quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Ef 3.1-13 O grande mistério

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Introdução:

A humanidade sempre foi atraída pelos mistérios. Filmes e séries com suspense e enigmas atraem grande número de fãs, alguns exemplos são conhecidos como “lost” e “under the dome” (redoma). Estas coisas despertam, desafiam e aguçam a imaginação das pessoas, por isto são tão atrativas.

Deus também abriga mistérios.

O profeta Isaías afirma: 
Verdadeiramente, tu és Deus misterioso, ó Deus de Israel, ó Salvador!” (Is 45.15)
Provérbios diz: “A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos homens é esquadrinhá-las” (Pv 25.2).
Em Deuteronômio lemos: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, porém, as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29). Nenhum texto parece falar dos limites humanos de forma tão profunda quanto este. 

Em Efésios, Paulo está falando de um mistério. O tema central desta perícope é o “grande mistério”. A palavra grega “misterion” aparece três vezes (Ef 3.3,4,9).

Qual é este mistério?

1. Este mistério estava oculto de todos – “Pelo qual, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3.5).

Quando lemos outros textos da Bíblia que falam do mesmo tema, verificamos que estava oculto até mesmo dos anjos e profetas (1 Pe 1.10-12), dos demônios e Satanás. Em Mt 8.29, vemos a reação surpreendente dos demônios ao se depararem com Cristo no ministério terreno: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” Os demônios não esperavam que isto pudesse acontecer, jamais poderia supor que o Filho de Deus, conhecido nas esferas celestiais pudesse se manifestar em carne. “Conheço a Jesus e sei quem é Paulo, mas vós que sois” (At 19.15). O termo “conheço” (grego ginosko), significa conhecer por interação, no mundo espiritual. Os demônios sabem e reconhecem a autoridade de Cristo nas esferas celestiais. 

Isto nos leva a considerar que havia certo “frisson” no mundo espiritual sobre este acontecimento. Os profetas inquiriram e investigaram o assunto, os anjos anelaram perscrutar, mas eles jamais poderiam imaginar que o criador dos céus e da terra, o verbo que fez todas as coisas pela palavra de seu poder, pudesse se historicizar e se tornar humano, até quando a ordem foi dada a Gabriel para que ele dissesse a Maria o que estava para acontecer (1 Pe 1.10-12).

Paulo está falando deste mistério, “outrora oculto em Cristo”, e que é revelado agora. 

2. Jesus era o centro deste mistério. Paulo fala do “mistério de Cristo” (Ef 3.4). Isto é muito importante principalmente quando estudamos a história da igreja e observamos como os movimentos gnósticos eram fascinados e seduzidos pelo misterioso e pelo sagrado. Paulo não fala de um mistério gnóstico, esotérico, vago, mas de um mistério que se concretiza na pessoa de Cristo Jesus, o Filho do Homem, que se revela nas estradas poeirentas da Galileia. 

O Plano de Deus esteve guardado por séculos, envolvido em “segredo de estado”. Paulo se sente especialmente grato porque Deus lhe dera esta revelação (Ef 3.3), tornando-o participando deste maravilhoso anuncio e transformando-o em um apóstolo, cujo termo significa “enviado”.

Deus estabeleceu isto, no seu tempo especial. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, (Kairos) Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).

Os gnósticos tinham fascínio pelo mágico e acreditavam que apenas um grupo especial de iluminados e iniciados nos rituais esotéricos, seriam capazes de acessar mistérios, mas Paulo afirma que o grande mistério não era apreendido através de rituais, mas era o próprio Filho de Deus, que agora se revela a todos, manifestando-se na história, se tornando humano. “O verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, glória como do Unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Este mistério tinha dois objetivos:

A. Reconciliar os homens com Deus – “...e vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2.17-18)

A raça humana se desviara de Deus e não encontrava o caminho de volta ao Pai. Jesus veio reconduzir, reconciliar e aproximar este homem perdido. Muitos afirmam que encontraram a Cristo, mas não verdade, foi ele quem nos encontrou. Quem estava perdido éramos nós, e não Deus. 
Sua morte nos aproximou de Deus (Ef 2.13). Pelo seu sangue Jesus nos deu livre acesso aa Pai. Não mais distantes, mas aproximados; não mais filhos da ira, mas filhos amados de Deus; não mais condenados, mas redimidos. 

Por causa desta redenção, “temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé em Cristo” (Ef 2.12). A palavra “ousadia” é intrigante e provocativa, não nos aproximamos de Deus temerosos, mas nos sentindo amados por ele. Que privilégio poder estar diante do Deus santo e não sermos consumidos pela sua glória. 


B. Reconciliar os povos – “Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; tendo derribado a parede da separação que estava no meio” (Ef 2.13).

Jesus veio estabelecer a paz entre os homens. Neste caso, Paulo estava se referindo à barreira religiosa entre juDeus e gentios. Eles se consideravam superiores espiritualmente, por terem recebido as alianças, as promessas e pactos, eles se julgavam um povo espiritualmente melhor, mas agora, Deus desfaz as diferenças por meio de Cristo, e nos torna membros de sua família (Ef 2.19).

Jesus é a nossa paz. Ele aproxima nações, etnias, línguas e povos, tornando-os todos, um só em Cristo. No último dia, quando todas as nações comparecerão perante Deus, veremos povos de todas as tribos, nações e raças diante de Deus. 

3. Fomos comissionados a anunciar este mistério – “A mim, o menor de todos os santos, me foi dado a graça de pregar aos gentios, o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8). Paulo se sentia privilegiado por poder anunciar estas coisas maravilhosas que Deus estava fazendo por meio de Cristo.

Mas Deus não apenas chamou Paulo para esta tarefa, mas escolheu seu povo, a igreja, para que ela pudesse anunciar estas verdades de tal forma que até o inferno soubesse o que Deus havia feito em Cristo (Ef 3.10; 1 Pe 3.19-20). A estratégia de Deus consiste em usar sua igreja, com faces tão distintas e multiformes, com metodologias diferentes e nesta pluralidade e policromia, revelando assim o propósito de Deus na história. 

Apesar de todos os limites, contradições, escândalos e controvérsias, a igreja ocupa um lugar central no plano de Deus. Basta ler com atenção Ef 3.10 para entendermos que Ele planejou algo extraordinário e cósmico para a missão da igreja. Seu propósito é usar o seu povo para a proclamação e anúncio, a igreja encontra-se no centro do plano redentivo de Deus. 

Isto ao mesmo tempo é um privilégio e uma responsabilidade. Paulo afirma estas duas coisas nas suas cartas: “A mim, o menor de todos os santos me foi dado a graça de pregar” (Ef 3.8), e “Ai de mim senão pregar o Evangelho” (1 Co 9.16). 


