que, você tem fome de que?” ("Comida", Fromer, Antunes & Britto - Titãs). Muitas vezes expressamos uma determinada necessidade que esconde necessidades maiores: A de sentido e significado.
Qual era o maior problema deste homem? Paralisia? Incapacidade de andar? Parece que não, já que Jesus trata de uma questão muito mais íntima e profunda antes de curá-lo. As questões de sua alma estavam ali presentes sem que ninguém, a não ser o próprio Deus, a soubesse. Talvez a blasfêmia, a maledicência, a raiva e hostilidade contra Deus.
Muitas vezes reclamamos dos poucos recursos que temos, da falta de dinheiro, mas nosso problema pode ser solidão, desamparo e frieza no casamento. Nossa murmuração tem raízes mais profundas e por isto o ser interior precisa ser tocado. Raiva e amargura estão por detrás do lixo e precisam ser removidos pela compreensão de que Deus nos absolveu: "Estão perdoados teus pecados!".
A Bíblia fala que a avareza é idolatria. Podemos, portanto, achar que nossa dificuldade com a generosidade e liberalidade tem a ver com avareza, que já seria em si mesma algo ruim, no entanto, a Palavra de Deus aprofunda esta questão dizendo que é idolatria. Alguma coisa, além de Deus, está ocupando o centro da existência. Estamos deixando de amar a Deus sobre todas as coisas.
Também já se tem dito que a ira é um pecado de superfície! Ela surge quando a frustração interior se acumula em nós, e associada à nossas desilusões agimos como criança que faz pirraça quando seu desejo não é atendido, respondemos com ira às situações às quais somos expostos. Ira pode refletir a impotência diante da vida, o ódio em relação à pessoas, e muitas vezes em relação à Deus. A ira que você vê, sua irritabilidade ou até mesmo explosão descabida, não é o problema maior, a ira aponta para algo muito mais sério e profundo, cujas raízes inconscientes muitas vezes não são sequer percebidas por nós mesmos.

3. A cura divina tem uma dimensão muito mais profunda que superficialmente cremos.A Bíblia diz: "Eu não conhecera pecado, enquanto a Lei não me dissera: Não cobiçarás" (Rm 7.7). Paulo percebe que seu pecado era bem mais profundo. Que seu mau humor, maledicência, ausência de paz, tinham raízes mais profundas. Por isto gosto mais da palavra, redenção, que cura. Redenção me lembra da obra de Cristo. O pecado estava arraigado no seu coração, com profundas raízes, qual nódoa, e precisava de uma ação poderosa de Deus: A morte de seu próprio Filho.
A Bíblia também ensina que o homem sem Jesus, está espiritualmente morto, incapaz, inerte e sem capacidade de responder, por si só, ao evangelho. Sendo escravo do pecado, não pode dizer: “hoje não vou pecar!”. Um escravo é cativo, subjugado, não tem liberdade ou direitos, e apenas faz aquilo que o seu senhor ordena. O homem morto espiritualmente tem seus sentidos espirituais comprometidos, incapazes de funcionar: está cego e surdo, sua mente impossibilitada de compreender as verdades espirituais
Jesus olha para este homem e diz: "Estão perdoados teus pecados!". Que declaração maravilhosa de Deus para nossas vidas. Esta foi a essência da missão de Cristo na cruz. Ali ele exclamou: "Tudo está consumado!" . Esta palavra, literalmente significa: “Não há mais dívida a ser paga”, a duplicata que nos condenava foi rasgada (Col 2.14). Não há mais sacrifício a ser realizado, Jesus pagou o preço de nossa divida e nos perdoou. Jesus cura o paralítico, mas antes precisa tocar na sua alma. Jesus acalma a tempestade no mar, mas antes acalma o meu coração: "Tende bom ânimo. Sou eu. Não temais" (Mt 14.27). Antes de acalmar a tempestade que está do lado de fora, precisa acalmar o coração desassossegado dos discípulos. Da mesma forma, Jesus cura o leproso em Mc 1.41, mas antes cura sua culpa, sua vergonha, seus pecados, tocando-o!

Conclusão:

Jesus autentica sua redenção no coração do homem: “Filho, estão perdoados os teus pecados”, dizendo ao paralítico: “Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Mc 2.11). Ao perdoar seus pecados, e não curá-lo, Jesus quis mostrar que seu ministério num primeiro momento não é resolver questões provisórias e materiais das pessoas, antes tratar da área mais profunda da humanidade, que é sua alma. Jesus lida de forma direta com a natureza caída, com a alma adoecida, com o distanciamento que o pecado trouxe ao coração do homem.
Seus amigos o trouxeram a Jesus, não para que seus pecados fossem perdoados, mas para que ele fosse curado. Jesus porém revela, que a dor mais angustiante de nossa alma tem a ver com nosso ser interior.

