quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Mc 1.15 Arrependei-vos e crede no Evangelho… II




Introdução:

Se é verdade afirmar que é difícil se arrepender, igualmente o é “crer no Evangelho”.

É fácil crer em muitas coisas, algumas até bizarras
Mas não é fácil crer no Evangelho.

Jesus certa vez fez uma pergunta aparentemente sem sentido: “Quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18.8). Já faz mais de 2000 anos que ele partiu, e a raça humana é carregada de fé, crendices, superstições, religiões, deuses e demônios. A raça humana tem tanta fé... Será que Cristo estava se referindo a este tipo de fé?
Se observarmos o encadeamento desta pergunta narrada em Lucas, veremos que, em seguida, Jesus contará a parábola do fariseu e do publicano. O objetivo da parábola é claro: “Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros” (Lc 18.9). A pergunta de Jesus tem a ver com a fé salvadora, não a fé em qualquer coisa, do tipo “fé na fé”. O ponto é: quando o Filho do Homem voltar, vai encontrar pessoas crendo na obra que ele realizou?

Por que é difícil crer no Evangelho?

1.     Porque o Evangelho é denúncia – A palavra Evangelho significa literalmente “boas novas”. Uma mensagem nova chegou para que substituísse as más notícias.

O ser humano se perdeu na sua trajetória.
Eis o que tão somente achei. Que Deus fez o homem reto,
e ele se perdeu em muitas astúcias”(Ec 7.29).

Deus o fizera sua imagem e semelhança, mas o homem decidiu construir uma vida independente. O Evangelho vem denunciar as consequências da “teomania” da raça humana, esta atitude de se colocar no lugar de Deus e se idolatrar. O resultado tem sido confusão, desordem, guerras, ódio, violência, porfia, inveja, luta pelo poder, ganância, e poderíamos colocar mais duzentos adjetivos que mostram a falência do ser humano.
Deus enviou seu Filho para buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Perdido é alguém que não sabe mais onde se encontra, não tem senso de direção, não sabe mais o que é errado e o que é certo, não faz diferença entre sul e norte. A morte de Cristo na cruz, para que houvesse um evangelho a ser pregado, denuncia a humanidade sem rumo.

2.     Porque o Evangelho mexe com o nosso orgulho – Imagine o homem na sua arrogância. Ele não quer depender de Deus a quem ele rejeitou. Quando rejeitamos a obra de Cristo estamos declarando: “Não preciso de ninguém para me salvar, eu posso salvar a mim mesmo”.

A verdade é que Jesus morreu a nossa morte para que vivêssemos sua vida. Certa pessoa ao ouvir esta declaração, reagiu violentamente: “Eu não preciso de ninguém para morrer a minha morte. Eu mesmo a morro!”
O Evangelho fala da impotência do homem em salvar-se a si mesmo.
Mas isto é contrário a todos os princípios de todas as religiões no mundo inteiro. Todas elas afirmam que você pode ser salvo se for uma pessoa boa, se fizer boas obras, praticar caridades, afinal, perguntam intimamente: “Qual foi exatamente o motivo da morte de Cristo?”
Boa parte das pessoas rejeitam a obra vicária de Cristo, sua voluntária entrega na cruz, para nos resgatar do pecado. A Bíblia afirma que Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado (2 Co 5.7). O que isto significa? O Cordeiro de Deus foi sacrificado por nós.

Você tem confiado na cruz de Cristo ou nos seus esforços?

O Evangelho destrói todo orgulho humano, desfaz toda auto suficiência em relação à sua salvação.
Paulo afirma: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”(Rm 3.28). “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por que lei? Das  obras? Não; pelo contrário. Pela lei da fé” (Rm 3.27).
O Evangelho mostra que Deus nos tornou justos aos seus olhos gratuitamente, mediante a sua graça. O homem não “ganha” a salvação, no sentido meritório, como conquista pelo seu currículo moral ou espiritual, mas ele a recebe graciosamente. Não há mérito, nem há conquista humana, mas apenas a graça e a bondade de Deus.

