quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Jz 5.12 Desperta Débora, Desperta!




 




Introdução:

Este texto é inspirador para o momento particular que temos vivido na história.

Algumas estatísticas sobre a igreja de Cristo são alarmantes:
-A taxa de divórcio entre membros de igreja é a mesma de pessoas descrentes; 
-A vida sexual dos jovens crentes pouco difere dos jovens descrentes.
-Uma pesquisa realizada na UNB demonstra que os números da violência doméstica são similares entre crentes e descrentes;
Nos EUA, 80% dos filhos saem da igreja na época da universidade, e eventualmente 20% destes retornam para os caminhos do Senhor. 60% se distanciam do Senhor.

Este texto nos descreve o olhar de uma mãe. 
Temos aqui um cântico de louvor de Débora, profetisa e juíza sobre Israel. Ela julgava a nação de Israel no dia dos juízes, era uma mulher de personalidade carismática, e todos os filhos de Israel iam até o lugar que ela atendia, debaixo de uma palmeira, e subiam a ela para que ela julgasse as questões que surgiam. 

Débora entoa este cântico, logo após a vitória que o povo de Deus teve sobre um adversário impiedoso que oprimia Israel já por vinte anos. É o brado de uma mulher corajosa, de uma guerreira, mas acima de tudo, de uma mãe, que não se conforma em ver os filhos da sua nação sendo destruídos pelo inimigo e apostatando da fé.

É como ela dissesse a si mesma:  Desperta, Débora, Desperta! Não havia espaço para a indolência e passividade. Alguma coisa deveria ser feita. 

Três percepções dirigem Débora.

A primeira, que há um Deus que se move na história – Jz 5.1-4
Na primeira parte de seu cântico, ela evoca os atos de Deus no meio do seu povo.

Este exercício é fundamental para a fé. Se quisermos aquecer nossa fé, precisamos, antes de mais nada, lembrar os feitos de Deus. Jeremias fez assim diante do caos a que foi submetido Jerusalém depois da invasão da Babilônia: “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança”. Precisamos resgatar a capacidade de ver os atos poderosos de Deus permeando a história. Quando esquecemos do que Deus já fez, temos mais dificuldade de manter a esperança no que Deus fará.

Francis Schaeffer escreveu um livro combatendo o secularismo, cujo interessante titulo é: “God is there and He is not silent” (Ele existe e não está calado), que foi traduzido para o português como “O Deus que se revela”. Schaeffer afirma que está mais certo da existência de Deus que de sua própria existência, e que só existe uma forma de termos esperança: “Contra o silêncio e o desespero do homem moderno, podemos conhecer o Deus que intervém porque ele se revela”.

No livro de Salmos, encontramos algumas vezes, os salmistas perplexos, porque perderam a capacidade de discernir Deus nos confusos eventos da história, ou mesmo nas suas crises pessoais. Quando isto acontece, a voz do diabo ecoa em nossos corações, fazendo enorme sentido e causando grande angústia. O que os inimigos diziam: “O teu Deus, onde está?” (Sl 42.3; 10).

Algumas vezes, o clamor do salmista era quase de desespero, procurando enxergar Deus nos eventos da vida e não conseguindo: “Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta! Não nos rejeites para sempre! Porque escondes as face e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão?” (Sl 44.23-24). Nem sempre é fácil perceber Deus, mas é fundamental que nos lembremos quem Deus é, e o que ele fez. Olhando o passado somos capazes de termos mais esperança no futuro. Se Deus fez, ele pode fazer novamente.

Débora relembra que o Deus de Israel sempre esteve presente na história do seu povo. Que ele agiu na história, interviu na história, se moveu na história e acima de tudo, é Senhor da história. Isto gerou ousadia na sua fé. Nossa esperança é muitas vezes encorajada pela lembrança dos atos de Deus.

Segunda percepção: Uma grave distorção histórica está acontecendo.

Débora afirma: “Escolheram-se deuses novos” (Jz 5.8).

Débora percebia que algo grave estava acontecendo porque a correta percepção de Deus se perdeu. A nova geração estava firmando sua vida em um novo conceito de divindade, e as distorções sobre quem Deus era, estavam destruindo a fé verdadeira.

