domingo, 14 de agosto de 2016

Mc 10.17-22 Acertos e Equívocos



Introdução:
Nenhuma questão é tão importante, tão urgente, essencial e imprescindível quanto  esta que encontramos neste texto: “Que farei para herdar a vida eterna?” Por que? Porque ela tem a ver com a eternidade, e se compararmos os poucos anos de nossa vida com a eternidade, ela nada é. Certa vez perguntaram a um sábio o que era eternidade e ele respondeu da seguinte forma: “Em certo país distante, existe uma pedra gigantesca, e nela, um passarinho mágico, de 100 em 100 anos, vai ali afiar seu bico. Quando esta montanha tiver se acabado pela ação deste pássaro, ter-se-á passado um segundo do eternidade. C. S. Lewis declarou que: “tudo que não é eterno é eternamente inútil”.
Este homem estava preocupado com sua situação espiritual, e ele vem a Jesus com esta pergunta essencial. Ele aproxima-se de Jesus com disposições absolutamente corretas, mas infelizmente responde a Jesus de forma errada. Ele acerta nas atitudes que assume, mas equivoca-se nas respostas que dá. Ele comete acertos e equívocos.

Acertos:

  1. Tem a disposição correta“correu... ao seu encontro” (Mc.10.17). Tem um senso da urgência de sua alma e percepção de que sua situação era inadiável e aquela era a hora da tomada de posição. Ele vem correndo, trata-se de colocar em ordem a sua vida, não pode mais perder tempo.
Certa vez estava pregando em Goiânia, e no meio do sermão, ouve um derramamento especial da graça de Deus e uma mulher interrompeu a palavra e disse: “Pastor, quero entregar minha vida a Jesus neste momento”. Enquanto vacilei um pouco, indefinido sobre o que fazer, outra pessoa se levantou e em seguida afirmou: “Eu também quero!”.  Parei o sermão e convidei as duas a virem à frente, e aproveitei para fazer apelo a outras pessoas que também foram tocadas por Jesus naquela noite.
Talvez tenha sido isto que aconteceu em At. 10. Antes que Pedro concluísse o sermão, o Espírito Santo desceu sobre os gentios que ficaram cheios do Espirito Santo e passaram também a falar em outras línguas. Como Pedro estava reticente por estar pregando para gentios, já que a vida inteira fora ensinado a não conversar com gentios, teve seu sermão interrompido porque o que dissera já era suficiente, e dai em diante ele poderia atrapalhar o que Deus queria fazer. No meu caso acho que Deus considerou o seguinte: “Se Samuel continuar pregando pode atrapalhar a obra que estou plantando nestes corações...”
Você sente urgência em relação à sua alma, percebe que precisa tomar uma decisão imediata? Não hesite. Hoje, se ouvir a voz do Senhor, não endureça o seu coração.

  1. Vem no tempo certo – Certo jovem” (Mc 10.17) Ele não adia indefinidamente sua decisão. Muitos jovens ficam pensando que ainda são novos demais, que desejam entregar suas vidas a Cristo e que a farão no tempo apropriado, isto é, quando forem mais velhos. O problema é que, em se tratando de coisas espirituais, corremos risco de morte eterna. Nós somos transitórios e mortais e passamos. Um velho hino dizia: “Meu amigo, hoje tu tens a escolha; vida ou morte qual vais aceitar? Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar”.
Não deixe sua decisão para depois. Venha agora. Assuma sua caminhada com Cristo. Torne-se um discípulo de Cristo ainda hoje.
Este jovem veio no tempo certo, na sua juventude.

  1. Teve a postura correta: "Ajoelhando-se" (Mc 10.17) – Esta é a disposição correta para se aproximar de Deus. Para um judeu ajoelhar-se diante de alguém não era fácil, assim como ainda não é fácil para qualquer um de nós nos dias de hoje, e assumir atitude de quebrantamento. Aquele jovem percebe em Jesus algo especial, e por isto ajoelha-se diante dele.
Muitas vezes nos aproximamos de Jesus, não com joelhos em terra, mas com arrogância, nariz empinado, como se Deus fosse grandemente abençoado em nos acolher. Este jovem não se aproxima de Jesus de forma arrogante, mas quebrantado. Ele entende que Jesus é Deus.
Imagine um próspero empresário, um atleta famoso, um artista global, um político conhecido. Qual deve ser a atitude dele diante de Deus? A mesma de um simples camponês, de um servente de pedreiro. Por que? Porque Deus não faz acepção de pessoas. “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes concede a sua graça”.
A Bíblia diz que Deus não desprezará um coração compungido e quebrantado, mas resiste, mas quando nos humilhamos e o buscamos certamente vamos encontrá-lo: “Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo coração”.