Conclusão:
A pregação do Evangelho consiste em anunciar a centralidade de Cristo, sua obra e mistério. Se pregarmos a Bíblia, e não chegarmos na cruz, ainda não anunciamos “o grande mistério”. Jesus é este mistério de Deus oculto em Cristo. Podemos pregar bons sermões, com bons princípios e valores cristãos, politicamente corretos e com ética bíblica, mas se não anunciarmos a Cristo e seu plano para a história, perdemos o ponto e ainda nos encontramos na periferia e fora do centro.

Ef 3.10 A Igreja no projeto cósmico de Deus

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No sermão anterior analisarmos o conceito de “mistério”, um tema recorrente nas cartas paulinas. Observamos que Deus reservou este mistério à humanidade: O seu plano redentor que se revelou em Jesus. Este plano eterno estava oculto dos profetas, que embora tivessem algum lampejo sobre a vinda do Messias não tiveram o privilégio de terem uma revelação plena. Este mistério também estava oculto até mesmo dos anjos, principados e demônios (1 Pe 1.10-12)
Em Ef 3.10 há uma afirmação curiosa. Deus não apenas manteve este segredo desde a eternidade, revelando-o em Cristo, mas decidiu que a igreja seria portadora desta mensagem ao mundo.

Isto nos ensina algumas verdades:

1. A Igreja ocupa um plano central no projeto de Deus para a história – “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne agora conhecido dos principados e potestades, nas regiões celestes” (Ef 3.10).

É um plano cósmico.

Preste atenção no encadeamento da ideia do texto. 
Por três vezes a palavra “mistério”, aparece no texto (3,4,9), Paulo diz que recebeu este mistério através de uma revelação e que deveria comunicá-la aos pagãos, apesar dele mesmo se considerar, o menor entre os santos. Agora ele aprofunda o tema afirmando o povo redimido, tem a missão de tornar conhecida esta multiforme sabedoria que existe em Deus.

A igreja de Cristo é chamada para revelar o projeto de Deus à humanidade, e também proclamar esta dimensão abrangente do domínio de Deus sobre todas as coisas, aos poderes históricos e espirituais, principados e potestades. Deus poderia ter feito isto através de revelação “direta”, ou usou sua miríade de anjos celestiais, mas decidiu que esta proclamação seria feito através da igreja.

O apóstolo Pedro declara: “vós sois a raça eleita, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). A Igreja existe para testemunhar o mistério de Deus em Cristo Jesus.

Quando Jesus se manifesta aos seus discípulos, após a ressurreição, ele diz: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, Judeia, Samaria, e até os confins do mundo” (At 1.8). Jesus capacita sua igreja, dando-lhe o poder do Espírito, e a envia ao mundo. Sua missão, portanto, ocupa um lugar central no projeto de Deus. A Igreja faz parte da estratégia de Deus para a humanidade.

2. A Essência da mensagem: Sua multiforme sabedoria - Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus...” O que Deus quer comunicar? Sua sabedoria com tonalidades distintas.

A palavra “multiforme” no original, literalmente é “policromia”. Deus deseja comunicar, pela igreja, seu projeto aos poderes temporais e eternos, e ironicamente escolhe sua igreja. Não parece um projeto frágil demais?
Quando Jesus designa seus discípulos para o projeto evangelístico ele diz o seguinte: “Ide, eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Lc 10.3). Sejamos honestos, esta figura não é alguma coisa tão promissora... Lobos são vorazes, ovelhas frágeis. Se ele dissesse, “eis que vos envio como lobos para o meio de ovelhas”, certamente nos sentiríamos mais confortáveis. Mas ele nos coloca como o grupo mais frágil neste ecossistema e nos envia para uma alcateia. O que faz diferença? Estas ovelhas possuem um pastor, que as protege, que cuida delas, que as chama pelo seu nome. Com o pastor na frente, estas ovelhas podem seguir seguras, porque “as portas do inferno” não prevalecerão contra elas.

Neste texto Deus escolhe a igreja para manifestar sua policromia, sua “multiforme cor”, e as envia a declarar o mistério de Deus aos poderosos. Deus quer que sua “policromia” se revele na história e confronte principados e potestades. A grande benção é saber da promessa que Jesus fez: “Eu edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Se olharmos para a suficiência da igreja, nos assustamos; mas se olharmos para Cristo, nos tornamos ousados. Por isto Paulo afirma que tal proclamação é feita, “segundo a força operante do seu poder” (Ef 3.7). O que poderia fazer a igreja sem este poder capacitador de Deus?

3. O propósito eterno de Deus: Jesus.Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida”. Que sabedoria é esta?

O texto está falando de Cristo. A igreja é vocacionada por Deus para proclamar a glória de Cristo, colocar Jesus, o mistério de Deus, no lugar certo, no eixo central da história. O “mistério” de Deus estava oculto em Cristo, e se revelou num tempo especifico da história, numa geografia conhecida, com uma ambientação política.
Jesus é o “alfa e o ômega”, o principio e o fim. Deus preparou o seu povo para revelar ao mundo as “insondáveis riqueza de Cristo”. A Igreja de Cristo testemunha o projeto de Deus na história, embora nem sempre seja ouvida, e muitas vezes sofre rejeição e oposição. Ainda assim, este é o papel da igreja: “proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”, de anunciar o mistério de Deus que se revela em Cristo.

Esta mensagem causa dois impactos diretos:


A. No coração dos pagãos – Paulo afirma: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada a graça de pregar aos gentios, as insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8). Anunciar esperança a este povo que encontra-se separado de Deus, longe das alianças da promessa e que vivem sem Deus no mundo. Deus ama tanto o mundo que envia seu filho para reconciliar suas criaturas que viviam distante e indiferentes ao criador. Muitos, ao ouvir desta graça, rejeitarão; muitos, se converterão. 
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Quando o Evangelho é aceito, isto causa um impacto imensurável na vida. Uma nova cosmovisão se estabelece, a história passa a ter um eixo central que gira em torno de Cristo, o mistério de Deus, que agora se revela como aquele que se torna a hermenêutica da história, já que apenas ele pode abrir o livro da vida (Ap 5).

B. No mundo espiritual - “dos principados e potestades, nas regiões celestes” (Ef 3.10). Não é impressionante isto? Principados são poderes espirituais, governos históricos e terrenos; potestades são forças espirituais que governam este mundo tenebroso. Os poderes da história, e os poderes das trevas precisam conhecer este mistério de Deus.

Este é o plano cósmico de Deus. Cristo restaurando todas as coisas. Sua vinda fala de novas criaturas (2 Co 5.17; Ef 3.22-24), mas fala também de nova criação (Rm 8.18-22; Ap 21). Deus em Cristo restaura seu projeto original. Quando Adão pecou, toda natureza foi atingida pelo poder nefasto do pecado; quando Cristo se manifestou, toda a natureza também foi impactada pela sua graça e poder. 

