Introdução:
“Arrependei-vos e crede no evangelho”.
Estas duas exortações fazem parte da mensagem
inicial de Cristo no seu ministério, e caminhavam juntas com outras duas
afirmações: “o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo”.
Logo ao sair do batismo, Jesus foi impelido ao
deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás. Depois da
prisão de Joao Batista, ele segue para a Galiléia e ali começou a pregar o
evangelho de Deus.
“Arrependei-vos
e crede no evangelho”.
Não é fácil se arrepender...
Não é fácil crer no evangelho...
Mas Jesus exorta seus discípulos a tomarem
estes dois passos iniciais. Arrependimento e fé no evangelho.
Precisamos entender o significado destas duas
afirmações.
Por que é difícil se arrepender?
O que
não é arrependimento?
1.
Arrependimento não é remorso – Muitos, ao praticarem coisas erradas, passam
a ser consumidos pelo remorso, remoendo sua culpa e se auto condenando. O
problema da culpa, é que ela pode ser comparada a uma queda dentro de um buraco.
Se você cair, a regra número é “para de cavar”, porque o buraco só vai
aumentar.
Arrependimento gera muita tristeza, mas nos
renova.
Remorso gera muita tristeza e nos adoece.
“Porque a tristeza segundo Deus, produz
arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do
mundo produz morte” (2 Co 7.10).
não é nítida a diferença?
Tristeza por remorso, pode ser paralisante, não
gera vida, mas pesar, doenças do espirito, depressão.
Arrependimento não é remorso.
2. Arrependimento
não é meia culpa, mas mea culpa – Meia culpa é admitir uma culpa pela metade, o
que pode pulverizar a nossa responsabilidade por uma ato pecaminoso ou
tresloucado. Mea culpa, é uma locução
latina que significa “minha culpa”, ou “minha culpa somente”.
A expressão advém da parte da confissão na
liturgia católica. “o adjetivo maxima pode ser inserido,
resultando em mea maxima culpa, que poderia ser traduzido como
"minha mais [grave] falha" ou "minha mais [grave] culpa".
Consiste num pedido de perdão ou num reconhecimento da própria culpa”
(wikipedia).
O verdadeiro arrependimento não diz “sou meio
responsável”, mas assume o fato de que é o principal responsável. Isto me leva
a não me confessar justificando-me ou explicando as causas da minha queda. não
reparto a culpa com ninguém, e nem tento dirimir a gravidade das minhas
escolhas morais, não busco um bodo expiatório na minha confissão.
3.
Arrependimento não é delação premiada – Nos nossos dias estamos nos acostumando a
ouvir este termo.
Quando uma pessoa está envolvida num esquema de
fraude ou na formação de uma quadrilha e a policia tem interesse de desmantelar
a quadrilha, então oferece vantagens ao delator para que se ele entregar o
grupo, a pena seja amenizada.
Arrependimento não é uma confissão para fugir
da condenação. Confissão oportunista e utilitarista. Do tipo que, “se não for
pego, não me arrependo”, mas que “sendo pego, admite a culpa para fugir da
pena”. Neste caso não há arrependimento, mas negociação.
Arrependimento bíblico não é negociata com
Deus, mas a afirmação de que reconheço meu fracasso e admito a gravidade do meu
mal.
4.
Arrependimento não é a tentativa de reparar os
erros, tentando subornar o ofendido. Isto é muito comum nos relacionamentos familiares.
O marido fez algo errado, e a mulher descobriu.
Ele encontra-se numa situação vergonhosa e em desvantagem, e precisa acertar a
conta com a sua esposa. Então, ao voltar para casa, ele traz flores ou um
chocolate especial, para amenizar a ofensa. Ele não quer admitir e nem falar
sobre o assunto. Se a esposa realmente o ama, certamente dirá: “Muito obrigado,
mas precisamos conversar!”. O presente não diluirá a necessidade da admissão,
confissão, reparação. Ele precisa demonstrar desejo de mudança.
O filho faz algo errado, e sabe que seus pais
tem grandes chances de descobrirem o que ele fez. Ele está angustiado e triste,
tem medo da disciplina, e então, passa a tratar os pais com o máximo cuidado,
tornam-se atenciosos e carinhosos, mas tudo isto não passa de malandragem e
tentativa de ludibriar os pais. Isto não é arrependimento.
