terça-feira, 27 de março de 2018

Mt 27.46 Deus meu, por que me desamparastes?


Imagem relacionada

O Coelho da Páscoa

-        Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é...... bem...... é uma festa religiosa!
- Igual Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos ........ Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a, professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.
- Que dia e que mês?
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.
- Um dia depois.
- Não, três dias.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na sexta-feira santa ....... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.
- Alô, quem fala?
- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?
- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo

©Copyright   Recebi este texto por e-mail e não sei quem é o autor. Se alguém souber, por favor, me informe.



Introdução:
Esta é a quarta frase de Jesus na cruz. Ela aparece em dois evangelhos: Mateus e Marcos (15.34). por ser uma frase enigmática, suscita várias perguntas:

Questões teológicas:

1. O que significa esta frase? Qual é o seu sentido?
Jesus exclama angustiantemente a Deus dizendo ter sido abandonado por Deus. Marcos usa a palavra grega egkataleípo, o que significa abandonar, ou desertar. No Salmo 22, onde o salmista faz esta afirmação profética, a palavra usada em hebraico é azab, cujo sentido é  deixar, soltar ou abandonar. Jesus está consciente de que Deus o abandonou e que se fez de surdo ao seu clamor. “Este não é um abandono simbólico ou poético. É real! Se houve uma criatura que alguma vez sentiu o abandono de Deus, essa criatura foi o Filho de Deus na cruz do Calvário!” (Paulo Washer).
Ele não exclamou, “Deus meu, Deus meu, por que o povo me tem  desamparado?” Ele sabe que era Deus quem havia feito! A resposta pode ser encontrada em somente uma amarga verdade: a razão dele estar na cruz era o próprio Deus. Então, por que Deus faria isto com o seu filho amado?

2. Como podemos entender a ideia de que “Deus abandonou Deus?” Assumindo que Jesus é Deus, como poderia a primeira pessoa da Trindade se afastar da Segunda pessoa da Trindade?
Paul Washer: “Uma das minhas maiores preocupações é que a Cruz de Cristo é raramente explicada. Não é suficiente dizer que “Ele morreu” - porque todos os homens morrem. Não é suficiente dizer que “Ele teve uma morte nobre” – porque os mártires fazem o mesmo”. 

3. Se Deus abandonou o seu Filho na hora que mais precisava, por que deveríamos crer que na nossa aflição poderemos contar com Deus?
Como vimos acima, a palavra “desamparastes” é mais forte. Literalmente, “por que me abandonastes”. De todas as frases de Jesus esta é a mais difícil de entender. Martinho Lutero passou um dia inteiro meditando nela, e não é sem razão que ela incomoda tantos estudiosos da Bíblia.
Abandono de Deus é o castigo para um criminoso. Abandono é o sofrimento para os piores, para o vil – não para Jesus. Então, porque Jesus declara que Deus o abandonou?

A quarta palavra de Cristo na cruz ensina-nos:

A.           Pecado é coisa séria.

 Muitas vezes consideramos a graça de Deus alguma coisa de somenos importância, mas ao descrever o perigo da graça barata Bonhoeffer afirma que não podemos considerar barato aquilo que para Deus custou tanto. Jesus se tornou vil e detestável aos olhos de Deus – a coisa mais vil e detestável que poderia existir – e Deus derramou a extensão de Sua ira sobre Ele.
O pecado separa o homem de Deus. “As vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus…” (Is 59.2).

B.         Pecado exige reparação plena

Jesus satisfez toda necessidade da justiça de Deus. Nenhum homem poderia apresentar uma obra perfeita que satisfizesse a justiça divina. Este é um dos aspectos mais esquecidos na doutrina da redenção. Cristo morreu na cruz não apenas para pagar o preço do nosso pecado, mas ele assumiu aquele lugar maldito para satisfazer a justiça divina.
Stott afirma: “Jesus não pagou para o diabo nos libertar. Jesus pagou para Deus. O sacrifício de Jesus satisfez a exigência de justiça de Deus. E por causa disso é que somos perdoados e podemos  conhecer o amor de Deus por nós. Deus tratou Jesus como culpado em nosso lugar e separou-se Dele quando estava na cruz, e Jesus exclamou: “Deus meu, porque me desamparaste?” (Mc.15:34). Jesus teve que ficar separado do Pai por nossa causa, para nos reconciliar com Ele ao morrer (Rm 8:32).
Deus mostrou Sua justiça trazendo a morte, mas mostrou Seu amor no fato que não fomos nós que morremos, e sim Jesus. Então, não podemos desvalorizar nem menosprezar o amor e a justiça de Deus.

C.           A cruz de Jesus Cristo diz respeito à santidade de Deus.

Pode parecer estranho que um lugar de sangue, sofrimento e tormento diga respeito à santidade, mas a cruz responde esta questão: Como um santo Deus pode reconciliar-se com pessoas impuras? Essa questão demanda outra: como o relacionamento entre um santo Deus e pessoas impuras pode ser restaurado sem algum ato grosseiro de injustiça?
Deus derramou sua ira sobre Cristo até todo aspecto da justiça demandada por um Deus santo fosse satisfeito.
Na cruz vemos o quanto Deus valoriza Sua santidade. Vemos que Deus não violará sua própria santidade mesmo que seja para salvar aqueles a quem Ele ama. Aqui na cruz vemos ira e misericórdia encontrando-se. Vemos ambas em sua gloriosa plenitude – a exposição final da ira de Deus e a exposição final da misericórdia de Deus.
A ira de Deus foi colocada sobre Cristo. O profeta Isaias afirma: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará em suas mãos” (Is 53.10).
Cristo pagou a sentença completa da justa ira que eu merecia. o inculpável pagando a sentença do pecador.

Se isto não é verdade, como responder a questão: Cristo nunca pecou, então, por que um homem sem pecado sofreria a ira de Deus?

Ele entrou naquele tribunal, e ficou entre o juiz e a pessoa culpada e disse “eu pagarei a sentença dela”. Ele tomou o pecado de outras pessoas sobre si mesmo. Ele tomou sobre si uma dimensão tão grande de pecado que Ele se fez pecado.
Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5.17).

Quando olhamos para a cruz, vemos Jesus Cristo pagando a justa sentença de um pecador. Ali na cruz Jesus experimenta a morte física. “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5), mas seu maior sofrimento, ainda que fosse tão indescritível, não era físico, ele também encara a morte espiritual, a consequência que o pecado traz ao ser humano, afastando-o de Deus. Ele é punido encarando a fúria da ira de Deus. Ele é punido pelo pecado cometido em consciente rebelião contra Deus. Ele encara a eterna extensão da ira de Deus pelos pecados. Ali na cruz Jesus encara a justiça e o tormento do inferno.
Pouco antes de ser preso, Jesus ficou muito angustiado a ponto de suar sangue, mas não por medo do sofrimento que os homens iam lhe causar, e sim porque a ira justa de Deus cairia sobre Ele. A ira pelos pecados de toda a humanidade.
No jardim, ele orou três vezes para que “o cálice” fosse removido, mas todas as vezes a sua vontade entregava-se a vontade do Pai. Que cálice era este pelo qual Jesus pedia fervorosamente que se possível não tivesse que beber? Não se tratava da cruel cruz romana e a tortura física que lhe esperava.  Se você ficar impressionado pela apavorante imagem retratada na paixão de Cristo de Mel Gibson  pode correr o risco de não enxergar o que ocorreu na Cruz. A oração de Jesus focava num aspecto mais sinistro que ele teve de enfrentar. Ele assumiu o pecado dos eleitos por Deus.

A justiça de Deus se revela na cruz de Cristo. “A justiça de Deus se revela no Evangelho” (Rm 1.17).
O homem não poderia pagar sua afronta, nada do que o homem fizesse seria capaz de reparar o efeito do pecado.

A proposta de Deus
Paulo afirma que Deus fez uma proposta: “A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos” (Rm 3.25). Você já tinha ouvido falar desta proposta de Deus?

O texto de Rm 3.21-26 constitui-se num bloco compactado, que o professor Cranfield acertadamente chama de "o centro e o cerne" do todo que constitui a parte principal da carta de Paulo aos Romanos. O Dr. Leon Morris diz que eles seriam "possivelmente o parágrafo mais importante que jamais se escreveu". A sua expressão-chave é "a justiça de Deus", Refere-se a uma justiça que provém de Deus, frisando dessa maneira a iniciativa salvadora que ele tomou a fim de conceder aos pecadores a condição de justos aos seus olhos. Em Rm 1.17 e 3.21 lemos que essa justiça foi "revelada" ou "manifestada", isto é, se deu num determinado tempo na história dos homens.
A verdade é que Deus é amor, mas também é justo. A sociedade moderna gosta de afirmar o primeiro ponto, minimizando o pecado e a importância da obra de Cristo e da santidade requerida por Deus, e esta mesma sociedade, quer negar ou minimizar a santidade de Deus. A verdade é que Deus é amor, e ama o pecador; mas ele é justo também, e tem que punir o pecador, ou seu substituto.

A obra de Cristo satisfaz todas as exigências de justiça, santidade e retidão de Deus para que Ele possa livremente agir em favor dos pecadores.
Jesus oferecendo Seu sangue como propiciação a um Deus santo, fez um pagamento total e final de todas as dividas. Somente por meio do sangue de Jesus Cristo, Deus se torna propicio e pode manifestar Sua graça, misericórdia e amor a favor do homem.

Como afirma o apóstolo Pedro: “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados” (1 Pe 2:24).
Por ser santo, justo e verdadeiro, Deus precisa condenar o pecador, a menos que não se encontre um meio para satisfazer sua Justiça. E Deus satisfez sua justiça por meio do sacrifício de Seu Filho Jesus Cristo.
Qualquer sacrifício, oferta, penitencia ou sofrimento que é oferecido a Deus, não poderá mudá-Lo. Ninguém poderá ganhar o amor e o perdão de Deus. Ele se torna propicio conosco somente e exclusivamente por causa do sangue derramado na cruz do Calvário da parte de Seu Filho. Deus proveu o Cordeiro para que nos pudéssemos ser reconciliados com Ele….um Deus de amor.
O pecado exige sacrifício, expiação. Cristo, nosso substituto, fez expiação por nós; foi o nosso substituto. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Não é que Deus se tenha sentido prazer no sofrimento de Seu amado Filho, mas através de sua morte, a vontade de Deus se cumpriu. Nenhum outro meio tinha poder de remover o pecado, satisfazer a justiça, e apaziguar a ira de Deus contra nós.

Conclusão:
a.           “Este é o Cordeiro de Deus. . .” Você gosta deste versículo, que é uma afirmação de João Batista apontando para Jesus quando veio para ser batizado por ele? Você se lembra da segunda parte? “Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Foi isto que o Cordeiro de Deus veio fazer.

b.          O crente não é feito “justiça de Deus” por alguma boa obra ou caráter irrepreensível mas como resultado da imputação pela qual ele é considerado justo ante Deus pela obra de Cristo em seu favor. Da mesma maneira Cristo se “fez pecado por nós”, ainda que tenha sido uma culpa imputada, foi uma culpa real, trazendo uma inquietante culpa para Sua alma. Ele esteve em nosso lugar, e morreu desamparado por Deus.

c.            É comum centrarmos num aspecto da doutrina de Deus. Seu amor, não sua santidade. Esta é a visão romântica de um Deus Santo que exige reverência. Infelizmente a sociedade moderna tem grande atração pelo seu amor mas não quer sua santidade, porque um Deus amoroso, sem santidade, não exige um padrão santo de viver.

d.          É comum sentirmo-nos desamparados ou abandonados por Deus quando sofremos perdas ou reveses: “Deus me abandonou.” Não é verdade. O que gera o abandono de Deus é o pecado. Jesus experimentou isto da forma mais profunda. Se estamos em pecado, não há como evitar o sentimento de desamparo. mas assim, que Jesus fez a expiação, ele orou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.”  E Deus em seguida foi recebido pelos braços do Pai Amado.

e.           Para concluir: Paulo Washer afirma: “O crente com discernimento espiritual clama “Deus, Deus, sei que me amas já que não recusaste nem a teu filho, teu único filho.” Esta declaração é a forma mais radical encontrada por Jesus para revelar a grandeza e majestade da obra de sua redenção. Pelas suas pisaduras fomos sarados.

domingo, 25 de março de 2018

At 4.36-37 Barnabé: um homem a serviço do reino


Resultado de imagem para imagens compaixao


Introdução:

Tenho refletido bastante sobre a necessidade de termos igrejas modelos e líderes modelos. Precisamos de instituições e pessoas que possam inspirar outras gerações e dar direção a outros. A ausência de modelos não impede que surjam pessoas e instituições competentes e capazes, apenas tornam o processo mais difícil, afinal, uma das características de líderes é que eles pavimentam o caminho para a nova geração. Isto implica em apontar rumos, abrir trincheiras e orientar.

Se podemos falar em modelos, a vida de Barnabé é exatamente assim.
Ele era um homem pleno, a serviço do reino.

Apesar de ser citado 6 vezes no livro de Atos e 2 vezes em outros livros, Barnabé é um personagem relativamente esquecido para a maioria dos leitores da Bíblia. No Brasil, uma música composta por Guilherme Kerr, divulgou um pouco mais de seu papel e sua relevância, caso contrário poderia ser um personagem periférico para nós.
Sobre esta música quero duas observações interessantes:
Meus filhos, quando pequenos, nos surpreenderam quando cantavam animadamente esta música dizendo: “Era seu nome, Barnabé, natural de chifre”, quando o correto seria, “natural de Chipre”, e então, tivemos que explicar que “Chipre” é uma ilha do Mediterrâneo, onde ele nasceu.
Guilherme Kerr, o  autor da música, relatou certa vez que ao invés de seus filhos cantarem “não fica bem a gente passar bem e o outro carestia”, ouviu-os cantando:  “Ainda bem que a gente passa bem e o outro carestia”. Este equivoco teológico pode ser fatal...

Barnabé é um discípulo de Cristo maduro e profundo, que discerne seu papel como cristão no reino de Deus. Por isto seu nome original, José, foi mudado pelos irmãos para “Barnabé”, que significa “filho da consolação (At 4.36). Era levita, músico e diácono da igreja.

Eis algumas aspectos marcantes de sua vida:

  1. Profunda sensibilidade para com as necessidades dos outros – “Então José, cognominado pelos apóstolos Barnabé(que, traduzido, é filho da consolação), levita, natural de Chipre, possuindo uma propriedade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos” (At 4.36,37).

Barnabé não precisava vender sua propriedade e doar o seu valor para a igreja, já que isto não era exigido dos seguidores de Cristo. Na verdade, muitos servos de Deus foram homens ricos. Alguns estudiosos creem que a atitude de vender teria sido um dos fatores que levou a igreja da Judeia, numa posterior crise econômica do país, a precisar de ajuda financeira da Igreja da Macedônia, porque começaram a passar necessidade. Robson Cavalcante chegou a afirmar que foi um erro por ter sido baseado numa escatologia imediata (Cristo voltará naqueles dias...) e por ter sido um comunismo de bens e consumo, e não de bens e produção.
Apesar disto, tomado por um desejo de abençoar outras vidas, resolveu vende seus bens e investir no projeto da igreja e em outras pessoas da comunidade. Isto é profundamente tocante e a Bíblia não o censura por isto.
Não é muito comum encontrarmos pessoas com senso de generosidade em nosso país. Geralmente culturas protestantes são mais generosas. Os EUA, cujo berço é protestante é considerado o país mais generoso do mundo, com pessoas dispostas a dar parte de seus bens para instituições e igrejas. Podemos argumentar que isto acontece porque são ricos, mas a verdade é que, historicamente, o fato da pessoa ter muitas posses não significa que ela se torna generosa. Há muitas pessoas com poucos recursos e grande disposição em contribuir, assim como há pessoas ricas e generosas, mas não há correlação natural de “quem tem mais dá mais”. Generosidade tem a ver com coração e não com a quantidade de recursos que determinada pessoa possui.

A orientação bíblica quanto à generosidade segue alguns princípios claros:

  1. Não dar apenas o que sobra, mas sacrificialmenteTambém, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da macedônia; como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente(2 Co 8.3).

  1. Desenvolver atitudes solidárias – “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? (1 Jo 3.17).  Com discrição, oração, sabedoria, aprender a ser generoso com outras pessoas, evitando comportamento de pessoas que criam uma relação de dependência e até mesmo exploração da generosidade de outros.

  1. Começar pela família  – “Se alguém não tem cuidado dos seus, especialmente dos de sua própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” (1 Tm 5.8). Não é incomum vermos familiares com atitude de dependência de outros, preguiçosos e irresponsáveis, mas ao mesmo tempo precisamos ter sensibilidade para não permitir que alguém da própria família, não tenha o que é básico para sua sobrevivência.

  1. Priorizar a família da féPortanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gl 6.10). Precisamos estar atentos à necessidade das pessoas. A Junta Diaconal da igreja tem a responsabilidade de acompanhar pessoas em necessidade, e até mesmo considerar porque determinadas pessoas estão sempre em necessidade. Eventualmente o que elas precisam não é de dinheiro, mas de direcionamento para o trabalho, treinamento financeiro, ou correta administração de seus recursos. Conheço pessoas que ganham pouco em nossa igreja, mas sempre são fiéis no seu dízimo e mantém suas contas equilibradas.

  1.  Abençoar outros, independente da fé que professam – Há muita necessidade de coisas básicas, como alimento, moradia, saúde, educação. São muitos desempregados sinceros e que precisam de recurso, não devemos nos fechar a ajudar àqueles que realmente precisam de dinheiro se temos condições de ajudar, independente da fé que professam.

Somente uma vez Jesus recomendou a venda das propriedades e dá-las aos pobres. Isto foi feito a um jovem rico por causa da relação idolátrica com seus bens. Entretanto, Barnabé assume um princípio claro: Colocar seus bens a serviço do reino de Deus. Muitos cristãos se negam ainda a esta atitude. É bom recordar o que nos ensinou Jesus: “Onde estiver teu tesouro, ali estará o teu coração”. Precisamos aprender a contribuir. Bispo Paulo Ayres afirma que “o bolso é o último a se converter, e o primeiro a esfriar”.

  1. Disposição em acolher pessoas marginalizadas e esquecidas na comunidade - Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo. Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus (At 9.26-28).  

Após sua conversão, quando se dirigia para Damasco perseguindo os cristãos, Saulo decide voltar para Jerusalém, agora um novo homem, alcançado pela graça de Deus. Quando uma pessoa se converte o que ela faz imediatamente? Procura uma igreja. Sempre foi e será um indício de alguém nascido de novo. Foi o que ele fez. Mas na verdade ele já era bem conhecido da igreja, pois tinha sido o promotor no julgamento de Estevão (At 8.1) e continuou assolando a igreja, entrando pelas casas e arrastando homens e mulheres que se declaravam seguidor de Jesus e os colocava na cadeia (At 8.3). Sua fama de perseguidor e promotor da igreja tornou-se conhecida.
Agora ao retornar dizendo ser discípulo de Cristo, era natural a suspeita dos irmãos. “Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo” At 9.26). Mais uma vez, Barnabé aparece no cenário para fazer a diferença: “Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor, que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus” (At 9.27). Barnabé é aquele que se dispõe, aproxima-se de Paulo e dá tempo para que ele relate pormenorizadamente o que aconteceu.
Barnabé torna-se uma inspiração para a igreja atual. O que impede o crescimento da igreja hoje não é evangelização, mas assimilação. A Igreja encontra muitas dificuldades e barreiras para integrar pessoas novas. São poucas igrejas amáveis e acolhedoras. Que se preocupam com os que chegam à igreja, que acolhem simpaticamente as pessoas, abraça-as, conversa com os visitantes, saem da condição de quem precisa de atenção para ser alguém que dá atenção.
Muitas pessoas reclamam que não ficam numa determinada igreja porque não foram bem acolhidas. Para estas gosto de citar o apóstolo Paulo. Se você se sente frustrado na igreja, porque não foi percebido ou notado ou até hostilizado, saiba que a primeira pessoa a enfrentar este tipo de problemas na igreja foi o maior apóstolo da igreja de Cristo: Paulo!

  1. Alegria pela conversão de pessoas – “Notícias desse fato chegaram aos ouvidos da igreja em Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia. Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração. Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé; e muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor (At 11.22-24).

O que vemos neste texto? Um avivamento em Antioquia da Pisídia, e a igreja de Jerusalém soube deste fato e resolveram enviar pessoas para darem suporte aos novos convertidos, orientando-os quanto à fé que abraçaram e o estilo de vida que deveriam ter.  Eles precisavam de discipulado. Precisavam encontrar uma pessoa para estar com os novos convertidos, quem seria a pessoa mais adequada? Não tiveram dúvidas, Barnabé. Por causa do seu perfil: Ele era um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé.
Mas o que nos surpreende no texto é a descrição do que aconteceu no seu coração. “Este, ali chegando e vendo a graça de Deus, ficou alegre e os animou”. O texto fala da alegria de Barnabé ao ver os novos convertidos, em ver tantos que foram alcançados pelo Evangelho.
Pergunte a si mesmo: tenho alegria pelas pessoas que chegam ao conhecimento do evangelho? Tenho alegria em ver pessoas novas sendo atingidas pelo evangelho? A maioria dos membros da igreja não possui paixão por almas, ou entusiasmo pelo novo convertido.
Quando uma pessoa é nova convertido ela precisa de amizade e discipulado. Pode parecer brincadeira, mas fui certa vez censurado numa igreja por um antigo membro, porque a igreja estava crescendo e “seu banco” estava sendo ocupado por outras pessoas. Existem muitos que não apenas possuem qualquer entusiasmo com aqueles que chegam, e até mesmo resistem emocionalmente àqueles que se aproximam.

  1. Disposição em despertar novos talentos - “Então Barnabé foi a Tarso procurar Saulo e, quando o encontrou, levou-o para Antioquia. Assim, durante um ano inteiro Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos(At 11.25-26).

Precisamos entender o que este texto está relatando. Depois do encontro inicial que Paulo teve com a igreja de Jerusalém, vencida a oposição pela mediação de Barnabé, Paulo se tornou um ousado e corajoso pregador. Ele confrontava as pessoas, falava de sua experiência com Cristo, e assim, Saulo ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor. Falava e discutia com os judeus de fala grega, mas estes tentavam matá-lo. Sabendo disso, os irmãos o levaram para Cesareia e o enviaram para Tarso. A igreja passava por um período de paz em toda a Judéia, Galileia e Samaria. Ela se edificava e, encorajada pelo Espírito Santo, crescia em número, vivendo no temor do Senhor” (At 9.28-31).
Qual foi o resultado de seu ministério? Fracasso. Isto mesmo. Logo em seguida surgem as crises. Ele discutia com os judeus de fala grega e em pouco tempo as pessoas decidiram que o matariam. O texto bíblico afirma que “Sabendo disso, os irmãos o levaram para Cesareia e o enviaram para Tarso”. Temos aqui uma crise ministerial. A primeira dos cristãos. O que deu errado?
A Bíblia afirma que, depois que a igreja o enviou para Cesareia e de lá para Tarso, a igreja passou a ter paz. A igreja precisava retirar o pastor para ter paz. Isto parece familiar hoje em dia? O vs. 31, numa antiga versão afirma: “E assim a igreja, na verdade, tinha paz”. Isto é, a igreja só encontrou serenidade depois que tirou o encrenqueiro pastor da cidade.
Após seu fracasso, Paulo desaparece da Bíblia e só surgirá no capitulo 11, quando Barnabé decide buscá-lo, sem saber exatamente onde ele estava.  Para onde foi Saulo depois de seu fracasso ministerial? Em Gl 1.17-19 temos algumas direções. Paulo escreve: “Nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco. Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”.  
Barnabé vai procurá-lo em Tarso. “E partiu Barnabé para Tarso, à procura de Saulo” (At 11.25). Por que Barnabé tem que procurá-lo? Porque ele estava desaparecido. Há até uma piada da mulher que reclama para seu marido:
-“Benzinho, você não me procura mais...”
E ele responde:
-“Mas também você não se esconde mais...”

Por que ele começou sua procura em Tarso? Porque a família de Saulo era de lá. Ele precisou rastreá-lo já que estava desaparecido nos desertos da Arábia. Ray Stedman afirma que foram cerca de 14 anos de retiro. Após o fracasso Paulo sentiu-se frustrado e sem perspectiva ministerial, e por isto tirou um longo tempo para reorganizar o coração, estudar mais a Palavra e orar. Agora Barnabé sai à sua procura para reintegrá-lo ao ministério. Sem a disposição de Barnabé em encorajá-lo, Paulo teria desaparecido na história da igreja. Seria mais um anônimo. Portanto, se você se sente frustrado no ministério, achando que não deve mais retornar, que foi injustiçado ou mal compreendido, saiba que o primeiro pastor a enfrentar sérios problemas na igreja foi o maior apóstolo da igreja de Cristo.
Posteriormente veremos o impacto de Saulo na Igreja cristã, e o que é mais importante, na segunda viagem missionária, Barnabé desaparece e Paulo se torna o personagem central e aparentemente Barnabé não tem muita crise com isto.

  1. Perdão e nova chance aos fracassados – Na primeira viagem missionária, Barnabé resolveu convidar João Marcos para fazer parte da equipe, mas a imaturidade deste rapaz tornou-se um problema sério, porque João Marcos os abandono no meio do projeto e retornou para casa. Quando chegaram a Perge da Panfília, ele deixou o grupo e voltou para Jerusalém (At 13.13).

O texto bíblico não é muito claro, mas este incidente parece ter deixado Paulo muito irritado, afinal, João Marcos os abandona.  Depois que terminam a primeira viagem, eles decidem voltar para visitar as igrejas que haviam sido plantadas e abrir novos campos, e quando Barnabé quis levar João novamente com eles, Paulo discordou, e o relato bíblico descreve a tensão da seguinte forma: “Barnabé queria levar João, também chamado Marcos. Mas Paulo não achava prudente levá-lo, pois ele, abandonando-os na Panfília, não permanecera com eles no trabalho. Tiveram um desentendimento tão sério que se separaram. Barnabé, levando consigo Marcos, navegou para Chipre” (At 15.36-38).  
Preste atenção no relato bíblico. “Houve tal desavença entre eles que vieram a separar-se” (RA). Eles realmente tiveram um sério desentendimento. A situação ficou tão insustentável que tiveram que se separar, não conseguiam mais andar juntos para realizar a obra.
Barnabé segue com João Marcos que lhe dá uma segunda oportunidade e Paulo viaja com Silas formando assim uma nova equipem sem chance para João Marcos. Ele age como comumente fazemos: “Falhou uma vez comigo não tem segunda chance”.
Mas veja o que acontece anos depois. Há uma nota quase de rodapé na segunda carta que Paulo escreve a Timóteo: “Traze-me João Marcos, porque me é útil para o ministério” (2 Tm 4.11). O que podemos entender com esta afirmação? Os anos passaram, as diferenças foram resolvidas, e  agora Paulo, no final de seu ministério percebe a importância de João Marcos. Ele havia falhado sim, mas conseguiu superar sua imaturidade, crescer no ministério a tal ponto que Paulo o deseja novamente por perto.
Apesar de ser restaurado, quem lhe deu esta chance de restauração não foi Paulo, mas novamente, Barnabé, o filho da consolação. Ninguém é infalível. Barnabé estende a mão para restaurar o jovem pastor de sua instabilidade.

Conclusão:
Barnabé é um modelo de um homem de Deus a serviço do reino:
Ele dispõe seus recursos, contribuindo generosamente para a obra.
Ele cuida das pessoas que se aproximam da comunidade. Mesmo aquelas que são mais estranhas e assustadoras.
Ele se sente feliz pela conversão de pessoas, quando vê vidas serem alcançadas pelo Espírito Santo e se aproximam da igreja
Ele tem disposição para reintegrar gente fracassada no ministério, assim como aconteceu com Paulo
E finalmente, restaura gente que nos gera frustração no ministério, e encontram dificuldade em completar suas tarefas, como João Marcos.
Por isto Barnabé, é um homem de Deus a serviço do reino


 

Christ the King P. Church- Jan. 97 
Igreja Central de Anápolis, Junho 2011