Introdução:
Você alguma vez já se
deparou com pessoas tão destruídas, tão chafurdadas em pecado, tão distantes de
Deus, que parece que nunca mais sairão do ciclo vicioso de auto destruição? Ou
eventualmente, ao olhar sua própria condição humana, sentindo-se culpado,
muitas vezes com razão, por decisões absurdas que assumiu na vida e
eventualmente chegando mesmo a pensar que não há solução?
Então, preste atenção
neste palavra, porque ela poderá mudar sua forma de ver as coisas e dar
esperança ao seu coração que vive nas raias do desespero.
Um olhar no pano de
fundo do texto
O livro de Juízes é
marcado por época de transição e grandes incertezas. Os grandes lideres como
Moisés e Josué não existem mais, e agora o povo de Israel tenta se consolidar
na terra, cercada por opositores, prontos para se vingar da invasão sofrida, e
na estabilidade da nova terra, as pessoas se esquecem de Deus, e surge outra
geração que não conhecera a Deus e nem ouvira dos feitos do Senhor (Jz
2.10,11). Os pais negligenciaram a transmissão da fé para os filhos.
O livro de juízes é
marcado ainda por uma frase que demonstra bem a falta de liderança estável e
segura: “Naqueles dias não havia rei em
Israel, cada um vazia o que queria”. A ausência de fortes líderes, o novo
momento de Israel, a falta de um governo central, deixava as pessoas meio
soltas, sem ética clara.
Outra característica
está presente no Livro de Juízes: O ciclo que se repete quase infindavelmente
entre a rebeldia, apostasia, abandono de Deus, crise social e politica,
guerras, arrependimento, volta para o Senhor, rebeldia, apostasia... a regra é
tão repetitiva que quase me faz crer na teoria cíclica de Platao sobre a
história.
Mais uma vez lemos no
texto: “Tornaram os filhos de Israel a
fazer o que era mau perante o Senhor e serviram os baalins, a Astarote, e aos Deuses
da Síria, e aos de Sidom, de Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus;
deixaram o Senhor e não o serviram” (Jz 10.6).
O resultado é
conhecido.
Quando o homem se
afasta de Deus, muitas sérias e graves consequências surgem. Do vs 7-9 ao novo
vemos o resultado:
Ira de Deus – vs. 7
Permissão de Deus para que os
inimigos triunfem – “entregou-os”, esta expressão é repetidamente dita em
Romanos quando Paulo descreve a situação dos homens que abandonaram a Deus. Em
Rm 1.24,26,28, vemos que Deus entrega os homens a si mesmos, para desonrarem
seus corpos, se entregarem às suas degradantes e detestáveis paixões e a uma
disposição mental reprovável. Corpo, emoções e intelecto são atingidos por este
abandono de Deus à raça humana. Aqui em Juízes, Deus entregou o seu povo aos
inimigos.
Opressão – Os filisteus e os
amonitas, vexaram e oprimiram os filhos de Israel por dezoito anos. Longo tempo
de escravidão e humilhação. É isto que acontece quando estamos nas mãos dos
adversários. Vs.8
Perda do domínio e da possessão de
suas propriedades – “os filhos de Amom
passaram o Jordão” (vs.9). O que era deles está nas mãos dos outros, perda
de controle sobre sua própria história. Profundamente dominados e subjugados.
Grande angústia – vs. 9 “Israel se viu mui angustiado”.
Porem, de todos os
relatos do texto bíblico, o mais assustador vem a seguir: “Contudo, vós me deixastes a mim e servistes a outros Deuses, pelo que
não vos livrarei mais” (Jz 10.13). Deus anuncia que se cansou daquele povo,
perdeu a paciência, não mais os livrará. Esta é a pior de todas as situações,
quando nos deparamos com um Deus “grande em misericórdia e rico em perdoar”,
que declara ter desistido de nós. Nada poderia ser mais trágico que isto.
O profeta Eli entendeu
isto como ninguém. Seus filhos eram sacerdotes (pastores), mas irreverentes,
sacrílegos e de mau caráter. Apesar de lidar diariamente com as coisas de Deus
eles não tinham temor de Deus. Abusavam dos direitos sacerdotais que possuíam e
extrapolavam as ordens do Senhor.