Então,
o que é arrependimento?
1. Entrar
em contato com suas sombras e com seu mal – quando acontece o arrependimento, grande tristeza toma conta do coração,
porque percebo o que os teólogos chamam de “total depravação”, enxergo em mim a
natureza caída.
Quando isto acontece, preciso admitir que
falhei, pisei em falso, ofendi, trai, menti, enganei. No arrependimento o
“impostor que habita em mim” é desmascarado. É possível vermos isto ao ser
confrontado por Natã com seu adultério e assassinato e dizendo sem se desculpar
ou tentar explicar-se: “Pequei!” (2
Sm 12.13). Ele não apresenta defesa, não se justifica.
2. Reconhecer
que a ofensa foi contra a santidade de Deus – No arrependimento, não estamos preocupados com
nossa reputação, mas com a santidade e a glória de Deus que foram feridas.
Independentemente de ser apanhado o meu problema é espiritual e tem a ver com o
Eterno.
A santidade de Deus foi brutalmente atingida.
Davi afirma isto a Natã “Pequei contra o
Senhor!” (2 Sm 12.13). Por isto ele entra agora num momento de dor profunda
porque ele perde a comunhão com Deus. “Cria
em mim, ó Deus, um coração puro, e renova-me com espírito inabalável. Não me
repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a
alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário” (Sl
51.10-12).
3. Arrependimento
implica em retorno – Significa
literalmente “voltar atrás”, ou “retornar por outro caminho”. Estávamos
seguindo numa direção, quando ocorre o arrependimento, e em contrição e dor,
voltamos para o caminho certo.
Isto pode ser percebido claramente no filho
pródigo.
Ele foi irresponsável, leviano, inconsequente,
precipitado e descaridoso no seu agir, O texto o descreve como “dissoluto” (Lc
15.13). Ele está interessado apenas em si mesmo. Seu materialismo é desumano e
irresponsável (Lc 15.13-14) e a consequência foi a fome e a miséria. No
desespero, procura a pessoa errada e o seu trabalho não era suficiente para o
alimentar. Submete-se a tarefas incompatíveis com sua fé e passa a cuidar de porcos.
Neste cenário de queda e fracasso, este moço dá
a volta e supera esta sua anti-história, “cai
em si” (Lc 15.17 - Alguns caem nos outros), admite seu fracasso e diz: “levantar-me-ei, irei ter com o meu pai e lhe
direi: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti, já não sou digno de ser
chamado teu filho”. Confessa o seu pecado, pede perdão, enfrenta decididamente
seu fracasso, assume sua culpa.
Seus pecados são evidentes, mas não deseja
continuar neles. Está sofrendo na carne e deseja mudanças, não fica apenas nas
intenções, mas age, levanta-se, toma a decisão que deveria tomar e vai.
Conclusão
Paul Claudel afirmou que "o maior pecado é perder o senso do pecado".
A verdade é que podemos argumentar afirmando que pecado é decorrente das estruturas sociais, circunstancias e ambientes. assim vemos o pecado longe de nós e não nos arrependemos. podemos até admitir a condição de pecaminosidade humana, mas sendo incapazes de admitir nosso próprio mal. A verdade é que temos um mistério da iniquidade dentro de nós, como afirmou Brennan Manning. É dele a seguinte afirmação: "Paradoxalmente, o que se intromete entre Deus e o ser humano é a nossa moralidade melindrosa e pseudopiedade. não são as prostitutas e os cobradores de impostos que acham do arrependimento a coisa mais difícil; é o devoto, que sente não ter nenhuma necessidade de arrepender, seguro por não ter transgredido as leis do sábado". (O impostor que habita em mim). Pg 99
Mas Jesus não falou apenas da necessidade de se
arrepender, há uma segunda parte da sua exortação. Você nunca entenderá o evangelho, se não tiver consciência do mal, mas em contrapartida, nunca se livrará da culpa e condenação do mal, se não crer no evangelho, por isto Jesus chama seus discípulos também
a “crerem no evangelho”.
Portanto, arrepender-se é apenas o primeiro
passo.
O segundo passo, igualmente necessário é crer no evangelho.
Mas isto é assunto para uma próxima conversa...
Deus nos abençoe!
Esclarecedor e profundo!
ResponderExcluirObrigado
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