segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Ef 2.11-22 Estranhos e nas trevas



Introdução:

No segundo capitulo de Efésios aprendemos o que significa “viver em Cristo”. Logo nos primeiros versículos vimos a realidade de nossa vida sem Deus, andando segundo o curso deste mundo, sob a orientação de Satanás, e impulsionado pela vontade da carne e dos pensamentos, atendendo as inclinações da carne e vivendo como filhos da ira.
Então Cristo nos chamou e assim voltamos a viver como novas criaturas, nossa criação, novo poder. A misericórdia e a graça de Deus nos resgataram da nossa condição desastrosa. Nestes versículos acima, mais uma vez a Bíblia nos mostra a situação anterior que vivíamos, pintando um quadro devastador de miséria e falta de esperança. Éramos estranhos e vivíamos nas trevas, separados de Deus.
Os termos usados falam de ausências e separações: "estranhos", "sem Deus", "separado das alianças", "inimigo", e Deus mais uma vez intervém trazendo reconciliação e paz.

Veja o contraste:

Condição antiga:
Orientados pela triunidade maligna: O mundo, o diabo e a carne.
Mortos nos delitos e pecados
Filhos da desobediência.
Filhos da ira
Distanciados de Deus
Sem esperança
Distanciado das alianças e pactos

Condição Atual:
Guiados pela Trindade: Pai, Filho, Espírito
Ressuscitados com Cristo
Eleitos e perdoados
Salvos pela misericórdia e graça
Aproximados pelo sangue
Reconciliados com a humanidade
Reconciliados com Deus.

Apenas nestes dois versículos, encontramos quatro situações desesperadoras quando estávamos longe de Deus. Nestes textos vemos a diferença entre vivermos como pagãos.

Incircuncisos – Circuncisão é um termo que aparece muitas vezes no AT e NT, como sinal distintivo do povo de Deus. Era uma marca feita no órgão reprodutor masculino, que tinha uma direção geracional, isto é, Deus não apenas tinha um pacto com o povo, mas com seus filhos. Este sinal foi inicialmente dado por Deus a Abraao, que obedece a Deus e circuncida seus descendentes.
Antes de Jesus, vivíamos incircuncisos.

Separados de Cristo
– Existia um gap, uma separação, que eventualmente pode parecer pequena. Muitos até admiram os ensinamentos de Cristo e sua figura histórica, mas enquanto não receberem a Jesus como Salvador pessoal de suas vidas, ainda estarão mortos em seus delitos e pecados. Esta separação, portanto, pode ser pequena, mas é fatal.
Todas as bençãos espirituais que Deus tem para nós, como temos visto, estão em Cristo. Sem Cristo estamos distanciados das bençãos espirituais que Deus tem oferecido por meio dele.

Separados da comunidade de Israel – Esta é a figura do estrangeiro, vivendo sem cidadania em terra estranha. Durante muito tempo fui pastor de uma comunidade de brasileiros vivendo fora do país. Muitos estavam ali ilegalmente, e havia sempre um sentimento de insegurança presente. Um simples acidente de trânsito poderia determinar a expatriação, e isto causava muito desconforto.
Os judeus tinham uma nação teocrática, e se gloriavam de terem Deus como legislador deles, a lei civil, cerimonial e moral era a torah, e isto lhes dava senso de propósito, proteção e pertencimento. Entretanto, esta não era a realidade do mundo pagão. Embora tivessem conceito de um Deus que governava, eles não tinham ideia de um Deus amoroso, nem que existiam promessas para suas vidas. Não conseguiam ter a ideia de um povo de Deus, faltava senso de sentido histórico, de existir em relação a Deus.

Estranhos às alianças da promessa – O Deus da Bíblia é um Deus de pactos. Todo judeu sabia que Deus fizera uma aliança de ser o seu Deus e deles serem o povo de Deus. Para isto Deus deu orientação quanto à forma de viver e de cultuar. Os cultos, oferendas, festas religiosas, eram uma forma de lembrar que este Deus se movia na história deste povo. O pacto com Deus implicava ainda na promessa da vida do Messias, e mesmo que tragédias acontecessem com eles, estavam certos de que o Deus da aliança e das promessas, os resgataria e os tiraria da condição de miséria e fracasso.
Mas para os pagãos, não há nenhum ponto de expectativa na história. Quando Jó enfrenta sua crise pode afirmar : "Eu sei que o meu redentor vive". Paulo podia escrever: "Eu sei em quem tenho crido". Mas um povo "sem aliança", não possui qualquer relacionamento com Deus.

Não tendo esperança - Embora Deus planejasse inclui-los no seu plano, eles não o sabiam, e portanto, não tinha esperança para sustentá-los.
Esperança é a mola propulsora da fé. Esperança é um elemento intrínseco da realidade dinâmica do homem.
Conta-se que Frederic Niestzsche aos 16 anos foi encontrado pelo seu pai, chorando no porão da casa, e ao ser indagado sobre o motivo do choro respondeu: "Descobri que Deus morreu, e agora não há mais esperança!".
Arqueólogos encontraram túmulos do século I na Grécia, com a seguinte expressão em grego e latim: “Não há esperança!”. Os filósofos daqueles dias e hoje, estão sempre lidando com a questão da esperança, ou da falta dela. Não conseguem encontrar sendo de propósito na vida. Eles revelam o vazio presente no estilo de vida pagão. Neste texto a bíblia afirma que antes de conhecer a Cristo, vivíamos sem esperança. A vida, o desenrolar dos eventos, a morte, nada fazia sentido.

Sem Deus no mundo - Sem a presença de Deus o mundo se torna caótico e absurdo. Deus, promessa e esperança são palavras que caminham juntas. Nenhum ponto finito tem sentido se não estiver relacionado a um ponto infinito.

