Introdução:
Nenhuma questão é tão importante, tão urgente,
essencial e imprescindível quanto esta
que encontramos neste texto: “Que farei
para herdar a vida eterna?” Por que? Porque ela tem a ver com a eternidade,
e se compararmos os poucos anos de nossa vida com a eternidade, ela nada é.
Certa vez perguntaram a um sábio o que era eternidade e ele respondeu da
seguinte forma: “Em certo país distante, existe uma pedra gigantesca, e nela,
um passarinho mágico, de 100 em 100 anos, vai ali afiar seu bico. Quando esta
montanha tiver se acabado pela ação deste pássaro, ter-se-á passado um segundo
do eternidade. C. S. Lewis declarou que: “tudo que não é eterno é eternamente
inútil”.
Este homem estava preocupado com sua situação
espiritual, e ele vem a Jesus com esta pergunta essencial. Ele aproxima-se de
Jesus com disposições absolutamente corretas, mas infelizmente responde a Jesus
de forma errada. Ele acerta nas atitudes que assume, mas equivoca-se nas
respostas que dá. Ele comete acertos e equívocos.
Acertos:
- Tem a disposição
correta–
“correu... ao seu encontro”
(Mc.10.17). Tem um senso da urgência de sua alma e percepção de que sua
situação era inadiável e aquela era a hora da tomada de posição. Ele vem
correndo, trata-se de colocar em ordem a sua vida, não pode mais perder
tempo.
Certa vez estava pregando em Goiânia, e no
meio do sermão, ouve um derramamento especial da graça de Deus e uma mulher
interrompeu a palavra e disse: “Pastor,
quero entregar minha vida a Jesus neste momento”. Enquanto vacilei um
pouco, indefinido sobre o que fazer, outra pessoa se levantou e em seguida
afirmou: “Eu também quero!”. Parei o sermão e convidei as duas a virem à
frente, e aproveitei para fazer apelo a outras pessoas que também foram tocadas
por Jesus naquela noite.
Talvez tenha sido isto que aconteceu em At.
10. Antes que Pedro concluísse o sermão, o Espírito Santo desceu sobre os
gentios que ficaram cheios do Espirito Santo e passaram também a falar em
outras línguas. Como Pedro estava reticente por estar pregando para gentios, já
que a vida inteira fora ensinado a não conversar com gentios, teve seu sermão
interrompido porque o que dissera já era suficiente, e dai em diante ele
poderia atrapalhar o que Deus queria fazer. No meu caso acho que Deus
considerou o seguinte: “Se Samuel continuar pregando pode atrapalhar a obra que
estou plantando nestes corações...”
Você sente urgência em relação à sua alma,
percebe que precisa tomar uma decisão imediata? Não hesite. Hoje, se ouvir a
voz do Senhor, não endureça o seu coração.
- Vem no tempo
certo – “Certo jovem” (Mc 10.17) Ele não
adia indefinidamente sua decisão. Muitos jovens ficam pensando que ainda
são novos demais, que desejam entregar suas vidas a Cristo e que a farão
no tempo apropriado, isto é, quando forem mais velhos. O problema é que,
em se tratando de coisas espirituais, corremos risco de morte eterna. Nós
somos transitórios e mortais e passamos. Um velho hino dizia: “Meu amigo,
hoje tu tens a escolha; vida ou morte qual vais aceitar? Amanhã pode ser
muito tarde, hoje Cristo te quer libertar”.
Não deixe sua decisão para depois. Venha
agora. Assuma sua caminhada com Cristo. Torne-se um discípulo de Cristo ainda
hoje.
Este jovem veio no tempo certo, na sua
juventude.
- Teve a postura correta: "Ajoelhando-se"
(Mc 10.17) – Esta é a disposição correta para se aproximar de
Deus. Para um judeu ajoelhar-se diante de alguém não era fácil, assim como
ainda não é fácil para qualquer um de nós nos dias de hoje, e assumir
atitude de quebrantamento. Aquele jovem percebe em Jesus algo especial, e
por isto ajoelha-se diante dele.
