sábado, 3 de março de 2018

Jz 10.1-18 A Surpreendente compaixão de Deus







Introdução:


Você alguma vez já se deparou com pessoas tão destruídas, tão chafurdadas em pecado, tão distantes de Deus, que parece que nunca mais sairão do ciclo vicioso de auto destruição? Ou eventualmente, ao olhar sua própria condição humana, sentindo-se culpado, muitas vezes com razão, por decisões absurdas que assumiu na vida e eventualmente chegando mesmo a pensar que não há solução?
Então, preste atenção neste palavra, porque ela poderá mudar sua forma de ver as coisas e dar esperança ao seu coração que vive nas raias do desespero.

Um olhar no pano de fundo do texto
O livro de Juízes é marcado por época de transição e grandes incertezas. Os grandes lideres como Moisés e Josué não existem mais, e agora o povo de Israel tenta se consolidar na terra, cercada por opositores, prontos para se vingar da invasão sofrida, e na estabilidade da nova terra, as pessoas se esquecem de Deus, e surge outra geração que não conhecera a Deus e nem ouvira dos feitos do Senhor (Jz 2.10,11). Os pais negligenciaram a transmissão da fé para os filhos.
O livro de juízes é marcado ainda por uma frase que demonstra bem a falta de liderança estável e segura: “Naqueles dias não havia rei em Israel, cada um vazia o que queria”. A ausência de fortes líderes, o novo momento de Israel, a falta de um governo central, deixava as pessoas meio soltas, sem ética clara.
Outra característica está presente no Livro de Juízes: O ciclo que se repete quase infindavelmente entre a rebeldia, apostasia, abandono de Deus, crise social e politica, guerras, arrependimento, volta para o Senhor, rebeldia, apostasia... a regra é tão repetitiva que quase me faz crer na teoria cíclica de Platao sobre a história.
Mais uma vez lemos no texto: “Tornaram os filhos de Israel a fazer o que era mau perante o Senhor e serviram os baalins, a Astarote, e aos Deuses da Síria, e aos de Sidom, de Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus; deixaram o Senhor e não o serviram” (Jz 10.6).

O resultado é conhecido.
Quando o homem se afasta de Deus, muitas sérias e graves consequências surgem. Do vs 7-9 ao novo vemos o resultado:

            Ira de Deus – vs. 7
            Permissão de Deus para que os inimigos triunfem – “entregou-os”, esta expressão é repetidamente dita em Romanos quando Paulo descreve a situação dos homens que abandonaram a Deus. Em Rm 1.24,26,28, vemos que Deus entrega os homens a si mesmos, para desonrarem seus corpos, se entregarem às suas degradantes e detestáveis paixões e a uma disposição mental reprovável. Corpo, emoções e intelecto são atingidos por este abandono de Deus à raça humana. Aqui em Juízes, Deus entregou o seu povo aos inimigos.
            Opressão – Os filisteus e os amonitas, vexaram e oprimiram os filhos de Israel por dezoito anos. Longo tempo de escravidão e humilhação. É isto que acontece quando estamos nas mãos dos adversários. Vs.8
            Perda do domínio e da possessão de suas propriedades – “os filhos de Amom passaram o Jordão” (vs.9). O que era deles está nas mãos dos outros, perda de controle sobre sua própria história. Profundamente dominados e subjugados.
            Grande angústia – vs. 9 “Israel se viu mui angustiado”.

Porem, de todos os relatos do texto bíblico, o mais assustador vem a seguir: “Contudo, vós me deixastes a mim e servistes a outros Deuses, pelo que não vos livrarei mais” (Jz 10.13). Deus anuncia que se cansou daquele povo, perdeu a paciência, não mais os livrará. Esta é a pior de todas as situações, quando nos deparamos com um Deus “grande em misericórdia e rico em perdoar”, que declara ter desistido de nós. Nada poderia ser mais trágico que isto.