Esfriamento da fé, heresias e apostasia são construídas quando ocorre uma grave distorção da divindade. Martinho Lutero afirma que se quebrarmos o primeiro mandamento, “não terás outros deuses diante de mim”, certamente será muito mais fácil quebrar os demais mandamentos. Quando perdemos a compreensão de quem Deus é, graves distorções se imiscuem na nossa espiritualidade.

Portanto, o ateísmo nem sempre se constitui no maior problema, e sim a falsa compreensão de quem Deus é. Quem é o Deus das Escrituras Sagradas? Quem é o Deus bíblico? Quem é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, quem é o Deus de Jesus? A geração de Débora não deixou de crer em Deus, mas “escolheu deuses novos”. Criou uma nova modalidade de divindade.

E a geração atual? Em quem temos colocado nossa confiança? Quais são os deuses do secularismo? Muitos anos atrás Caio Fábio escreveu um artigo afirmando que somos uma geração que desaprendeu a orar. Nossa confiança encontra-se nos recursos médicos, na nossa competência individual, no dinheiro e relacionamentos que construímos, mas pouco confiamos e dependemos de Deus.

A verdade é que, também escolhemos novos deuses.

Débora fez a leitura correta, porque quando lemos em Jz 2.10-12, encontramos o seguinte:

Depois que toda aquela geração foi reunida a seus antepassados, surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel. Então os israelitas fizeram o que o Senhor reprova e prestaram culto aos baalins. Abandonaram o Senhor, o Deus dos seus antepassados, que os havia tirado do Egito, e seguiram e adoraram vários deuses dos povos ao seu redor, provocando a ira do Senhor.”

Mais adiante lemos:
“Os israelitas fizeram o que o Senhor reprova, pois esqueceram-se do Senhor seu Deus e prestaram culto aos baalins e aos postes sagrados” (Jz 3.7).

Ao mudar a percepção de quem Deus era, Israel mudou também seu estilo de vida. Teologia determina ética. Cosmovisão determina cultura. Se em Jz 5.1-4 Débora enfatiza o poderoso mover de Deus marchando sobre a terra, no verso seguinte, ela percebe uma ruptura:

Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, cessaram as caravanas” (Jz 5.6).

Alguma coisa mudou, houve uma quebra. As caravanas cessaram. Todo o movimento, o comércio, a economia, a agricultura, as pessoas indo e vindo, tudo isto cessou. As pessoas agora estão ressabiadas, encolhidas, escondidas.

A seguir ela faz outra declaração:
Ficaram desertas as aldeias em Israel, repousaram” (Jz 5.7).

É fácil perceber nestas palavras, um tom de perplexidade e insegurança. Sob ameaça, as pessoas tentavam encontrar refúgios em lugares mais seguros. As aldeias eram as partes mais frágeis, não tinham exército, nem muralhas, para se defenderem e eram alvo fácil do inimigo, e por isto buscavam um lugar onde pudessem proteger suas famílias, indo para zonas inóspitas, cavernas, ou tentando se proteger onde havia muralhas.

Olhando para a geração atual, não nos atinge certo sentimento de que falta vitalidade espiritual na juventude? Porque os jovens estão apáticos espiritualmente, e os casais fragilizados, sem vida compromisso com o Senhor? Certamente os deuses do entretenimento, do conforto, os novos deuses substituindo o Deus verdadeiro. Começamos a ficar saudosista, lembrando como os jovens tinham sede por santidade, vida de oração, estudo da palavra...

Será que a nova geração está escolhendo novos deuses?

Terceira percepção: Algo deve ser feito, e eu assumo a responsabilidade da maternidade.

Até que eu, Débora, me levantei.
Levantei-me por mãe em Israel” (Jz 5.7)

Alguns princípios podem ser extraídos desta atitude de Débora:

A.    Ela não olhou resignadamente a situação. Saiu da situação de passividade para a posição de reação. “Levanta-te Débora, levanta!”. Este brado aqui é de um guerreiro que se põe de pé para o enfrentamento e para a guerra.