Muitas vezes nos aproximamos de Jesus, não com
joelhos em terra, mas com arrogância, nariz empinado, como se Deus fosse
grandemente abençoado em nos acolher. Este jovem não se aproxima de Jesus de
forma arrogante, mas quebrantado. Ele entende que Jesus é Deus.
Imagine um próspero empresário, um atleta
famoso, um artista global, um político conhecido. Qual deve ser a atitude dele
diante de Deus? A mesma de um simples camponês, de um servente de pedreiro. Por
que? Porque Deus não faz acepção de pessoas. “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça”.
A Bíblia diz que Deus não desprezará um
coração compungido e quebrantado, mas resiste, mas quando nos humilhamos e o
buscamos certamente vamos encontrá-lo: “Buscar-me-eis
e me achareis, quando me buscardes de todo coração”.
- Faz a pergunta
correta, a questão essencial: “Que
farei para herdar a vida eterna?” Nenhuma pergunta é tão importante,
por se tratar de valor eterno.
Qual é sua pergunta? Não espere resposta certa
se você faz pergunta errada. Diagnóstico errado induz a um tratamento
equivocado.
Existem muitos levantando questões
periféricas, que consomem quase todo o seu tempo, faz a mente chafurdar em
ansiedade e preocupação. Vivem ansiosos quanto à reputação pessoal, sucesso,
fama, dinheiro, casamento, mas nenhuma destas perguntas tem a ver com
eternidade.
Você sabe onde vai passar a eternidade?
Se você morresse hoje, para onde iria sua
alma?
Você já sabe o que dirá quando estiver diante
do trono de Deus?
Você acha que seus fundamentos espirituais são
suficientes para lhe dar certeza da vida eterna?
Do ponto de vista psicológico, entendo porque
tantas religiões do mundo professam a tola doutrina da reencarnação. Elas
querem crer que, de alguma forma, mesmo fazendo tanta besteira e cometendo
tantas tolices, que ainda terão uma segunda chance. Mas a Bíblia diz claramente
que: “Aos homens está ordenado morrerem
uma só vez, vindo depois disto, o juízo”((Hb 9.27).
O carcereiro de Filipos, ao ver sua alma em
desespero, faz a seguinte pergunta a Paulo e Silas: “Senhores, que farei para ser salvo?” (At 16.30), e eles
responderam: “Crê no Senhor Jesus e serás
salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Algumas das mais lindas perguntas que
ouvi foram de pessoas, sedentas de Deus, ansiando pelo Eterno que me perguntam:
“Pastor, o que devo fazer para entregar minha vida a Cristo?” ou “O que faço
para receber Jesus como meu salvador pessoal?”
- Procura a pessoa
certa – Jesus!
Tenho visto muitos buscando respostas espirituais, gente sedenta do
Sagrado, mas indo atrás de médiuns, benzedores, misticismo e esoterismo,
representações do sagrado, e se sentindo cada vez mais desesperadas porque
estão cavando cisternas rotas que não retém a água, que não saciam a sede
do coração.
Na tentativa de responder aos anseios da alma,
muitos correm na direção errada. Em 2011, Oprah Winter, naquela época considerada
a mulher mais influente dos EUA, e a maior formadora de opinião pública, veio a
Abadiânia em busca do João de Deus. Fez uma reportagem especial sobre este
homem, trouxe todo seu staff milionário de produção para ouvir este homem. Uma
mulher em busca de resposta, procurando água em fontes secas.
Na periferia da região de Anápolis e Brasília,
encontramos várias cidades como Pirenópolis, Abadiânia e Alto Paraiso, marcadas
por propostas estranhas de espiritualidade, cheias de gurus e místicos. São
pessoas desoladas pela aridez do secularismo, que saem agora em busca de uma
proposta espiritualizante. Apesar de parecer tão espiritual, chamamos tais
movimentos de “espiritualidade pagã”. A história da humanidade está repleta de
homens místicos tentando dar respostas a corações ansiosos por coisas
espirituais, mas Jesus foi muito claro e especifico ao afirmar: “Se alguém tem sede, venha e mim e beba, porque do seu
interior, fluirão rios de água viva”. Somente ele é capaz de saciar a sede
da alma.
