domingo, 11 de março de 2018

Gn 24 Conduzindo meus funcionários a Cristo




De todas as pessoas que marcaram minhas memórias de infância, uma das que tenho mais saudades é do Adão. Ele nos acompanhou em toda nossa infância exercendo as funções de meeiro e vaqueiro para meu pai. Era negro, falava com a voz pausada, casado com uma mulher branca, e quando meus pais se mudaram em 1969 de Conceição do Ipanema-MG para Gurupi-TO, ele nos acompanhou, era funcionário antigo e quis seguir meu pai por causa da amizade e também para conhecer novas regiões.

Ele era ótimo contador de história... sempre tinha relatos assustadores de assombração...quando decidia contar os “causos”, assentávamos quietinhos ao redor do fogão de lenha e ouvíamos suas arrepiantes estórias. Sempre era difícil dormir depois disto, e era um pavor apagar as lamparinas, mas tudo fazia parte da vivência e dos relatos sempre macabros.

O fato mais importante, porém, que aconteceu para Adão, foi que ele começou a aprender de Jesus no ambiente cristão de nossa casa. Meu pai lhe deu uma bíblia, pela qual não se interessou por muitos anos, mas posteriormente, começou a frequentar a igreja e a Bíblia se transformou na sua companheira diária. Anos depois disse ao meu pai que este foi o melhor presente que havia recebido em sua vida. Hoje é um crente fiel e frequenta uma pequena igreja no patrimônio de São Barnabé, município de Mutum, Minas Gerais, para onde retornou.

Muitos cristãos tem sido eficientes na comunicação do evangelho aos seus funcionários, enquanto outros, não apenas tem sido ineficazes, mas eventualmente se tornam estorvo e pedra de tropeço para a salvação espiritual de suas almas.

Ao ler Gênesis 24, vemos como Abraão conseguiu incutir em seu servo Eliezer, um forte senso de Deus. Sem dúvida seu servo se converteu ao Deus de Abraão, pela forma como lida com a vida e os desafios e tarefas que tem de realizar. Uma observação mais detalhada demonstra como isto está claro.

Primeiro, Abraão incutiu na mente de Eliezer o senso do sobrenatural
Quando Eliezer recebe a difícil tarefa de encontrar uma esposa para Isaque ele demonstra sua preocupação porque achar a moça poderia não ser tão difícil, mas e se ela não quisesse se mudar de perto de sua região e sair de perto dos pais? Haveria alguma possibilidade de Isaque mudar-se? A pergunta era interessante porque a Caldeia era muito mais avançada em termos de civilização que a região de Berseba, onde moravam. A resposta de Abraão foi categórica e demonstra uma compreensão muito clara da ação de Deus em sua vida.

O Senhor, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e de minha terra natal, e que me falou, e jurou, dizendo: A tua descendência darei esta terra, ele enviará o seu anjo, que te há de preceder, e tomarás de lá esposa para meu filho” (Gn 24.7). 

Abraão tem uma fé sólida e forte convicção do que Deus deseja para sua vida.

Certamente quando o patrão demonstra firmeza nas suas convicções e naquilo que declara crer, isto impacta profundamente os funcionários. Quando Abraão age de forma segura sobre sua fé, transmite segurança e imprime na mente de Eliezer um forte senso de sobrenaturalidade. Sua atitude afeta seu servo quanto à forma de lidar com aquilo que lhe acontece.

Segundo, Eliezer aprendeu a invocar o nome de Deus nas suas decisões

Quando ele chegou à cidade indicada pelo seu patrão, percebeu que os próximos passos seriam decisivos para sua missão, então, o que faz? Ele ora.

Ó Senhor, Deus de meu senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão!” (Gn 24.12). Sua oração foi bem objetiva e direta: “Dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: inclina o cântaro ara que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque” (Gn 24.14).

Provavelmente Eliezer viu Abraão orando muitas vezes, já que ele era o servo mais antigo de casa e mordomo sobre todas as coisas (Gn 24.2). Sua oração demonstra dependência de Deus.

Terceiro, Eliezer tinha expectativa clara de suas orações
Sua visão de Deus não era vaga e impessoal. O texto bíblico faz questão de demonstrar que após a sua oração, ele passou a observar 

em silêncio, atentamente, para saber se teria o Senhor levado a bom termo sua jornada ou não” (Gn 24.21). 

Ele orava e esperava. Pedia chuva e levava o guarda chuva.

Quarto, Eliezer tinha senso profundo de adoração
Logo após sua conversa com Rebeca, depois de ver que Deus o atendeu exatamente como havia pedido, ele entendeu que tudo aquilo era obra de Deus e por isto 

“se inclinou e adorou ao Senhor” (Gn 24.26). 

Sua oração foi respondida, portanto ele precisava glorificar a Deus. Este senso de adoração é essencial naqueles que conseguem apreciar o mover de Deus em sua vida. Só quem tem ideia de um Deus tão pessoal, consegue ser tão grato.

