segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

At 16 O Misterioso processo de Deus na plantação da igreja


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Introdução:

Uma das parábolas mais impressionantes, e muitas vezes esquecida, de Jesus encontra-se relatada apenas em Marcos, e é chamada de A parábola da semente (não confundir com a parábola do semeador): “Disse ainda: o reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como. A terra, por si mesma frutifica” (Mc 4.26-27, 28a).

Jesus demonstra que a semente tem poder em si mesma. Ela tem o germe da vida. Por isto, “a terra, por si mesma frutifica”. Outra verdade maravilhosa é que o crescimento da semente é um mistério. “... e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como”. Não tente entender a metodologia, nem os mecanismos. A obra de Deus é essencialmente algo da exclusiva autoridade de Deus.

A forma como o avanço missionário se dá é um mistério. Basta ler a história das missões que veremos as formas mais improváveis da realização da missão. Creio que esta é uma forma de Deus nos ensinar que ele é o autor das missões e que o seu poder é que realiza todas estas coisas.

A maneira como as igrejas crescem também é misteriosa. Deus usa situações improváveis, plantadores improváveis de igreja e realiza a sua obra. Bem, isto não deveria nos causar surpresa, afinal, Jesus foi categórico ao afirmar: “Eu edificarei a minha igreja”, portanto a obra de edificação da igreja tem a ver com sua promessa e seu empenho pessoal, para que as igrejas floresçam. Assim tem sido, misteriosamente, em todos os lugares.

O texto de Atos 16 nos fala de alguns princípios, criados pelo próprio Deus, para fazer sua obra acontecer.

O livro de Atos tem algumas características importantes:

A.   É um livro teocrático – O Deus soberano controla todas as coisas. Alguém chegou a afirma que o melhor titulo não deveria ser “Atos dos Apóstolos”, mas “Atos do Espírito Santo”. O Espírito de Deus permeia e direciona cada ato dos seus servos, fechando e abrindo portas, dando orientação e controlando os rumos da sua igreja. Deus soberano controla todas as coisas: cosmos, igrejas, particularidades (pessoas).

B.    É um livro profético – Deus cumpre o que promete. Os acontecimentos na vida da igreja apostólica estão constantemente sendo explicados à luz das promessas do Antigo Testamento. Deus está conduzindo os eventos para que seus propósitos se cumpram.

C.    É um livro Cristocêntrico – A vida e a obra de Cristo, sua natureza, o que ele é, sua natureza redentiva, sua divindade, são constantemente expostos nos sermões e mensagens deste livro. Este livro nos convida a adorar a Cristo e a entender sua messianidade e divindade.

D.   É um livro missionário – O que vemos em Atos é uma igreja sendo desafiada e impulsionada, pelo Espírito Santo, a realizar a obra. Em todos os momentos percebemos que Deus, e não a igreja, está levando sua igreja a cumprir a missão de pregar em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra.


Apesar do mistério no processo de plantação de igrejas, o texto de At 16 nos mostra como a igreja de Cristo é implantada.

1.     Deus inicia o processo – A igreja de Cristo estava em processo de expansão. Esta era a hora certa de expandir. O pensamento de Paulo era claro: vamos abraçar a Ásia! Temos experiência, recursos, pessoal treinado, equipe pronta. Entretanto o Espírito de Deus não chancelou os projetos da igreja.

“E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia” (At 16.6). Não é difícil pensar no diabo impedindo a obra. O próprio Paulo afirma que queria visitar os irmãos de Tessalônica “...não somente uma vez, mas duas; contudo, Satanás nos barrou o caminho” (1 Ts 3.18). Aqui temos uma difícil questão hermenêutica: Deus impede a missão da igreja na Ásia. Desde quando o Espírito Santo “impede o avanço missionário?”

No versículo seguinte, mais uma vez, “defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.7). O termo grego poderia ser traduzido por “Deus proibiu”. Bitínia, era uma região próspera. Aparentemente seria muito bom que o evangelho florescesse naquela região, contudo, o Espírito disse não.

O primeiro axioma de missões é: “A obra missionária nasce no coração de Deus”. Todas as vezes que olhamos para Atos vemos exatamente isto. Então, porque o Espírito de Deus impediu e proibiu os irmãos de seguirem seus projetos? Por uma razão simples: Deus é soberano, ele tem propósitos em todas as coisas. Certamente não era a hora certa para a execução destes projetos. Posteriormente veremos a igreja de Deus avançando vitoriosa para alcançar a Ásia, mas agora não era a hora.