Conclusão:
Este texto demonstra que duas coisas lindas acontecem no nosso coração quando consideramos tais coisas:

a)- Relacionamento de intimidade com o Pai – Por meio do Evangelho, temos ousadia e acesso com confiança à presença do Pai celestial (Ef 3.12). Não mais estrangeiros e nas trevas, mas filhos amados. Isto não é resultado de religiosidade e gestos ritualísticos, mas Deus nos convida para andarmos com ele, para construirmos relacionamentos significativos. Medo e pavor, presentes na cultura religiosa judaica, são agora substituídos por afetividade e amor, a ponto de o chamarmos “Aba, Pai!”.

b)- Encorajamento – (Ef 3.13). Paulo afirma: “Portanto não desfaleçais”. Muitas vezes nos sentimos desanimados e desencorajados, mas quando nos lembramos do seu eterno e maravilhoso propósito, do qual fomos chamados a participar, a sermos coadjuvantes, somos tomados de grande alegria, pois fazemos parte deste plano de Deus para a humanidade: revelar o mistério de Deus, Cristo, ao mundo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ef 2.19-22 Fotografias do povo de Deus

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Em todo este capítulo, Paulo demonstra o contraste entre a vida com Cristo e a vida sem Cristo. Em Ef 2.1-3, ele fala da nossa condição sem Jesus, vivendo sob o poder de três forças: O mundo (sistema); o diabo (forças espirituais); e a carne (desejos, inclinações e pensamentos). A conjunção adversativa “mas”, que surge no vs 4 muda todo quadro espiritual. Agora fomos perdoados, ressuscitados, perdoados. Em Ef 2.11-13 ele fala novamente da condição humana sem Deus: “outrora”, separados da comunidade de Israel, sem esperança, sem Deus no mundo, alijados das promessas de Deus. O vs 14, porém, afirma: “mas agora fostes aproximados pelo sangue”. A obra de Cristo mudou nossa realidade, identidade e status. Não mais separação entre judeus e gentios. Não mais distância entre o Deus santo e nós. A palavra chave aqui é reconciliação.

Nos próximos versículos (Ef 2.19-22) Paulo vai descrever qual é a realidade do povo de Deus. Três figuras são colocadas no texto, dando-nos uma descrição de quem é este povo, e que papel ele exerce diante de Deus e do mundo.

Três retratos:

1. Reino – “Não mais estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos” (Ef 2.19). Ele está falando da cidadania neste novo reino ao qual fomos chamados e fazemos parte.

A Bíblia fala de dois reinos espirituais: trevas e luz. a vida em Cristo implica numa ruptura com os compromissos deste reino das trevas e Jesus nos resgata deste domínio para nos trazer ao seu reino. “Ele nos libertou do império das trevas e nos trouxe para o reino do filho do seu amor” (Col 2.13). Jesus disse a Pilatos: “o meu reino não é deste mundo” (Jo 18.36,37). O apóstolo Pedro afirma que somos “uma nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pe 2.19).

É curiosa a afirmação deste texto quando diz: “Não mais estrangeiros e peregrinos”, o que nos dá a impressão de que podemos, eventualmente, até visitar e andar sob este domínio, mas não fazermos parte dele.

O que é um peregrino e um estrangeiro?

Peregrinos
Penso nesta figura como a de um turista. Ele não sabe muito daquele país, mas está ali como visitante. Ele não conhece sua cultura, modos, hábitos, educação. Ele não conhece as leis deste país nem seu funcionamento. Ele é um turista.
Quando minha esposa lecionava numa escola americana em Boston, sua chefe saiu de férias, comprou um pacote para Guiné-Bissau, e quando retornou lhe contou que tinha visitado este país, mas não sabia onde ficava geograficamente e pediu para que ela indicasse no mapa, onde ele se encontrava. Sara ficou assustada com a declaração daquela mulher, e imediatamente mostrou onde ficava. Ela era forasteira, turista. Nem sequer sabia geograficamente onde ficava este país, que língua falava. Fui direto para um resort e ali permaneceu durante uma semana e retornou. 

Estrangeiros

O estrangeiro é aquele que mora noutro país, por razões históricas, financeiras ou por trabalho. Ele possui o green card, mas na primeira dificuldade de enfrentarem, deixam aquele país e retornam às suas origens, porque não pertencem àquele povo. Podem até falar sua língua, mas não possui vínculos de coração, envolvimento e participação. 
Morei muito tempo fora do Brasil e foi uma experiência muito interessante. Tinha boas amizades, respeito, pagava meus impostos por trabalhar, mas depois de quase 9 anos decidi voltar apesar de estar vivendo num país de primeiro mundo. Eu tinha saudades da terra, do povo, da comida, da família, e não gostava de pensar em envelhecer naquele lugar, apesar de estar tudo arrumado. Tinha sempre um senso de inadequação e de que estava vivendo no fundo do quintal de outra pessoa. 
Tanto a figura de peregrinos como de estrangeiros nos levam a pensar em muitos frequentadores de igreja. Eles não são parte da comunidade, eles não se envolvem com ela, não falam sua língua e agenda, ainda que gostem de desfrutar do lugar, e na primeira crise, se afastam, porque não tem nenhum compromisso. Paulo afirma que éramos assim, forasteiros, turistas. Nosso reino não era o de Cristo, estávamos alheios aos pactos, leis e promessas.

Cidadãos do reino
Cidadania possui uma outra dimensão.
O cidadão possui vínculos afetivos com o povo, governo, a terra e a história daquele país.
Ele tem privilégios e responsabilidades.

Privilégios da cidadania

Uma das primeiras coisas é que ele possui a proteção do seu governo, ou de seu rei.
Em 2014 um terremoto de grandes proporções afetou o Tibet. Muitos brasileiros estavam por lá, e o governo brasileiro, preocupado com a situação dos brasileiros que ali residiam, disponibilizaram um avião da FAB para tirar os brasileiros de lá e trazê-los de volta, porque a situação do país era calamitosa. 

Outra benção é seu vínculo histórico com o povo
O cidadão faz parte integrante de todo movimento de uma nação. É comum você encontrar brasileiros nos EUA, que apesar de estarem vivendo anos naquele país como imigrantes, não deixam de assinar o canal de TV, o Globo, para ter acesso às notícias do país. O mesmo se dá com os americanos que moram aqui. Normalmente possuem CNN em casa para receberem notícias do que está acontecendo em “sua” nação. Eles possuem um relacionamento de identidade. 


Responsabilidades da cidadania 
Em contrapartida, cidadãos possuem deveres. Um deles é de se submeterem à lei deste país. Existem exigências que não podem ser desobedecidas. Lamentavelmente, quando há um governo tirânico, isto se torna muito dolorido. As pessoas sofrem muito, eventualmente por desobedecerem uma lei que é contra o bom senso e contra a humanidade. 
Os cidadãos também devem honra às autoridades e aos símbolos de um país. Não podem estabelecer sua própria lei e viverem de forma anárquica e irresponsável. 
Outro dever do cidadão é sustentar seu governo com impostos e taxas. Nem sempre isto é confortável, mas um país possui um senso de “comunidade”, na qual todos devem participar do processo e construção. Há necessidades de se construir escolas, providenciar saúde, segurança, estradas, infraestrutura, água, esgoto, eletricidade. O povo precisa sustentar isto. Isto é cidadania. 