Este homem, porém, comete alguns equívocos.
- Possui
pressupostos teológicos equivocados – “Bom
mestre” (Mc 10.17). Jesus não o censura porque ele o chama de bom, mas
porque ele sabe que seu julgamento superficial sobre a bondade humana, o
induzia a enxergar a vida sobre a perspectiva de sua justiça própria,
afinal, ele não era um homem tão bom e cumpridor da Lei?
Quando Jesus o questiona: “Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão
um, que é Deus?”(Mc 10.18) Quer ensinar-lhe que só existe um que é bom, na
verdadeira essência, o próprio Deus. A bondade da humanidade é relativa,
superficial, perigosa. Ao fazer isto, Jesus está procurando esvaziar sua
arrogância espiritual de pessoa moralmente correta. Jesus queria ajudá-lo a compreender
a si mesmo, e entender o quanto ele precisava de Deus e quanto seu coração
estava longe.
- Constrói sua vida
em fundamentos equivocados – Quando Jesus fala sobre a guarda dos
mandamentos, não o faz em forme de pergunta, Jesus sabia que ele guardava
os mandamentos. A resposta do jovem é enfática e não deixa dúvidas: “Tudo isto tenho observado, desde a
minha juventude” (Mc 10.19).
Pessoas religiosas e de moral exemplar são as
que menos sentem necessidade da graça de Deus. Por isto se afastam do
evangelho. A justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho, por isto Jesus
procura tirar daquele jovem o forte senso de justiça pessoal que ele tinha.
Por guardar os mandamentos e a Lei, ele se considera
justa.
Pessoas cheias de si mesmas, não podem ser preenchidas
por Deus, pois dentro delas não cabe mais nada. Tornam-se enfatuadas e
ensimesmadas. Este jovem era socialmente bom e correto, e apesar disto, e
talvez, por isto mesmo, corria sério risco espiritual.
A Bíblia está sempre questionando a capacidade
espiritual do ser humano. Quando Paulo fala da graça de Deus, mostra que Deus
havia providenciado tudo para a salvação do homem por meio da cruz e não se
tratava da performance humana, mas da graça: “Onde está a jactância? Foi de todo abolida” (Rm 3.27). Não podemos nos aproximar de Deus com orgulho espiritual. A
obra de Jesus na cruz, denuncia a falência espiritual da raça humana.
Um texto de Paul Tripp exemplifica isto. Ele
afirma que todos os dias ao começar o seu tempo de oração ele diz a Deus: “Senhor,
tu sabes como eu preciso de ti, e nada posso sem ti”. Pensando nesta oração,
lamentei pelo meu coração, porque na minha auto suficiência, nem sempre estou
realmente convencido de que eu sou pobre e necessitado, que preciso de Deus e
nada posso sem ele. De forma inconsciente, continuo vangloriando-me e vivendo
uma vida de autonomia e independência de Deus. Teomania.
O jovem rico fundamenta sua vida nos méritos e
currículo moral, sua honradez e comportamento. Milhares de pessoas que
professam hoje ser discípulas de Cristo, no fundo realmente não sentem que
precisam de um salvador. Salvador é
para quem está perdido. A maioria se acha boa demais... Pensam que são muito
resolvidas acerca de si mesmos.
Esta era a realidade do coração daquele jovem,
por isto afirma: “Não há nenhum bom, exceto Deus”.
Paulo afirma que os judeus tinham zelo por
Deus, porém não com entendimento, porque tentaram construir sua justiça própria
ao invés de aceitar a justiça que vem de Deus através de Jesus. Os judeus não
eram displicentes nem negligentes com sua fé, mas possuíam zelo sem
entendimento porque continuavam firmados neles mesmos, e não em Jesus (Rm
10.1-3).
