Introdução:Tentações são diferentes para pessoas diferentes. No filme, advogado do diabo, uma frase no final do mesmo, proferida pelo próprio demônio, se torna clássica: “vaidade é meu pecado predileto”. Este texto fala de diferentes solos, que apontam para o meu e o seu coração. Refletem nossa vida. Alguns deles não são diretamente relacionados à minha vida, já que não se constituem em sedução para mim. Existem tentações diferentes para pessoas diferentes.
Na espiritualidade clássica da igreja cristã desenvolveu-se o conceito dos Sete pecados capitais. São chamados assim porque são matriciais. Não existem apenas 7 pecados, mas deles deriva toda uma soma de outros pecados.
Considere os seguintes exemplos:
Luxúria ou lasciva – Tem a ver com a deformação da sexualidade. Daí deriva a pornografia, a promiscuidade, fornicação, adultério, pornografia, etc.
Avareza – Dificuldade em dar, em repartir, em abençoar outros, contribuir para o reino de Deus e na obra do Senhor.
Gula – Destemperança, avidez, cobiça, ingerir mais do que é necessário, ter mais do que se é necessário, amontoar coisas. Engordar, no sentido mais amplo da palavra.
Todos estes e os demais pecados apontam para elementos de sedução. A fraqueza de seu irmão pode não ser a sua, mas nem por isto deixa de ser perigosa...
O que pode impedir que a semente do reino de Deus frutifique em nós? Alguns solos enfrentam lutas distintas dos outros, como Jesus descreve nesta parábola, mas ambos são igualmente danosos.
1. Oposição Satânica – (Mc 4.15). Jesus afirma que o primeiro obstáculo para que a semente seja acolhida e frutifique em nós, é a ação do inimigo de nossas almas. Satanás conspira contra a Palavra de Deus. Muitas pessoas demonstram interesse pelas verdades de Deus, mas o diabo, astutamente, retira as verdades do Evangelho do seu coração.
Em Atos 13, Paulo está na Ilha de Pafos, pregando o evangelho ao procônsul Sérgio Paulo. A Bíblia mostra que ele era um homem inteligente, lúcido (At 13.6-7) e que diligenciava em ouvir a Palavra. No entanto, Elimas, que exercia influência espiritual na região procurava afastar o procônsul da fé cristã.
Fico pensando como isto é verdade ainda hoje. Muitas pessoas se aproximando da palavra, lendo livros evangélicos, freqüentando cultos e buscando a Deus, mas enfrentando enorme oposição para ouvir, entender e acolher a palavra por causa da ação do diabo que se opõe à verdade de Deus.
O texto afirma que satanás trabalha ao mesmo tempo em que a Palavra é semeada. “Enquanto a ouvem, logo vem satanás e tira a palavra neles semeada” (Mc 4.15). Uma ação simultânea.
Isto me impressiona. Jesus afirma que se a semente não germina em nosso coração não poderemos nos converter a ele, e não haverá perdão.
Fico sempre pensando nas grandes lutas que ocorrem no campo de nossa mente entre o processo da semeadura da palavra e da oposição feita pelo diabo. Quando a semente poderia começar a germinar, trazendo compreensão do reino, vem o diabo e retira a palavra semeada. Isto é questão de vida ou morte!
2. Superficialidade do coração (Mc 4.16-17). Se no primeiro elemento temos a acao do diabo, no segundo, vemos a realidade de nossas vidas. “Recebem a apalavra com alegria, mas eles não tem raiz em si mesmos, sendo antes de pouca duração” (MC 4.16-17).
A superficialidade ameaça seriamente nossa vida cristã. Karl Rahner, conhecido teólogo católico disse: “Nos dias que se seguem, ou você será um místico (alguém que experimentou Deus pra valer), ou simplesmente nada”. O problema é que, ao olharmos para nosso coração, vemos quão raso ele é.
Certa vez Deus disse ao povo de Israel : “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manha e como o orvalho da madrugada, que cedo passa” (Os 6.4).