Eliezer tinha clara consciência da ação de Deus na vida de Abraão
A vida de seu patrão exalava Deus e ele percebia isto. Deus não era apenas uma abstração e Eliezer via isto claramente. Veja o que ele afirma: 

O Senhor tem abençoado muito ao meu senhor, e ele se tornou grande; deu-lhe ovelhas e bois, e prata e ouro, e servos e servas, e camelos e jumentos. Sara, sua mulher já era idosa quando lhe deu à luz um filho; a este deu ele tudo quanto tem” (Gn 24.35).

Ele sabia que os bens de Abraão não eram resultado apenas de sua administração eficaz, esperteza nos negócios e eficiência de gestão. Ele credita o sucesso de seu patrão a Deus, talvez porque o mesmo enfatizasse isto. Além do mais, ele viu um fato inusitado acontecido diante dele. Uma mulher de 90 anos de idade, engravidando e dando luz a um filho. Isto só poderia ser obra de Deus, e Eliezer menciona isto nesta conversa com os familiares de Rebeca. Ele viu Deus agindo na vida de seus patrões. Ele viu o grande milagre de Deus na vida da Sara.

Sexto, Abraão transmitiu uma espiritualidade contagiante ao seu funcionário
Sua fé viva se manifestava nos relacionamentos, mesmo sendo ele o patrão. Isto marcou a vida e Eliezer. 

Ele me disse: O Senhor, em cuja presença eu ando, enviará contigo o seu Anjo e levará a bom termo a tua jornada, para que, da minha família e da casa de meu pai, tomes esposa para meu filho” (Gn 24.40). 

Eliezer sai para realizar seu trabalho, com uma compreensão clara de que Deus estava caminhando com ele e preparando todas as coisas. Isto certamente influenciou sua oração tão direta e específica. Se Deus estava com ele, coisas extraordinárias poderiam acontecer.

Sétimo, Eliezer entendeu que o sucesso de sua missão estava relacionado à presença de Deus na sua jornada

O Senhor, me tem levado a bom termo na jornada, permiti que eu volte ao meu senhor” (Gn 24.56). 

Missão cumprida, viagem bem sucedida, porque Deus estava envolvido em todos os processos de sua viagem, no encontro com Rebeca, no contato com a família, na aceitação da moça em seguir uma pessoa desconhecida deixando sua família para trás. Deus cuidou de todos os detalhes. Hora de retornar.

Conclusão

Nossas igrejas tem muitos patrões crentes. Alguns destes são piedosos, dão bom testemunho, são eficientes em falar de Jesus aos funcionários, outros nem tanto. Alguns são preocupados com a vida espiritual de seus funcionários, outros alheios a isto. Muitos usam todas oportunidades para compartilhar sua fé e transmitir Jesus na sua empresa e instituições.

Tenho acompanhado por anos um executivo, dono de uma sólida empresa com grande número de funcionários, que semanalmente interrompe todas as atividades da companhia, por meia hora, para um tempo de reflexão. Se você é patrão sabe que tal interrupção quebra processos produtivos e pode diminuir os ganhos. Mas vale a pena pensar nisto.

Conheço alguns empresários cristãos que, ao estabelecer sua empresa numa determinada região, além do aspecto produtivo e da rentabilidade, pensam na influência que tal empresa pode ser naquele lugar, no impacto social na cidade e na vida espiritual dos funcionários e parentes.

Existe uma missão americana chamada Interserve, que busca otimizar empresas cristãs, contratando funcionários cristãos, para servirem em países onde é proibido pregar o evangelho. São empresas lucrativas, mas ao mesmo tempo, transformam-se numa grande oportunidade para testemunho do evangelho, e eles contratam funcionários cristãos para morarem nos países onde se instalam. Esta é uma nova onda missionária que tenta mudar o foco em missionários profissionais, para profissionais missionários. As pessoas vão ganhar pelo trabalho, e testemunhar Jesus no país onde estarão trabalhando.

Gostaria de concluir com algumas sugestões extras:

Introdução:

A.   As relações trabalhistas são um grande ponto de tensão em todas as sociedades humanas, marcadas por lutas de poder e revoluções. A palavra de Deus adverte os patrões (ou senhores), a deixarem as ameaças, “sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está nos céus e que para com ele não há acepção de pessoas”.

B.    Precisamos ser mais intencionais em transmitir Jesus aos funcionários.  Criar ambientes festivos para comunicar a palavra de Deus. Épocas como natal, pascoa, e feriados religiosos, podem ser grande oportunidade de testemunho, se houver planejamento criativo.

C.    Precisamos testemunhar Jesus aos nossos funcionários. Eles precisam perceber Jesus na nossa vida, na forma como lidamos com questões de justiça e trabalho, na forma como administramos a empresa.

D.   Precisamos orar para que nosso estilo de vida, desafie os funcionários a imitar nossa adoração, como fez Eliezer. Ele via como Deus funcionava para Abraão, e como era presente em sua vida, e aos poucos, foi aplicando os mesmos princípios de adoração para sua vida diária.

Abraão conseguiu transmitir Deus a noção de um Deus vivo ao seu funcionário. Ele demonstrou a Eliezer a benção de considerar um Deus que anda conosco em todas as situações, pode ajudar nas decisões, e que deve ser adorado Não há maior privilégio que este, de comunicar Jesus àqueles que andam ao nosso lado.

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