2. Família – “Sois da família de Deus”. (Ef 2.19).
Não mais pessoas estranhas, mas vinculados consanguineamente, por uma instituição que nos protege, cuida, ajuda no crescimento. 
O apóstolo João registra este sentimento da seguinte forma: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus” (1 Jo 3.1). Para ele, ser filho amado do Pai é a maior benção da vida. 

Família traz alguns privilégios:

Identidade – Este é o primeiro deles. Tenho nome de uma família, tenho relacionamento de amor. Temos colo, cuidado, nutrição. É dentro de uma família que nos desenvolvemos física, emocional e espiritualmente. Deus, quando quis se encarnar, escolheu uma família para si. 

Pertencimento – Sou parte de um clã. Tenho um grupo ao qual estou vinculado. Não sou órfão, mas filho. Mesmo quando coisas difíceis acontecem numa família eu sei que tenho vínculos que vão muito além da superficialidade. Quando um problema maior acontece, mesmo estando distantes, estamos juntos. 

Propriedade – Eu faço parte de uma família e tenho senso de que preciso cuidar dela. É como cuidar de si mesmo. Minha sogra agora está idosa, estamos tentando trazê-la para morar conosco porque sentimos que ela está frágil e precisa de cuidados. Esta é nossa tarefa e responsabilidade. Estamos cuidando de nós mesmos, é nosso sangue. Ela “nos pertence”, e devemos protegê-la. 

Quando vejo pessoas afirmando que creem em Cristo, mas não possuem comunhão com uma igreja local, visível, tangível e concreto, sei que algo de muito errado está acontecendo. Paulo afirma que “(em Cristo), todos fomos batizados em um corpo” (1 Co 12.13). Tornar-se cristão é fazer parte de um povo. O conceito de “believers, but not belongers”, (creio, mas não pertenço), é absolutamente estranho às Escrituras Sagradas. Paulo afirma que nem mesmo podemos participar da ceia de Cristo, pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Isto é sério. Eu não são capaz de perceber o outro, eu quero viver e cultivar minha fé separado de vínculos comunitários. Este tipo de fé, pode ter uma forma de espiritualidade, mas não de espiritualidade bíblica e cristã. 

Por esta razão a Bíblia fala tanto de “pacto geracional”, de “povo da aliança”. Os filhos eram trazidos para a circuncisão porque fazem parte de um pacto, estão vinculados a um povo. O conceito do batismo infantil nas igrejas reformadas tem a mesma ideia: os filhos pertencem ao povo de Deus. Membros da igreja local são os comungantes (que podem participar da ceia por já terem suas faculdades espirituais) e os não-comungantes, que embora sejam menores, já são contados entre o povo de Deus.

3. Edifício – “Edifício de Deus sois vós” (1 Co 3.9). 

Alguns princípios são estabelecidos quando pensamos em edifício. 

3.1. Ele precisa de base sólida e referencial – “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 3.20). Os antigos não possuem GPS, nem faziam um projeto para construir uma casa, mas tinham experiência suficiente para fazer um edifício seguro, que pudesse se manter firme durante os vendavais e chuvas. A partir da “pedra de esquina”, todas as demais pedras eram organizadas. Era uma pedra grande, sobre a qual as casas eram construídas. 

Paulo afirma: “Segundo a graça que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.10,11).

Jesus é a base deste edifício.
Alguns anos atrás o Pr. Ricardo Barbosa foi convidado a participar da programação da celebração do congresso de Edinburgo, Escócia, que aconteceu em 1910 e foi um marco para as igrejas protestantes no mundo inteiro. Nas rodadas de discussão sobre os temas, agenda, programação, preletores, a ala liberal propôs que se fizesse um congresso no qual o nome de Jesus não aparecesse, porque a pessoa de Cristo distancia outros grupos religiosos, felizmente a ala evangelical prevaleceu e o congresso foi realizado com o nome de Cristo na chamada central.

Historicamente o nome de Cristo, a pedra fundamental, tem sido muitas vezes minimizado, esquecido, esvaziado e negado. Mas é bom lembrar, que só existe uma pedra angular, Jesus Cristo, fora deste alicerce o edifício não consegue se erguer.

3.2 Um edifício deve ser construído com muitos tijolos – “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 3.20). Este texto nos afirma que os apóstolos e profetas são o fundamento que se firma na rocha. Jesus primeiro, fundamento, base e referência, os apóstolos e profetas em seguida. A igreja precisa ser apostólica na sua fonte.

No Concílio de Cartago (395), a Igreja de Cristo se reuniu para tomar uma posição radical quanto às Escrituras Sagradas. Quais livros devem fazer parte do cânon? Quantos são? Que critérios devemos estabelecer para aceitar sua inspiração? As discussões certamente foram muito pesadas. Finalmente a Igreja tomou as seguintes posições.

Um livro para ser canônico precisava passar pelos seguintes crivos:
a. Deveria ter sido escrito pelos apóstolos ou seus discípulos imediatos;
b. Deveria ser aceito pelo senso comum. As comunidades já os aceitavam, sem reservas, que fossem inspirados;
c. Não poderia conter nem aberrações ou contradições. Isto porque, já eram inúmeros os textos que reivindicavam serem inspirados, alguns com graves distorções gnósticas ou montanistas. 

Depois de todas as discussões, aceitou-se 39 livros do AT, que já faziam parte do cânon hebraico, e os 27 livros do NT, como atualmente temos. 
O fato de termos um único livro orientando, cria a unidade e homogeneidade de pensamento, evitando distorções. Anos depois, na Reforma Protestante do Século XVI, muitas especulações já circulavam na igreja como sendo verdadeiras. Para discernir isto, os reformadores decidiram se ater às Escrituras, daí o conhecido princípio de Sola Scriptura, que até hoje tem sido adotadas pelas igrejas reformadas. Toda questão doutrinaria se estabelece na Bíblia, conferindo texto com texto, analisando-a na sua linguagem original, adotando o simples princípio de interpretação chamado de histórico gramatical. O que o texto afirma (observação); O que o texto quer dizer (interpretação) e qual a importância disto para nossa vida (aplicação). 

Por isto, antes de chegarmos até este ponto da história, muitas pessoas sustentaram a fé que uma vez foi dada. Primeiro os apóstolos, depois os apologetas, os pais do deserto, os reformadores, os movimentos missionários, chegando até os nossos dias. Como pedras vivas fomos inseridos neste edifício. “Também vós mesmos, como pedras que vem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1 Pe 2.5). 

E quanto à igreja do futuro?

Nós somos as pedras vivas sobre as quais, outras pedras serão superpostas. “O que ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não encobriremos aos nossos filhos. Contaremos às vindouras gerações, os louvores do Senhor, o seu poder, e as maravilhas que fez” (Sl 78.1,2). A partir de nós, outras pessoas estão chegando, ouvindo nossa pregação, testemunho, estilo de vida e aprendendo a amar este Deus, sendo atraídos pela forma como nos colocamos à disposição da obra de Deus. 