  1. Faz a pergunta correta, a questão essencial: “Que farei para herdar a vida eterna?” Nenhuma pergunta é tão importante, por se tratar de valor eterno.
Qual é sua pergunta? Não espere resposta certa se você faz pergunta errada. Diagnóstico errado induz a um tratamento equivocado.
Existem muitos levantando questões periféricas, que consomem quase todo o seu tempo, faz a mente chafurdar em ansiedade e preocupação. Vivem ansiosos quanto à reputação pessoal, sucesso, fama, dinheiro, casamento, mas nenhuma destas perguntas tem a ver com eternidade.
Você sabe onde vai passar a eternidade?
Se você morresse hoje, para onde iria sua alma?
Você já sabe o que dirá quando estiver diante do trono de Deus?
Você acha que seus fundamentos espirituais são suficientes para lhe dar certeza da vida eterna?
Do ponto de vista psicológico, entendo porque tantas religiões do mundo professam a tola doutrina da reencarnação. Elas querem crer que, de alguma forma, mesmo fazendo tanta besteira e cometendo tantas tolices, que ainda terão uma segunda chance. Mas a Bíblia diz claramente que: “Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo”((Hb 9.27).
O carcereiro de Filipos, ao ver sua alma em desespero, faz a seguinte pergunta a Paulo e Silas: “Senhores, que farei para ser salvo?” (At 16.30), e eles responderam: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Algumas das mais lindas perguntas que ouvi foram de pessoas, sedentas de Deus, ansiando pelo Eterno que me perguntam: “Pastor, o que devo fazer para entregar minha vida a Cristo?” ou “O que faço para receber Jesus como meu salvador pessoal?”

  1. Procura a pessoa certa – Jesus! Tenho visto muitos buscando respostas espirituais, gente sedenta do Sagrado, mas indo atrás de médiuns, benzedores, misticismo e esoterismo, representações do sagrado, e se sentindo cada vez mais desesperadas porque estão cavando cisternas rotas que não retém a água, que não saciam a sede do coração.
Na tentativa de responder aos anseios da alma, muitos correm na direção errada. Em 2011, Oprah Winter, naquela época considerada a mulher mais influente dos EUA, e a maior formadora de opinião pública, veio a Abadiânia em busca do João de Deus. Fez uma reportagem especial sobre este homem, trouxe todo seu staff milionário de produção para ouvir este homem. Uma mulher em busca de resposta, procurando água em fontes secas.
Na periferia da região de Anápolis e Brasília, encontramos várias cidades como Pirenópolis, Abadiânia e Alto Paraiso, marcadas por propostas estranhas de espiritualidade, cheias de gurus e místicos. São pessoas desoladas pela aridez do secularismo, que saem agora em busca de uma proposta espiritualizante. Apesar de parecer tão espiritual, chamamos tais movimentos de “espiritualidade pagã”. A história da humanidade está repleta de homens místicos tentando dar respostas a corações ansiosos por coisas espirituais, mas Jesus foi muito claro e especifico ao afirmar: “Se alguém tem sede, venha e mim e beba, porque do seu interior, fluirão rios de água viva”. Somente ele é capaz de saciar a sede da alma.

Este homem, porém, comete alguns equívocos.

  1. Possui pressupostos teológicos equivocados – “Bom mestre” (Mc 10.17). Jesus não o censura porque ele o chama de bom, mas porque ele sabe que seu julgamento superficial sobre a bondade humana, o induzia a enxergar a vida sobre a perspectiva de sua justiça própria, afinal, ele não era um homem tão bom e cumpridor da Lei?
Quando Jesus o questiona: “Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus?”(Mc 10.18) Quer ensinar-lhe que só existe um que é bom, na verdadeira essência, o próprio Deus. A bondade da humanidade é relativa, superficial, perigosa. Ao fazer isto, Jesus está procurando esvaziar sua arrogância espiritual de pessoa moralmente correta. Jesus queria ajudá-lo a compreender a si mesmo, e entender o quanto ele precisava de Deus e quanto seu coração estava longe.

  1. Constrói sua vida em fundamentos equivocados – Quando Jesus fala sobre a guarda dos mandamentos, não o faz em forme de pergunta, Jesus sabia que ele guardava os mandamentos. A resposta do jovem é enfática e não deixa dúvidas: “Tudo isto tenho observado, desde a minha juventude” (Mc 10.19).
Pessoas religiosas e de moral exemplar são as que menos sentem necessidade da graça de Deus. Por isto se afastam do evangelho. A justiça própria é o inimigo número 1 do Evangelho, por isto Jesus procura tirar daquele jovem o forte senso de justiça pessoal que ele tinha.
Por guardar os mandamentos e a Lei, ele se considera justa.
Pessoas cheias de si mesmas, não podem ser preenchidas por Deus, pois dentro delas não cabe mais nada. Tornam-se enfatuadas e ensimesmadas. Este jovem era socialmente bom e correto, e apesar disto, e talvez, por isto mesmo, corria sério risco espiritual.
A Bíblia está sempre questionando a capacidade espiritual do ser humano. Quando Paulo fala da graça de Deus, mostra que Deus havia providenciado tudo para a salvação do homem por meio da cruz e não se tratava da performance humana, mas da graça: “Onde está a jactância? Foi de todo abolida” (Rm 3.27). Não podemos nos aproximar de Deus com orgulho espiritual. A obra de Jesus na cruz, denuncia a falência espiritual da raça humana.
Um texto de Paul Tripp exemplifica isto. Ele afirma que todos os dias ao começar o seu tempo de oração ele diz a Deus: “Senhor, tu sabes como eu preciso de ti, e nada posso sem ti”. Pensando nesta oração, lamentei pelo meu coração, porque na minha auto suficiência, nem sempre estou realmente convencido de que eu sou pobre e necessitado, que preciso de Deus e nada posso sem ele. De forma inconsciente, continuo vangloriando-me e vivendo uma vida de autonomia e independência de Deus. Teomania.
O jovem rico fundamenta sua vida nos méritos e currículo moral, sua honradez e comportamento. Milhares de pessoas que professam hoje ser discípulas de Cristo, no fundo realmente não sentem que precisam de um salvador. Salvador é para quem está perdido. A maioria se acha boa demais... Pensam que são muito resolvidas acerca de si mesmos.
Esta era a realidade do coração daquele jovem, por isto afirma: “Não há nenhum bom, exceto Deus”.
Paulo afirma que os judeus tinham zelo por Deus, porém não com entendimento, porque tentaram construir sua justiça própria ao invés de aceitar a justiça que vem de Deus através de Jesus. Os judeus não eram displicentes nem negligentes com sua fé, mas possuíam zelo sem entendimento porque continuavam firmados neles mesmos, e não em Jesus (Rm 10.1-3).