O vídeo deste sermão pode ser ouvido no youtube. www.vimeo.com/ipbanapolis

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Perigos da Religião Mc 2.1-28; 3.1-6

Introdução:Bonhoeffer popularizou a idéia do “cristianismo sem religião”. Gosto mais da sensatez de Eugene Peterson no livro “à sombra de uma planta imprevisível”, quanto afirma que é impossível dissociar o cristianismo de uma religião, mas que precisamos tomar muito cuidado para que sua influência não aniquile a graça do evangelho em nós.
Peterson tem razão. Mas precisamos estar conscientes de que, em muitos aspectos, religião é inimiga do evangelho. Jesus criticava mais os religiosos que pecadores. Por que? Em Mt 23 existe todo um capítulo no qual ele demonstra os efeitos deletérios da religião na vida do povo judeu. Jesus mostra como a religião pode ser inimiga de Deus.
Isto deve nos servir de alerta, para nós que não achamos que isto tem algo diretamente a ver conosco. Nosso coração tende a ser religioso. Todos os povos constroem seus símbolos, ritos, significados, cultos e estruturas simbólicas da sacralidade. Tudo isto é um componente claro da religião. Já parou para pensar quantos elementos estão presentes na dinâmica de uma igreja local que a ligam à estrutura religiosa?
Nestas perícopes que lemos, existem 4 episódios que nos revelam o que a religião é capaz de fazer, e todas elas conspiram gravemente contra Deus:

1. A Religião tem o enorme poder de nos levar a acharmos que somos superiores moral e espiritual. (Mc 2.15-17).
Ela tende a isolar as pessoas e levá-las a se distanciar de outros que precisam de nossa aceitação e compaixão. Jesus foi acusado de comer com pecadores e publicanos, de se assentar com estas pessoas. E Jesus faz uma belíssima afirmação: “Os sãos não precisam de médicos, e sim pecadores, não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento”.
Uma das razões porque as pessoas não gostam de vir às igrejas é porque geralmente as pessoas se acham superiores e as julgam pelo que fazem ou deixam de fazer. Um grande desafio que se impõe à igreja é “como ser santa e piedosa, sem deixar de ser amigável, acolhedora e sem preconceito?”
Alguém já afirmou que toda igreja genuinamente cristã deveria ter escrito na sua entrada: “Proibida a entrada de pessoas perfeitas”. O inimigo no. 1 do evangelho é a justiça própria. Gente que se acha boa e que não precisa da graça de Deus. O problema é que Jesus não chama estas pessoas perfeitas para serem seus discípulos: “Os sãos não precisam de médicos... não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”.
A cruz revela nosso fracasso. Em Rm 3.19 lemos que a lei nos foi dada para que, diante de Deus, toda boca se cale. Diante do evangelho cessa nossa justiça própria, nossa falsa sensação de méritos. A religião, ao contrario do evangelho, sempre age com base na auto promoção ao invés da glória de Deus: “praticam as suas obras com o fim de serem vistos dos homens” (Mt 23.5).

2. A religião tende a criar estruturas pesadas que impedem a celebração – (Mt 2.18-22). Os discípulos estão sendo questionados sobre o jejum. Jesus foi acusado de beberrão e glutão.
Jesus, porém, passa a ensinar-lhes sobre esta questão de “vinhos novos em odres velhos”, e afirma que isto não é plausível. Estruturas velhas baseadas nos ritos e convenções religiosas tendem a sufocar a possibilidade da re-criação divina. Todo religioso tem a tendência de enquadrar Deus dentro de seus pressupostos e ritos. A novidade em teologia é quase sempre a negação do velho e isto assusta aqueles que se acham defensores da tradição e da religião. Em geral confundem essência com acidente, temporal com eterno e histórico com revelado. É uma tragédia!
Em Mt 23.4, Jesus vai afirmar que os fariseus e escribas, detentores da religião em seu tempo, “atam fardos pesados sobre os ombros dos outros, mas não o movem sequer com um dedo”. O religioso gosta de exigir e cobrar dos outros aquilo que ele mesmo não faz. Esta é a característica da religião. Por isto Jesus ainda afirma que “depois de terem feito um prosélito, o jogam duas vezes no inferno”. (Mt 23.15). Isto é, transformam a vida de tais pessoas num inferno na terra e num inferno no porvir.

3. A religião valoriza mais rituais que pessoas – (Mt 2.23-28).
Por que foram dadas as leis? O Antigo Testamento nos ensina que os mandamentos foram dados para a vida, no entanto, os transformamos em estruturas de opressão e controle. Queremos transformar as tradições em substitutos da Palavra de Deus (Mc 7.8-9).