O profeta Eli entendeu isto como ninguém. Seus filhos eram sacerdotes (pastores), mas irreverentes, sacrílegos e de mau caráter. Apesar de lidar diariamente com as coisas de Deus eles não tinham temor de Deus. Abusavam dos direitos sacerdotais que possuíam e extrapolavam as ordens do Senhor.
Eli não tem pulso firme para lidar com estes filhos profanos, sua repreensão é frágil, deveria ser mais dura, e Deus dirá isto posteriormente a Eli. Mas este velho sacerdote diz algo serio quando vê a atitude de profanação do sagrado presente na vida de seus filhos: “Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar” (1 Sm 2.25).
É muito arriscado profanar as coisas de Deus, brincar com coisas sagradas, cometer sacrilégio, porque todo pecado que cometemos é contra nós mesmos ou as outras pessoas, e podemos correr para Deus e buscar o perdão, mas e quando cometemos o pecado diretamente contra Deus. A quem iremos rogar? Nós ofendemos a Deus.
O problema do pecado é exatamente este. Ele ofende a santidade de Deus. Brincar com o pecado traz sérias e graves consequências sobre nossa vida.
A vida de Esaú nos revela isto. Ele era profano, indiferente às coisas de Deus. Desprezava aquilo que era sagrado e perdeu todos os seus direitos, perdeu a benção do pai e perdeu sua primogenitura. O Antigo Testamento não fala muito dos desdobramentos da vida irresponsável de Esaú, mas o Novo Testamento dirá: “E ninguém seja impuro ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou” (Hb 12.16,17).
Não sei exatamente o significado destas palavras, mas me parece que ele teve todas as oportunidades, brincou e ridicularizou delas, e mais tarde percebeu o que havia perdido e tentou reencontrar sua vida, mas já era tarde. Ele não achou lugar para arrependimento, seu coração endureceu demais, ele foi envolvido em laços de iniquidade e morte e não teve retorno.

Em Provérbios 29.1 lemos: “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente, sem que haja cura”.
Em juízes 10, Deus se cansa de perdoar, de orientar, Deus decide não mais livrá-los. “Ide e clamai aos Deuses que escolhestes; eles que vos livrem no tempo do vosso aperto” (Jz 10.14).
A trágica condição do povo diante de Deus parece ser inalterada, Deus os rejeitou, Deus os entregou a si mesmos, e aos inimigos, Deus não quer mais se envolver na atitude rebelde de filhos que desejam viver sem considerar quem Deus era.

A grande virada
Quando tudo parece definido algo surpreendente acontece. “Mas os filhos de Israel disseram ao Senhor: temos pecado; faze-nos tudo quanto te parecer bem; porém, livra-nos ainda esta vez, te rogamos. E tiraram os Deuses alheios do meio de si e serviram ao Senhor; então, já não  pôde ele reter a sua compaixão por causa da desgraça de Israel” (Jz 10.15-16). 
A surpreendente compaixão de Deus se manifesta. O texto afirma que “o Senhor; então, já não  pôde ele reter a sua compaixão por causa da desgraça de Israel”.
O Deus das Escrituras Sagradas é um Deus que não pode reter sua compaixão.
Isto é maravilhoso.

Quando isto acontece? Três condições são descritas no texto:
Primeiro, quando aberta e sinceramente admitimos nossa vergonha, fracasso e culpa. O povo de Deus se apresenta para fazer confissão, irrestrita, total.
a.     Não se apresenta diante de Deus com justificativas e explicações para a rebeldia. O povo admite: “temos pecado; faze-nos tudo quanto te parecer bem”.
b.     Não transforma a confissão em delação premiada (confessar não porque realmente está sentido pelo que fez, mas porque procurar diminuir o prejuízo causado pelo seu próprio pecado). Isto não é confissão verdadeira, é esperteza jurídica. Funciona para as leis humanas, mas não para Deus.
c.     Não é confissão pela metade. Estratégia que nos protege e satisfaz a pessoa a quem ofendemos.
d.     Não camufla e omite a ofensa. Não usa estratégia de astutos advogados que fazem de tudo para gerar suspeita sobre as provas contra seu cliente, questiona a interpretação da lei e lança mão das chicanas jurídicas. Criando dificuldades no decorrer de um processo judicial, apresentando argumentos com base em detalhes ou pontos irrelevantes; abuso dos recursos, sutilezas e formalidades da justiça; contestação feita de má-fé; manobra capciosa, trapaça, tramoia.

“Pastor, roubei uma corda”
Certo pastor foi procurado por um camponês de sua congregação que veio chorando até a sua casa, ainda cedo, para confessar um pecado. “Pastor, roubei uma corda!” O pastor ouviu com atenção, orou com o irmão e pediu para que restituísse a corda ao seu legitimo dono, e que Deus perdoava seu pecado. No entanto, na madrugada seguinte, o camponês novamente estava acordando o pastor, e quando o pastor lhe perguntou o que tinha acontecido ele admitiu: “Ontem, quando disse que havia roubado uma corda, esqueci de lhe dizer que nesta corda estava uma vaca amarrada”. 

Toda confissão diante de Deus precisa ser plena: sou totalmente culpado, não tenho defesa.
Pequei contra ti somente e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que será tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Sl 51.4).
Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. (Lc 15.18-19).
Nenhum direito a reivindicar, absolutamente dependente da graça de Deus.
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus (Sl 51.16,17).
O povo de Israel não se justifica, apenas admite. “Temos pecado. Faze-nos tudo quanto te parecer bem; porém, livra-nos ainda esta vez, te rogamos” (Jz 10.15).
O problema é que temos mais facilidade em nos comportar como Gideão. Quando o anjo compareceu perante ele, ele se tornou vítima:
Mas Gideão lhe respondeu: Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu nas mãos dos midianitas” (Jz 6.13).
o fato, porém, é que o capitulo 6 começa a afirmando:
“Porém os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do SENHOR; e o SENHOR os deu nas mãos dos midianitas por sete anos”(Jz 6.1).
não dá para culpar a Deus. Culpá-lo é a anti-confissão. Não dá para culpar a situação e as pessoas.
Pv 19.3 afirma:
“A estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor que seu coração se ira”.
Quando entramos em contato com o mal que está em nós,  desmascaramos o impostor que insistimos em cultivar, e isto nos vulnerabiliza, e assim encontramos espaço para a confissão e a graça, afinal,
O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 29.13).

Quando Israel, admitiu sua situação e condição de miséria e se aproximou de Deus, ele não pôde reter sua compaixão. “E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor; então (Deus), já não pôde reter a sua compaixão, por causa da desgraça de Israel” (Jz 10.16). Assim vemos, a Surpreendente compaixão de Deus.


Conclusão: A obra da cruz
Assim aconteceu na cruz.
Na cruz vemos a desgraça da humanidade na sua forma mais crua e cruel. A cruz é o veredito do fracasso do homem. “Não há justo, nem sequer um, todos se extraviaram e a uma se fizeram inúteis” (Rm 10.9-10). A cruz depõe contra nós, revela a seriedade do nosso pecado.
A cruz revela a extrema desgraça do meu pecado.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo, ali é o lugar no qual Deus não pôde reter a sua graça.
Meu estado Cristo viu, dando-me sua mão,
e salvar-me conseguiu, da perdição.
Cristo me amou, e meu limpou
O seu imenso amor, me transformou”.

O que devo fazer?
Duas atitudes:
1.     Auto percepção do meu fracasso. Não tenho justiça pessoal, não há nada que possa justificar-me.
2.     Percepção do grande amor de Cristo ao assumir o meu lugar. Ele me redime e me restaura diante do Pai.

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