- Coloca seus
afetos em coisas erradas. Jesus denuncia a centralidade do seu
coração, por isto diz: “Vai, vende
tudo que tens, e dá-o aos pobres, depois vem e segue-me”(Mc 10.21).
É interessante notar que Jesus nunca pediu que
outros seguidores fizessem o mesmo. Algumas pessoas ricas serviram a Jesus com
seus bens e ele nada lhes disse. No entanto, pede a este jovem que venda seus
bens para segui-lo. Por que?
Seu problema não era o dinheiro que ele possuía,
mas o dinheiro que o possuia. A questão era como o seu coração se relacionava com as
coisas que possuia. Jesus sabia que por detrás de toda aquela camada religiosa
e de disciplina espiritual, havia um coração dominado não por Deus, mas pelas afetos
seculares que o dominavam.
Ele tinha uma relação idolátrica com os bens. Questão
de intensidade e foco. Coisas que nos dominam tornam-se substitutos de Deus (Ez
14.3,4,5,7). Ídolos nos fazem crer que não podemos viver sem eles. O coração
dele estava nas coisas. Para nenhuma pessoa Jesus pediu que vendesse os bens
para se tornar seu discípulo, mas este precisava romper com sua escravidão.
A questão é: “Onde estão seus afetos?”
Pergunte a você mesmo: “O que você ama, teme, serve, deseja mais do que a Deus?”
Isto certamente é um ídolo no seu coração. O centro do coração daquele homem
estava apontando para coisas erradas.
Ele se retira triste: O dinheiro era mais
importante que Deus. Acho impressionante a declaração do texto que diz: “E Jesus, fitando-o, o amou”(Mc 1021).
Jesus não fez esta exigência para pisoteá-lo, mas para resgatá-lo. Era uma
tentativa de livrá-lo da subordinação que ele mantinha com seus bens. Sua lente
estava desajustada e seu foco errado. Jesus pede que ele coloque seu coração no
foco certo...
Para seguir a Cristo não pode haver atenção
dividida. O coração tem que estar por inteiro. No entanto, ao sermos assim
confrontados, podemos sair triste da presença de Deus e não rendermos o nosso
coração a ele. Achamos que somos donos de muitas propriedades e desta forma não
percebemos que nossos bens são nossos donos. Achamos que possuímos as coisas
quando elas nos possuem.
Aquele rapaz mede a sua vida pela lei, Jesus o
mede pelos seus afetos. O que estava no seu coração? A observância religiosa
não havia tocado seu íntimo. Não tinha gerado desapego pelas coisas mundanas
que ele amava. A Nova Aliança tem a ver com o coração.
Conclusão:
Este jovem faz a pergunta certa, com a atitude
certa, com a urgência certa, no tempo certo e à pessoa certa, mas responde a
interpelação de Cristo de forma errada.
Não entrega o centro de seus afetos a Deus. Não consegue se desvencilhar de seu
ídolo.
Que tal render aquela parte da vida que o faz
crer que não é possível viver sem ela. Que tal trazer esta dimensão de sua vida
rendida a Deus? Talvez você até ore: "Senhor, eu não quero, mas gostaria
de querer abrir mão disto que é um obstáculo à minha vida de fé. Mude a minha
vontade e sonhos”.
Quais são as posses que tem dominado a sua
vida. Por que é mais fácil ser religioso que entregar meu coração por inteiro a
Deus?
No Séc XVIII, o Rio Mississipi era um dos
principais canais para transportar grãos e gado nos EUA. Certo homem rico,
vendeu sua propriedade e recebeu seu pagamento em ouro, e o levava consigo numa
destas viagens, quando o barco em que estava, começou a naufragar. Desesperado
ao ver que iria perder toda sua riqueza, rapidamente começou a colocar ouro no
bolso da sua calça e do paletó, para salvar o máximo dos bens. Três dias
depois, o encontraram morto, no fundo do rio, com seus bolsos repletos de ouro.
Rev. Samuel Vieira
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