Portanto, estamos ainda no meio desta edificação.

Os que aqui estiveram antes de nós. Pastores e lideres fieis, igreja fiel, pessoas que sustentaram a igreja com suas vidas e seus recursos, a agora inseridos neste edifício nos tornamos a base de outras pedras vivas que continuam sendo erguidas sobre nós.









Que Deus nos ajude nesta honrosa missão.

domingo, 14 de agosto de 2016

Mc 10.17-22 Acertos e Equívocos



Introdução:
Nenhuma questão é tão importante, tão urgente, essencial e imprescindível quanto  esta que encontramos neste texto: “Que farei para herdar a vida eterna?” Por que? Porque ela tem a ver com a eternidade, e se compararmos os poucos anos de nossa vida com a eternidade, ela nada é. Certa vez perguntaram a um sábio o que era eternidade e ele respondeu da seguinte forma: “Em certo país distante, existe uma pedra gigantesca, e nela, um passarinho mágico, de 100 em 100 anos, vai ali afiar seu bico. Quando esta montanha tiver se acabado pela ação deste pássaro, ter-se-á passado um segundo do eternidade. C. S. Lewis declarou que: “tudo que não é eterno é eternamente inútil”.
Este homem estava preocupado com sua situação espiritual, e ele vem a Jesus com esta pergunta essencial. Ele aproxima-se de Jesus com disposições absolutamente corretas, mas infelizmente responde a Jesus de forma errada. Ele acerta nas atitudes que assume, mas equivoca-se nas respostas que dá. Ele comete acertos e equívocos.

Acertos:

  1. Tem a disposição correta“correu... ao seu encontro” (Mc.10.17). Tem um senso da urgência de sua alma e percepção de que sua situação era inadiável e aquela era a hora da tomada de posição. Ele vem correndo, trata-se de colocar em ordem a sua vida, não pode mais perder tempo.
Certa vez estava pregando em Goiânia, e no meio do sermão, ouve um derramamento especial da graça de Deus e uma mulher interrompeu a palavra e disse: “Pastor, quero entregar minha vida a Jesus neste momento”. Enquanto vacilei um pouco, indefinido sobre o que fazer, outra pessoa se levantou e em seguida afirmou: “Eu também quero!”.  Parei o sermão e convidei as duas a virem à frente, e aproveitei para fazer apelo a outras pessoas que também foram tocadas por Jesus naquela noite.
Talvez tenha sido isto que aconteceu em At. 10. Antes que Pedro concluísse o sermão, o Espírito Santo desceu sobre os gentios que ficaram cheios do Espirito Santo e passaram também a falar em outras línguas. Como Pedro estava reticente por estar pregando para gentios, já que a vida inteira fora ensinado a não conversar com gentios, teve seu sermão interrompido porque o que dissera já era suficiente, e dai em diante ele poderia atrapalhar o que Deus queria fazer. No meu caso acho que Deus considerou o seguinte: “Se Samuel continuar pregando pode atrapalhar a obra que estou plantando nestes corações...”
Você sente urgência em relação à sua alma, percebe que precisa tomar uma decisão imediata? Não hesite. Hoje, se ouvir a voz do Senhor, não endureça o seu coração.

  1. Vem no tempo certo – Certo jovem” (Mc 10.17) Ele não adia indefinidamente sua decisão. Muitos jovens ficam pensando que ainda são novos demais, que desejam entregar suas vidas a Cristo e que a farão no tempo apropriado, isto é, quando forem mais velhos. O problema é que, em se tratando de coisas espirituais, corremos risco de morte eterna. Nós somos transitórios e mortais e passamos. Um velho hino dizia: “Meu amigo, hoje tu tens a escolha; vida ou morte qual vais aceitar? Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar”.
Não deixe sua decisão para depois. Venha agora. Assuma sua caminhada com Cristo. Torne-se um discípulo de Cristo ainda hoje.
Este jovem veio no tempo certo, na sua juventude.

  1. Teve a postura correta: "Ajoelhando-se" (Mc 10.17) – Esta é a disposição correta para se aproximar de Deus. Para um judeu ajoelhar-se diante de alguém não era fácil, assim como ainda não é fácil para qualquer um de nós nos dias de hoje, e assumir atitude de quebrantamento. Aquele jovem percebe em Jesus algo especial, e por isto ajoelha-se diante dele.
Muitas vezes nos aproximamos de Jesus, não com joelhos em terra, mas com arrogância, nariz empinado, como se Deus fosse grandemente abençoado em nos acolher. Este jovem não se aproxima de Jesus de forma arrogante, mas quebrantado. Ele entende que Jesus é Deus.
Imagine um próspero empresário, um atleta famoso, um artista global, um político conhecido. Qual deve ser a atitude dele diante de Deus? A mesma de um simples camponês, de um servente de pedreiro. Por que? Porque Deus não faz acepção de pessoas. “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça”.
A Bíblia diz que Deus não desprezará um coração compungido e quebrantado, mas resiste, mas quando nos humilhamos e o buscamos certamente vamos encontrá-lo: “Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo coração”.

  1. Faz a pergunta correta, a questão essencial: “Que farei para herdar a vida eterna?” Nenhuma pergunta é tão importante, por se tratar de valor eterno.
Qual é sua pergunta? Não espere resposta certa se você faz pergunta errada. Diagnóstico errado induz a um tratamento equivocado.
Existem muitos levantando questões periféricas, que consomem quase todo o seu tempo, faz a mente chafurdar em ansiedade e preocupação. Vivem ansiosos quanto à reputação pessoal, sucesso, fama, dinheiro, casamento, mas nenhuma destas perguntas tem a ver com eternidade.
Você sabe onde vai passar a eternidade?
Se você morresse hoje, para onde iria sua alma?
Você já sabe o que dirá quando estiver diante do trono de Deus?
Você acha que seus fundamentos espirituais são suficientes para lhe dar certeza da vida eterna?
Do ponto de vista psicológico, entendo porque tantas religiões do mundo professam a tola doutrina da reencarnação. Elas querem crer que, de alguma forma, mesmo fazendo tanta besteira e cometendo tantas tolices, que ainda terão uma segunda chance. Mas a Bíblia diz claramente que: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo”((Hb 9.27).
O carcereiro de Filipos, ao ver sua alma em desespero, faz a seguinte pergunta a Paulo e Silas: “Senhores, que farei para ser salvo?” (At 16.30), e eles responderam: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Algumas das mais lindas perguntas que ouvi foram de pessoas, sedentas de Deus, ansiando pelo Eterno que me perguntam: “Pastor, o que devo fazer para entregar minha vida a Cristo?” ou “O que faço para receber Jesus como meu salvador pessoal?”