Eli não tem pulso
firme para lidar com estes filhos profanos, sua repreensão é frágil, deveria
ser mais dura, e Deus dirá isto posteriormente a Eli. Mas este velho sacerdote
diz algo serio quando vê a atitude de profanação do sagrado presente na vida de
seus filhos: “Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando,
porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de
seu pai, porque o Senhor os queria matar” (1 Sm
2.25).
É muito
arriscado profanar as coisas de Deus, brincar com coisas sagradas, cometer
sacrilégio, porque todo pecado que cometemos é contra nós mesmos ou as outras
pessoas, e podemos correr para Deus e buscar o perdão, mas e quando cometemos o
pecado diretamente contra Deus. A quem iremos rogar? Nós ofendemos a Deus.
O problema do pecado
é exatamente este. Ele ofende a santidade de Deus. Brincar com o pecado traz
sérias e graves consequências sobre nossa vida.
A vida de Esaú nos revela
isto. Ele era profano, indiferente às coisas de Deus. Desprezava aquilo que era
sagrado e perdeu todos os seus direitos, perdeu a benção do pai e perdeu sua
primogenitura. O Antigo Testamento não fala muito dos desdobramentos da vida
irresponsável de Esaú, mas o Novo Testamento dirá: “E ninguém seja impuro ou
profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que,
querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou
lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou” (Hb 12.16,17).
Não sei exatamente o significado destas palavras, mas me
parece que ele teve todas as oportunidades, brincou e ridicularizou delas, e
mais tarde percebeu o que havia perdido e tentou reencontrar sua vida, mas já
era tarde. Ele não achou lugar para arrependimento, seu coração endureceu demais,
ele foi envolvido em laços de iniquidade e morte e não teve retorno.
Em Provérbios 29.1 lemos: “O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, será quebrantado de repente, sem que haja cura”.
Em juízes 10, Deus se
cansa de perdoar, de orientar, Deus decide não mais livrá-los. “Ide e clamai aos Deuses que escolhestes;
eles que vos livrem no tempo do vosso aperto” (Jz 10.14).
A trágica condição do
povo diante de Deus parece ser inalterada, Deus os rejeitou, Deus os entregou a
si mesmos, e aos inimigos, Deus não quer mais se envolver na atitude rebelde de
filhos que desejam viver sem considerar quem Deus era.
A grande virada
Quando tudo parece
definido algo surpreendente acontece. “Mas
os filhos de Israel disseram ao Senhor: temos pecado; faze-nos tudo quanto te
parecer bem; porém, livra-nos ainda esta vez, te rogamos. E tiraram os Deuses
alheios do meio de si e serviram ao Senhor; então, já não pôde ele reter a sua compaixão por causa da
desgraça de Israel” (Jz 10.15-16).
A surpreendente
compaixão de Deus se manifesta. O texto afirma que “o Senhor; então, já não pôde ele
reter a sua compaixão por causa da desgraça de Israel”.
O Deus das Escrituras
Sagradas é um Deus que não pode reter sua compaixão.
Isto é maravilhoso.
Quando isto acontece?
Três condições são descritas no texto:
Primeiro, quando
aberta e sinceramente admitimos nossa vergonha, fracasso e culpa. O povo de Deus
se apresenta para fazer confissão, irrestrita, total.
a.
Não
se apresenta diante de Deus com justificativas e explicações para a rebeldia. O
povo admite: “temos pecado; faze-nos tudo
quanto te parecer bem”.
b.
Não
transforma a confissão em delação premiada (confessar não porque realmente está
sentido pelo que fez, mas porque procurar diminuir o prejuízo causado pelo seu
próprio pecado). Isto não é confissão verdadeira, é esperteza jurídica.
Funciona para as leis humanas, mas não para Deus.
c.
Não
é confissão pela metade. Estratégia que nos protege e satisfaz a pessoa a quem
ofendemos.
d.
