quinta-feira, 14 de julho de 2016

Mt 6.25-34 Observai os lírios dos campos



Introdução:

As pessoas da igreja que pastoreio sabem porque escolhi este titulo acima, e por isto, quando preguei este sermão na comunidade, todos deram um sorriso furtivo, espontâneo.
Recentemente nos foi feita uma promessa de doação, de um clube extinto da cidade, numa área central e nobre de Anápolis, de 120 milM2. Todos fomos surpreendidos pela decisão do grupo que nos doou e que tinha o controle do clube, e depois de convocada a Assembleia, ainda nos foram doadas mais 22 lotes que pertenciam à Associação, e não ao Grupo, cujo nome é significativo: Lírios do Campo. Os antigos associados que estiveram presentes na Assembleia, e que compareceram à convocação, votaram 90% a favor da doação desta outra área.

Então, diante desta surpresa extravagante, o titulo “observai os lírios do campo”, assume um sentido extremamente importante para nossa comunidade.

Ali, com a graça de Deus, pretendemos realizar eventos como Day Camp, atividades sociais para jovens, para tirá-los da rua e dar-lhes esperança, comida e evangelho, e quem sabe implantação de uma futura escola voltada para a cidade. Atualmente a papelada encontra-se na fase da escrituração e registro, e todos os aspectos legais, cíveis e jurídicos, que não são poucos, estão sendo considerados, e até aqui, nos parece tudo em ordem.
Somos profundamente agradecidos à família que tomou esta iniciativa divina para um projeto sublime.

O texto de Mateus 6 faz parte do Sermão do Monte, proferido por Jesus. Ele começa no capitulo 5 e vai até o 8. Jesus está falando de ansiedade. E para vencê-la, encoraja seus discípulos a “observar as aves dos céus e considerar os lírios dos campos”.

Olhar a natureza, seu ciclo, estações, pode ser uma forma simples de readquirirmos paz interior e equilíbrio. Ansiedade é preocupação, isto é, uma pré-ocupação antecipada com algo que ainda não aconteceu e que pode eventualmente não acontecer. Afirma-se que 80% dos nossos medos quantoao futuro, nunca são reais. A natureza não sofre este tipo de pressão, ela simplesmente segue o cuidado amoroso do seu jardineiro, e floresce no tempo certo, dando flores e frutos na sua devida estação.
A palavra “observai” que Jesus usa no texto dá ideia de um olhar profundo, não apenas uma vista superficial, é como se ele estivesse ensinando os discípulos a verem a natureza com olhar penetrante, nada de superficialidade na análise. Ao falar dos lírios, muito provavelmente se referia às plantas comuns que nascem à margem das estradas da Palestina, como temos aqui no Brasil o “capim dourado”, e os “comigo ninguém pode”, que recebem este nome, porque nascem e florescem em qualquer pequeno espaço, trazendo suas flores e alegria ao ambiente.
Literalmente Jesus manda seus discípulos a “fixarem seus olhos” na natureza, verem a vida com significado maior. Prestar atenção na mensagem que ela envia ao surgir de forma tão espontânea, natural e bela.

Então, quando digo “considerai os lírios dos campos” para a comunidade da qual faço parte, estou convidando-os a olhar além da generosidade e considerarem o que Deus está fazendo. O que Deus quer que consideremos?
Quando fomos olhar a propriedade, o doador estava presente, e eu estava boquiaberto, com um grupo de presbíteros igualmente incrédulos diante de tudo que via. Ao encerrar nossa caminhada no maravilhoso espaço, nos reunimos e disse ao doador que estávamos absolutamente gratos com esta expressão da família, e que sabíamos do motivo alegado, “o desejo da família de deixar um legado para a cidade”, mas que além disto, estávamos tentando entender o que Deus estava planejando ao impulsioná-los à doação, porque certamente Deus fora o iniciador de semelhante movimento.
Então, ao olharmos a doação “Lírios do Campo”, queríamos entender, o que Deus está nos convidando a olhar. Como devemos perceber este ato de Deus usando instrumentos incomuns e pessoas comuns?

Quando a Assembleia se reunia na sede do clube, eu estava no Aeroporto de Miami, ansioso por noticias. Acionava o pr. Potenciano para me dar informações, mas minha internet só tinha a duração de 30 minutos. Finalmente vieram os votos e aprovação da doação.

Agora, diante dos fatos, creio que este “observar” precisa ter dois focos: Um comunitário e outro pessoal.

Vamos ao comunitário:
Estamos diante de uma crise no Brasil. As perguntas vieram: “seremos capazes de administrar?” e “teremos os recursos necessários?” Um dos presbíteros, o Dr Ernei Pina me disse: “Pastor, descansa, se Deus nos deu, ele nos capacitará”. Na reunião do conselho, mais uma vez minha ansiedade brotava. Desta vez, o presbítero Silas Bernardes me exortou: “Deus está no controle, ele já providenciou tudo”. Nestas duas ocasiões fui exortado a “considerar os lírios do campo”. Tão frágeis, mas tão seguros. Lutero afirmava: “maravilhosos lírios, como eles reprovam nosso tolo nervosismo”.