Será que conseguimos crer nisto ou ainda insistimos em crer nos nossos esforços pessoais?

3.     Porque o Evangelho retira o homem do centro – O Evangelho coloca Deus no centro, não o homem. Não há antropocentrismo, mas teocentrismo. Os homens não são soberanos, Deus é.

Paulo afirma ainda:
pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus
como gregos, estão debaixo do pecado”(Rm 3.9).

O homem não está no centro, Deus está.
Não que por nos mesmos sejamos capaz de pensar
alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário,
a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).

Tudo vem de Deus. A glória é dele.

Quando Jesus estava morrendo na cruz ele declarou ao Pai que “tudo estava pago”
“Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede! Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca. Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Tudo Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito”. (Jo 19.28-30).

“Está consumado” literalmente significa “Tudo está pago!

Jesus estava dizendo ao Pai que estava concluída a sua obra na terra. Ele tentou explicar isto aos seus discípulos: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome...” (Jo 12.27-28)

Quando ele disse: “Está consumado!” foi uma afirmação ao Pai. Sim, a obra estava concluída, de uma vez por todas. Jesus realizou-a plenamente. Estava cumprida a missão.

A conta estava paga.
Quando quitamos uma dívida, as pessoas devolvem a duplicata, ou entregam o recibo de quitação. Foi isto que Jesus disse: “Tudo está pago!” Na cruz ele pagou a dívida de nosso pecado.
O apóstolo Pedro disse que Jesus sofreu em nosso lugar
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1 Pedro 2:21,24).

Nenhuma obra humana.
Deus realizando todas as coisas por meio de Cristo.
Obra consumada pelo seu sangue. Tudo está resolvido, quitado, consumado. O homem não pode salvar a si mesmo, mas precisa confiar no Evangelho.

Tim Keller, no livro Igreja Centrada (Pg 35), afirma que o Evangelho é uma mensagem sobre como fomos resgatados de um perigo: condenação e morte eterna.

Ele dá algumas dicas sobre o Evangelho:
A. Evangelho é uma boa notícia não um bom conselho - Não é fundamentalmente um modo de vida. não é algo que fazemos, mas que foi feito por nós e ao qual devemos responder.

B. O Evangelho é uma boa notícia que anuncia que fomos resgatados - 1 Ts .10 afirma: "fomos resgatados da ira vindoura". O mundo está desajustado e precisamos ser resgatado. Os problemas "horizontais" não são a raiz do problema, o o motivo de toda infelicidade tem a ver com nosso relacionamento com Deus.

C. O Evangelho é uma boa notícia sobre o que Jesus Cristo fez para restaurar o nosso relacionamento com Deus. Tornar-se cristão diz respeito a uma mudança de condição perante Deus. 1 Jo 3.4 afirma que "já passamos da morte para a vida", e não que "estamos passando". Ou você está em Cristo, ou não está. Ou você é aceito e perdoado ou não é.

Por isto, dois inimigos mortais do Evangelho sempre estão presentes: (1)- O moralismo (legalismo), que diz: "para ser salvo precisamos ter uma vida santa e moralmente boa", e (2)- O relativismo moral, ou antinomismo que diz: "Como já fomos salvos, não precisamos de uma vida santa e moralmente boa". 

O Evangelho nos fala da grande obra de Cristo a nosso favor.
Ele assumiu nosso lugar, ele nos salvou.
Isto é o Evangelho.


Achamos fácil crer na obra de Cristo ou ainda confiamos em nós mesmos para salvação? Onde está sua confiança?
"Se você crê somente no que gosta do evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas sim, em si mesmo" (Agostinho). 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Gal 1.1-6 A Exclusividade do Evangelho



Introdução:

Nada é pior que falharmos em crer no Evangelho da graça, porque não há outra alternativa ou substituto ao Evangelho (Gl 1.6-7). Os cristãos de Gálatas estavam dentro da igreja, mas estavam perdendo o Evangelho. (vs. 6) Eles estavam criando “outro evangelho”.