Resignação é a atitude de quem olha e diz: “Não tem jeito mesmo, né?”, ou “os tempos mudaram, nada pode ser feito”. Para Débora, não tem que ser assim. A situação caótica não a imobiliza, mas gera reação. No versículo 16 vemos sua provocativa indagação:

Por que ficaste entre os currais para ouvires a flauta?” (Jz 5.16)

Débora não consegue entender a passividade de gente que fica tocando flauta, quando a ameaça está presente. De gente apática quando a vida exige postura. Recordo-me de uma música de Chico Buarque que diz: “Eu bem que mostrei a ela. O tempo passou na janela. Só Carolina não viu”.

Tenho a impressão de que muitas pessoas estão se tornando resignadas, sem esperança. Por isto estão impotentes para orar e clamar. São neutralizadas na sua oração, não se dispõem a pagar o preço. As coisas vão de mal a pior, mas não reage. Os filhos se afastam do temor do Senhor, mas isto não os atinge nem os provoca.

B.    Ela para de colocar a culpa nos filhos e se vê responsável

Ela olha para a situação e se vê responsável. Algo pode e deve ser feito. Ela precisa se despertar e levantar.
É fácil se justificar e buscar bodes expiatórios para a calamidade, quando as coisas vão mal. É fácil culpar a modernidade, a mídia, a cultura atual, o sistema. 

Débora não coloca a culpa em ninguém. Ela simplesmente diz: Algo precisa ser feito, então decidiu: “Levantei-me por mãe em Israel” (Jz 5.7).

C.    Débora assume posição – “Até que me levantei como mãe!” (Jz 5.7).

É como se ele dissesse: “Este negócio tem a ver comigo!”
Por isto diz:

Desperta, Débora, desperta.
Desperta, acorda, entoa um cântico” (Jz 5.12).

Ela está tentando sacudir a si mesma. Sua dormência pode ser fatal.

Quando minha filha era pequena, fomos fazer uma viagem de ônibus. Além dela tínhamos o Matheus que era um bebê e ainda precisamos carregar as malas. Na rodoviária a situação tornou-se bem complicada. Não dava para carregá-la, ela precisava andar com suas perninhas. Então, sendo cobrada para que cooperasse, sonolenta ela disse: “Estou acordada, meus olhos é que não conseguem abrir”. Creio que muitas vezes esta é a nossa situação. Estamos vendo o que acontece, mas não estamos sendo capazes de abrir os nossos olhos e lutar espiritualmente pelos nossos filhos.

Ezequiel 22, é um dos textos mais pesados das Escrituras Sagradas, quando Deus compara o seu povo a uma prostituta. Os termos são graves, até que Deus, no final, depois de descrever a confusa e caótica condição do seu povo, afirma:

Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse, mas a ninguém achei” (Ez 22.30).

Deus esperava que alguém se coloca-se na brecha.
Precisamos acordar. Despertar do sono e da indolência moral e espiritual.

No meio deste cântico, Débora ainda faz outra afirmação desafiadora:

Avante, ó minha alma, firme!” (Jz 5.21)

É como se Débora quisesse dizer a si mesma que ela precisava manter a alma alerta, que não poderia afrouxar, nem perder a esperança. Sua alma precisava estava firme.

D.   Débora não assume responsabilidade apenas por sua casa, mas assume uma função comunitária.

Ela diz:
Levantei-me por mãe em Israel” (Jz 5.7)

Não era uma questão de interceder apenas pela sua casa, mas ter um olhar mais abrangente em suas orações. Infelizmente nossas orações são muito autocentradas, focadas apenas na nossa dor, pensando apenas no problema de nossa família, nas necessidades pessoais que temos.

Precisamos de orações mais abrangentes, que tangenciem situações que vão além das necessidades imediatas que temos. Precisamos de orações pela comunidade, escolas, governo, famílias, lares. Lamentavelmente oramos pouco e oramos mal. Narcisisticamente.

Débora se vê numa função de mãe para Israel, para sua nação, para sua igreja, para o povo de Deus.

Conclusão:

Tentando encontrar um desfecho a tudo isto, e trazer algumas aplicações para o que lemos:

1.     Apesar deste cântico ser de uma mulher, é importante lembrar que a situação de Israel tinha chegado onde chegou, porque os homens não tinham coragem de assumir posição.


Leia o contexto deste cântico para entender o que estava acontecendo...
No capítulo 4 de Juízes, Israel está sendo sistematicamente assolado por invasões dos cananitas. O povo de Deus estava vivendo uma situação miserável. Aparentemente era impossível lutar contra um exército que tinha um grande poder bélico, com 900 carros de ferro, um armamento pesado (Jz 4.3).