  1. Procura a pessoa certa – Jesus! Tenho visto muitos buscando respostas espirituais, gente sedenta do Sagrado, mas indo atrás de médiuns, benzedores, misticismo e esoterismo, representações do sagrado, e se sentindo cada vez mais desesperadas porque estão cavando cisternas rotas que não retém a água, que não saciam a sede do coração.
Na tentativa de responder aos anseios da alma, muitos correm na direção errada. Em 2011, Oprah Winter, naquela época considerada a mulher mais influente dos EUA, e a maior formadora de opinião pública, veio a Abadiânia em busca do João de Deus. Fez uma reportagem especial sobre este homem, trouxe todo seu staff milionário de produção para ouvir este homem. Uma mulher em busca de resposta, procurando água em fontes secas.
Na periferia da região de Anápolis e Brasília, encontramos várias cidades como Pirenópolis, Abadiânia e Alto Paraiso, marcadas por propostas estranhas de espiritualidade, cheias de gurus e místicos. São pessoas desoladas pela aridez do secularismo, que saem agora em busca de uma proposta espiritualizante. Apesar de parecer tão espiritual, chamamos tais movimentos de “espiritualidade pagã”. A história da humanidade está repleta de homens místicos tentando dar respostas a corações ansiosos por coisas espirituais, mas Jesus foi muito claro e especifico ao afirmar: “Se alguém tem sede, venha e mim e beba, porque do seu interior, fluirão rios de água viva”. Somente ele é capaz de saciar a sede da alma.

Este homem, porém, comete alguns equívocos.

  1. Possui pressupostos teológicos equivocados – “Bom mestre” (Mc 10.17). Jesus não o censura porque ele o chama de bom, mas porque ele sabe que seu julgamento superficial sobre a bondade humana, o induzia a enxergar a vida sobre a perspectiva de sua justiça própria, afinal, ele não era um homem tão bom e cumpridor da Lei?
Quando Jesus o questiona: “Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus?”(Mc 10.18) Quer ensinar-lhe que só existe um que é bom, na verdadeira essência, o próprio Deus. A bondade da humanidade é relativa, superficial, perigosa. Ao fazer isto, Jesus está procurando esvaziar sua arrogância espiritual de pessoa moralmente correta. Jesus queria ajudá-lo a compreender a si mesmo, e entender o quanto ele precisava de Deus e quanto seu coração estava longe.

  1. Constrói sua vida em fundamentos equivocados – Quando Jesus fala sobre a guarda dos mandamentos, não o faz em forme de pergunta, Jesus sabia que ele guardava os mandamentos. A resposta do jovem é enfática e não deixa dúvidas: “Tudo isto tenho observado, desde a minha juventude” (Mc 10.19).
Pessoas religiosas e de moral exemplar são as que menos sentem necessidade da graça de Deus. Por isto se afastam do evangelho. A justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho, por isto Jesus procura tirar daquele jovem o forte senso de justiça pessoal que ele tinha.
Por guardar os mandamentos e a Lei, ele se considera justa.
Pessoas cheias de si mesmas, não podem ser preenchidas por Deus, pois dentro delas não cabe mais nada. Tornam-se enfatuadas e ensimesmadas. Este jovem era socialmente bom e correto, e apesar disto, e talvez, por isto mesmo, corria sério risco espiritual.
A Bíblia está sempre questionando a capacidade espiritual do ser humano. Quando Paulo fala da graça de Deus, mostra que Deus havia providenciado tudo para a salvação do homem por meio da cruz e não se tratava da performance humana, mas da graça: “Onde está a jactância? Foi de todo abolida” (Rm 3.27). Não podemos nos aproximar de Deus com orgulho espiritual. A obra de Jesus na cruz, denuncia a falência espiritual da raça humana.
Um texto de Paul Tripp exemplifica isto. Ele afirma que todos os dias ao começar o seu tempo de oração ele diz a Deus: “Senhor, tu sabes como eu preciso de ti, e nada posso sem ti”. Pensando nesta oração, lamentei pelo meu coração, porque na minha auto suficiência, nem sempre estou realmente convencido de que eu sou pobre e necessitado, que preciso de Deus e nada posso sem ele. De forma inconsciente, continuo vangloriando-me e vivendo uma vida de autonomia e independência de Deus. Teomania.
O jovem rico fundamenta sua vida nos méritos e currículo moral, sua honradez e comportamento. Milhares de pessoas que professam hoje ser discípulas de Cristo, no fundo realmente não sentem que precisam de um salvador. Salvador é para quem está perdido. A maioria se acha boa demais... Pensam que são muito resolvidas acerca de si mesmos.
Esta era a realidade do coração daquele jovem, por isto afirma: “Não há nenhum bom, exceto Deus”.
Paulo afirma que os judeus tinham zelo por Deus, porém não com entendimento, porque tentaram construir sua justiça própria ao invés de aceitar a justiça que vem de Deus através de Jesus. Os judeus não eram displicentes nem negligentes com sua fé, mas possuíam zelo sem entendimento porque continuavam firmados neles mesmos, e não em Jesus (Rm 10.1-3).

  1. Coloca seus afetos em coisas erradas. Jesus denuncia a centralidade do seu coração, por isto diz: “Vai, vende tudo que tens, e dá-o aos pobres, depois vem e segue-me”(Mc 10.21).
É interessante notar que Jesus nunca pediu que outros seguidores fizessem o mesmo. Algumas pessoas ricas serviram a Jesus com seus bens e ele nada lhes disse. No entanto, pede a este jovem que venda seus bens para segui-lo. Por que?
Seu problema não era o dinheiro que ele possuía, mas o dinheiro que o possuia. A questão era  como o seu coração se relacionava com as coisas que possuia. Jesus sabia que por detrás de toda aquela camada religiosa e de disciplina espiritual, havia um coração dominado não por Deus, mas pelas afetos seculares que o dominavam.
Ele tinha uma relação idolátrica com os bens. Questão de intensidade e foco. Coisas que nos dominam tornam-se substitutos de Deus (Ez 14.3,4,5,7). Ídolos nos fazem crer que não podemos viver sem eles. O coração dele estava nas coisas. Para nenhuma pessoa Jesus pediu que vendesse os bens para se tornar seu discípulo, mas este precisava romper com sua escravidão.
A questão é: “Onde estão seus afetos?” Pergunte a você mesmo: “O que você ama, teme, serve, deseja mais do que a Deus?” Isto certamente é um ídolo no seu coração. O centro do coração daquele homem estava apontando para coisas erradas.
Ele se retira triste: O dinheiro era mais importante que Deus. Acho impressionante a declaração do texto que diz: “E Jesus, fitando-o, o amou”(Mc 1021). Jesus não fez esta exigência para pisoteá-lo, mas para resgatá-lo. Era uma tentativa de livrá-lo da subordinação que ele mantinha com seus bens. Sua lente estava desajustada e seu foco errado. Jesus pede que ele coloque seu coração no foco certo...
Para seguir a Cristo não pode haver atenção dividida. O coração tem que estar por inteiro. No entanto, ao sermos assim confrontados, podemos sair triste da presença de Deus e não rendermos o nosso coração a ele. Achamos que somos donos de muitas propriedades e desta forma não percebemos que nossos bens são nossos donos. Achamos que possuímos as coisas quando elas  nos possuem.
Aquele rapaz mede a sua vida pela lei, Jesus o mede pelos seus afetos. O que estava no seu coração? A observância religiosa não havia tocado seu íntimo. Não tinha gerado desapego pelas coisas mundanas que ele amava. A Nova Aliança tem a ver com o coração.