É assustador pensar isto, porque esta igreja havia sido fundada pelos apóstolos cerca de 20 anos atrás. Como conseguiram se desviar tanto? “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho”(Gl 1.6). As transições foram rápidas demais. Haviam se convertido há pouco tempo atrás e já estavam assumindo posições teológicas completamente opostas àquelas que lhes haviam sido ensinadas.

Vários desvios podem ser assumidos pelos que seguem o evangelho:

A.   Evangelho, menos algumas coisas – Isto acontece quando acreditamos que podemos aceitar determinadas verdades e rejeitar outras, não nos submetendo às exigências do Evangelho. “Creio ao meu modo” ou “faço do meu jeito”. Assim, suprime-se determinadas verdades para não serem incomodados, principalmente àquelas que estabelecem exigências morais, a importância da santidade e de compromisso com o reino;

B.    Evangelho, mais algumas coisas – Isto é muito comum. Paulo enfrenta este problema com esta igreja da Galácia. Alguns judeus, queriam submeter os cristãos a determinadas regras do judaismo, como “guardar dias, meses, e tempos e anos” (Gl 4.10), e Paulo afirma que isto seria voltar, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, os tornaria escravos (Gl 4.9).
É muito comum encontrarmos acréscimos ao Evangelho
Eis alguns exemplos:
Evangelho +  o sábado;
Evangelho + ritual;
Evangelho + ascetismo;
Evangelho + um profeta.
Desta forma, perde-se o evangelho. Os cristãos da Galácia estavam perdendo o evangelho para “outro evangelho”. O “outro”, é o “anti evangelho”, já que não existe “outro evangelho”, mas apenas pessoas que tentam perturbar e perverter o evangelho (Gl 1.7).
Desta forma surge o evangelho segundo os homens, ou “o evangelho dos santos evangélicos”, como afirmou Juan Carlos Ortiz. Pessoas que tentam “reinventar a mensagem”, dar uma roupagem nova ao conteúdo, sempre alterando sua essência, já que “o novo em teologia é quase sempre a negação do velho”(Robinson Cavalcante).

O que precisamos aprender sobre o Evangelho?

Primeiro, o evangelho é simples

A mensagem de Cristo é objetiva e direta. Ele a deixou claro no inicio de sua pregação logo depois do seu batismo:  Arrependei-vos, e crede no Evangelho” (Mc 1.15), e quando Marcos está fechando o conteúdo do evangelho que leva seu nome, ele registra a mesma enfase que sempre esteve presente no ministério de Jesus, desde o princípio: “Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crê ja está condenado!”(Mc 16.16). Sua mensagem é simples e direta, sem mudança ou variação.

Segundo, o evangelho não tem substituto
Ele é único e pode ser comparado a um vácuo. Se você coloca alguma coisa no vácuo, ele deixa de ser vácuo. “Ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue egangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8). Qualquer abordagem além do Evangelho, conduz-nos à morte e à maldição. A palavra “anátema”, citada duas vezes, significa maldição (Gl 1.8-9). Abandonar o Evangelho é abandonar a Jesus e trazer condenação sobre si mesmo.

Infelizmente, nosso natural desejo é construir um mundo à parte das “boas novas”, e focarmos nas nossas habilidades espirituais e morais, mas a Palavra de Deus é clara: “Sabendo contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também nós temos cridos em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16-17)
Qualquer outro caminho nos conduz à morte e nos distancia de Deus.