Em Israel ninguém ousava assumir uma frente de oposição. Então Deus levanta Débora. Ela chama Baraque e lhe dá uma palavra direta de Deus. Ele deveria enfrentar o exército inimigo porque Deus lhe daria vitória. Apesar de uma profecia tão direta, Baraque desconfia e disse que só iria, se Débora fosse com ele. Débora disse que iria, mas que a glória da vitória não seria dele, antes, de uma mulher. E foi o que aconteceu.

Este é um grande desafio para os homens de hoje.
Precisamos de homens de coragem para liderar, aceitar a incumbência de confiar em Deus e se levantar. Por ausência de homens de coragem, Deus levanta mulheres de fibra para enfrentar o caos. Mas se quisermos ver "nossa casa servindo ao Senhor", precisamos nos dispor. Deus deu a tarefa da libertação a Baraque, um homem, mas ele não assumiu a ordem dada por Deus.

2.     O texto fala-nos de três mulheres que se tornam centrais: Débora, Jael e a mãe de Sísera. Por falta de tempo, não falaremos de Jael.

Mas quem é esta outra mulher? Ela é mãe de Sísera, o comandante do exercito inimigo que é derrotado.

O que esta mulher fez?
A descrição do texto é patética:

"Pela janela olhava a mãe de Sísera; atrás da grade ela exclamava: ‘Por que o seu carro se demora tanto? Por que custa a chegar o ruído de seus carros? (Jz 5.28).

Vocês percebem a lição?
Enquanto Débora assume o papel de protagonista, de mulher que se levanta em Israel como mãe, para proteger seus filhos, a mãe de Sísera assume um papel coadjuvante. Está por detrás, passiva, resignada, enquanto seu filho está sendo derrotado. A notícia trágica da morte de seu filho chegará em breve. ele seria morto, de forma humilhante, por uma mulher. Juízes 9.54 mostra Abimeleque pedindo ao seu escudeiro para que lhe matasse porque havia sido ferido por uma mulher na batalha e não queria que as pessoas dissessem que uma mulher o havia matado.

Por outro lado, vemos Débora, se levantando como guerreira, clamando e agindo. Assumindo posição de coragem e enfrentamento.

O resultado da atitude de Débora?

...E a terra ficou em paz quarenta anos” (Jz 5.31)
3.    A atitude de Débora traz graça não apenas para sua geração, mas atinge a próxima geração e a sociedade como um todo.

O último versículo do capitulo 5 encerra da seguinte forma:

...E a terra ficou em paz quarenta anos” (Jz 5.31)

Débora impactou não apenas a condição imediata do povo, mas impactou gerações. Afinal, sua atitude gerou quarenta anos de paz para Israel. O que fazemos hoje pode trazer resultados duradouros para as novas gerações. Nossa coragem, orações e atitude determinam como nossos filhos viverão, por longos anos. O evangelho de Cristo tem promessas não apenas para a minha geração, mas para outras gerações. Quando afirmo: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, estou diretamente dizendo que minha família estará aos pés do Senhor, meus filhos não serão escravizados pelo pecado e pelo diabo. Seremos um povo livre dos poderes das trevas e dos outros deuses falsos.

Débora impactou não apenas sua família, mas atingiu ainda todas as famílias. Todas as vezes que decidimos orar e agir, precisamos lembrar que os nossos atos possuem um efeito maior. Nossas ações tem implicações maiores. Podem influenciar uma sociedade como todo.

O brado de Débora, se tornou um movimento no Brasil, intutulado "Desperta Débora". São mães de orações, orando por seus filhos. Pedindo para que Deus salve seus filhos e que eles sejam atraídos a Deus.

4.     Não podemos nunca, entender estas verdades sem a compreensão do evangelho.

Uma das coisas maravilhosas que aprendemos na Bíblia é que a glória pertence ao Senhor.

Quando lemos as narrativas de grandes heróis bíblicos, podemos equivocadamente acreditar que tudo é questão de auto estima pessoal, afinal, Débora era uma mulher resolvida e forte, por isto as coisas aconteceram assim. Quando fazemos isto, em quem colocamos a ênfase? No poder da mulher (ou do homem), e não de Deus. Esta é uma ênfase antropocêntrica.