É assim que vejo Deus conduzindo a história. Alguns anos atrás, queríamos plantar uma igreja na cidade de Pirenópolis, importante eixo turístico de Goiás. Uma pessoa da igreja nos procurou para informar que sua irmã estava vendendo um lote estratégico na cidade e que ela queria comprar este lote para plantar uma futura igreja. Ela não conseguiu levantar todo dinheiro, mas com metade resolvi desafiar o conselho da igreja para adquirir aquela propriedade. E hoje, está igreja esta sendo plantada naquela cidade. A liderança de nossa igreja estava bem aquém deste projeto, mas o Senhor, dono da obra, levantou pessoas com sensibilidade que contribuíram para que o projeto pudesse ser executado.

A importância de Trôade

A igreja foi obrigada a ficar em Trôade, esperando o mover do Espírito. O que eles estavam esperando? A direção do Espírito. Deus daria a visão.

Trôade, se torna o lugar e momento de pausa e reflexão. A mente estava confusa e eles precisavam discernir a vontade de Deus. Paulo fica em Trôade para pensar e orar. Trôade não era estratégica, mas se torna importantíssima para a missão da igreja, porque nela Deus dá a direção e a visão da obra missionária: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16.9).

Muitas vezes Deus nos mantém em Trôade, para que tenhamos tempo de discernir sua vontade e plano. Quando formos obrigados a parar, precisamos refletir sobre o que Deus está querendo revelar. Naquela cidade eles se mantiveram no caminho da espiritualidade. Não pregaram, mas foi a cidade mais estratégica. Muitas vezes Deus nos deixa em Trôade para aprofundamento, reflexão e discernimento.

Os apóstolos precisavam discernir o próximo passo?
Da mesma forma, precisamos considerar que é fácil se encantar com a Ásia e Bitínia, mas precisamos de Trôade, onde encontramos tempo para orar, silenciar o coração, refletir mais. Qual a direção que Deus está dando? Qual é o próximo passo?

2.     Deus, e não nós, possui a correta estratégia. Ao lermos o texto observamos que saem de Trôade, passam pela Samotrácia e Neápolis, mas não se detiveram em nenhuma delas.

Este texto nos leva à pergunta: Deus não tinha interesse nos habitantes destas duas cidades? Se tinha, porque não manteve os discípulos ali? Esta tem sido uma questão interessante. Não raras vezes vejo pessoas interessadas em plantar igreja, mas são muito pouco estratégicos na sua abordagem.

Ao lermos com cuidado o texto, observamos: “...e dali, a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia. Nesta cidade permanecemos alguns dias” (At 16.12).

Duas coisas podem ser observadas:
Primeira, o alvo de Deus era Macedônia, portanto, não deveriam ter outro foco, quando Deus já havia dado a direção.

Segunda, a importância da cidade. Filipos era estratégica.
Algum tempo atrás, pensando na plantação de futuras igrejas, pedi a um grupo de estudantes que fizesse um trabalho demonstrando quais cidades do Estado de Goiás, tinham mais de 20 mil habitantes, sem a presença de nossa denominação. Alguns questionaram: Por que 20 mil, e as demais cidades de 3, 5 e 7 mil habitantes, não precisam ser alcançadas?

Minha resposta foi: por causa da estratégia que estas cidades possuem. Teoricamente é mais fácil estabelecer uma comunidade em lugares onde o campo tenha mais possibilidades de crescimento. Além do mais, é isto que observamos no livro de Atos. Esta foi a estratégia de Deus. Ele enviou seus discípulos para Filipos, a primeira e mais importante cidade da região. Dali o evangelho atingiu rapidamente outras cidades e região. Mas precisamos lembrar que nenhuma estratégia ou método será eficaz, se não estiver direcionada pelo Espírito Santo.

3.    Deus usa pessoas improváveis para estabelecer sua igreja. A experiência de Filipos é interessante para demonstrar a forma misteriosa como Deus faz as coisas acontecerem.

