sábado, 3 de março de 2018

Atos 4.1-23 Marcas da Igreja cheia do Espírito




Introdução

Esta é a primeira vez que a igreja de Cristo é perseguida. Primeiro relato na história de que os crentes passaram a noite numa cadeia .
Curiosamente isto se dá logo depois de um grande evento. Um homem de 40 anos que vivia mendigando à porta do templo de Salomão é poderosamente curado.  Antes a igreja vivia trancada com medo ‘dos juDeus’ (Jo 20.19), agora é trancada por ousadia (At 4.3).

A igreja está sob impacto do Pentecostes, conforme nos relata o capitulo 2, e em Deus usa seu povo nesta grande cura (At 3). Por causa do alvoroço e das perguntas que começam a surgir, eles são trazidos para o Sinédrio para serem interrogados. A razão disto? Inveja. O texto afirma que eles estavam “ressentidos” pelo ensinamento dos cristãos. (At 4.2). Eles agora se encontram diante dos sacerdotes (autoridades religiosas), o capitão do templo (autoridade militar) e dos saduceus (que dominavam o comércio e eram donos do dinheiro, membros do Sinédrio). O Sinédrio era a Suprema Corte de Israel, onde as grandes decisões do povo judeu eram tomadas.

Mas este texto nos revela também, algumas características da igreja cheia do Espírito. Ela traz algumas marcas inconfundíveis da Igreja cheia do Espírito. São elas:

1.     A igreja cheia do Espírito enfrenta oposição – (At 4.3). Aqui se inicia aquilo que sempre acompanharia a igreja na história, em todas as gerações e culturas. A igreja perseguida. Daqui para a frente a igreja de Cristo enfrentará oposição.

Em atos 7, surge o primeiro mártir, condenado por anunciar a Jesus, e em Atos 8 se dá a dispersão, e a igreja foge para não ser exterminada (At 8.1). Em Atos 12, Herodes ordena a execução de Tiago, irmão de João e vendo que isto trazia popularidade no meio dos juDeus, resolveu também prender a Pedro (At 12.1-4).

Não nos enganemos. A Igreja hoje em dia, debaixo desta aparente serenidade, tem sofrido ataques violentos do diabo contra sua mensagem, seu estilo de vida, sua pregação, e sua cosmovisão. Hoje já somos minoria na forma de pensar. Valores, cultura, compreensão da vida adotados pela igreja são constantemente confrontados nas escolas, universidades, mídia e governo. É bom lembrar, porém, que a igreja nunca foi destruída por perseguição. A oposição do mundo é muito melhor para a igreja que sua amizade.

2.     A Igreja cheia do Espírito, atrai as pessoas – “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil” (At 4.4).

Uma igreja fiel atrai os pecadores. As pessoas veem a ação de Deus entre este povo e tal espiritualidade é contagiante. Igrejas assim crescem numericamente. É impressionante os relatos bíblicos, seu crescimento era exponencial. Em atos 3.41, cerca de três mil pessoas se convertem, agora em Atos 4.4, o número de homens sobe a quase cinco mil.

Muitas vezes vemos o crescimento da igreja com certo temor, principalmente nos meios tradicionais, parece que se a igreja está crescendo em número, alguma coisa está errada. De 2003 para cá, nossa igreja nunca recebeu menos de 60 novos membros por ano. No ano passado foram 102. Nós ficamos muitas vezes surpresos com o que Deus está fazendo, porque nunca planejamos intencionalmente nos tornarmos uma grande igreja, mas estamos com mais de 1100 membros. Certa vez um colega de ministério se aproximou de mim e fez o seguinte comentário: “Nossa igreja nunca crescerá como a igreja de vocês porque somos muito rigorosos na admissão de novos membros”. O que ele disse, de forma subliminar é: vocês só crescem porque não levam a sério a membresia de vocês e o discipulado...
A sensação é que algo errado está sendo feito. É certo que grandes e abençoados desafios surgem na medida em que a igreja cresce, nem sempre somos capazes de absorver e organizar tão bem todos os processos, mas vocês acham que a igreja primitiva também não teve lutas para administrar e acolher um número tão grande de pessoas que chegava num espaço de tempo tão curto?
Igrejas vivas crescem porque faz parte da essência de um organismo vivo a reprodução, crescimento, nutrição e adaptação ao meio ambiente. Precisamos nos alegrar e regozijar, como fez a igreja primitiva, quando as pessoas chegavam “ouvindo apalavra e a aceitando”. Louvado seja o nome do Senhor!

3.     A Igreja cheia do Espírito, centraliza na pessoa de Cristo  “E, pondo-os perante eles, os arguiram: com que poder ou em nome de quem fizestes isto?” (At 4.7).

A pergunta está relacionada à maravilhosa e notória cura de um paralítico, conhecido de todos aqueles que frequentavam o Templo de Salomão. Nesta hora, eles poderiam colocar em evidência o poder que estava sobre eles e se auto exaltarem, mas qual foi a resposta deram? “Tomai conhecimento, vós todos o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós” (At 4.10).