O povo de Deus não poderia vencer os canaanitas. 
Eles eram impotentes diante de tão grande exército. Eles eram um amontoado pessoas sem uma liderança tática, sem um poder central, que teriam de enfrentar um povo organizado e bem preparado para a batalha. Débora sabe disto, por isto coloca toda esperança no Deus em quem ela cria: “Porventura, o Senhor, Deus de Israel, não deu ordem?” (Jz 5.6) ...”E o darei nas tuas mãos...” (Jz 4.7). Esta guerra não seria conquista de homens, mas obra de Deus.

Podemos ainda acreditar, que este texto é de auto ajuda. Do tipo que diz: “Se você fizer como Débora fez, você conseguirá qualquer coisa”. Mais uma vez, esta leitura está centrada na capacidade do homem, e não no poder de Deus. Podemos ainda acreditar que basta erguer a voz, fazer algumas declarações de guerra: ”Desperta Débora, Desperta!” e tudo que quisermos será nosso. Esta é a hermenêutica equivocada que a teologia da prosperidade tem feito, trazendo grandes frustrações.

Precisamos lembrar que  A glória pertence ao Senhor!”. É ele quem faz. Somos frágeis instrumentos. Quando olhamos atentamente o Evangelho lemos o seguinte: “A nossa suficiência vem de Deus!” (2 Co 3.5)

Como podemos obter vitória contra o secularismo, o mundanismo, contra os poderosos sistemas que oprimem o povo de Deus, contra os bem armados exércitos que subjugam a igreja? contra os sistemas educacionais pagãos que orquestradamente tentam tirar a fé do coração de nossos filhos nas escolas seculares? Esta é uma batalha aparentemente perdida, a não ser que nos lembremos que "nosso socorro vem do Senhor, criador do céu e da terra". Vamos lutar baseados em nossa competência e poder, ou lutaremos em nome do Senhor dos Exércitos?

Olhe para seu coração: pessimista, cético, carregado de dúvidas, frio. Sua vida marcada pela acomodação, prazer, entretenimento. Como você vai vencer a futilidade do seu próprio coração pecaminoso, vaidoso, orgulhoso, ensimesmado? Propenso e impressionado com os novos deuses do plano de vida que você constrói, do salário e emprego que você tem, do sucesso de sua empresa?

Precisamos crer, não em nós, mas em Deus. Não nos nossos esforços, mas no poder do Espírito Santo. Precisamos crer no poder do Evangelho, no sangue de Cristo que nos liberta da condenação e nos capacita a lutar contra nossa natureza deprimida e desanimada.

Não podemos colocar nossos olhos em Débora, nem em Jael.
Nossos olhos devem ser colocados no Deus que dirige a vida de Jael e Débora.

Este Deus é quem nos capacita a grandes vitórias.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Js 2.1-24; 6.22-25 O maravilhoso poder da graça




Introdução:

Este texto é um texto carregado de esperança.

Fala de gente quebrada, desajustada, sem direção, perdida em seus propósitos, e que é alcançada por Deus. A Revista Superinteressante comentando a vida desta mulher afirma: “Ela deu sorte de se encontrar com os espias”, mas poderíamos dizer de outra forma. O plano sobrenatural de Deus encontra esta mulher desencontrada. Este texto nos mostra que
ü  Deus opera em ambientes inesperados, um bordel;
ü  Deus usa instrumentos incomuns, uma prostituta;
ü  Deus usa sinal surpreendente: Um fio vermelho colocado numa muralha que vai trazer salvação a esta mulher e toda sua família.

Hoje vamos estudar a vida de Raabe. Este personagem bíblico enigmático, controvertido, encantador. Uma mulher marginalizada socialmente, com uma vida muito além de suspeita, e que se torna central neste episódio, e passa a ser citada na Bíblia de várias formas elogiáveis.

A vida de Raabe nos ensina algumas coisas fundamentais para a fé cristã:

1.     A graça de Deus não nos alcança por causa do nosso currículo impecável.

Considerem o currículo de Raabe. Ela não era uma pessoa de boa reputação, e humanamente falando, não tinha qualificação para a salvação.

Quando Hb 11 cita Raabe na galeria da fé, faz questão de se referir a ela como “a meretriz Raabe” (Hb 11.31), assim como Tiago fala da “Raabe, a meretriz” (Tg 2.25). é como se a bíblia quisesse nos lembrar do seu currículo vergonhoso, ajudando-nos a colocar os olhos na graça maravilhosa de Deus para seres humanos indignos, como nós. Jesus afirma que “publicanos e meretrizes precederiam os fariseus  no reino dos céus”.

Por que? O currículo moral daqueles homens não era melhor que o dos publicanos, que eram traidores da pátria e dos judeus? E das prostitutas que estavam na classe dos cidadãos mais desprezados em Israel?

Os religiosos, moralistas, legalistas, acreditam que para Deus alcançar alguém é necessário que esta pessoa tenha algum currículo especial, que ela seja, pelo menos, um pouquinho boa. Está presente na nossa mente, um ditado popular que muitos julgam ser um versículo bíblico, mas não é: “faça da tua parte que da minha ajudarei”.

Não! Salvação é obra de Deus. “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não de obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).

Sproul fez um comentário que me encantou: “Estamos seguros, não porque seguramos firmemente nas mãos de Jesus, mas porque ele nos segura firmemente”.

A mais básica e profunda distorção do evangelho se encontra na salvação: somos salvos por causa do que fazemos ou por aquilo que Cristo fez? Pelos nossos méritos ou pelos méritos de Cristo? Pelo nosso currículo ou pelo sacrifício de Cristo? Paulo afirma: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl 5.4). Quando procuramos ser justificados por Deus com base em nossas conquistas espirituais, perdemos a referência da nossa salvação. Deixamos de crer que somos salvos pela graça e passamos a crer na salvação pelas obras. Deixamos de crer no sacrifício de Cristo e passamos a crer no nosso esforço pessoal; deixamos de crer na cruz, e confiamos em nós mesmos para a nossa salvação. Fazendo assim, nos “desligamos de Cristo” e “decaímos da graça”. Condições trágicas para nossa vida espiritual.

Paulo afirma na carta aos Romanos: “E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”. (Rm 11.6). Fé e obras são excludentes na salvação. Se você acredita que é salvo pelas suas obras, você não será nunca capaz de entender a graça de Deus. Se você entende o que é graça, você jamais ousará pensar que fez alguma coisa que lhe possa ser atribuída por mérito pessoal ou espiritual. Por isto, a graça é de graça! Apesar da redundância que esta afirmação possa parecer.

Dallas Willard definiu muito bem esta questão da graça: “Graça não é ausência de esforço; é ausência de mérito”. A graça de Deus é a coisa mais contracultural que existe. Somos uma cultura baseada no mérito, no que somos capazes de fazer, nas nossas competências. Na nossa performance intelectual, moral ou espiritual. A graça desestabiliza e desequilibra. Deus nos trata com graça, e esta é a única forma de nos relacionarmos com o Deus santo das Escrituras Sagradas.

2.     Precisamos discernir as condições básicas da salvação

O texto nos revela o que aconteceu com Raabe.

A.    Raabe entendeu que o Deus de Israel era maior que os deuses pagãos de Jericó

Porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (Js 2.11). Esta é uma grande declaração de fé!

Como Raabe entendeu isto?
Se olharmos e, Js 2.10: “temos ouvido que o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós”.

A Bíblia afirma que “A fé vem pelo ouvir”. Somente encontramos fé para sermos salvos quando ouvimos, ou entramos em contato, com a verdade de Jesus. Não há nenhuma outra coisa que pode nos salvar. Nossas boas obras ou nossa obediência às leis de Deus nunca serão perfeitas e nunca compensarão os pecados que cometemos. Também não existe nenhum sacrifício ou qualquer pagamento que possamos oferecer. Mas, Deus, em sua misericórdia, oferece perdão de todos os pecados a quem crê em Jesus. A fé é essencial para a salvação.  A fé nos faz aproximar de Deus, convencendo-nos de nossos pecados, da necessidade de salvação e do sacrifício de Jesus.

B.    Raabe aceitou o sinal para sua salvação.

Disseram-lhe os homens: Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar, se, vindo nós à terra, não atares este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e se não recolherem em casa contigo, teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a toda a família de teu pai” (Js 2.17,18).

Raabe dependia de um sinal, aparentemente frágil. Um fio vermelho na sua casa, um cordão, um lençol vermelho, alguma coisa que fosse vermelha. Este é o sinal do sangue presente em todas as Escrituras. Este sinal aponta para o sacrifício de Cristo, e seu sangue derramado em favor dos pecadores. Sangue que nos livra da morte e da condenação, nos tira das mãos do diabo, e nos traz salvação. Este fio de escarlata aponta para o precioso sangue de Cristo.

Raabe poderia ter duvidado disto e não levasse a sério o acordo.
Raabe poderia ter procrastinado, e não atasse o fio vermelho.
Raabe poderia ter ficado constrangido porque as pessoas poderiam ter perguntado e certamente o fizeram: “Por que você tem este fio vermelho na sua casa?” ou, “porque você não tira este fio, ele tira a estética da muralha”.

O que diz o texto: “E ela disse: Segundo as vossas palavras, assim seja. Então, os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela” (Js 2.21). Poderíamos até acrescentar: E ela, imediatamente, atou o cordão à janela. Ato imediato. Nada de demora. Nada de hesitação. Sua vida estava em jogo.

C.    Raabe inseriu sua família no acordo.

Isto é muito importante.
Os espias disseram: “Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar, se, vindo nós à terra, não atares este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e se não recolherem em casa contigo, teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a toda a família de teu pai” (Js 2.17,18).

O pai, a mãe, os irmãos e toda a família deveriam ser protegidos pelo sangue.
O mesmo símbolo também aparece em Êxodo 12, na instituição da páscoa. “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e na haverá entre vós praga destruidora quando eu ferir a terra do Egito... Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir” (Ex 12.13,23).

Esta verdade é muito importante para nossos lares. Todos precisam estar protegidos pelo sangue. Certifique-se que sua família está coberta pelo sangue. Não há garantia para aqueles que estiverem fora da cobertura. A família é protegida quando se encontra com a marca do sangue em sua casa.

Este é o verdadeiro sentido do Evangelho.
Nossa família precisa da cobertura do Sangue do Cordeiro. Não podemos brincar com esta verdade.

3.     A graça nos dá grande esperança para nossa condição espiritual

Este texto é maravilhoso, também, por nos dar esperança.
Deus nos encontra na nossa condição moral de condenação e morte, e ele pode resgatar nossa história.

A vida de Raabe nos inspira quanto à esta verdade.
Poucos personagens bíblicos poderiam ser tão caricaturais quanto o estilo de vida pecaminoso de Raabe. Ela era uma profissional do sexo. Por isto a Bíblia se refere a ela como “a prostituta Raabe”. A Bíblia não nega sua condição. Ela não era “sugar baby”, como a moral moderna tenta desenhar o sofisticado esquema de prostituição atual.
Raabe era desprezada socialmente. Em geral as prostitutas morriam cedo por causa de doenças venéreas, não usavam qualquer proteção, não tinham barreiras contra doenças sexualmente transmitidas (DST). Mulheres assim era facilmente contaminadas e morriam.
Raabe era objeto de chacota social e envergonhava sua família. Até hoje, mesmo numa sociedade moderna e tão frouxa nos seus costumes, nenhuma família se sentiria orgulhosa em saber que sua filha vive da venda do seu corpo. Era uma mulher que trazia desonra para o nome da família. Era marginalizada e estereotipada muito mais que ainda o é hodiernamente.

Apesar de todo este currículo, Raabe se torna uma mulher singular na Bíblia:
1.     Ela salva os espias – Jz 2.3,4
2.     Ela é salva
3.    Ela salva sua família – Jz 6.22-25
4.     Ela salva Israel.

James Meeks falando sobre a vida de Raabe faz a seguinte pergunta: Quem salvou quem? Os espias salvaram Raabe ou Raabe salvou os espias? E ele afirma. Israel a salvou uma vez, mas ela salvou o povo de Deus duas vezes:

Primeiro, protegendo os espias
Segundo, porque do seu ventre, do seu sangue, do seu DNA, nasceria o Messias, salvador do mundo.
Não é isto impressionante? O que Deus pode fazer com alguém quando esta pessoa é regenerada, resgatada?

Veja o que o texto nos diz em Mateus 4
Salmon, da linhagem de Judá, se casa com Raabe. Chegou ali, encontrou aquela mulher estrangeira, provavelmente bonita, e resolve se casar com ela. Talvez um comentário furtivo aqui, outro ali, mas Raabe agora faz parte da família de Deus.
Ela dá a luz a Boaz (que se casa com Rute, a Moabita); que dá a luz a Obede, Jessé, e finalmente Davi. Ela foi trisavó de Davi, o rei mais querido de Israel.
Mas o mais importante de tudo: Da sua linhagem nasceria Jesus.

Quem poderia imaginar que a graça de Deus pudesse levar esta mulher a uma honra tão imensa?
O que Deus pode fazer conosco, pessoas travadas, tortas, desprezadas, que fizemos péssimas opções, vivemos num estilo de pecado. O que Deus pode fazer conosco em situações semelhantes?

E ainda mais. Raabe figura num lugar especial na Bíblia:

A.   Ela é citada na genealogia de Cristo – “Salmon gerou de Raabe a Baz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede a Jessé; Jessé gerou ao rei Davi” (Mt 1.5,6). Que surpresa! Será que ela um dia, na sua vida de pecado, longe de Deus, talvez ansiando por uma resposta ao seu coração vazio, poderia imaginar que algo tão surpreendente pudesse acontecer.

A genealogia de Cristo mostra como Deus pode nos dar um futuro maravilhoso e surpreendente. De gente comum, de gente perdida e desencontrada, Deus pode fazer de qualquer um, um filho do Rei. A história de Raabe e seu parentesco com Jesus é não nega sua história de muitas falhas e erros, mas de sua linhagem, Deus levantou o Rei dos Reis. E, ele nos convida a fazer parte também da mesma linhagem. Pela graça de Deus, ele pode mudar nossa biografia e marcar indelevelmente nossos filhos e netos. Ele pode nos transformar para sua glória.

B.    Ela é citada na galeria dos heróis bíblicos – “Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz os espias” (Hb 11.31). Onde aparece seu nome? No meio de gigantes da fé, ao lado de Abraão, de Moisés, de Davi. Lá figura o nome de Raabe, a prostituta. O que Deus é capaz de fazer da nossa vida quando sua graça nos alcança.

C.    Ela é ainda citada por Tiago: “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (Tg 2.25).

Conclusão:

A Maravilhosa Graça de Deus

Alguns anos atrás, numa igreja na Inglaterra, o pastor notou um ex-assaltante se ajoelhando para receber a ceia do Senhor ao lado de um juiz da Suprema Corte da Inglaterra. O juiz era o mesmo que, anos antes, havia condenado o assaltante a sete anos na prisão.
Após o culto, enquanto o juiz e o pastor caminhavam juntos, o juiz perguntou, “Você viu quem estava ajoelhado ao meu lado durante a ceia?”
“Sim”, respondeu o pastor, “mas eu não sabia que você havia notado”.
Os dois homens caminharam em silêncio por alguns momentos. Daí o juiz disse, “Que milagre da graça!”
O pastor concordou. “Sim, que milagre maravilhoso da graça”.
Daí o juiz perguntou, “Mas você se refere a quem?”
O pastor respondeu “É claro, à conversão do assaltante.”
O juiz falou “Mas eu não estava pensando nele. Estava pensando em mim mesmo.”
“Como assim?” indagou o pastor.
O juiz respondeu, “O assaltante sabia o quanto ele precisava de Cristo para salvá-lo dos seus pecados. Mas, olhe para mim. Eu fui ensinado desde a infância a ser um cavalheiro, a cumprir a minha palavra, fazer minha orações, ir à igreja. Eu passei por Oxford, recebi meu diploma, fui advogado e eventualmente tornei-me juiz. Pastor, nada, a não ser a graça de Deus, podia ter me levado a admitir que eu era um pecador igual àquele assaltante. Levou muito mais graça para me perdoar por meu orgulho, minha confiança em mim mesmo, para me levar a reconhecer que não sou melhor aos olhos de Deus do que aquele assaltante que eu mandei à prisão.”
E que maravilha a graça é. Boas pessoas só não entram no céu porque seu orgulho as impede de chegar ao Salvador.
- Steven J. Cole, Not the healthy but the sick WORLD (March 1, 1997).