Pe. Antonio Vieira , no seu conhecido sermão da Sexagésima afirma que no texto, em nenhum momento, Jesus sinaliza para a possibilidade de que haja problema com a semente. O problema sempre se encontra na terra. A Palavra de Deus tem vitalidade, seu germe é ativo, mas quão ruim tem sido o solo de nosso coração.
Falta-nos aquilo que David Wilkerson chamou de Angústia, que Lutero chamava de Anfektung, uma dor vital, anseio profundo pelas verdades de Deus. Precisamos de mais profundidade. Nosso solo rochoso ouve a palavra com alegria, mas nosso coração é raso, não tem raiz em si mesmo.
Eventualmente pregadores falam do compromisso com o dinheiro. Jesus falou deste assunto mais que qualquer outro assunto, exceto o Reino de Deus. O que ele queria nos ensinar? Não é a questão monetária em si, mas dinheiro aponta para algo mais profundo. “Onde estiver teu tesouro, ai estará o teu coração”. Fé que não exige nada, não vale nada. Se você não tem aprendido a lidar com esta área de forma generosa, indague a seu coração: “Por que não tenho prazer em servir a Deus com meus bens?”.
Pense na área da oração. Quão profunda tem sido sua experiência com Deus? Ela revela seu envolvimento e relacionamento com ele. Quando você não sente vontade em orar, deve indagar ao seu coração: “Por que não tenho prazer na oração?”.
Somos uma geração rasa na fé – falta-nos profundidade. Poucos estão pagando o preço pelo reino de Deus. Olho para meu próprio coração e fico entristecido. Quão raso, quão tímido, quão pusilânime ele é. É necessário angustiar por isto.
O que acontece quando vivemos superficialmente? O texto demonstra que existem dois inimigos que nos atingem em cheio: Angústia e perseguição (Mc 4.17). Observe que esta não é a mesma angústia à qual nos referimos anteriormente.
Angústia aponta um elemento interno: Nossos conflitos pessoais. Porque a Palavra não penetra profundamente em nós, vivemos adoecidos emocionalmente. Existe muito sofrimento que nos joga para baixo e que tem a ver com a ausência da Palavra de Deus viva em nós. Vivemos em ciclos viciosos de depressão, perturbação, angústia, ansiedade, preocupações, síndromes modernas e antigas – porque a Palavra de Deus não tem sido operosa em nós.
A semente tem que penetrar profundamente em nossa vida.
O que acontece quando vivemos orientados por esta pecaminosa angústia? Nós nos escandalizamos na palavra. Começamos a indagar: Como Deus pode permitir isto comigo?”. Esta é a angústia narcisista. Muitas angustias virão sobre nós porque a Palavra germinou.
Considere viver numa sociedade promíscua como a nossa. Você sofre angústia não porque é infiel, mas por ser fiel... muitos jovens que buscam uma vida de santidade sexual, sofrem por causa da Palavra... Muitos profissionais cristãos sofrem por causa da Palavra. Muitas vezes para se manter no emprego é necessário ser desonesto, e aquele em quem a palavra brotou, vai se angustiar porque não vai agir com base na mentira e desonestidade. Angústia que vem por causa da Palavra.
Perseguição aponta para um elemento externo. Jesus diz que seremos perseguidos por causa da Palavra. Se somos superficiais, se o solo é rochoso, diremos: -“Como Deus pode permitir que isto aconteça comigo? Tenho sido fiel...” A perseguição, entretando. Se dá exatamente por causa da fidelidade.
Se nossas raízes são profunda no Evangelho, nos regozijaremos por sofrer por causa do evangelho. Se são rasas, nos escandalizamos...
3. Cuidados do mundo – (Mc 4.19). Este é o terceiro elemento: Satanás, superficialidade do coração, atração pelo mundo.
Não me parece que “cuidados do mundo” sejam, na sua essência. Pecaminosos. Todos temos tarefas a cumprir, agendas para seguir, projetos a executar, compromissos a atender. O que existe de errado com tais cuidados?
O problema aqui é de foco e de atenção.
Perdemos facilmente o foco do reino de Deus.
As tarefas, agendas, compromissos e projetos consomem nosso tempo e nos levam a um fazer irrefletido, e vamos seguindo, como autômatos em direção às exigências e tarefas a realizar. Vivemos a filosofia do Zeca Pagodinho, “deixa a vida me levar!”, passamos a um viver sem sentido. Nos esquecemos de Deus. T. S. Elliot indaga: “Onde está a vida que perdi, tentando encontrá-la?”
Jesus afirma que este é o coração cuja palavra cresce em meio aos espinhos. A palavra está sufocada e se torna infrutífera em nós. Jesus fala de dois elementos que cooperam para sufocar a Palavra no meio dos espinhos.
A. A fascinação das riquezas – (Mc 4.19). Ficamos fascinados pelas possibilidades que a vida oferece, o glamour das riquezas. Todos temos em nossa mente a imagem clássica dos filmes onde uma pessoa precisa largar o ponte de ouro para continuar a viver. No rio Mississipi, após um naufrágio no século passado, encontraram um homem morto com o bolso cheio de ouro. Nossa vida não é diferente. Perdemos o reino, nos esquecemos de Deus, porque ansiamos mais, possuir mais...
B. As demais ambições – (Mc 4.19). Acho esta declaração de Jesus extremamente complexa. Todos temos ambições. Ambição não é um termo como ganância e cobiça, que só abrigam idéias negativas. Pessoas sem ambições, em geral, são preguiçosas e se justificam existencialmente porque falta garra, ousadia e coragem, dizendo que não são ambiciosas. Então, que mal podemos encontrar nestas ambições?
Mais uma vez trata-se de foco. A ambição retira prioridades... Imagine um estudante que quer ser um bom profissional e luta para fazer as coisas com excelência. Ele se esforça, dá duro nos estudos, se entrega, no entanto, sacrifica sua vida com Deus, sua vida devocional e o compromisso com o Senhor. Esta sua ambição vai retirar a palavra do seu coração.
Considere um profissional cristão. Competente no que faz, esforça-se por sua empresa e espera o reconhecimento de seu patrão. Ele quer se projetar e ser diretor da mesma, no entanto, seu trabalho o afasta do Senhor. Ele deixa de ter tempo para orar, ler a palavra ou freqüentar a igreja. Seu esforço concentrado se volta para a profissão. A Palavra pode ser sufocada em seu coração. Tudo é uma questão de foco e atenção!
Conclusão: Quando a palavra frutifica?
1. Quando a ouvimos, entendemos e acolhemos em nosso coração – Mc 4.12 Jesus fala de pessoas impossibilitadas de entender tais verdades do reino. Elas ouvirão mas isto não fará diferença nos seus corações. Esta é uma situação assustadora: “Para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se e haja perdão para eles” (Mc 4.12).
Para que a palavra germine em nós, devemos acolher a semente. Fico pensando na boa terra da qual Jesus fala neste texto. Na terra boa, todas as sementes podem germinar, mas o bom solo vai acolher esta semente do reino e deixar que ela frutifique.
2. Quando a Palavra frutifica – (Mc 4.20). Gosto de pensar no reino de Deus como semente. Esta é uma alegoria que Jesus vai usar numa parábola a seguir (Mc 4.26-29). O efeito da palavra de Deus em nós é o fruto que ela produz. Jesus fala de 1 por 30, 60 e 100. que analogia maravilhosa...
A palavra do reino em nós vai produzir resultados. Qual esforço faz a semente para germinar? Apenas ser semente! Existir na sua simplicidade. Este é o milagre da semente. Esta é a conspiração da semente. Por isto acho impressionante a parábola da semente a seguir. “O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois dormisse, e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como... a terra, por si mesma frutifica”. (Mc 4.26-28)
Que tipo de solo é o seu coração? Como você tem recebido, entendido e acolhido a palavra, a semente do reino?
G. Steiner: “Uma vez que o homem ou a mulher jovens, são expostos ao vírus do absoluto... algo de seu resplendor permanecerá neles, e, para o resto de suas vidas, estarão equipados com uma espécie de salva vidas contra o vazio”
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