Terceiro, o Evangelho vem diretamente de Deus
Paulo inicia este texto dizendo: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus o Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1). Deus inicia o processo, tudo vem dele. Isto é chamado em teologia de monergismo.  Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5).
Num debate entre diversos líderes religiosos em Londres, perguntaram a C.S.Lewis qual era o diferencial do cristianismo em relação às demais religiões, e ele respondeu: A graça! Ele argumentou que muitas religiões pagãs, falam da ressurreição de seus heróis ou líderes, outras asseveram que eles tiveram um nascimento sobrenatural, algumas declaram sua divindade, mas o específico no cristianismo é o fato de que o homem não salva a si mesmo, mas é salvo por Deus. O diferencial é a graça. Tudo vem de Deus!
Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porqu eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo”.
Isto é o evangelho.

Conclusão:
Vivendo no Evangelho e na graça (Gl 2.18-21) 
Veja como facilmente nos distraímos:

q  Toda vez que tentamos comprar o favor de Deus estamos perdendo a dimensão da graça. Toda benção chega de Deus chega até nós somente pela graça, através dos méritos de Jesus Cristo. Sempre ficamos com a impressão de que, se não fizermos todas as nossas obrigações cristãs deixaremos de receber as bênçãos de Deus. Na verdade, “nada do eu faça, ou deixe de fazer, fará com que Deus o ame mais ou menos. Ele o ama unicamente pela graça demonstrada através de Jesus”. (Howard Hendricks, professor do Dallas Theol. Seminary).

q  Toda vez que dependo do meu esforço, estou perdendo o Evangelho . Creio que para compreender como estamos em relação ao Evangelho, precisamos checar nossos principios perguntando: “Eu entendo que Jesus morreu por mim?”(M. Lloyd Jones).

q  Outra questão importante é a seguinte: Você ainda pensa que se não tiver uma boa performance Deus não o amará?

Veja como isto é desafiador. Fui ordenado ao Sagrado Ministério em Janeiro de 1981, e de lá para cá estou sempre pregando a Bíblia e anunciando as boas novas, entretanto, muitas vezes percebo que somente agora estou começando a entender o que significa a graça na minha própria vida.

Lutero disse alguma coisa semelhante:

“Durante vinte anos eu tenho ensinado e acolhido a doutrina da suficiência de fé nos méritos de Cristo, pelos quais somos aceitos perante o tribunal de Deus: contudo, aquele velho e tenaz engano me assedia de tal forma que ainda descubro uma tendência de aproximar-me de Deus trazendo alguma coisa em minha mão, pela qual possa merecer a sua graça”.

Vivendo o Evangelho da Graça
A.   Toda vez que tento viver confiado em mim mesmo, estou perdendo o Evangelho - O inimigo número 1 do Evangelho é a justiça própria, confiar em si mesmo para salvação. Vale a pena ver como o apóstolo Paulo percebe isto em Fp 3.9-10. Portanto, precisamos nos arrepender de nossa justiça própria.

B.    Toda vez que tento comprar o favor de Deus, estou me desviando do evangelho, afinal, somos salvos pelos méritos nossos ou pelos méritos de Cristo? Ao vivermos em santidade e louvor, a base deve ser sempre a gratidão e não mérito.

C.    Toda vez que dependo de meu esforço estou esquecendo de Deus – É sempre assim que acontece. Quando voce realmente se desespera de você, o evangelho tem uma grande possibilidade de florescer em seu coração, então, corra sempre em direção ao Evangelho.

D.   Como voce deseja se apresentar diante do tribunal de Cristo?  Com seu currículo espiritual e moral, ou com os méritos de Cristo. Paulo afirma: “Quero ser encontrado diante de Deus, não tendo justiça própria, mas a de Cristo”. Voce entende o que isto significa?

Samuel Vieira. Anápolis.
Chácara da Jussara e Billy Fanstone

12.01.03

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Mc 1.15 Arrependei-vos e crede no evangelho- I



Introdução:

Arrependei-vos e crede no evangelho”. 
Estas duas exortações fazem parte da mensagem inicial de Cristo no seu ministério, e caminhavam juntas com outras duas afirmações: “o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo”.
Logo ao sair do batismo, Jesus foi impelido ao deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Depois da prisão de Joao Batista, ele segue para a Galiléia e ali começou a pregar o evangelho de Deus.