Não
camufla e omite a ofensa. Não usa estratégia de astutos advogados que fazem de
tudo para gerar suspeita sobre as provas contra seu cliente, questiona a
interpretação da lei e lança mão das chicanas jurídicas. Criando dificuldades
no decorrer de um processo judicial, apresentando argumentos com base em
detalhes ou pontos irrelevantes; abuso dos recursos, sutilezas e formalidades
da justiça; contestação feita de má-fé; manobra capciosa, trapaça, tramoia.
“Pastor, roubei uma
corda”
Certo pastor foi
procurado por um camponês de sua congregação que veio chorando até a sua casa,
ainda cedo, para confessar um pecado. “Pastor, roubei uma corda!” O pastor
ouviu com atenção, orou com o irmão e pediu para que restituísse a corda ao seu
legitimo dono, e que Deus perdoava seu pecado. No entanto, na madrugada
seguinte, o camponês novamente estava acordando o pastor, e quando o pastor lhe
perguntou o que tinha acontecido ele admitiu: “Ontem, quando disse que havia
roubado uma corda, esqueci de lhe dizer que nesta corda estava uma vaca
amarrada”.
Toda confissão diante
de Deus precisa ser plena: sou totalmente culpado, não tenho defesa.
“Pequei contra ti somente e fiz o que é mau perante os teus olhos, de
maneira que será tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (Sl
51.4).
“Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e
dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser
chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. (Lc 15.18-19).
Nenhum direito a reivindicar, absolutamente dependente da
graça de Deus.
Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te
deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus
(Sl 51.16,17).
O povo de Israel não
se justifica, apenas admite. “Temos
pecado. Faze-nos tudo quanto te parecer bem; porém, livra-nos ainda esta vez,
te rogamos” (Jz 10.15).
O problema é que
temos mais facilidade em nos comportar como Gideão. Quando o anjo compareceu
perante ele, ele se tornou vítima:
“Mas Gideão lhe respondeu:
Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo isto nos sobreveio? E que é
feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não
nos fez o Senhor subir do Egito? Porém agora o Senhor nos desamparou, e nos deu
nas mãos dos midianitas”
(Jz 6.13).
o fato, porém, é que o capitulo 6 começa a afirmando:
“Porém os filhos de Israel
fizeram o que era mau aos olhos do SENHOR; e o SENHOR os deu nas mãos dos
midianitas por sete anos”(Jz 6.1).
não dá para culpar a Deus. Culpá-lo é a anti-confissão. Não
dá para culpar a situação e as pessoas.
Pv 19.3 afirma:
“A estultícia do homem perverte
o seu caminho, mas é contra o Senhor que seu coração se ira”.
Quando entramos em contato com o mal que está em nós, desmascaramos o impostor que insistimos em
cultivar, e isto nos vulnerabiliza, e assim encontramos espaço para a confissão
e a graça, afinal,
“O que encobre as suas
transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará
misericórdia” (Pv 29.13).
Quando Israel, admitiu sua situação e condição de miséria e
se aproximou de Deus, ele não pôde reter sua compaixão. “E tiraram os deuses alheios do meio de si, e serviram ao Senhor; então
(Deus), já não pôde reter a sua compaixão, por causa da desgraça de Israel”
(Jz 10.16). Assim vemos, a Surpreendente compaixão de Deus.
Conclusão: A obra da cruz
Assim aconteceu na cruz.
Na cruz vemos a desgraça da humanidade na sua forma mais crua
e cruel. A cruz é o veredito do fracasso do homem. “Não há justo, nem sequer um, todos se extraviaram e a uma se fizeram
inúteis” (Rm 10.9-10). A cruz depõe contra nós, revela a seriedade do nosso
pecado.
A cruz revela a extrema desgraça do meu pecado.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo, ali é o lugar no qual Deus
não pôde reter a sua graça.
“Meu estado
Cristo viu, dando-me sua mão,
e salvar-me conseguiu, da perdição.
Cristo me amou, e meu limpou
O seu imenso amor, me transformou”.
O que devo fazer?
Duas atitudes:
1.
Auto percepção do meu fracasso. Não tenho justiça
pessoal, não há nada que possa justificar-me.
2.
Percepção do grande amor de Cristo ao assumir o
meu lugar. Ele me redime e me restaura diante do Pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário