sábado, 25 de janeiro de 2020

Js 2.1-24; 6.22-25 O maravilhoso poder da graça




Introdução:

Este texto é um texto carregado de esperança.

Fala de gente quebrada, desajustada, sem direção, perdida em seus propósitos, e que é alcançada por Deus. A Revista Superinteressante comentando a vida desta mulher afirma: “Ela deu sorte de se encontrar com os espias”, mas poderíamos dizer de outra forma. O plano sobrenatural de Deus encontra esta mulher desencontrada. Este texto nos mostra que
ü  Deus opera em ambientes inesperados, um bordel;
ü  Deus usa instrumentos incomuns, uma prostituta;
ü  Deus usa sinal surpreendente: Um fio vermelho colocado numa muralha que vai trazer salvação a esta mulher e toda sua família.

Hoje vamos estudar a vida de Raabe. Este personagem bíblico enigmático, controvertido, encantador. Uma mulher marginalizada socialmente, com uma vida muito além de suspeita, e que se torna central neste episódio, e passa a ser citada na Bíblia de várias formas elogiáveis.

A vida de Raabe nos ensina algumas coisas fundamentais para a fé cristã:

1.     A graça de Deus não nos alcança por causa do nosso currículo impecável.

Considerem o currículo de Raabe. Ela não era uma pessoa de boa reputação, e humanamente falando, não tinha qualificação para a salvação.

Quando Hb 11 cita Raabe na galeria da fé, faz questão de se referir a ela como “a meretriz Raabe” (Hb 11.31), assim como Tiago fala da “Raabe, a meretriz” (Tg 2.25). é como se a bíblia quisesse nos lembrar do seu currículo vergonhoso, ajudando-nos a colocar os olhos na graça maravilhosa de Deus para seres humanos indignos, como nós. Jesus afirma que “publicanos e meretrizes precederiam os fariseus  no reino dos céus”.

Por que? O currículo moral daqueles homens não era melhor que o dos publicanos, que eram traidores da pátria e dos judeus? E das prostitutas que estavam na classe dos cidadãos mais desprezados em Israel?

Os religiosos, moralistas, legalistas, acreditam que para Deus alcançar alguém é necessário que esta pessoa tenha algum currículo especial, que ela seja, pelo menos, um pouquinho boa. Está presente na nossa mente, um ditado popular que muitos julgam ser um versículo bíblico, mas não é: “faça da tua parte que da minha ajudarei”.

Não! Salvação é obra de Deus. “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não de obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).

Sproul fez um comentário que me encantou: “Estamos seguros, não porque seguramos firmemente nas mãos de Jesus, mas porque ele nos segura firmemente”.

A mais básica e profunda distorção do evangelho se encontra na salvação: somos salvos por causa do que fazemos ou por aquilo que Cristo fez? Pelos nossos méritos ou pelos méritos de Cristo? Pelo nosso currículo ou pelo sacrifício de Cristo? Paulo afirma: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl 5.4). Quando procuramos ser justificados por Deus com base em nossas conquistas espirituais, perdemos a referência da nossa salvação. Deixamos de crer que somos salvos pela graça e passamos a crer na salvação pelas obras. Deixamos de crer no sacrifício de Cristo e passamos a crer no nosso esforço pessoal; deixamos de crer na cruz, e confiamos em nós mesmos para a nossa salvação. Fazendo assim, nos “desligamos de Cristo” e “decaímos da graça”. Condições trágicas para nossa vida espiritual.

Paulo afirma na carta aos Romanos: “E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça”. (Rm 11.6). Fé e obras são excludentes na salvação. Se você acredita que é salvo pelas suas obras, você não será nunca capaz de entender a graça de Deus. Se você entende o que é graça, você jamais ousará pensar que fez alguma coisa que lhe possa ser atribuída por mérito pessoal ou espiritual. Por isto, a graça é de graça! Apesar da redundância que esta afirmação possa parecer.

Dallas Willard definiu muito bem esta questão da graça: “Graça não é ausência de esforço; é ausência de mérito”. A graça de Deus é a coisa mais contracultural que existe. Somos uma cultura baseada no mérito, no que somos capazes de fazer, nas nossas competências. Na nossa performance intelectual, moral ou espiritual. A graça desestabiliza e desequilibra. Deus nos trata com graça, e esta é a única forma de nos relacionarmos com o Deus santo das Escrituras Sagradas.

2.     Precisamos discernir as condições básicas da salvação

O texto nos revela o que aconteceu com Raabe.

A.    Raabe entendeu que o Deus de Israel era maior que os deuses pagãos de Jericó

Porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (Js 2.11). Esta é uma grande declaração de fé!

Como Raabe entendeu isto?
Se olharmos e, Js 2.10: “temos ouvido que o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós”.

A Bíblia afirma que “A fé vem pelo ouvir”. Somente encontramos fé para sermos salvos quando ouvimos, ou entramos em contato, com a verdade de Jesus. Não há nenhuma outra coisa que pode nos salvar. Nossas boas obras ou nossa obediência às leis de Deus nunca serão perfeitas e nunca compensarão os pecados que cometemos. Também não existe nenhum sacrifício ou qualquer pagamento que possamos oferecer. Mas, Deus, em sua misericórdia, oferece perdão de todos os pecados a quem crê em Jesus. A fé é essencial para a salvação.  A fé nos faz aproximar de Deus, convencendo-nos de nossos pecados, da necessidade de salvação e do sacrifício de Jesus.

B.    Raabe aceitou o sinal para sua salvação.

Disseram-lhe os homens: Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar, se, vindo nós à terra, não atares este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e se não recolherem em casa contigo, teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a toda a família de teu pai” (Js 2.17,18).

Raabe dependia de um sinal, aparentemente frágil. Um fio vermelho na sua casa, um cordão, um lençol vermelho, alguma coisa que fosse vermelha. Este é o sinal do sangue presente em todas as Escrituras. Este sinal aponta para o sacrifício de Cristo, e seu sangue derramado em favor dos pecadores. Sangue que nos livra da morte e da condenação, nos tira das mãos do diabo, e nos traz salvação. Este fio de escarlata aponta para o precioso sangue de Cristo.

Raabe poderia ter duvidado disto e não levasse a sério o acordo.
Raabe poderia ter procrastinado, e não atasse o fio vermelho.
Raabe poderia ter ficado constrangido porque as pessoas poderiam ter perguntado e certamente o fizeram: “Por que você tem este fio vermelho na sua casa?” ou, “porque você não tira este fio, ele tira a estética da muralha”.

O que diz o texto: “E ela disse: Segundo as vossas palavras, assim seja. Então, os despediu; e eles se foram; e ela atou o cordão de escarlata à janela” (Js 2.21). Poderíamos até acrescentar: E ela, imediatamente, atou o cordão à janela. Ato imediato. Nada de demora. Nada de hesitação. Sua vida estava em jogo.

C.    Raabe inseriu sua família no acordo.

Isto é muito importante.
Os espias disseram: “Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar, se, vindo nós à terra, não atares este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e se não recolherem em casa contigo, teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a toda a família de teu pai” (Js 2.17,18).

O pai, a mãe, os irmãos e toda a família deveriam ser protegidos pelo sangue.
O mesmo símbolo também aparece em Êxodo 12, na instituição da páscoa. “O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e na haverá entre vós praga destruidora quando eu ferir a terra do Egito... Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir” (Ex 12.13,23).

Esta verdade é muito importante para nossos lares. Todos precisam estar protegidos pelo sangue. Certifique-se que sua família está coberta pelo sangue. Não há garantia para aqueles que estiverem fora da cobertura. A família é protegida quando se encontra com a marca do sangue em sua casa.

Este é o verdadeiro sentido do Evangelho.
Nossa família precisa da cobertura do Sangue do Cordeiro. Não podemos brincar com esta verdade.

3.     A graça nos dá grande esperança para nossa condição espiritual

Este texto é maravilhoso, também, por nos dar esperança.
Deus nos encontra na nossa condição moral de condenação e morte, e ele pode resgatar nossa história.

A vida de Raabe nos inspira quanto à esta verdade.
Poucos personagens bíblicos poderiam ser tão caricaturais quanto o estilo de vida pecaminoso de Raabe. Ela era uma profissional do sexo. Por isto a Bíblia se refere a ela como “a prostituta Raabe”. A Bíblia não nega sua condição. Ela não era “sugar baby”, como a moral moderna tenta desenhar o sofisticado esquema de prostituição atual.
Raabe era desprezada socialmente. Em geral as prostitutas morriam cedo por causa de doenças venéreas, não usavam qualquer proteção, não tinham barreiras contra doenças sexualmente transmitidas (DST). Mulheres assim era facilmente contaminadas e morriam.
Raabe era objeto de chacota social e envergonhava sua família. Até hoje, mesmo numa sociedade moderna e tão frouxa nos seus costumes, nenhuma família se sentiria orgulhosa em saber que sua filha vive da venda do seu corpo. Era uma mulher que trazia desonra para o nome da família. Era marginalizada e estereotipada muito mais que ainda o é hodiernamente.

Apesar de todo este currículo, Raabe se torna uma mulher singular na Bíblia:
1.     Ela salva os espias – Jz 2.3,4
2.     Ela é salva
3.    Ela salva sua família – Jz 6.22-25
4.     Ela salva Israel.

James Meeks falando sobre a vida de Raabe faz a seguinte pergunta: Quem salvou quem? Os espias salvaram Raabe ou Raabe salvou os espias? E ele afirma. Israel a salvou uma vez, mas ela salvou o povo de Deus duas vezes:

Primeiro, protegendo os espias
Segundo, porque do seu ventre, do seu sangue, do seu DNA, nasceria o Messias, salvador do mundo.
Não é isto impressionante? O que Deus pode fazer com alguém quando esta pessoa é regenerada, resgatada?

Veja o que o texto nos diz em Mateus 4
Salmon, da linhagem de Judá, se casa com Raabe. Chegou ali, encontrou aquela mulher estrangeira, provavelmente bonita, e resolve se casar com ela. Talvez um comentário furtivo aqui, outro ali, mas Raabe agora faz parte da família de Deus.
Ela dá a luz a Boaz (que se casa com Rute, a Moabita); que dá a luz a Obede, Jessé, e finalmente Davi. Ela foi trisavó de Davi, o rei mais querido de Israel.
Mas o mais importante de tudo: Da sua linhagem nasceria Jesus.

Quem poderia imaginar que a graça de Deus pudesse levar esta mulher a uma honra tão imensa?
O que Deus pode fazer conosco, pessoas travadas, tortas, desprezadas, que fizemos péssimas opções, vivemos num estilo de pecado. O que Deus pode fazer conosco em situações semelhantes?

E ainda mais. Raabe figura num lugar especial na Bíblia:

A.   Ela é citada na genealogia de Cristo – “Salmon gerou de Raabe a Baz; este, de Rute, gerou a Obede; e Obede a Jessé; Jessé gerou ao rei Davi” (Mt 1.5,6). Que surpresa! Será que ela um dia, na sua vida de pecado, longe de Deus, talvez ansiando por uma resposta ao seu coração vazio, poderia imaginar que algo tão surpreendente pudesse acontecer.

A genealogia de Cristo mostra como Deus pode nos dar um futuro maravilhoso e surpreendente. De gente comum, de gente perdida e desencontrada, Deus pode fazer de qualquer um, um filho do Rei. A história de Raabe e seu parentesco com Jesus é não nega sua história de muitas falhas e erros, mas de sua linhagem, Deus levantou o Rei dos Reis. E, ele nos convida a fazer parte também da mesma linhagem. Pela graça de Deus, ele pode mudar nossa biografia e marcar indelevelmente nossos filhos e netos. Ele pode nos transformar para sua glória.

B.    Ela é citada na galeria dos heróis bíblicos – “Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz os espias” (Hb 11.31). Onde aparece seu nome? No meio de gigantes da fé, ao lado de Abraão, de Moisés, de Davi. Lá figura o nome de Raabe, a prostituta. O que Deus é capaz de fazer da nossa vida quando sua graça nos alcança.

C.    Ela é ainda citada por Tiago: “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (Tg 2.25).

Conclusão:

A Maravilhosa Graça de Deus

Alguns anos atrás, numa igreja na Inglaterra, o pastor notou um ex-assaltante se ajoelhando para receber a ceia do Senhor ao lado de um juiz da Suprema Corte da Inglaterra. O juiz era o mesmo que, anos antes, havia condenado o assaltante a sete anos na prisão.
Após o culto, enquanto o juiz e o pastor caminhavam juntos, o juiz perguntou, “Você viu quem estava ajoelhado ao meu lado durante a ceia?”
“Sim”, respondeu o pastor, “mas eu não sabia que você havia notado”.
Os dois homens caminharam em silêncio por alguns momentos. Daí o juiz disse, “Que milagre da graça!”
O pastor concordou. “Sim, que milagre maravilhoso da graça”.
Daí o juiz perguntou, “Mas você se refere a quem?”
O pastor respondeu “É claro, à conversão do assaltante.”
O juiz falou “Mas eu não estava pensando nele. Estava pensando em mim mesmo.”
“Como assim?” indagou o pastor.
O juiz respondeu, “O assaltante sabia o quanto ele precisava de Cristo para salvá-lo dos seus pecados. Mas, olhe para mim. Eu fui ensinado desde a infância a ser um cavalheiro, a cumprir a minha palavra, fazer minha orações, ir à igreja. Eu passei por Oxford, recebi meu diploma, fui advogado e eventualmente tornei-me juiz. Pastor, nada, a não ser a graça de Deus, podia ter me levado a admitir que eu era um pecador igual àquele assaltante. Levou muito mais graça para me perdoar por meu orgulho, minha confiança em mim mesmo, para me levar a reconhecer que não sou melhor aos olhos de Deus do que aquele assaltante que eu mandei à prisão.”
E que maravilha a graça é. Boas pessoas só não entram no céu porque seu orgulho as impede de chegar ao Salvador.
- Steven J. Cole, Not the healthy but the sick WORLD (March 1, 1997).


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