Temos, portanto, diante de nós, algumas considerações:

Primeiro, a quem muito Deus dá, muito será exigido. Não é este um principio bíblico?
Quando o povo de Deus foi espionar a terra, o relatório não foi desanimador, mas dois homens continuaram firmes em meio aos prognósticos sombrios que alguns estavam fazendo. Josué e Calebe disseram: “Se o Senhor se agradar de nós, como pão poderemos devorá-los”. Duas figuras interessantes. “Se o Senhor se agradar de nós”. A questão é saber se Deus está encontrando prazer em nós. Se isto está acontecendo, tudo está certo. “Como pão poderemos devorá-los”. Eu amo pães, e sou atraído aos formatos que eles tem. Gosto de admirá-los nas padarias e confeitarias. Sinto uma compulsão em comprá-los e comê-los. Josué disse, se Deus estiver conosco, isto será como comer pão. Não é fácil?

A questão, portanto, não é o tamanho do desafio, mas o tamanho de Deus. Se vem de Deus, não precisamos nos preocupar, isto deixa de ser problema nosso e torna-se problema de Deus.
Leslie Newbigin fala da Igreja Missional, um conceito relativamente novo em eclesiologia. Ele nos convida a aprender a discernir os movimentos de Deus, observar para onde Deus está se movendo e cooperar com a obra de Deus. Rick Warren populariza este conceito afirmando que “não fomos convidados a provocar ondas, mas a aprender a surfar nas ondas de Deus”.

1 Co 3.6-9 lemos: “De Deus somos cooperadores”. Agostinho afirma:  “Quando Deus se agita, o homem se levanta”.

O povo de Israel foi levado em cativeiro para passar 70 anos na Babilônia. Um dia, de forma surpreendente, Deus leva Ciro, o grande imperador Persa a fazer um edital no qual libera o povo judeu para retornar à sua terra e reconstruírem a cidade sagrada e o templo, dando ainda cartas de recomendação, provisão e guarnição. Foi neste contexto que o Salmo 126 foi escrito: “Quando o Senhor restaurou nossa sorte, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua de jubilo. Então, entre as nações se dizia: grandes coisas o Senhor tem feito por eles, com efeito, grandes coisas fez o Senhor por nós, por isto estamos alegres”.
Quando fomos pastorear a Igreja Christ The King em Cambridge, MA, (1996), tínhamos o grande desafio de reformar o templo recentemente adquirido e que deveria se adequar ao Patrimônio Histórico  da cidade. Tudo muito caro. No entanto, O Sr Marcone começou a frequentar a igreja, ela estava em busca de tratamento de câncer, e tinha muitas posses. Ele era de Nova York, e na primeira visita que nos fez, ao ouvir falar do projeto, doou 50 mil dólares. Ele morreria 1 ½ depois, e durante este tempo nos doou 182 mil dólares.

Não é assim que Deus faz?

É isto que Jesus nos convida a fazer: “Considerai os lírios do campo”. Eles nascem à beira da estrada, não recebem tratamento especial, nem cuidados profissionais de jardineiros, no entanto, nem Salomão, em toda sua glória se vestiu como qualquer um deles.

A segunda dimensão a ser considerada, tem um aspecto pessoal.
Jesus está dizendo aos seus discípulos. Aprendam com a criação.
Deus está querendo nos ensinar, em épocas de incerteza e insegurança, a confiarmos na sua provisão. “olhem a vida de vocês pelo prisma do cuidado de Deus”. Observem os lírios do campo, considerem como vivem os pardais...

Alguns princípios práticos e lógicos são expressos:
A.     Do maior para o menor – “Não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que as vestes?” (Mt 6.25).

B.     Do menor para o maior – “Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?” (Mt 6.26).

C.     Ansiedade não ajuda em nada – “Qual de vós, por mais ansioso que esteja pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?” (Mt 6.27). ansiedade é improdutiva, ineficaz e pecaminosa.

D.    Ansiedade é coisa de pagão – “Os gentios é que procuram todas estas coisas”. (Mt 6.31,32). Pagão é o descrente, o infiel, o que não tem a visão de um Deus soberano e grandioso como o Deus de Israel.

E.     Ansiedade não nos deixa colocar o foco no lugar certo – “Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas as demais coisas vos serão acrescentadas”.  (Mt 6.32). Quem vive ansioso e preocupado, não tem saúde, nem condições de considerar o reino de Deus.

Conclusão:
“Considerai”....
“Observai”...
Veja como as coisas de Deus são realizadas.
Simples, misteriosas, generosas, surpreendentes, belas.
Assim deve ser o nosso viver diário.

Que Deus perdoe nossa tola ansiedade.

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