Toda a glória é de Jesus! Quando curaram o coxo Pedro afirmou: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isto te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.6). Cristo está no centro.
Uma igreja cheia do Espírito, é cristocêntrica. Jesus não é um acessório da igreja, mas a razão da igreja. Tenho estado muito preocupado com o fato de que Jesus tem sido tão pouco pregado nos púlpitos brasileiros. Pouco se fala da pessoa de Cristo e sua obra, há pouco anúncio de sua morte, ressurreição e glória.

A centralidade de Cristo traz implicações diretas:

A.   O poder é de Jesus – Os discípulos não ficam em evidência. Nada aponta para eles. “Em nome de Jesus, o Nazareno... sim, em seu nome é que este está curado”.  O poder é de Jesus, a glória é dele. Ele realiza a obra, ele deve ser anunciado. Cristo é o motivo.

B.    Jesus é o centro da mensagem profética – “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, o qual se tornou a pedra angular” (At 4.11).

A Pedra angular era a base de toda construção civil no meio do povo da antiguidade. A pedra angular era a pedra fundamental utilizada nas antigas construções, caracterizada por ser a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes. A partir da pedra angular, eram definidas as colocações das outras pedras, alinhando toda a construção.

A partir da pedra angular se edificava um prédio. Os discípulos fazem referência a uma conhecida profecia de Isaias 28.16: “Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge”. Jesus se identificou com esta pedra ao afirmar: “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós” (Mt 21.42). Paulo entende claramente que Cristo era esta pedra angular profetizada por Isaias: “Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido” (Rm 9.31-33).

Assim também, Pedro na sua carta, coloca Jesus como o cumprimento desta profecia: “Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina, e uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1 Pe 2.7-8).

C.    A exclusividade de Jesus – “E não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12).

Este texto é fundamental quando falamos da exclusividade de Jesus. Não há salvação fora de Jesus.
Uma pergunta tem sido feita frequentemente: Alguém pode ser salvo fora da igreja? Intencionalmente frisei a palavra “igreja”, embora não seja esta a questão que este texto estabelece. O ponto não é se alguém pode ser salvo fora da igreja, mas se alguém pode ser salvo fora de Cristo.

A resposta é: Ninguém pode ser salvo fora de Cristo. Não estamos falando de igreja. Se alguém não for regenerado, convertido, lavado pelo sangue de Cristo, não será salvo. Foi isto que disse Jesus a Nicodemos: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Sem Jesus não há salvação. Não há salvação em nenhum outro. Não há outro nome. “Porquanto, há um Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”(1 Tm 2.5).

4.     A Igreja cheia do Espírito, é intrépida nos seus propósitos   E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus. Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido (At 4.18-20).

O que fizeram os discípulos depois que receberam a ordem do Sinédrio? Não mudaram nada na agenda. Eles não estavam subordinados a ninguém. Questionaram as ordens e fizeram o que deveriam fazer.

Isto aqui é o que podemos chamar de “desobediência civil”.

Muitas vezes ouvimos pessoas afirmando que devemos nos submeter às leis de uma país ou às ordens de autoridade, porque precisamos nos submeter às autoridades. Bem, isto na verdade é metade do que cremos. Porquê?

Existe um momento em que como cristãos, por dever de consciência e submissão a Deus, não apenas podemos mas devemos desobedecer às autoridades.  Quando isto acontece? Quando as autoridades querem tomar o lugar de Deus e legislar em áreas nas quais a Palavra de Deus ordena exatamente o contrário. Aqui estabelece o que Francis Schaeffer chama de “Bottom line”, ou linha de divisão.
Quando o Estado assume a prerrogativa que é divina, precisamos desobedecer. Em muitos momentos da história a igreja disse não a regimes iníquos, a situações de injustiça, como fizeram as parteiras ao receberem ordens de que deveriam matar as crianças judias e disseram não a Faraó, correndo o risco de morrerem por causa desta atitude.

Os discípulos fazem o mesmo. Eles dizem não. No dia em que o Estado proibir a igreja de pregar Jesus, ou nos constranger a situações contrárias à Palavra de Deus, nossa atitude deve ser de claro e bom tom: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus”. A igreja não pode deixar de falar de suas convicções, mesmo quando isto vai frontalmente às ordens recebidas, e mesmo quando isto coloca em risco nossa integridade. 

Conclusão:
Estas são algumas marcas inconfundíveis da igreja de Cristo.
A igreja cheia do Espírito enfrenta oposição
A Igreja cheia do Espírito, atrai os pecadores a Cristo
A Igreja cheia do Espírito, centraliza na pessoa de Cristo

a.     O poder é de Jesus

b.     Jesus é o centro da mensagem profética

c.     Jesus possui a exclusividade. Não há outro nome. Não há salvação fora de Cristo.

O último aspecto é que, a Igreja cheia do Espírito, é intrépida nos seus propósitos. Ela não acua diante das ameaças, não se deixa intimidar, reafirma suas convicções e continua pregando. Sistemas e oposições não podem derrotá-la, nem impedir que a Palavra continue avançando.    

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