sábado, 16 de julho de 2016

Ef 2.10 O Papel das boas obras



Introdução:

Na teologia cristã existe uma clássica discussão sobre graças e obras. Este texto que fala do papel das boas, surge logo após uma exposição firme e clara sobre o papel da graça, talvez o texto mais claro e direto de toda bíblia sobre este assunto. Entretanto, em seguida, Paulo descreve a importância das obras na vida cristã.

A ênfase na graça pode gerar distorções como:

a.     A graça barata – Muitas pessoas dizem: “Já que é de graça, posso fazer o que quero”, ignorando que a graça que nos foi dada, nada nos custou, mas custou muito ao próprio Deus que deu seu Filho para morrer em nosso lugar. Só quem nunca entendeu o amor de Deus pode desenvolver pensamento tão pobre.

b.     Antinomismo – São pessoas que resolvem ignorar o papel e a importância da lei, ignorando que “o criador da lei se tornou o cumpridor da lei e morreu por nós, os descumpridores da lei”(W. G. T. Tchividjian). Não podemos diminuir o significado da lei nem da graça. Quem faz isto, deliberadamente, quase sempre desemboca numa ética relativista.

c.      Justificativa para indolência – Outro perigo comum. Se Deus fez tudo por nós, através da graça, porque precisamos fazer? Esquecem que nossa resposta é gesto de adoração. Quem compreendeu a obra de Deus sempre terá atitude e disposição para servir a Deus sacrificialmente, não para comprar favor, mas para expressar louvor.

A verdade é que a graça tem um poder propulsor. Ela nos impulsiona à ação. Na carta a Tito, Paulo afirma que a graça tem um papel fundamental na vida cristã, pois ela nos educa “para que, renegada a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”(Tt 2.12). A graça é pedagógica e didática, ela nos capacita a uma vida de santidade.

Vamos considerar alguns princípios importantes sobre graça e boas obras que podem ser extraídos deste texto:

1.     Não somos salvos pelas obras, mas para boas obras – As obras não são o meio da salvação, mas o resultado.

Depois de falar sobre temas complexos como predestinação e eleição, no capítulo 1, o texto bíblico nos ensina sobre a graça e as obras: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie”. Salvação é obra exclusiva de Deus, por meio do sacrifício redentor de seu filho.
Quando não entendemos o papel da graça, ficamos cheios de justiça pessoal. No entanto, algo que precisamos entender de forma clara é que “não sou pecador porque peco; mas peco porque sou pecador”. Ao contrário do que afirma os existencialistas, a essência sempre precede a existência.
O fato maravilhoso, porém, é que a graça nos leva às boas obras. “Assim, também a fé, sem obras, por si só está morta” (Tg 2.17). porque simplesmente não pode, da mesma fonte, jorrar água doce e amarga (Tg 3.11). Quando alguém afirma que Deus vive em seu coração, precisa demonstrar isto através de atos e boas obras. As boas obras evidenciam a salvação, afinal, fomos salvos para boas obras. Obras são o resultado e não o meio para a salvação. Se não há boas obras, não há obra de Deus em nós.
Salvação pelas obras, ignora a obra de Cristo na cruz – é impossível olhar para a cruz, entender o sacrifício de Cristo, e ainda assim, de alguma forma, continuar achando que somos salvos pelas obras.
Salvação pelas obras nos torna orgulhosos – quem pensa que pode ser salvo através da sua performance espiritual vai sempre achar que possui crédito e mérito diante de Deus. Paulo tenta desmascarar este pressuposto na carta aos Romanos, quando indaga: “Onde pois a jactância? Foi de todo excluída” (Rm 3.27). Não há espaço para orgulho ou vaidade espiritual se a salvação vem pela graça, mas se a salvação depende de eficiência, então os que forem salvos, terão motivos de muita vaidade.

2.     Boas obras evidenciam nossa relação com Cristo – Jesus deixou isto muito claro. Ele usou alguns critérios para que seus discípulos fossem reconhecidos diante dos homens:

2.1.         O Critério da Palavra
-“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes nas minhas palavras, sois verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8.31)
-“Quem é de Deus, ouve as palavras de Deus” (Jo 8.47)
-“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).

2.2.         O Critério do Amor
-“Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).
“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos mando que vos ameis uns aos outros”(Jo 15.16).
-“Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não ha nenhum tropeço. Aquele , porem, que odeia a seu irmão, está nas trevas e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” (1 Jo 2.9-11).
- “Ou fazei a arvore boa e seu fruto bom ou a arvore má e seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” (Mt 12.33).

3.    Boas obras são o objetivo da salvação
-       “Não de obras, par que ninguém se glorie, pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais, Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
-       “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1.27)

4.    Boas obras levam outras pessoas a glorificarem a Deus

Quando servimos e abençoamos o mundo, as pessoas passam a identificar este Deus através disto. O mundo olha para o povo de Deus. Tenho um sonho de ser reconhecido como alguém que ama, e ter uma comunidade conhecida por amar as pessoas.
Na carta aos Coríntios, Paulo fala do resultado da atitude da igreja em abençoar a região da Judeia que estava enfrentando grandes tragédias e fomes decorrentes de uma seca na região. “Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela liberalidade com que contribuis para eles e par todos, enquanto eles oram a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós. Graças a Deus pelo seu dom inefável!” (2 Co 9.11-14)

5.     Boas obras glorificam a Deus – Deus se alegria quando o seu povo se dispõe para abençoar o mundo. Deus trabalha em nós, para sua glória. “Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus, para boas obras” . A palavra “feitura”, significa literalmente “poema”. Deus está construindo a imagem de Cristo em nós. Fomos criados em Cristo, “para boas obras”. Este é o objetivo de Cristo em nós.
-       “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem, e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb 13.16).
-       “Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, ha de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Pf 4.8
-       “Vós sois a luz do mundo. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao pai que está nos céus” (Mt 5.14-16).

Conclusão:

Diante de tais evidências bíblicas gostaria de fazer quatro considerações:
a.     precisamos ser ricos em boas obras, tanto na perspectiva individual, quanto comunitária;
b.     Precisamos descobrir caminhos para servir. Existem inúmeras possibilidades missionarias. Ore para que Deus lhe mostre em qual área você poderá servi-lo;
c.      Tome cuidado para que suas obras não se tornem um fim em si mesmo: auto glorificação, auto promoção, auto exaltação. Faça tudo para a glória de Deus.

d.     Deus tem um projeto de boas obras para sua vida. Veja como o texto bíblico ensina: “...Deus, de antemão preparou, para que andássemos nelas”. Antes de você pensar, Deus já havia pensado. Deus tem um propósito de usar sua vida para ele. Estas boas obras foram antecipadamente planejadas por ele mesmo.

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