A Questão do SábadoJesus é inquirido aqui quanto ao sábado, que foi instituído pela lei. Jesus passa a ensinar porque razão Deus deu o sábado às pessoas, qual era seu objetivo original:
A. Quebrar o ciclo da ganância humana – Numa sociedade que tende a considerar o lucro a coisa mais importante, Deus afirma que existem coisas que não podem ser desconsideradas. O excesso do trabalho pode ser uma tragédia para muitas vidas. É necessário parar, confiar que o rio corre sozinho. Que a vida tem processos, que existem coisas igualmente necessárias ou talvez ainda mais importantes. Precisamos parar, descansar, refazer as forças. O lucro não é tudo!
B. Sábado tinha uma função social – Numa sociedade baseada na escravatura, aliada a um patrão ganancioso, poderia levar o trabalhador a trabalhar à exaustão. Para proteger o pobre, o trabalhador e o escravo, Deus ordena o sábado.
C. Sábado tinha a finalidade de trazer equilíbrio à natureza – tinha um senso de proteção aos animais. Vocês sabiam que o jumento e o boi também não podiam trabalhar no sábado? Até o animal precisa de pausa. Deus estava pensando nos animais ao criar o sábado.
D. O Sábado tinha um propósito espiritual – tempo de adoração e reflexão. de se concentrar mais na palavra de Deus. Era o tempo em que os judeus iam às sinagogas ou ao templo para buscar a Deus e o adorar, como fazemos aqui dominicalmente. O convite de Deus era para que este tempo fosse também reservado para o homem pensar nas coisas espirituais.

O que o religioso fez? Transformou o meio em fim, e o sábado foi usado como meio de controle e legalismo. Nem o homem da mão ressequida poderia ser tratado no sábado, o rito tornou-se maior que as pessoas, contudo, não era esta a idéia original de Deus.
Deus descansou. Para quê? Será que o Deus que não dormita nem dorme precisa tirar um cochilo e descansar? Não! O propósito era didático: celebrar, descansar, adorar, refletir. A inversão do propósito do sábado se tornou um peso para os judeus. O sábado que era o meio se torna o fim em si mesmo. A religião sempre tem o poder de fazer assim com as coisas de Deus.

4. A Religião pode levar-nos ao endurecimento do coração – (Mc 3.1-6)
Um dos textos que mais move o meu coração em todas as Escrituras é este. Tudo acontece dentro de um templo (sinagoga), durante um culto. Os religiosos não estão ali para adorar. Eles cumprem seus rituais e compromissos religiosos, mas seu coração não está identificado com o que fazem. Esta é tendência do religioso, de se tornar severo e endurecido, em nome dos costumes e das tradições; eventualmente em nome da pureza. Foi assim com a inquisição, é assim com os tribunais eclesiásticos e com muitos conselhos e assembléias de igreja.
Existe uma coisa que me intriga: Por que todo liberal é simpático e todo ortodoxo é rabugento? Não deveria ser diferente? Aqueles que melhor traduzem o Evangelho não deveriam ser pessoas mais doces e amáveis nos seus tratos? Santa Tereza D´avila dizia: “Deus nos livre de santos de cara amarrada!”
O texto afirma que Jesus teve duas reações: “indignado e condoído” (Mc 3.5). O que significa cada uma destas palavras:
Indignação geralmente se dá diante da injustiça. Já se sentiram assim diante de uma pessoa fraca que está sendo vilipendiada na sua humildade? Ou ao ver uma mulher diminuída por um homem arrogante? Uma criança sendo judiada? Ou animal cruelmente espancado? Este é o sentimento de indignação que brota no coração de Jesus.
Condoído tem a ver com dor no coração. Ao ver a atitude daqueles homens dentro do templo, quando deveriam estar adorando a Deus, Jesus sente dor. O texto mostra porque Jesus tem estes sentimentos: “ao ver a dureza de seus corações!”.
Diante da cura, deveriam se maravilhar com o sagrado, com o mover de Deus. Estão diante de algo sobrenatural, mas aquilo não os impacta; pelo contrário, ao sair dali, se aliam a um corrupto poder político, os herodianos, e planejam como tirar a vida de Jesus. A vida humana daquela pessoa que vivia limitada com a mão ressequida não lhes interessa. Sua fé é meramente burocrática, colocada à disposição de um sistema perverso.

Conclusão:
No início afirmei que tais verdades devem nos servir de alerta, já que nosso coração tende a ser religioso. Precisamos voltar à essência do evangelho. A cruz de Cristo é uma denúncia contra nossa religiosidade, que tende a nos endurecer, a criar uma falsa segurança e uma falsa moral. A cruz anula nossos tolos esforços, não há mérito, mas graça.
Você se apega a ritos, símbolos, atitudes religiosas e comportamentos esperados de sua comunidade, mas seu coração tem sido tocado pela mensagem do evangelho? Você tem estado deslumbrado com o Cristo fez por você na cruz? Seu coração tem sido impactado e derretido pela presença de Deus? Muitas vezes você tem se sentido indigno de Deus, e isto tem gerado atitude de confissão e quebrantamento? Ou os ritos e símbolos bastam à sua espiritualidade? Estas questões fazem a diferença entre comportamentos meramente religiosos e atitudes essencialmente ligadas ao Evangelho.
Precisamos estar atentos aos movimentos de nosso próprio coração.