domingo, 3 de julho de 2016

Ef 2.8-9 Pela Graça sois salvos




Introdução:

Numa conferência interreligiosa realizada em Londres, vários representantes de diferentes tradições foram chamados para responder sobre o diferencial da fé que professavam. C. S. Lewis, que falava em nome dos protestantes, respondeu de forma objetiva: A graça!
Ele argumentou que varias religiões do mundo possuem livros sagrados, algumas se referem a Deus se encarnando, muitos creem em céu, são monoteístas, creem em vida eterna, inferno, julgamento, algumas falam da ressurreição de seus lideres, mas apenas o Evangelho afirma que as pessoas são salvas pela graça, e apenas pela graça, sem mérito alguém.
Na verdade, até mesmo segmentos considerados cristãs, e mesmo evangélicos, lamentavelmente, ter perdido a compreensão da graça, e negam de forma sutil a eficácia da graça. A maioria fala de salvação em termos dos atos humanos, ou condicionam a salvação a alguma atitude religiosa como frequentar a igreja, dar o dizimo, fazer boas obras, ou realizar atos religiosos. Algumas ainda falam da graça mas colocam um “se” ou um “mais”, condicionando assim a salvação a algum ato humano que viermos a realizar.
Tudo isto faz a graça parecer algo ridículo: Você precisa “merecer” algo para ter a graça. Entretanto, por definição, graça é um favor não merecido. Se você merece não é graça, e, se é graça, não é por merecimento. Merecimento e graça são termos antagônicos e contrários.
Se você ainda acredita que salvação é por mérito, ou que é necessário fazer algo para alcancá-la, ou resultado de algo que você faz ou deixa de fazer, ainda não entendeu o significado da graça. Se é graça não é mérito – se é mérito não é graça. Ponto final.

A partir deste texto, alguns princípios podem ser estabelecidos:

1.     Graça é um ato livre de Deus – “não vem de vem de vós” (Ef 2.9).
Deus nos dá a salvação, gratuitamente. Nada fizemos para merecê-la, se fosse algo merecido, como afirmamos, perderia a dimensão da gratuidade,

Paulo procura explicar isto mais pormenorizadamente em Rm 4.1-5

Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão?
Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar,
mas não diante de Deus.
Que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça".
Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida.
Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça. (NVI)

Abraão não foi justificado diante de Deus pelo que fez, apesar dele ser o patriarca da fé judaico-cristã. O raciocínio é simples: “Ora, ao que trabalha, o salario não é considerado como favor, e sim como dívida” (Rm 4.4). se Abraão tivesse trabalhado e conquistado sua salvação, Deus seria obrigado a levá-lo para o céu porque Deus lhe devia algo. Mas o texto não diz isto, pelo contrário, Deus nada deve a Abraão, e a sua justificação foi dada pela graça de Deus.
Igualmente Deus não nos deve nada. Nada fizemos para impressionar sua santidade e conquistar os céus. Vida eterna é uma dádiva. Se trabalhamos para conquistar o céu e o adquirimos pela nossa performance espiritual, a salvação é meritória.

Salvação não é questão de conquista, trabalho, 
esforço ou mérito. 
Salvação é resultado da livre graça de Deus.

2.     A graça mexe com nosso orgulho – “Não é de obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.9).

Se alguém conquistasse a salvação por méritos pessoais, poderia chegar no céu e se vangloriar por ter realizado tão grande feito. Não é isto que os atletas fazem quando obtém uma conquista? Alguns batem no peito, deixando claro que ele é o cara. Observem Usain Bolt , Cristiano Ronaldo, James LeBron. Já viram como eles se portam depois de uma conquista?
Esses homens conquistam o pódio, alcançando prêmios efêmeros, mas imagine alguém, perante o Deus justo, batendo no peito e dizendo: “eu mereço estar aqui. Eu conquistei!”
Não é isto que acontece. Ninguém pode se vangloriar diante de Deus.
Paulo afirma que a lei do AT foi dada para vida, ela era o manual de Deus para seu povo, no entanto, os homens são tão falhos em obedecer a Deus que ela se tornou instrumento de condenação e todos os homens se tornaram culpáveis diante de Deus (Rm 3.19). Por isto lemos na Bíblia: “Onde está a jactância? Foi de todo excluída!” (Rm 3.27). quem pode se orgulhar diante de Deus?
Certa mulher afirmou: “eu não gosto da lei, porque desta forma Deus não me deve nada!” Apesar da sua indignação mulher, que certamente se considera justa diante de Deus, ela está certa. Deus não nos deve nada. Diante dele não podemos nos gloriar. O céu só pode ser obtido por meio da sua abundante graça. Ele providenciou Jesus, ele nos deu sua graça, ele nos deu a fé.

3.     A graça é providenciada pela obra de Cristo – “A suprema riqueza de sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.7). O que Cristo fez na cruz?
Ele pagou a nossa dívida. Nosso saldo era devedor, afinal temos pecado e transgredido contra Deus, mas ele nos substituiu perante o Pai e sofreu o castigo e condenação em nosso lugar. Ao fazer isto ele nos conquistou para Deus. Quem fez a obra: você ou Jesus?
Se o ato de Cristo na cruz não foi necessário, porque ele se deu para sofrer uma morte de cruz? O profeta Isaias afirma que “pelas suas pisaduras fomos sarados” . A obra é de Cristo, nós somos os beneficiados.
Certa vez um grupo perguntou a Jesus: “Senhor, que faremos para realizar as obras de Deus?” e Jesus respondeu de forma direta: “A obra de Deus é esta, que creiais no Filho que por ele foi enviado” (Jo 6.28-29). Como afirmou o poeta brasileiro: “É meu, somente meu, todo trabalho; e o teu trabalho é confiar em mim”.
Jesus fez tudo por nós.
A graça que obtemos para salvação, foi obra dele.

4.     Preste atenção nas preposições, elas fazem toda diferença na teologia. “Pela graça sois salvos, mediante a fé”.
Não somos salvos pelas obras, mas para obras. Não pelas obras, mas pela graça.
As pessoas fazem muita confusão. Se você não entender esta simples verdade, perde a essência do Evangelho.
Graça é a força que opera em nós para a salvação. Fé é o meio de receber esta benção.
A fé nos capacita a aceitar o presente de Deus. Fé é uma palavra grega que tem a mesma raiz de confiança. Crer é confiar. A questão é esta: confiamos na obra de Cristo para salvação, ou confiamos em nós mesmos, no que somos capazes de realizar?
A fé nos leva a confiar plenamente no sacrifício de Cristo. Quando confiamos, descansamos naquilo que ele fez e nos assenhoreamos da sua graça, tomando posse daquilo que ele fez por nós.
Vamos considerar um simples exemplo:
Você recebe uma carta em sua casa dizendo que ganhou um presente, uma viagem para o Caribe, com direito a acompanhante. Ali eles dão todas as informações, onde você pode receber o prêmio, pedindo para que você compareça no escritório da empresa. Você nada fez por isto, este presente não é resultado de alguma coisa que você realizou, então, você pode começar a suspeitar que se trata de alguma armadilha, que eles vão pedir algo em troca, que se é de graça não deve ser bom, e você pega a carta e a joga no lixo.
Assim fazemos com a graça de Deus. Nós a menosprezamos.

Alguns dizem:
            -Isto não pode ser verdade
            -Se é de graça não é bom.
            -olhe com desconfiança o que vier de graça...
e desta forma, nunca recebem o presente.

Você é salvo pela graça, através da obra maravilhosa e suficiente de Cristo, mas esta salvação é apenas eficiente em você caso a receba. Sem fé, a graça não é aplicada a nós. É um remédio eficaz para uma doença grave, mas por não confiarmos na prescrição, simplesmente a ignoramos e continuamos enfermos.

5.     Não apenas a graça nos é dada, mas a fé para recebê-la – “Mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus”. Para entender ainda mais a radicalidade da graça, existe outra informação neste texto. Nem a fé para receber o presente é nossa. É dom de Deus. O pronome “isto”, é uma referencia à fé.
Por isto o autor aos hebreus afirma que Jesus é, não apenas o autor de nossa salvação (Hb 2.10), mas também autor e consumador da fé (Hb 12.2).


Conclusão:

Que resposta daremos a tudo isto que Deus fez?
a.     Resposta de gratidão – Tudo que faço não é para convencer a Deus de minha bondade, nem para conquistar seu amor e salvação. Mas gratidão.


b.     Resposta de louvor – Quando entendo tudo que Deus fez, desenvolvo a atitude de um coração grato.

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