Arrependei-vos e crede no evangelho”.

Não é fácil se arrepender...
Não é fácil crer no evangelho...

Mas Jesus exorta seus discípulos a tomarem estes dois passos iniciais. Arrependimento e fé no evangelho.
Precisamos entender o significado destas duas afirmações.

Por que é difícil se arrepender?

O que não é arrependimento?

1.     Arrependimento não é remorso – Muitos, ao praticarem coisas erradas, passam a ser consumidos pelo remorso, remoendo sua culpa e se auto condenando. O problema da culpa, é que ela pode ser comparada a uma queda dentro de um buraco. Se você cair, a regra número é “para de cavar”, porque o buraco só vai aumentar.

Arrependimento gera muita tristeza, mas nos renova.
Remorso gera muita tristeza e nos adoece.
“Porque a tristeza segundo Deus, produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2 Co 7.10).
não é nítida a diferença?
Tristeza por remorso, pode ser paralisante, não gera vida, mas pesar, doenças do espirito, depressão.
Arrependimento não é remorso.

2.     Arrependimento não é meia culpa, mas mea culpaMeia culpa é admitir uma culpa pela metade, o que pode pulverizar a nossa responsabilidade por uma ato pecaminoso ou tresloucado. Mea culpa, é uma locução latina que significa “minha culpa”, ou “minha culpa somente”.
A expressão advém da parte da confissão na liturgia católica.  o adjetivo maxima pode ser inserido, resultando em mea maxima culpa, que poderia ser traduzido como "minha mais [grave] falha" ou "minha mais [grave] culpa". Consiste num pedido de perdão ou num reconhecimento da própria culpa” (wikipedia).
O verdadeiro arrependimento não diz “sou meio responsável”, mas assume o fato de que é o principal responsável. Isto me leva a não me confessar justificando-me ou explicando as causas da minha queda. não reparto a culpa com ninguém, e nem tento dirimir a gravidade das minhas escolhas morais, não busco um bodo expiatório na minha confissão.

3.     Arrependimento não é delação premiada – Nos nossos dias estamos nos acostumando a ouvir este termo.

Quando uma pessoa está envolvida num esquema de fraude ou na formação de uma quadrilha e a policia tem interesse de desmantelar a quadrilha, então oferece vantagens ao delator para que se ele entregar o grupo, a pena seja amenizada. 

Arrependimento não é uma confissão para fugir da condenação. Confissão oportunista e utilitarista. Do tipo que, “se não for pego, não me arrependo”, mas que “sendo pego, admite a culpa para fugir da pena”. Neste caso não há arrependimento, mas negociação.
Arrependimento bíblico não é negociata com Deus, mas a afirmação de que reconheço meu fracasso e admito a gravidade do meu mal.

4.     Arrependimento não é a tentativa de reparar os erros, tentando subornar o ofendido. Isto é muito comum nos relacionamentos familiares.

O marido fez algo errado, e a mulher descobriu. Ele encontra-se numa situação vergonhosa e em desvantagem, e precisa acertar a conta com a sua esposa. Então, ao voltar para casa, ele traz flores ou um chocolate especial, para amenizar a ofensa. Ele não quer admitir e nem falar sobre o assunto. Se a esposa realmente o ama, certamente dirá: “Muito obrigado, mas precisamos conversar!”. O presente não diluirá a necessidade da admissão, confissão, reparação. Ele precisa demonstrar desejo de mudança.

O filho faz algo errado, e sabe que seus pais tem grandes chances de descobrirem o que ele fez. Ele está angustiado e triste, tem medo da disciplina, e então, passa a tratar os pais com o máximo cuidado, tornam-se atenciosos e carinhosos, mas tudo isto não passa de malandragem e tentativa de ludibriar os pais. Isto não é arrependimento.

Então, o que é arrependimento?