Conclusão:

Este jovem faz a pergunta certa, com a atitude certa, com a urgência certa, no tempo certo e à pessoa certa, mas responde a interpelação de Cristo de  forma errada. Não entrega o centro de seus afetos a Deus. Não consegue se desvencilhar de seu ídolo.
Que tal render aquela parte da vida que o faz crer que não é possível viver sem ela. Que tal trazer esta dimensão de sua vida rendida a Deus? Talvez você até ore: "Senhor, eu não quero, mas gostaria de querer abrir mão disto que é um obstáculo à minha vida de fé. Mude a minha vontade e sonhos”.
Quais são as posses que tem dominado a sua vida. Por que é mais fácil ser religioso que entregar meu coração por inteiro a Deus?
No Séc XVIII, o Rio Mississipi era um dos principais canais para transportar grãos e gado nos EUA. Certo homem rico, vendeu sua propriedade e recebeu seu pagamento em ouro, e o levava consigo numa destas viagens, quando o barco em que estava, começou a naufragar. Desesperado ao ver que iria perder toda sua riqueza, rapidamente começou a colocar ouro no bolso da sua calça e do paletó, para salvar o máximo dos bens. Três dias depois, o encontraram morto, no fundo do rio, com seus bolsos repletos de ouro.


Rev. Samuel Vieira  

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ef 3.1 Paulo, prisioneiro de Cristo


Este texto possui uma estranha afirmação: “Paulo, prisioneiro de Cristo”. Ele se declara prisioneiro de Cristo. Não deveria ser de Roma ou dos judeus?
Quando estudamos a história de Paulo em Atos, vemos como o drama se desenrolou. Ele foi tirado do templo (At 21.30) acusado de sacrilégio, porque supostamente teria introduzido Trófimo, o efésio, no templo. Pecado mortal, qualquer gentio que fizesse isto seria morto. Paulo é arrastado para fora do templo e é salvo do linchamento porque o comandante romano chegou ao local e dispersou a balburdia.
Levado para a cadeia, Paulo ainda continua sob ameaça. Os romanos querem açoitá-lo, mas Paulo reivindica sua cidadania romana e é poupado. Sabedores de que os judeus queriam fazer um motim e assassiná-lo Cláudio Lisias o envia para Cesaréia, para ser julgado pelo governador Félix, e fora do ambiente fundamentalista dos judeus em Jerusalém. O processo tanto se arrastou que se passaram dois anos e Félix foi substituído por Pórcio Festo (At 24.27) e assim que assumiu o posto, uma comitiva veio de Jerusalém para pedir a morte de Paulo. Festo aproveita a visita do rei Agripa e Berenice para ouvi-lo e ajuda-lo na questão, não tendo assim que assumir o ônus de julgar sozinho um um cidadão romano. Quando Paulo percebe a manobra e a dificuldade da justiça tomar uma decisão, apela para César, e desta forma torna-se por lei obrigado a ser enviado ao tribunal superior de Roma.
Ao chegar em roma, Paulo é colocado numa cadeia.
Quais os motivos?
Inveja dos judeus e manobra populesca dos romanos que não queriam correr o risco de perder a popularidade entre um povo cuja história era, por natureza rebelde.
Se foram os romanos quem o prenderam, por que então, Paulo afirma ser prisioneiro de Cristo?
Isto se deu porque ele vê a vida na perspectiva de Jesus. Ele não vê a vida como resultado fortuito de ações humanas, religiosas ou políticas, mas vê a vida na perspectiva de Deus. Isto reorienta toda a sua história.

O que nos orienta? O que nos controla?
Todos somos dirigidos por algo externo a nós, embora digamos orgulhosamente o contrário. Varias são as forças que nos orientam.

Medo – Podemos viver uma vida orientada pelos medos. Medo de rejeição, de ficar velho, de adoecer, de falência, de ficar pobre (muitos vão dizer que não temem isto porque já são pobres...). estas forças podem ser tão fortes que passam a nos controlar.

Culpa – Um sem número de pessoas é controlado por culpa. Real ou imaginária. Por coisas que fizeram ou que acharam que fizeram, ou deixaram de fazer.  Movidos pela culpa, vivem um processo de auto destruição, amargura, dor física e mental. Prisioneiros de uma consciência adoecida, não perdoada.

Ansiedade – Outros são controlados por preocupações quanto ao futuro. Ou pré-ocupações. Isto literalmente significa preocupar-se antecipadamente com algo que possa acontecer.
Certa mulher de 90 anos andava muito preocupada quanto ao seu futuro financeiro, até que seu filho resolveu demonstrar que se ela continuasse mantendo suas despesas nas mesmas condições, poderia viver despreocupadamente mais 15 anos. Aí veio a surpresa. Ela disse ao filho: “Isto mesmo. Eu estou preocupada é com o que virá depois disto...

Circunstâncias – Muitos ainda dependem de situações favoráveis. Vivem à mercê dos eventos. Fatos que fogem ao controle, e que desestabilizam profundamente. Elas precisam ter o controle constante das coisas e das pessoas ao seu redor, qualquer instabilidade as levam a murmurar e a perder a paz. O problema, porém, é que ninguém pode controlar o vento, o clima, a variação da bolsa e do dólar, a bolsa de emprego, a doença, o acidente, a dor e o luto.

Pessoas – Alguns dependem da aprovação dos outros. Se recebem críticas, o seu mundo interior desmorona. Qualquer frustração pode ser devastadora, porque precisam constantemente de serem apreciadas, admiradas. Precisam de popularidade. Jesus percebeu isto no coração das pessoas que amavam mais a aprovação dos homens que de Deus.

Quem controla a sua vida?
Paulo afirma que Jesus estava no controle. Tudo estava sob o controle dele, e não das pessoas. O que podemos dizer sobre nós mesmos?

Esta visão espiritual altera profundamente o nosso estilo de vida:

A.    Muda completamente nosso humor

Ter a perspectiva de Deus detrás dos eventos muda radicalmente a forma de enxergar a vida. Não somos pessoas que vivem acidentalmente o dia a dia, mas estamos nas mãos de um Deus sábio, amoroso, soberano. Isto muda interiormente os movimentos de alegria ou tristeza. É fácil se entristecer quando não vemos qualquer propósito ou sentido na vida e a realidade é dura.