  1. Coloca seus afetos em coisas erradas. Jesus denuncia a centralidade do seu coração, por isto diz: “Vai, vende tudo que tens, e dá-o aos pobres, depois vem e segue-me”(Mc 10.21).
É interessante notar que Jesus nunca pediu que outros seguidores fizessem o mesmo. Algumas pessoas ricas serviram a Jesus com seus bens e ele nada lhes disse. No entanto, pede a este jovem que venda seus bens para segui-lo. Por que?
Seu problema não era o dinheiro que ele possuía, mas o dinheiro que o possuia. A questão era  como o seu coração se relacionava com as coisas que possuia. Jesus sabia que por detrás de toda aquela camada religiosa e de disciplina espiritual, havia um coração dominado não por Deus, mas pelas afetos seculares que o dominavam.
Ele tinha uma relação idolátrica com os bens. Questão de intensidade e foco. Coisas que nos dominam tornam-se substitutos de Deus (Ez 14.3,4,5,7). Ídolos nos fazem crer que não podemos viver sem eles. O coração dele estava nas coisas. Para nenhuma pessoa Jesus pediu que vendesse os bens para se tornar seu discípulo, mas este precisava romper com sua escravidão.
A questão é: “Onde estão seus afetos?” Pergunte a você mesmo: “O que você ama, teme, serve, deseja mais do que a Deus?” Isto certamente é um ídolo no seu coração. O centro do coração daquele homem estava apontando para coisas erradas.
Ele se retira triste: O dinheiro era mais importante que Deus. Acho impressionante a declaração do texto que diz: “E Jesus, fitando-o, o amou”(Mc 1021). Jesus não fez esta exigência para pisoteá-lo, mas para resgatá-lo. Era uma tentativa de livrá-lo da subordinação que ele mantinha com seus bens. Sua lente estava desajustada e seu foco errado. Jesus pede que ele coloque seu coração no foco certo...
Para seguir a Cristo não pode haver atenção dividida. O coração tem que estar por inteiro. No entanto, ao sermos assim confrontados, podemos sair triste da presença de Deus e não rendermos o nosso coração a ele. Achamos que somos donos de muitas propriedades e desta forma não percebemos que nossos bens são nossos donos. Achamos que possuímos as coisas quando elas  nos possuem.
Aquele rapaz mede a sua vida pela lei, Jesus o mede pelos seus afetos. O que estava no seu coração? A observância religiosa não havia tocado seu íntimo. Não tinha gerado desapego pelas coisas mundanas que ele amava. A Nova Aliança tem a ver com o coração.


Conclusão:

Este jovem faz a pergunta certa, com a atitude certa, com a urgência certa, no tempo certo e à pessoa certa, mas responde a interpelação de Cristo de  forma errada. Não entrega o centro de seus afetos a Deus. Não consegue se desvencilhar de seu ídolo.
Que tal render aquela parte da vida que o faz crer que não é possível viver sem ela. Que tal trazer esta dimensão de sua vida rendida a Deus? Talvez você até ore: "Senhor, eu não quero, mas gostaria de querer abrir mão disto que é um obstáculo à minha vida de fé. Mude a minha vontade e sonhos”.
Quais são as posses que tem dominado a sua vida. Por que é mais fácil ser religioso que entregar meu coração por inteiro a Deus?
No Séc XVIII, o Rio Mississipi era um dos principais canais para transportar grãos e gado nos EUA. Certo homem rico, vendeu sua propriedade e recebeu seu pagamento em ouro, e o levava consigo numa destas viagens, quando o barco em que estava, começou a naufragar. Desesperado ao ver que iria perder toda sua riqueza, rapidamente começou a colocar ouro no bolso da sua calça e do paletó, para salvar o máximo dos bens. Três dias depois, o encontraram morto, no fundo do rio, com seus bolsos repletos de ouro.


Rev. Samuel Vieira  

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