Mas agora em Cristo, vós que estáveis longes fostes aproximados pelo seu sangue...
O que pode mudar este quadro de solidão, desesperança e ateísmo ?
A resposta é uma só: A obra de Cristo na cruz. O sangue de Cristo nos aproxima de Deus, dando sentido à existência. A teologia da crucificação jamais deverá ser substituida pelo do triunfalismo.

Não é curioso pensar na ênfase que este texto dá ao sangue de Cristo?

Enquanto Paulo coloca a cruz no centro da redenção humana, muitos pregadores modernos parecem querer afastar esta mensagem dos púlpitos.
O sangue sempre fez parte da mensagem bíblica, no AT e NT. Podemos ver o sangue nos atos litúrgicos, festas e rituais judaicos, o livro de Êxodo e Levítico, falam dos cultos a Iahweh, com a constante presença dos sacrifícios e holocaustos, que implicavam no sacrifício de animais. No NT, a obra de Cristo se cumpre num sacrifício cruento de Cristo sendo oferecido como cordeiro pascal numa dolorida cruz. O profeta Isaias afirma que “pelas suas pisaduras fomos sarados”, e Jesus reafirma o fato de que “este sangue é o sangue da nova aliança, derramado em favor de vós para remissão dos vossos pecados”.
Ray Stedman afirma: “Deus quer nos fazer lembrar da morte violenta, porque violência é o resultado ultimo do paganismo, é a expressão final de uma sociedade sem Deus. Crueldade é consequência do desaparecimento da verdade e do amor”.

Conclusão:
Enquanto a sociedade sem Deus vive na desesperança e nas trevas, como estrangeiros, Deus demonstra seu amor através da cruz. Gene Girard, teólogo católico afirma que a violência da cruz foi o meio usado por Deus para encerrar toda violência em si mesmo. Não mais violência.

Em Cristo, a inimizade, a desesperança, a solidão e as trevas foram vencidas. O cordeiro de Deus encerra em si mesmo todo ódio e quebra o ciclo da violência.

Isto deve se tornar motivo de louvor e adoração. A entrega de seu filho nos torna participantes do povo de Deus, trazendo paz.

Paulo fala neste texto de dois tipos de paz:
Paz e unidade entre judeus e gentios.
Paz e unidade entre a humanidade e Deus.

Entre os vs 14-18 aparece a palavra paz três vezes. Jesus é a origem da paz. Ele é o segredo da paz.
Superficialmente imaginamos a paz como ausência de conflito, mas este texto descreve o processo da paz em três estágios:

Primeiro, “ele quebrou as barreiras da separação” (Ef 2.14).
Em 1871, arqueólogos encontraram uma pedra que ficava diante do templo de Jerusalém, escrita em grego e hebraico: “qualquer homem de outra raça que ultrapassar esta parede e entrar no santuário, será punido com a morte”. Uma das áreas do tempo, o lugar dos santos, não permitia a entrada de gentios. Eles tinham que ficar no pátio exterior. Comunhão com Deus era um direito apenas dos judeus.

Quando Jesus morreu, o véu do santuário se rasgou, de cima a baixo. O véu que separava, ja não separa mais. A distancia entre gentios e judeus foi desfeita.

Pertenço à geração que acompanhava estupefato o muro da vergonha que dividia a Alemanha Oriental da Ocidental. Durante muitos anos, as pessoas não podiam atravessar de um país para o outro, havia um enorme muro distanciando o mesmo povo. Quem tentasse ultrapassar seria executado pelos guardas. Centenas de pessoas morreram tentando fazer esta travessia, até que em 1989, o muro se desfez.

A grande divisão, entre judeus e gentios se deu também na morte de Cristo.

Ainda hoje existem lares divididos pela suspeição, amargura, ódio, silencio, tristeza e distancia entre irmãos, marido e mulher, pais e filhos. Jesus quer desfazer estas barreiras. O seu sangue traz reconciliação e perdão.

Segundo, ele criou em si mesmo, um novo homem
Para criar a paz, ele precisou fazer uma nova criação. Não apenas derrubar a barreira, mas começar uma nova realidade de vida em nosso ser.

Para firmar a paz, não basta derrubar a parede. Temos que ser transformados em novos lares, paradigmas, sentimentos e nova mente.
Marido e mulher: ambos precisam de Deus. Novo homem e mulher criados em Cristo.

Terceiro, reconciliou ambos em um só corpo, com Deus, por intermédio da cruz
Paz se manifesta com Deus, e a unidade e reconciliação geradas por meio de Cristo. Por meio da cruz a inimizade é destruída (Ef 2.16).

Dois passos são necessários:

i. Crer – “Vindo, evangelizou paz” (Ef 2.17). isto é, Jesus “pregou paz”. “pregação nunca é um argumento, dialogo ou debate. Pregação é simplesmente o anuncio de um fato. Você pode aceita-lo ou rejeitá-lo, mas você não pode ficar argumentando” (Ray Stedman).

ii. Relacionamento com Deus – “porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”(Ef 2.18). neste versículo vemos as três pessoas da Trindade trabalhando para experimentarmos esta comunhão eterna. O Filho derrama seu sangue, faz a obra que nos dá acesso ao Pai. Este nos recebe para relacionamento de amor, e o Espirito nos dá este acesso.

Deus Pai, Filho, Espírito Santo, agindo a nosso favor, para que assim possamos ser restaurados à sua comunhão e desfrutarmos da benção de ser amados por Deus. Tudo isto se torna possível a partir do vs. 13: “Mas, agora, em Cristo Jesus... fostes aproximados pelo seu sangue”.

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