B.    Muda radicalmente a forma de interpretar a vida

Perceber Deus por detrás da história significa dizer que estou neste lugar, fazendo o que estou fazendo, porque Deus quis que assim acontecesse. Mesmo os acontecimentos ruins, não se tornam catastróficos, apesar de muitas vezes desanimadores e desencorajadores.  
O primeiro axioma da missiologia é que o próprio Deus inicia a obra missionária. O Deus da Bíblia é um Deus missionário, por isto mandou seu filho realizar seu projeto missionário entre nós. O segundo axioma é igualmente importante: Deus antecede o missionário no campo. Em outras palavras, quando alguém se sente chamado para uma obra, é porque Deus já estava lá antes dele. O amor e a compaixão de Deus pelas ovelhas perdidas é que move o nosso coração para a obra, e como servos, somos impulsionados a obedecer  e realizar o seu projeto, como afirmou Agostinho: “Quando Deus se agita, o homem se levanta.
Deus se antecipa a nós. Nada acontece por acaso. Tudo que acontece é plano dele. Nenhum pardal morre sem ordem de Deus, e não cai nenhum fio de nossa cabeça sem que isto passe pelo crivo de sua soberania (para desespero daqueles que estão ficando carecas).

C.    Ajuda a manter o olhar e a perspectiva correta

Recentemente conversei com um jovem que perdera o emprego. Um acontecimento destes em uma situação normal já é ruim, mas em épocas de crise se torna um problema ainda mais agudo. Fiquei feliz em ouvi-lo dizer que, apesar da situação, ele sabia que tudo estava nas mãos de Deus, e que estava confiante. Elogiei sua fé e testemunho de firmeza em Cristo. Reforcei nele a necessidade de manter a perspectiva, considerando que não estamos nas mãos das circunstâncias nem do acaso. Mas antes que eu ficasse animado demais com a firmeza de sua fé, ele me respondeu: “É... hoje estou bem seguro, mas amanhã não sei...”

Paulo não era prisioneiro de Roma, nem dos judeus, ele era servo de Cristo, a serviço de Cristo, pela vontade de Cristo, anunciando Cristo. Sua perspectiva trouxe alguns resultados positivos para sua vida.
Ele sabia que a história segue um propósito divino, ou, como bem afirmou M. L . Jones: A história está sob controle divino, segue um plano divino, um horário divino e está ligada ao reino divino. Por isto, “precisamos julgar todo acontecimento à luz do Eterno e do glorioso propósito de Deus” (Do temor à fé).

D.    Livra-nos da uma vida de amargura.

Quando perdemos a perspectiva de Deus, e as coisas saem do controle o resultado é raiva e ressentimento contra o Eterno. Outros efeitos colaterais também são percebidos como raiva da vida, vitimismo e amargura. Alguns vão além: blasfemam e acusam Deus de “não ser justo”, querem saber porque as coisas acontecem “apenas” com eles, ignorando que muitos outros sofrem ao redor do mundo. Sem perspectiva da soberania uma existência marcada pela ira passa a nos dominar. Não foi isto que aconteceu com Jonas? Quando as coisas saíram do seu domínio ele se tornou irritadiço e raivoso. Por isto, por duas vezes, Deus lhe pergunta: “É razoável esta tua ira?” (Jn 4.4,11). Na segunda vez ele diz: “’É razoável minha ira até a morte!” Em outras palavras. Ele se achava no pleno direito de dizer que tinha razão, até quando Deus queria lhe mostrar o contrário.
Paulo poderia ter agido assim. Afinal, ele estava no pleno exercício de seu abençoado ministério, tantas pessoas estavam sendo alcançadas com a pregação, então, porque Deus permitiu que homens que conspiravam contra o Evangelho, tivessem aparentemente o controle sobre sua vida e o levassem para ser esquecido nos gelados porões de uma cadeia?

E.    Nos capacita a sempre dar graças a Deus

As dificuldades da vida ou nos tornam rebeldes ou nos amadurecem. Se o coração se tornar amargurado, o resultado será rebelião e murmuração, se o coração aprofundar na compreensão de Deus, o resultado será gratidão. Foi ainda na prisão que Paulo escreveu a carta aos Filipenses, na qual ele afirma constantemente: “Alegrai-vos sempre no Senhor”. Muitos se tornaram santos em época de martírio e tribulação, outros se transformaram em céticos e cínicos.
É bom lembrar que não damos graças a Deus pelas coisas tristes, nem pela dor em si mesmo. Não somos do tipo que diz: “Aleluia, estou com câncer!”, mas, apesar de não entendermos nem estarmos felizes com a situação de perda, somos ainda assim, capazes de dizer a Deus: “Senhor, eu não entendo nada do que está acontecendo, e as coisas estão realmente difíceis, mas eu sei que o Senhor me ama, e controla todas as coisas, e por isto, quero te glorificar”.
Posso viver uma vida de dependência e de adoração, mesmo diante de fatos contrários, porque não estou nas mãos do acaso. Não preciso ter uma vida de hostilidade e raiva contra Deus.

F.    Nos capacita a sermos produtivos nas crises

Se temos a perspectiva correta, de que Deus tem o controle de toda situação, ao passarmos por crises, não nos afundamos na depressão nem diminuímos o potencial de criatividade. Não é isto que nos ensina a Palavra de Deus:

“Bem aventurado é o homem cuja força está em ti,
em cujo coração se encontram os caminhos aplanados,
o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial.
De bençãos o cobre a primeira chuva.
Vão indo de força em força, cada um deles aparece diante de Deus em Sião”
(Sl 84.5-7)

Homens de Deus transformam ambientes hostis em jardins. Quando passam pelo vale árido, são capazes de provocar impacto. O lugar árido se torna um manancial e as bênçãos os seguem, e caminham assim, de força e força para se apresentar diante de Deus.
Paulo tornou-se mais e mais efetivo apesar de toda oposição. Algemado, aproveitou a oportunidade para testemunhar de Jesus aos soldados que faziam a ronda, e isto foi tão eficaz que alguns jovens que eram da casa de César, o Imperador, rapazes da guarda pretoriana, que haviam sido criados em ambientes palacianos se converteram por causa de seu testemunho (Fp 4.22). Além disto, ele aproveitou este tempo para escrever cartas, e estes textos bíblicos que orientam a doutrina da igreja cristã hoje em dia, foram produzidos quando ele esteve preso. É isto que chamamos de “reação em cadeia!” Isto significa discernir Deus em lugares inesperados. A oposição se transforma em oportunidade.
Paulo sabia que Deus nunca era pego de surpreso, e que os céus nunca se surpreendiam.

Conclusão: O que faz diferença?
 A palavra que parece definir isto é perspectiva.
Colocar os olhos no lugar certo e na pessoa certa mudam a forma de perceber os eventos ordinários ou incomuns da vida.

Paulo via Deus em todos os momentos da vida. Ele pertencia a Deus. Ele era filho amado de Deus. Ele era servo de Cristo. Os homens nem as situações tinham o controle de sua vida, porque ele era de Cristo. Era prisioneiro de Cristo. Isto o fazia pairar acima das adversidades.