Bill Hybels no Summit Leadership
2009, deu uma palestra com o título “from
here to there”. Na qual afirma que o grande desafio para todo líder é
motivar seus liderados a saírem de onde se encontram para um ponto mais
desejado. O problema, diz ele, é que geralmente estamos certos de que esta é a
melhor decisão para a instituição, mas as pessoas cruzam os braços e dizem:
“Não queremos sair daqui, estamos feliz onde estamos. Por que precisamos mudar?”.
Portanto, é necessário motivá-las a avançarem, mostrar que o local onde se
encontram não é mais o adequado, que é possível fazer as coisas de forma
diferente e melhor e que ficar naquele ponto significa estagnação.
Alguns afirmam: “Time que ganha
não se muda!”. Esta frase é perigosa e pode ser uma armadilha. O certo talvez
seria dizer: “Time que está ganhando pode ainda ser melhor e mais eficiente se
surgirem mudanças positivas”. Temos que ter sempre em mente que a vida é dinâmica,
e que o povo de Deus está em movimento. Nenhuma igreja é estática, sem fluidez
a vida estanca.
Este texto de Nm 32 parece nos
ajudar a entender como é fácil se conformar. As tribos de Gade e Ruben, e meia tribo
de Manassés, decidiram que ficariam aquém do Jordão, e não entrariam na terra
de Canaã, porque perceberam que era um lugar que dava descanso e adequado para
as suas necessidades. Isto causou uma reação muito forte em Moisés, que
entendeu a atitude do povo como uma recusa em continuar a luta. O embate foi
bem pesado, até que o povo explicou o que tinha em mente. Eles gostariam, sim,
de ficar naquela margem do Rio, mas ajudariam o povo de Deus a conquistar as
demais áreas necessárias. E Moisés se aquiesceu.
O ponto a ser ressaltado é que é
fácil parar e não continuar a luta pela conquista definitiva.
Quais são as possíveis razões que
levaram estas tribos a querer ficar onde estavam?
A. Adequação
- A terra é boa, “terra de gado” (Nm
32.4). Eles perceberam o potencial daquele lugar e se satisfizeram com ele. Embora
não estivessem ainda na terra prometida. Entretanto, a promessa de Deus era
para o outro lado do rio. Quando chegamos a determinado patamar, pode ser que
nos conformemos, por acharmos que as coisas estão boas do jeito que estão, e
não atravessamos para alcançar o lugar prometido. Podemos ficar aquém das
promessas de Deus, nos acomodarmos. Acharmos que é o bastante quando Deus tem
uma visão muito mais ampla.
B. Cansaço
– O povo de Israel já estava numa vida de nômade e instabilidade por 40 anos, e
foram anos de grande intensidade: Guerras, lutas, conflitos internos. Eles
queriam um pouco de sossego, afinal, que mal pode existir no desejo de estar
numa situação mais tranquila? O cansaço do líder ou da instituição pode impedir
o avanço dela, mesmo quando grandes conquistas já foram efetuadas.
A estabilidade pode ser tornar o
alvo, e assim nos esquecemos do projeto de Deus. Moisés afirma que tal
aspiração supostamente positiva, “desencorajava” o coração das demais tribos e
parecia uma traição ao restante do povo (Nm 32.9).
C. Comodismo
– O povo de Deus queria o conforto, afinal, ninguém gosta de guerra. Moisés
fica irado com a atitude deles: “Irão,
vossos irmãos à guerra e ficareis vós aqui?” A verdade é que eles
precisavam também ir à guerra. (Nm 32.20-21). Moisés entende que o que estão fazendo
é traição e falta de solidariedade.
Fico me perguntando sobre a grande
tentação. Qual é a sua? Penso que, em muitos casos, a grande tentação é do
conforto e bem estar. Não foi esta a decisão de Jonas? Deus o manda para
Nínive, lugar de conflito, e ele escolhe ir para Társis, que fica no Sul da
Espanha, lugar famoso pelos seus balneários. Você prefere ir para Nínive ou
Társis?