1.    Entrar em contato com suas sombras e com seu mal – quando acontece o arrependimento, grande tristeza toma conta do coração, porque percebo o que os teólogos chamam de “total depravação”, enxergo em mim a natureza caída.

Quando isto acontece, preciso admitir que falhei, pisei em falso, ofendi, trai, menti, enganei. No arrependimento o “impostor que habita em mim” é desmascarado. É possível vermos isto ao ser confrontado por Natã com seu adultério e assassinato e dizendo sem se desculpar ou tentar explicar-se: “Pequei!” (2 Sm 12.13). Ele não apresenta defesa, não se justifica.

2.    Reconhecer que a ofensa foi contra a santidade de Deus – No arrependimento, não estamos preocupados com nossa reputação, mas com a santidade e a glória de Deus que foram feridas. Independentemente de ser apanhado o meu problema é espiritual e tem a ver com o Eterno.

A santidade de Deus foi brutalmente atingida. Davi afirma isto a Natã “Pequei contra o Senhor!” (2 Sm 12.13). Por isto ele entra agora num momento de dor profunda porque ele perde a comunhão com Deus. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova-me com espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário” (Sl 51.10-12). 

3.    Arrependimento implica em retorno – Significa literalmente “voltar atrás”, ou “retornar por outro caminho”. Estávamos seguindo numa direção, quando ocorre o arrependimento, e em contrição e dor, voltamos para o caminho certo.

Isto pode ser percebido claramente no filho pródigo.  

Ele foi irresponsável, leviano, inconsequente, precipitado e descaridoso no seu agir, O texto o descreve como “dissoluto” (Lc 15.13). Ele está interessado apenas em si mesmo. Seu materialismo é desumano e irresponsável (Lc 15.13-14) e a consequência foi a fome e a miséria. No desespero, procura a pessoa errada e o seu trabalho não era suficiente para o alimentar. Submete-se a tarefas incompatíveis com sua fé e passa a cuidar de porcos.

Neste cenário de queda e fracasso, este moço dá a volta e supera esta sua anti-história, “cai em si” (Lc 15.17 - Alguns caem nos outros), admite seu fracasso e diz: “levantar-me-ei, irei ter com o meu pai e lhe direi: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de ser chamado teu filho”. Confessa o seu pecado, pede perdão, enfrenta decididamente seu fracasso, assume sua culpa.

Seus pecados são evidentes, mas não deseja continuar neles. Está sofrendo na carne e deseja mudanças, não fica apenas nas intenções, mas age, levanta-se, toma a decisão que deveria tomar e vai.

Conclusão

Paul Claudel afirmou que "o maior pecado é perder o senso do pecado".
A verdade é que podemos argumentar afirmando que pecado é decorrente das estruturas sociais, circunstancias e ambientes. assim vemos o pecado longe de nós e não nos arrependemos. podemos até admitir a condição de pecaminosidade humana, mas sendo incapazes de admitir nosso próprio mal. A verdade é que temos um mistério da iniquidade dentro de nós, como afirmou Brennan Manning. É dele a seguinte afirmação: "Paradoxalmente, o que se intromete entre Deus e o ser humano é a nossa moralidade melindrosa e pseudopiedade. não são as prostitutas e os cobradores de impostos que acham do arrependimento a coisa mais difícil; é o devoto, que sente não ter nenhuma necessidade de arrepender, seguro por não ter transgredido as leis do sábado". (O impostor que habita em mim). Pg 99
Mas Jesus não falou apenas da necessidade de se arrepender, há uma segunda parte da sua exortação.  Você nunca entenderá o evangelho, se não tiver consciência do mal, mas em contrapartida, nunca se livrará da culpa e condenação do mal, se não crer no evangelho, por isto Jesus chama seus  discípulos também a “crerem no evangelho”.
Portanto, arrepender-se é apenas o primeiro passo.
O segundo passo, igualmente necessário é crer no evangelho.

Mas isto é assunto para uma próxima conversa...


Deus nos abençoe!