Lídia, a estrangeira
Paulo tem a visão de um jovem macedônio, mas seu primeiro encontro foi com uma mulher estrangeira. Paulo não encontra um varão, mas uma varoa. Ela não era de Filipos, mas de Tiatira. Lídia se transformará numa pessoa chave para alcançar aquela cidade. Ela era comerciante de púrpura. Foi a primeira pessoa a ser convertida na Europa. “O Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (At 16.14). Quando Paulo sai da cadeia, encontra uma igreja na casa de Lídia (At 16.40).

A jovem adivinhadora
A segunda pessoa foi uma jovem possessa, que adivinhava e impressionava as pessoas da região pela sua clarividência. Havia todo um sistema de exploração destas coisas, mas aquela jovem se tornou, por algum tempo, uma propagandista e marqueteira dos apóstolos, porque “seguia a Paulo e a nós, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação” (At 16.17). Aparentemente ser referendado por aquela jovem poderia parecer interessante, entretanto, depois de muitos dias, Paulo vai se tornando inquieto com aquela situação, e já indignado, diz ao espírito maligno: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora saiu.

Paulo se dirige ao demônio, e não à jovem. Ela era dominada por aquela estranha força.

Depois de terem expulsado o demônio são levados à cadeia. No processo da plantação de igrejas, você não terá nenhum problema, enquanto não incomodar o diabo. Quando Jesus foi a Gadara, ele expulsou o demônio daquele jovem que era severamente oprimido pelo diabo. Mas quando ele os enviou para os porcos, houve prejuízo financeiro e eles foram expulsos de Gadara. As pessoas não tem dificuldade em conviver com o diabo, e não incomodam se ele está destruindo vidas. Mas quando você mexe no chiqueiro deles, você está em problema.

O carcereiro desesperado
Pela sua profissão, este homem é um daqueles que chegamos a duvidar se pode ser salvo. Ele era um militar linha dura. Entretanto, após sua conversão, o vemos cuidando pessoalmente de Paulo e Silas que foram espancados. O carcereiro deixa sua profissão e se torna enfermeiro. Sua rudeza se transforma em ternura. Sua casa torna-se hospedagem para aqueles homens.

Parece que as coisas não encaixam. Estas três pessoas talvez não estivessem no nosso “target people”, ou “público alvo”. Entretanto, Deus não age com base nas probabilidades, ele é Deus. Após a ressurreição, para quem Jesus primeiramente se revela? Maria Madalena. Como mulher, ela não poderia testemunhar num tribunal. Além do mais, seu currículo não era dos melhores... entretanto, Jesus se revelou a ela, antes de se mostrar aos seus discípulos. Após a ressurreição, alguns duvidam (Mt 28.17) mas Jesus resolve usar pessoas dúbias. Maria Madalena: A mulher mais complicada, menos inteligente, complexa. Certamente uma forma de evidenciar seus métodos, sua própria força e poder? Nem sempre o que faz sentido para nos, faz sentido para Deus.

É a lógica da graça.
O segredo não é se temos poder, mas termos o Deus de todo poder ao nosso lado.
Aquelas pessoas, improváveis membros de uma igreja cristã, são alcançadas pela graça do Evangelho.

Deus usa os fracos. John Knox chega mesmo a indagar: Por que Deus escolhe os fracos?

Daquela cidade, muitas coisas boas surgem. Epafrodito sai dali. Esta igreja se tornará a igreja mais solidária à Paulo e se tornará a única igreja a sustentá-lo na obra missionária.


Conclusão:
Desta mensagem gostaria de tirar quatro aplicações para nossa vida:

1.     Uma igreja se estabelece por causa de Deus. Ele é o autor da obra missionária. Ele inicia o processo.

2.     Deus, e não nós, tem a estratégia correta. Podemos ter planos, criar métodos, mas precisamos, acima de tudo tentar entender para onde Deus deseja nos direcionar. Eles queriam ir para Ásia, mas Deus lhes mandou para Europa.

3.    Deus, e apenas Ele, sabe a hora oportuna para alcançar uma região. A igreja de Cristo demorou muitos anos, mas depois também teve oportunidade de ministrar a Ásia. Aquela não era a hora da obra missionária avançar para o Oriente.

4.     Deus usa pessoas improváveis para estabelecer a sua igreja. Gente quebrada, confusa, desesperada, dominada pelas trevas, pessoas desprezadas socialmente, para estabelecer sua obra e cumprir seus propósitos.

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