O problema é que este Shangrilá
que Jonas buscava e com o qual sempre sonhamos, lugar sem tensão e conflito,
simplesmente não existe, mas romanticamente pensamos que pode existir este
lugar às margens do Rio Formoso ou Araguaia, ou nas praias de Maragogi ou Guarajuba
e é ali que devemos ficar.
D. Perda
de perspectiva – “Assim fizeram
vossos pais” (Nm 32.8). Moisés é muito enfático no seu argumento, mostrando
que a história estava se repetindo, afinal, não foi exatamente isto que levara
o povo a ficar 40 anos no deserto? O povo havia se esquecido de que Deus estava
no comando e murmurou contra o Senhor.
Na visão de Moisés, o povo agora
estava fazendo a mesma coisa. Perdendo a perspectiva. Deus os havia chamado
para conquistar a terra prometida, eles nem sequer haviam chegado na terra e já
estavam desistindo de lutar por ela. Perderam o alvo, a vocação e o chamado de
Deus para suas vidas.
A história do povo de Israel nos
traz graves advertências, e ensina como podemos repetir os mesmos erros.
Considerando tais situações, gostaria de avaliar algumas condições em que a
Igreja Presbiteriana Central de Anápolis estava e onde temos chegado, e como o
momento atual exige de nós profunda reflexão e grandes desafios.
Primeiro, O desafio de mudar o paradigma de uma igreja pequena para uma
igreja grande – Quando assumimos o pastorado da igreja, em 2003, a Igreja
Central tinha 232 membros, hoje somamos 1.038. A arrecadação era de R$
223.000,00 e fechamos o orçamento em 2015 com R$ 2.007.000,00.
Isto instiga novos paradigmas,
nova forma de pensar a igreja e fazer ministério, uma jeito diferente de pensar
e refletir. Os modelos que tínhamos não se adequam mais, precisamos de entender
o momento, repensar o treinamento de liderança, ampliar as perspectivas. Da
liderança que tínhamos na junta diaconal em 2003, hoje temos apenas um diácono
da velha geração, todos os outros 19 vieram neste período pastoral, sem contar
os assistentes de diáconos (20), que vieram por conversão, restauração ou
transferência. Como abrigar tamanha mudança de forma eficiente e produtiva num
tão curto espaço de tempo, como ampliar as possibilidades de ministério e o
engajamento leigo?
Na medida em que a igreja cresce,
coisas estranhas acontecem. Tenho recebido censuras implícitas e certa desconfiança
de colegas e membros de igreja por causa do crescimento da igreja. Certa pessoa
me perguntou: “Por que estamos adquirindo uma nova propriedade para a igreja?”
E eu lhe respondi que nossas estruturas atuais são insuficientes para abrigar o
crescimento. Em forma de brincadeira ele me disse, mas não duvido muito de que
estivesse dizendo de coração: “Manda embora as pessoas que estão chegando na
igreja”. Pessoas de outras igrejas
vieram me perguntar se este negócio de crescimento de igreja não era vaidade,
respondi que talvez a vaidade, sempre sutil e perigosa, estivesse próxima de
nós, mas sabemos que “se no coração contemplarmos vaidade, o Senhor não nos
teria ouvido”.
O crescimento tem se dado de forma natural e consistente. Outros
insinuaram que a igreja estava crescendo porque não somos cuidadosos na avaliação
dos novos membros. Outros se mostraram preocupados e inquietos, porque pessoas
de outras denominações e backgrounds tem chegado e estão assustados sobre o “perigo”
potencial que isto representa. Minha resposta tem sido sempre a mesma: Não
precisamos ficar preocupados mas devemos agir com integridade e pureza de coração,
fazendo tudo com temor, para glorificar a Deus e celebrá-lo pelo milagre que
ele está fazendo em nosso meio.
Segundo, o desafio de uma mentalidade rural para uma igreja urbana – Durante
décadas atuamos com o modelo antigo de uma igreja cuja estrutura e metodologia
tinha todos os traços rurais. Como responder de forma teologicamente profunda,
reformada e bíblica, aos desafios que temos diante de nós? Como não apenas “estar”
na cidade, mas “ser da cidade” e “para a cidade?”
Isto exige referências e dinâmica
na forma de pregar, a pastoral contemporânea precisa refletir-se no púlpito,
nas classes de Escola Dominical, nos pequenos grupos e na abordagem da liderança
da igreja. O ministério Infantil adotou uma mudança moderna e adequada ao
Século XXI e à cidade, numa transformação bonita e revolucionária. Os
pré-adolescente e adolescentes da igreja passam por uma mudança e gestão
diferenciada na tentativa de “estar ancorado na rocha, mas ao compasso dos
tempos”, como diz o slogan da MPC. Recentemente vi um vídeo extremamente
criativo da liderança dos adolescentes, tentando se comunicar nesta linguagem contemporânea
que o jovem urbano entende.
“A igreja é chamada a assumir a
sociedade urbana não por oportunismo religioso, mas por vocação (…) Seu papel
consiste em criar o povo de Deus a partir do povo da cidade”. [1]
Ray Bakke afirma que o nosso
problema é que temos vivido na cidade com sociologia e ferramentas urbanas, mas
com uma teologia rural. Precisamos de uma teologia tão grande quanto a própria
cidade. Tão urbana quanto nossa sociologia e missiologia. Linthicum afirma que
“a cidade é o local da batalha entre o Deus de Israel e o deus deste mundo”
(25), entre o Deus de Israel Iawé e Baal (satanás). Mais do que nunca torna-se necessário
traduzir o Evangelho para a cidade. O homem da cidade é secularizado, e por
conseguinte elabora uma cosmovisão espontânea de politeísmo e de personalismo
religioso. Só uma igreja atenta e contextualizada será capaz de se
reinterpretar neste emaranhado de conceitos e valores.
Se queremos deixar um legado para
a cidade, precisamos de uma abordagem para a cidade. Não poderemos responder de
forma eficiente se não fizermos as perguntas corretas. Como ser relevante, com
conteúdo bíblico profundo, neste contexto em mudança e transição?
Terceiro, o desafio de deixar de ser uma igreja em manutenção, para
sermos uma igreja em crescimento –
Nossa igreja nunca “planejou” ser
grande, mas dia a dia Deus tem acrescido uma nova geração. Nunca deixamos de
receber menos de 60 novos membros na igreja, desde 2003. Apenas no ano de 2012
recebemos 111 novos membros. Temos uma liderança renovada, novos presbíteros e
diáconos assumindo funções.
Definitivamente, o rosto de nossa
igreja está mudando. Dê uma olhada nas pessoas que estão nos bancos da frente e
detrás. Garanto que hoje, em qualquer um dos três cultos que estivermos, não
conhecemos 50% da igreja. Já recebi pessoas por batismo na igreja que eu nunca
tive oportunidade de conversar com elas. Está errado? Não! Existe uma equipe de
pastores e líderes trabalhando e discipulando. Existem seminaristas e obreiros
trabalhando, e a igreja tem crescido com ou sem presença pastoral mas com forte
ação pastoral. A igreja não vive para se manter, mas tem se expandindo
exponencialmente, graças à obra de Deus.
Em 2012, a revista conhecida Eclesia,
de circulação nacional, decidiu escrever um artigo sobre o crescimento de nossa
igreja e pediu para eu dar um título ao artigo, e eu coloquei: “Surpreendido
pela graça de Deus”. É assim que eu vejo.
Quarto, o desafio de um ministério descentralizado da figura pastoral
para uma comunidade leiga – O que vejo na igreja é o povo animado para a
obra e trabalhando. Existem programas dos quais não participo, porque outras
pessoas estão fazendo muito bem. Os dons e ministérios estão sendo colocados em
ação, temos oportunidades ministeriais nos mais diversos segmentos da
comunidade, líderes e presbíteros coordenando e envolvidos em pequenos grupos
que, em alguns casos são pequenas igrejas. Só o grupo do presbítero Frederico
Oliveira, possui hoje cerca de 40 pessoas envolvidas, o mesmo se dá no grupo do
presbítero Silas e Christiane Bernardes. As pessoas estão se reunindo
alegremente em torno de uma proposta para estudar a Palavra, compartilhar e
orar umas pelas outras.
Atualmente temos 22 pequenos
grupos, mas temos ministérios voltados para criança. Temos um grupo de 20
crianças, se reunindo toda terça feira para estudar a Palavra e se preparar
para o batismo, no chamado “trânsito”. Os leigos estão envolvidos.
Quinto, de um ministério centrando num homem para um time pastoral – Este
argumento se confunde um pouco com o anterior, mas neste caso quero ressaltar o
time de obreiros. Temos homens certos nos lugares certos, tentando dinamizar projetos
e criar novas frentes e linguagens. A Bíblia afirma que Saul “Escolheu para si, três mil homens de Israel,
estavam com Saul dois mil em Micmás, e na região montanhosa de Betel, e mil
estavam com Jônatas em Gibeá de Benjamin” (1 Sm 13.2), e colocou homens
estratégicos em lugares estratégicos para cuidar de áreas que apresentavam riscos.
“A todos homens forte que via, os
agregava a si” (1 Sm 14.52).
O modelo descentralizado do
pastorado é algo complexo para a cultura brasileira. Não temos claramente o
conceito de um time, então todos os pastores querem estar no mesmo lugar
fazendo a mesma coisa e a igreja espera que o pastor faça todas as coisas ao
mesmo tempo. Temos que pensar em ministérios e dons... pessoas diferentes em
lugares diferentes, realizando ministérios diferentes, ampliando o leque de
ação e criatividade, alinhados numa visão central de unidade e alegria no
Espirito Santo.
Sexto, de uma igreja ensimesmada para uma igreja que é parceira na
evangelização mundial- estamos preocupados, não apenas em sermos uma influência
positiva para a cidade de Anápolis, mas queremos evangelizar e contribuir
financeiramente, com obreiros, para anunciar a Jesus em todas as partes do
mundo, como afirma o Sl 67. “Seja Deus,
gracioso, e nos abençoe, para que conheça
na terra o teu caminho, e em todas as nações a tua salvação” (Sl 67.1,2).
Hoje 10% do que entra no nosso orçamento vai para o Conselho Missionário
Confins da Terra, mas se considerarmos plantação de igreja, treinamento de
obreiros, ação social, nossos custos envolvidos em missões, entendendo missões
como “tudo aquilo que a igreja faz além dela”, (Stott), nosso envolvimento
missionário chega a 27%.
Sétimo, de uma igreja que busca a auto promoção, para uma igreja que implacavelmente
deseja promover a glória de Deus-
Na medida em que a igreja cresce,
corre-se o risco de vaidade e presunção. Recentemente recebemos a promessa de doação de uma área de valor inestimável,
que nos foi concedido pelo Grupo Lírios do Campo, as notícias correm e quando
fui pregar no Congresso da Apecom em Águas de Lindóia, um colega se aproximou
de mim fazendo o seguinte comentário: “Você é o cara!” Eu olhei espantando e honestamente lhe disse
que não tinha nada a ver com esta doação, e se há uma coisa pela qual nada fiz,
de fato, foi para receber esta doação. Não tem a ver comigo, tem a ver com o
propósito e a glória de Deus. Como é libertador não ter que ficar provando o
tempo todo que somos algo como se procedesse de nós, e que, “a nossa suficiência
vem de Deus, que nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança” (2 Co
3.5)
Precisamos entender isto, porque
se Deus não estiver envolvido neste projeto, esforços serão tolos e inúteis. Pense
na narrativa do profeta Jonas. Ele é o profeta que tem o ministério de maior
sucesso em toda Bíblia. Em 40 dias de pregação viu toda uma cidade de 120 mil
pessoas pagãs convertidas e se lamentando pelo seu pecado. Isto é avivamento!
No entanto, Jonas é o sucesso do fracasso, ou, se preferirem, o fracasso do
sucesso. Ele viu muita coisa acontecendo, mas o seu coração não foi abençoado.
Qual foi o seu problema?
Jonas era auto centrado. Ele se
esqueceu de que a glória não era dele, mas do Senhor. No final, tornou-se amargo,
com o coração em crise com Deus, consumido por raiva contra Deus e distanciado
do próprio Deus. Isto é fracasso!
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